A convite do GLOBOESPORTE.COM, dirigente faz balanço da gestão que dará lugar a Fábio Koff nesta terça-feira
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Avaliar os 733 dias em que esteve à frente do Grêmio é um convite ao
passado para Paulo Odone. Às vésperas de passar à presidência a Fábio
Koff, em cerimônia na noite desta terça-feira, o atual mandatário
analisa o fim lembrando do começo.- Só me candidatei ao ter a certeza de que a Arena estaria pronta a tempo de inaugurá-la. Fui a São Paulo, falei com o pessoal da OAS e, como garantiram que em dezembro de 2012 tudo seria concluído, me lancei. Saio com a sensação de dever cumprido – disse em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM ao fazer balanço dos últimos dois anos.
Odone se refere a uma conversa com Eduardo Pinto, diretor da construtora, no começo de 2010. Com a resposta, acatou as pressões internas de antigos apoiadores e se lançou à sucessão de Duda Kroeff. Queria completar o projeto do novo estádio desenvolvido desde o biênio 2005-2006, o seu segundo mandato – comandou ainda em 1987-1989 e 2008-2009.
Conseguiu. Inaugurou a Arena, classificou o time à Libertadores e profissionalizou a administração. Faltaram os títulos, teve o desgaste com a demissão de Renato Gaúcho, ídolo da torcida, e é claro que cometeu erros. Confira os principais trechos.
Odone se emociona com ovação da torcida do Grêmio na Arena (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
A construção do novo estádio mobilizou uma nação de 8 milhões de torcedores. Todos os gremistas em todos os lugares se sentiram emocionados com a mudança do Olímpico à Arena. Imagina, então, o presidente que comandou o projeto. A certeza de dever cumprido veio com a manifestação de 60 mil torcedores. Em discurso na cerimônia, Odone foi ovacionado pelo público.
Detalhe: menos de dois meses após ter perdido a eleição.
- Sabia que seria difícil ser reeleito. Não enfrentei um candidato e, sim, uma lenda: o homem campeão do mundo. O sócio votou no sonho de voltar a ganhar o planeta. Então, não esperava essa reação dos torcedores. Fiquei emocionado. Na crise, me mantenho firme, racional. Na emoção, não seguro. O sonho, que surgiu lá com o Grêmio quebrado na Série B, idealizado com o (Eduardo) Antonini (presidente da Grêmio Empreendimentos) foi realizado. Com a Arena, o Grêmio vai deixar de tirar dinheiro do futebol para colocar no estádio. Agora, o estádio colocará dinheiro no futebol – comentou.
Tal emoção deixou até o amistoso contra o Hamburgo, revivendo a final do Mundial de 1983, em segundo plano:
- Quase esqueci que tinha o jogo! Me lembrei ao ver a bola rolar. Foi muito bacana o que aconteceu, fiquei fora de mim.
Profissionalização da administração
Odone gosta de enfatizar a profissionalização do clube. Em todas as áreas, tratou de contratar executivos para gerir os projetos. Financeira, jurídica, administrativa e até no futebol. A execução acompanhou a consultoria de empresas especializadas.
- Só cumpri o que manda o estatuto – resume.
A diferença, entende o presidente, foi vista na redução de custos (pagamento de R$ 100 milhões em dívidas no Condomínio de Credores desde 2005), o crescimento do Quadro Social (rende hoje R$ 60 milhões ao ano) e associação a fundos de investimento para reduzir a redução de custos e aumentar poder de investimento no futebol.
- Está tudo lá. É só dar continuidade. O FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), que reduzirá o custo financeiro através da captação de recursos a taxa média de 10% ao ano, bem mais atrativa do que as praticadas pelo mercado, que chegam a 22%. E o FIP (Fundo de Investimento em Participações) tem por objetivo atrair parceiros de longo prazo para aumentar a capacidade de investimento no futebol - completa.
Zé Roberto é elogiado por Odone
(Foto: Cristiano Andujar / Ag. Estado)
(Foto: Cristiano Andujar / Ag. Estado)
O primeiro ano da gestão foi tumultuado no futebol. Negociação frustrada com Ronaldinho Gaúcho, perda do Gauchão para o Inter e campanha irregular no Brasileirão. A recuperação veio em 2012 após a contratação de Vanderlei Luxemburgo.
- Na casa da minha mãe, se mudava a cozinheira, a comida continuava igual. É como funcionava. O Grêmio é igual. Foi vencedor sempre jogando de forma competitiva. O Luxa recuperou isso. Foi o nosso grande acerto – entende Odone.
O terceiro lugar no Nacional e a vaga à Libertadores consolidara o projeto de disputar o tri da América na Arena. A trinca Arena, Libertadores e Luxa foi a base para contratar jogadores como Zé Roberto.
- Ele só veio pela intervenção do treinador – acrescentou o dirigente.
Erros nas escolhas de técnico
Odone não se furta a reconhecer erros. Os centraliza na contratação de dois treinadores: Julinho Camargo e Caio Júnior. O primeiro substituiu Renato Gaúcho em 2011. O segundo, começou a temporada seguinte.
- Não gosto de falar de quem passou por aqui. Mas, sim, erramos. Julinho não deu certo, acho que faltou experiência. Caio não conseguiu implantar a forma certa de o Grêmio jogar. Então, fui pela minha intuição e contratei o Luxa.
Julinho Camargo ficou três meses e
três dias no cargo. Disputou seis jogos e venceu apenas um. Caio, um mês e 20 dias. Ganhou quatro em oito jogos.
Futuro como torcedor
- Só volto com meu neto, o João, para ver jogos na Arena. Da arquibancada, das cadeiras, do camarote. Não importa.
É assim que Odone responde à pergunta se retornará à vida política do Tricolor. Aos 70 anos, o dirigente pretende voltar a ser apenas torcedor. Assistir aos jogos com a ‘vontade’ e não ‘obrigação’ de ganhar. Deixa a vida política do clube com um lamento.
- Há muita disputa interna. Todos precisam pensar nisso. Só o Grêmio perde. É preciso ter continuidade nos projetos para voltarmos a ter títulos.
Odone teve a companhia do neto João na eleição de outubro (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
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