terça-feira, 7 de agosto de 2012

Londres, dia 11: que Sheilla fique presa nesta terça-feira para sempre


Jogadora da seleção brasileira de vôlei assombra em vitória heroica
sobre a Rússia. Brasil avança no futebol, mas também sofre quedas

Por Alexandre Alliatti Rio de Janeiro

Sheilla vôlei Brasil x Rússia Olimpíadas 2012 (Foto: Jonne Roriz / Ag. Estado)Sheilla grita ao marcar mais um ponto na Rússia: o
nome do jogo (Foto: Jonne Roriz / Ag. Estado)

Esta terça-feira, 7 de agosto de 2012, deveria ser o dia da marmota para Sheilla. Deveria ser como aqueles momentos que se repetem sem parar para a personagem de Bill Murray no filme “Feitiço do Tempo”. Todo santo dia, ele acorda na cidade de Punxsutawney, nos Estados Unidos, e vê os acontecimentos se repetirem iguaizinhos à véspera, sem um triz sequer de mudança: a mesma música no rádio-relógio, as mesmas palavras, os mesmos cumprimentos, o mesmo pé atolado em um mesmo buraco na rua. Por mais que tente sair, ele está preso naquele dia – o dia da marmota, quando o bicho, uma espécie de esquilo, sai da toca para avisar se o inverno ainda vai durar algumas semanas ou se a primavera chegou. Se algum dia na vida da oposto da seleção brasileira de vôlei tivesse que se repetir sem parar, que fosse esta terça-feira. Que ela ouvisse a mesma música no rádio-relógio, que trocasse as mesmas palavras com as mesmas pessoas, que recebesse os mesmos cumprimentos infinitamente. E que protagonizasse para sempre, em um ciclo eterno, alguns dos minutos mais lendários dos Jogos Olímpicos de Londres na vitória de 3 sets a 2 sobre a Rússia.

Foi um jogo raro. Talvez a seleção adversária até fosse melhor. Difícil saber. Mas é certo que ela vinha invicta, com cinco vitórias em cinco partidas, ao passo que o Brasil sofrera duas derrotas. Para avançar às semifinais, mais do que qualidade, a seleção brasileira precisaria de maturidade, de espírito, de coração – justamente aquilo que boa parte das meninas foi acusada de não ter em um passado pré-Pequim. E a alma delas foi testada ao máximo. Desvantagem de 1 a 0. Desvantagem de 2 a 1. Tie-break. Seis match-points para a Rússia. Erros de arbitragem. E vitória! O mais incrível: vitória com uma bola depois da outra indo na direção de Sheilla, estivesse onde estivesse, fosse qual fosse a adversária gigantesca que se edificasse no bloqueio. Ela virou todas nos lances finais. Absolutamente todas. Transformou Gamova, a adversária de 2,02m, em uma anã.


Sheilla vôlei Brasil x Rússia Olimpíadas 2012 (Foto: Jonne Roriz / Ag. Estado)Brasileira se emociona com vitória sofrida e vaga nas semifinais (Foto: Jonne Roriz / Ag. Estado)

Os últimos atos de Sheilla em quadra gritaram aos olhos. Mas ela esteve muito bem acompanhada por Fabiana (a dona do último ponto), Jaque, Fabi, Dani Lins, Thaisa, Fernanda Garay. A vitória colocou o Brasil nas semifinais, contra o Japão, e foi o grande momento de um dia que também teve classificação no futebol, vitória e derrota no vôlei de praia e eliminação no handebol e no salto em distância.
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Quase lá


Lá por 13h de sábado, se nos tornarmos pela primeira vez o país campeão olímpico de futebol, será uma justiça danada reservar alguns pensamentos em reverência a Leandro Damião. Ele não tem a genialidade de Neymar. Ele não tem a moral internacional de Thiago Silva. Mas ele tem uma efetividade sem poréns. Com mais dois gols do matador, o Brasil bateu a Coreia do Sul por 3 a 0 nesta terça. O outro foi do volante Rômulo. O camisa 9 é o artilheiro das Olimpíadas, com seis gols. Vem sendo decisivo especialmente nas etapas eliminatórias.

