sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Navio, paixões, "fogo" e títulos: a aventura nórdica do Pequeninos Fiapo de romantismo no futebol moderno, clube paulista de base leva 42 g

Fiapo de romantismo no futebol moderno, clube paulista de base leva 42 garotos à Europa e retorna com esperança de revelar novos craques


Por São Paulo


Pequeninos do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)Brasileiros fizeram sucesso com as europeias (Foto: Arquivo Pessoal)


Em meio a empresários, patrocinadores precoces, assessores, compromissos e negociações milionárias que cercam os grandes clubes já desde a adolescência de seus jogadores, ainda sobrevive um fiapo de romantismo no futebol paulista. O Pequeninos do Jockey é famoso na cidade de São Paulo. Mesmo agora, que as potências criam megaestruturas para suas categorias de base, ele costuma ser uma das portas de entrada mais procuradas por pais e jovens que sonham construir um futuro no esporte.

O amadorismo leva a situações tão distintas do que se vê no pomposo mundo do futebol, que se torna sedutor. Entre julho e agosto, 42 garotos e quatro membros de comissão técnica viajaram pela Europa. Os torneios na Finlândia, Suécia, Noruega e Dinamarca deixaram na bagagem cinco títulos, um leque de experiências e a possibilidade de mudar a vida de algumas famílias.

Tudo é conduzido por José Guimarães Júnior, o Guima, que festejou seu 80º aniversário em 2014. Ele chegou ao Jockey Clube de São Paulo em 1953. Ali, já foi cavalariço, jóquei, escriturário, diretor de sindicato e técnico do time de futsal, até se irritar com a reclamação de um reserva e, em 1969, montar o Pequeninos.

- Eu não estava ali para criar confusão, me envolver em discussões. Quis algo mais puro, e isso só poderia vir das crianças.

Com essa "pureza", antes do embarque para a Escandinávia meses atrás, Guima reuniu as 42 famílias e anunciou o valor da viagem. Pais e mães que tinham condições financeiras fizeram o rateio. Os outros não pagaram nada. O Pequeninos não registra contratos, não ganha dinheiro com transferências. A recompensa vem de outra forma. 


Pequeninos do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)
Garotada do Pequeninos do Jockey 
durante excursão pela Europa 
(Foto: Arquivo Pessoal)


Dados do clube informam que 200 mil crianças e adolescentes já passaram por seus campos, das quais três mil conseguiram atuar nas três principais divisões do futebol brasileiro. Entre eles, Zé Roberto, de duas Copas do Mundo no currículo, Júlio Baptista, André Luiz, ex-São Paulo e Corinthians, Ademilson, atacante da seleção olímpica, o atual campeão brasileiro Nilton... 

Pequeninos do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)Comemoração com mais uma taça conquistada (Foto: Arquivo Pessoal)


São esses os espelhos para os 42 meninos que rodaram a Europa acumulando gols, assistências e confusões. Dentro dos campos, nada diferente do que costuma acontecer em competições de base: disputa intensa, rivalidade entre países, discussões acaloradas – a maioria por gozações pela derrota da Seleção por 7 a 1 para a Alemanha, na Copa do Mundo –, ímpeto à flor da pele. Fora, eles protagonizaram um verdadeiro roteiro de aventura-comédia adolescente.

Muitos garotos nem se conheciam quando pisaram no avião, experiência também inédita para vários deles. As referências são por apelidos como "Mudinho" ou pela idade, como o "garoto 98". Esse, nascido em 1998, passou apuros com a polícia no navio que os transportava de um país para outro. Tudo por causa de um daqueles fones de ouvido, mania entre boleiros.

- Estava à venda no navio. Quando ele chegou, havia 15. De repente, só sobraram três. Ele precisava pegar dinheiro no quarto dele, então escondeu um para que não acabasse. Só que a câmera pegou. Ele seria preso se não devolvesse. Ele não fez por mal - conta, e defende Vinícius, lateral-direito de 14 anos.


Pequeninos do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)
Pequeninos do Jockey e sua galeria de 
troféus: orgulho do senhor Guima 
(Foto: Arquivo Pessoal)


É a lei da garotada. Contam as traquinagens do outro, jamais as próprias. Mas os parceiros, na sala de troféus do Pequeninos do Jockey, lembraram que Vinícius, enquanto batia com a escova de dentes na parede do alojamento, "sem querer" quebrou um vidro e acionou o botão de emergência. Em pouco mais de um minuto, os bombeiros estavam no local e milhares de estudantes, representando clubes do mundo todo, fora do alojamento.

A polícia também foi à escola que os hospedava para verificar o que os meninos brasileiros faziam com garotas nórdicas, também adolescentes, do lado de fora dos dormitórios, mais de uma hora e meia depois do horário marcado para que todos estivessem dentro, reunidos e dormindo. Um deles jura que elas virão ao Brasil nas próximas férias para reencontrá-los. 


Pequeninos do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)Zé Roberto, do Grêmio, já foi do Pequeninos (Foto: Arquivo Pessoal)


Sim, há marias-chuteiras europeias e adolescentes.

- Elas iam pra cima, andavam o tempo todo atrás da gente. Quando viam que éramos brasileiros, então... - conta o atacante Cadu.

A comida não era das melhores, por isso, cada trecho percorrido de navio era um deleite. Em viagens de cerca de 15 horas, os aspirantes a craques lamentavam o pouco tempo para comerem tudo que o banquete oferecia, e ainda aproveitarem as demais regalias. Há quem só tenha descoberto depois de chegar ao Brasil que era possível usar a piscina por oito euros (R$ 24).

Todo ano que o Pequeninos participa dos torneios na Europa, Guimarães manda que seus meninos visitem um asilo que fica ao lado de um dos hotéis. É o presente do senhor de 80 anos recém-completados a pessoas de sua geração. E uma lição, segundo ele, importante para o time. Tão enriquecedora quanto a experiência adquirida pelo zagueiro Henrique, 17 anos, selecionado pelo Sandefjord, time profissional da Noruega, para um período de testes.

- O Guima me disse que eu ficaria mais três semanas, aprendi muita coisa. Fiquei em casa de família, mas o clube não me deixou faltar nada, em todo momento perguntavam se eu estava feliz. Eles disseram que gostaram muito, querem que eu volte, mas preciso terminar a escola, completar 18 anos - disse o garoto, que já voltou a atuar no Independente de Limeira.


Pequeninos do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)
Ademilson, com a camisa 9, quando 
ainda era jogador do Pequeninos 
do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)


O meia Gabriel herdou a faixa de capitão da equipe de sua categoria depois que Felipão, o "negão" para os amigos, pintou o cabelo de louro. Gabriel também treina no São Paulo há sete anos. Lá, é lateral, pois a concorrência no meio-campo é acirrada. O adolescente de 14 anos navega diariamente por mares bem diferentes.

Pequeninos do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)Guilherme Santos indo para Dinamarca(Foto: Arquivo Pessoal)




Pequeninos do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)
Selfie da vitória: Henrique tira auto 
retrato no clube em que ficou para 
testes na Noruega 
(Foto: Arquivo Pessoal)


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