Técnicos de Atlético-MG e Cruzeiro já foram derrotados duas vezes em finais de Copa do Brasil, mas preferem enaltecer a presença na decisão a temer nova derrota
Se há uma palavra da qual as torcidas brasileiras têm pavor, é vice. Ser vice-campeão significa derrota. Frustração. A quebra de uma expectativa criada por um longo tempo. Quando a queda é diante de um rival, os sentimentos são potencializados. É o que Atlético-MG e Cruzeiro tentam evitar na decisão da Copa do Brasil. Levir Culpi e Marcelo Oliveira já viveram a experiência do vice - duas vezes, pela mesma competição. Mas não é apenas o medo de ser o segundo novamente que move na final de 2014. A luta para afastar o trivice indica a estabilidade. Afinal, para ser vice, é necessário fazer boa campanha e chegar à final.
Levir
está em sua quarta decisão de Copa do Brasil. A quarta
envolvendo o Cruzeiro. Foi campeão em 1996, em cima do Palmeiras. Dois
anos
depois, o Verdão deu o troco - e o treinador, ainda pela Raposa, foi
derrotado. Em 2000, veio a derrota mais marcante, desta vez como
adversário do time celeste.
No Mineirão lotado, o Cruzeiro virou para cima do São Paulo nos minutos
finais
e impôs o segundo vice-campeonato ao comandante.
Levir Culpi é o segundo técnico com mais finais
de Copa do Brasil no currículo (
Foto: Getty Images)
Auxiliar e companheiro de Levir por onde o técnico passa,
Luiz Matter viveu todos esses momentos. E não teme a palavra vice. Mesmo que
ela se encaixe, pela terceira vez, no perfil dele e de Levir Culpi. Pelo contrário.
Ele vê falta de valorização para quem fica com a medalha de prata.
- Essa é a cultura do brasileiro. Do futebol sul-americano.
Lá fora, chegar a uma final é uma honra. Quer dizer que você passou por vários
concorrentes, venceu várias etapas. Nas Olimpíadas, quem ganha a medalha de
bronze é festejado. Essa é a cultura atrasada do brasileiro, que valoriza só o
título, a conquista. Não falo nem no Japão, onde nós temos mais conhecimento.
Sou suspeito. Aqui é assim. A cultura do vice é típica do brasileiro – analisa.
Luiz Matter: "A cultura do vice é típica do brasileiro" (Foto: Léo Simonini)
Matter não está errado. Levir é o segundo treinador que mais
chegou à final da Copa do Brasil. Mesmo assim, foi alvo de gozações dos
torcedores com o apelido de “Levice”. Marcelo Oliveira é o terceiro
comandante com mais decisões no currículo, ao lado de Vanderlei Luxemburgo.
Luiz Felipe Scolari é o técnico com mais finais, cinco. Comandado de Levir em
2000, no São Paulo, o ex-lateral-esquerdo Fábio Aurélio também vê exagero na
análise. O mérito, segundo ele, é maior que a frustração.
- Naquela final (2000) não foi nada envolvendo o Levir, ou o
fato de ser o Cruzeiro como adversário, foram as circunstâncias da final.
Perdemos o jogo em um lance bobo, em uma falha nossa. Em uma bola parada nos
minutos finais originada de um contra-ataque. A bola desviou na barreira e
entrou. Não havia o que fazer. Tem um minuto que dá tudo errado. Ali se perde
uma final. Tínhamos todos os méritos para conquistar aquele título. O Levir
sempre foi muito sereno, de muito diálogo, um excelente treinador. Tanto é que
está de volta a uma final depois de tantos anos – analisou o ex-são-paulino.
“Uma hora vai ganhar”
A final da Copa do Brasil de 2014 será a terceira dos
últimos quatro anos com Marcelo Oliveira à frente de uma das equipes. Em 2011 e
2012, o treinador viu seu clube, o Coritiba, perder para Vasco e Palmeiras,
respectivamente. Logo que chegou ao Cruzeiro, em 2013, perdeu a decisão do
Campeonato Mineiro para o Galo. Mesmo assim, a sina do vice também não o
incomoda. Pelo contrário. A presença em sua terceira decisão o deixa orgulhoso.
Mesmo que não leve o título.
- Eu acho que é significativo, sim, porque quem está
chegando está propenso a ganhar. Quem está chegando sempre uma hora vai bater e
vai ganhar. Vamos mais uma vez lutar muito por esse título.
Agora temos mais
uma oportunidade, uma oportunidade criada, construída com muito trabalho. As
duas equipes chegaram muito bem, por mérito, e acredito em uma grande final
– enalteceu o técnico da Raposa.
Mesmo com o discurso de exaltação, Marcelo, que está com 59
anos, não esconde a frustração pelas duas derrotas no Coxa. Cita o equilíbrio
das duas decisões, principalmente contra o Vasco, e diz que o clube paranaense
foi prejudicado pela arbitragem de Wilton Pereira Sampaio no primeiro jogo da
final contra o Palmeiras. Mas ele admite que o peso agora é maior. Maior,
portanto, será o título, se a Raposa o conquistar.
Marcelo Oliveira, quando comandava o Coritiba:
"uma hora vai ganhar"
(Foto: Divulgação/Coritiba)
- A final agora tem semelhança com as outras, mas não há
como negar que tem uma proporção ainda maior. Primeiro por serem duas das
grandes equipes do Brasil, por estarem em momentos fantásticos, jogando muito
bem e competindo muito. Segundo, por essa rivalidade que toma conta da cidade.
Em todo lugar que se vai, estão falando desta final. Isso valoriza ainda mais
se conquistarmos.
A derrota, ao menos no discurso, não é temida no clássico. É
apenas uma das possibilidades.
- Futebol se perde, se ganha ou se empata. Tem que estar preparado
para todas as situações – resume o capitão do Galo, Leonardo Silva.
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