Ele já é o terceiro atleta que mais fez gols pela Seleção masculina em Jogos Olímpicos. Perde apenas para Bebeto (oito) e Romário (sete). Se tudo der muito certo, poderá ultrapassá-los na decisão contra o México. É a chance de o Brasil, na preparação para 2014, fazer história. Até hoje, tem duas pratas, dois bronzes e uma série de fiascos. Mas falta pouco. Falta um jogo. Falta mais um ou outro gol de Leandro Damião.

Alison e Emanuel também estão quase lá. Também estão na final. Bateram a dupla formada por Plavins e Smedins, da Letônia, por 2 sets a 0 (21/15 e 22/20). O primeiro set foi fácil e deu a falsa impressão de que o caminho seria tranquilo. Mas os brasileiros quase foram surpreendidos logo depois. Os europeus engrossaram o jogo e chegaram a empatar por 18 a 18 no segundo set. Mas Alison e Emanuel tiveram cabeça no lugar para fechar o jogo e garantir o direito de disputar o ouro contra os alemães Julius Brink e Jonas Reckermann - os mesmos que derrubaram Ricardo e Pedro Cunha nas quartas de final.


vôlei de praia emanuel alison londres 2012 (Foto: Agência Reuters)Alison aponta para Emanuel: eles estão a uma vitória do ouro olímpico  (Foto: Agência Reuters)

Estava ensaiado um dia perfeito para o Brasil no vôlei de praia. Bastava a classificação de Juliana e Larissa mais tarde. E aí a esperança de ouro duplo ruiu.

Adeus ao ouro


Juliana e Larissa vôlei de praia Olimpíadas 2012 (Foto: Reuters)Juliana e Larissa perdem para dupla de quem
venceram nove partidas seguidas (Foto: Reuters)

Juliana e Larissa alcançaram as semifinais com campanha impecável. Venceram todos seus jogos por 2 a 0. Ir à decisão parecia quase um ato burocrático, especialmente depois de mais um set ganho, por 21 a 15, no início do confronto com as americanas Jennifer Kessy e April Ross. Ledo engano. Sob forte chuva, as adversárias reagiram. Ganharam o segundo set por 21 a 19. E viram a dupla brasileira se desestabilizar depois de um ace no tie-break. Resultado: 15 a 12 para as oponentes.

Foi um golpe duro. Juliana e Larissa haviam vencido os últimos nove jogos contra suas algozes em Londres. Deveriam ter sua qualidade desafiada na final, contra Walsh e May, bicampeãs olímpicas, mas a decisão agora será entre americanas. As brasileiras lutarão pelo bronze contra as chinesas Xue e Zhang.

O dia também foi de queda precoce para Maurren Maggi. Medalha de ouro em Pequim, ela ficou longe de repetir o desempenho alcançado há quatro anos. Os 7,04m do ouro de 2008 foram substituídos por 6,37m, insuficientes para garantir um lugar na decisão do salto em distância - faltaram 3cm. Ela ficou em 15º. Apenas as 12 primeiras se classificaram. Aos 36 anos, a campeã avisou que sua história está longe de terminar. Quer competir no Rio em 2016.


maurren maggi Salto (Foto: Agência Reuters)Maurren Maggi não consegue repetir desempenho e fica fora da final (Foto: Agência Reuters)

Nos 200m, os brasileiros Bruno Lins e Aldemir Gomes garantiram presença nas semifinais. Sandro Viana, porém, não conseguiu vaga. O mesmo aconteceu com Jonathan Henrique no salto triplo, Fabiano Peçanha nos 800m e Evelyn dos Santos nos 200m.

Outra eliminação que doeu foi no handebol. A seleção feminina, tão bem na primeira fase, deu o azar de pegar a Noruega, atual campeã mundial e olímpica, já nas quartas de final. Foi um jogo duro, disputado. Mas não deu. O Brasil perdeu por 21 a 19. Foi comovente ver as atletas despencando em quadra, chorando. Elas jamais confiaram tanto em sua capacidade.


