Fiapo de romantismo no futebol moderno, clube paulista de base leva 42 garotos à Europa e retorna com esperança de revelar novos craques
Brasileiros fizeram sucesso com as europeias (Foto: Arquivo Pessoal)
O amadorismo leva a situações tão distintas do que se vê no pomposo mundo do futebol, que se torna sedutor. Entre julho e agosto, 42 garotos e quatro membros de comissão técnica viajaram pela Europa. Os torneios na Finlândia, Suécia, Noruega e Dinamarca deixaram na bagagem cinco títulos, um leque de experiências e a possibilidade de mudar a vida de algumas famílias.
Tudo é conduzido por José Guimarães Júnior, o Guima, que festejou seu 80º aniversário em 2014. Ele chegou ao Jockey Clube de São Paulo em 1953. Ali, já foi cavalariço, jóquei, escriturário, diretor de sindicato e técnico do time de futsal, até se irritar com a reclamação de um reserva e, em 1969, montar o Pequeninos.
- Eu não estava ali para criar confusão, me envolver em discussões. Quis algo mais puro, e isso só poderia vir das crianças.
Com essa "pureza", antes do embarque para a Escandinávia meses atrás, Guima reuniu as 42 famílias e anunciou o valor da viagem. Pais e mães que tinham condições financeiras fizeram o rateio. Os outros não pagaram nada. O Pequeninos não registra contratos, não ganha dinheiro com transferências. A recompensa vem de outra forma.
Garotada do Pequeninos do Jockey
durante excursão pela Europa
(Foto: Arquivo Pessoal)
Comemoração com mais uma taça conquistada (Foto: Arquivo Pessoal)
Muitos garotos nem se conheciam quando pisaram no avião, experiência também inédita para vários deles. As referências são por apelidos como "Mudinho" ou pela idade, como o "garoto 98". Esse, nascido em 1998, passou apuros com a polícia no navio que os transportava de um país para outro. Tudo por causa de um daqueles fones de ouvido, mania entre boleiros.
- Estava à venda no navio. Quando ele chegou, havia 15. De repente, só sobraram três. Ele precisava pegar dinheiro no quarto dele, então escondeu um para que não acabasse. Só que a câmera pegou. Ele seria preso se não devolvesse. Ele não fez por mal - conta, e defende Vinícius, lateral-direito de 14 anos.
Pequeninos do Jockey e sua galeria de
troféus: orgulho do senhor Guima
(Foto: Arquivo Pessoal)
A polícia também foi à escola que os hospedava para verificar o que os meninos brasileiros faziam com garotas nórdicas, também adolescentes, do lado de fora dos dormitórios, mais de uma hora e meia depois do horário marcado para que todos estivessem dentro, reunidos e dormindo. Um deles jura que elas virão ao Brasil nas próximas férias para reencontrá-los.
Zé Roberto, do Grêmio, já foi do Pequeninos (Foto: Arquivo Pessoal)
- Elas iam pra cima, andavam o tempo todo atrás da gente. Quando viam que éramos brasileiros, então... - conta o atacante Cadu.
A comida não era das melhores, por isso, cada trecho percorrido de navio era um deleite. Em viagens de cerca de 15 horas, os aspirantes a craques lamentavam o pouco tempo para comerem tudo que o banquete oferecia, e ainda aproveitarem as demais regalias. Há quem só tenha descoberto depois de chegar ao Brasil que era possível usar a piscina por oito euros (R$ 24).
Todo ano que o Pequeninos participa dos torneios na Europa, Guimarães manda que seus meninos visitem um asilo que fica ao lado de um dos hotéis. É o presente do senhor de 80 anos recém-completados a pessoas de sua geração. E uma lição, segundo ele, importante para o time. Tão enriquecedora quanto a experiência adquirida pelo zagueiro Henrique, 17 anos, selecionado pelo Sandefjord, time profissional da Noruega, para um período de testes.
- O Guima me disse que eu ficaria mais três semanas, aprendi muita coisa. Fiquei em casa de família, mas o clube não me deixou faltar nada, em todo momento perguntavam se eu estava feliz. Eles disseram que gostaram muito, querem que eu volte, mas preciso terminar a escola, completar 18 anos - disse o garoto, que já voltou a atuar no Independente de Limeira.
Ademilson, com a camisa 9, quando
ainda era jogador do Pequeninos
do Jockey (Foto: Arquivo Pessoal)
Guilherme Santos indo para Dinamarca(Foto: Arquivo Pessoal)
Selfie da vitória: Henrique tira auto
retrato no clube em que ficou para
testes na Noruega
(Foto: Arquivo Pessoal)
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