Chana Masson chora derrota do handebol do Brasil (Foto: EFE)Goleira Chana cai no choro com eliminação para Noruega no handebol (Foto: EFE)

O dia também foi de adeus na canoagem. Erlon Silva e Ronilson Oliveira não conseguiram ir à final olímpica da prova C2 (canoa para duas pessoas) de 1.000 metros. Eles ficaram em quarto lugar na segunda bateria. Apenas os três primeiros se classificavam. Chegaram 482 milésimos depois da terceira dupla.

Nos saltos ornamentais, Cesar Castro ficou em 17º no trampolim de 3m e não conseguiu lugar na final. O ouro ficou com o russo Ilya Zakharov. O pódio foi completado por dois chineses: Kai Qin, com a prata, e Chong He, com o bronze.

Na vela, maus resultados. Ricardo Winick, o Bimba, encerrou sua participação nos Jogos com a nona colocação na classe RS:X. Fernanda Oliveira e Ana Barbachan também não tiveram um dia positivo. Ficaram em décimo nas duas regatas e mantiveram o quinto lugar na classificação da classe 470, mas ainda mais distantes das líderes, com chances remotas de medalha.
A alegria de um alemão e a volta por cima de um argelino


Robert Harting lançamento de disco olimpíadas 2012 (Foto: AP)Em êxtase, Robert Harting, enrolado na bandeira da Alemanha, salta por cima de obstáculos para comemorar ouro na prova de arremesso de discos em Londres (Foto: AP)


Robert Harting pegou seu disco, se concentrou e o arremessou a 68,27m. Até ali, parecia ser mais um atleta das provas de arremesso. Não era. A medalha de ouro fez o alemão se transformar. Ele primeiro, em um surto de euforia, rasgou sua camisa. Depois, olhou para a pista de corrida e se mandou para lá. Em seguida, não se intimidou com os obastáculos e saiu pulando um por um. Chegou a pegar uma câmera fotográfica e fazer uma imagem do próprio rosto. Parecia uma criança. Foi a personificação da alegria pela vitória.

Taoufik Makhloufi 1500m Olimpíadas 2012 (Foto: Reuters)Argelino cruza na frente nos 1.500m depois de ser
excluído dos Jogos (Foto: Reuters)

O atletismo ainda apresentou um exemplo de volta por cima. O argelino Taoufik Makhloufi chegou a ser excluído dos Jogos nesta segunda-feira, sob alegação de corpo mole na prova dos 800m. Ele abandonou a bateria no meio, e a desconfiança foi de que não quisesse disputar a prova, para se preservar para os 1.500m. A decisão acabou revista, e ele foi liberado para seguir competindo.
E para vencer. Nesta terça-feira, com o tempo de 3m34s08, o atleta da Argélia conquistou a medalha de ouro. Em 24 horas, foi da humilhação à glória.

Para os donos da casa, a alegria surgiu no triatlo. E esteve entre irmãos. Alistair Brownlee, bicampeão mundial, conquistou o ouro e ajudou seu caçula, Jonathan, a ficar com o bronze. Eles são filhos de um pai corredor e de uma mãe nadadora. Desde criança, se envolveram com o esporte. O vencedor da prova tem 24 anos, e o terceiro colocado, 22.

Alegria para uns, dor para outros. No levantamento de peso, o alemão Mattias Steiner tentou erguer 196kg. O problema não foi exatamente ele não ter conseguido: o problema foi o peso ter despencado em cima do pescoço dele. Sentindo dores, o atleta foi atendido, mas passa bem. Ele ainda teve ânimo para dar um aceno ao público antes de sair do ginásio.

Matthias Steiner  londres 2012 olimpadas (Foto: Reprodução)Doeu: Matthias Steiner leva no pescoço os 196kg que tentou erguer  (Foto: Reprodução)

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