Em campanha brilhante, sul-matogrossense vence quatro lutas na China para escrever seu nome na história da competição e do judô brasileiro
O hino começou a tocar e Layana, com os olhos cheios de lágrimas, não parava de fitar a bandeira brasileira. No lugar mais alto do pódio, a menina do Mato Grosso do Sul havia cumprido com o que prometeu. Manteve a tradição do judô brasileiro e fez o orgulho da família e do sensei Igor Rocha, seu técnico desde criança e que pela primeira vez não acompanhou em uma disputa internacional. A medalha na categoria até 52kg, tão esperada e resultado de sacrifícios incontáveis, veio das mãos do príncipe de Monaco, Albert II, a primeira de ouro do Brasil nas Olimpíadas da Juventude de Nanquim, na China. Na final, Layana venceu por ippon, finalizando a búlgara Betina Temelkova, com 1m22s de combate. Cabeça de chave, a sul-matogrossense venceu outros três combates para chegar na decisão. Chorando, Layana, de 17 anos, lembrou tudo que passou até a maior conquista de sua vida.
- Essa medalha eu não conquistei agora. Conquistei nos meus treinos, em todos os sacríficios que fiz desde que comecei no judô. Foram finais de semana sem sair, sábados e domingos em casa ou treinando, sem comer chocolate, regrando a comida. É o resultado de uma vida inteira. Tudo que fiz deu certo e não foi em vão. É o que escolhi para a minha vida. Chorei pela minha família, meu pai, minha mãe, meus irmãos e padrinhos, e pelo meu técnico, que é um segundo pai para mim e não pode vir - disse Layana, sem conter as lágrimas.
Layana Colman comemora a conquista
da primeira medalha de ouro do Brasil
(Foto: Thierry Gozzer)
O resultado mantém o bom momento do judô feminino brasileiro. Em Londres 2012, o Brasil ganhou sua primeira medalha de ouro olímpica com Sarah Menezes. E no ano passado, no Mundial do Rio, Rafaela Silva foi a primeira brasileira a conquistar um ouro no feminino. Além disso, em 2010, nos Jogos de Cingapura, a brasileira Flávia Gomes foi prata no peso até 63kg. Para Layana, isso é só o começo, e as meninas do Brasil não têm limites.
- Tudo o que o judô feminino tem conquistado é resultado do trabalho de muita gente. Da CBJ (Confederação Brasileira de Judô), do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), da minha academia, da Sarah, da Rafaela. E para mim também é só o começo. Não vai ficar por aí. Eu e as meninas do Brasil ainda vamos dar muitos shows pelo mundo - brinca Layana.
Quatro vitórias irretocáveis
- Eu estudei todas as minhas rivais, treinei muito, e todo o treinamento que tive no Japão com o Time Brasil me deu motivação e me mostrou que estou no caminho certo. Estou muito feliz com o que consegui. Durante a luta, passou pela minha cabeça que já tinha feito tudo que tinha que fazer, que estava pronta, e a minha estratégia era sempre me impor, não deixar ela se impor na luta. Quando você toma um baque, como aconteceu com ela, você já fica meio desestabilizada. Essa era minhá tática, deixar ela sem pensar, colocar minha pegada, sempre trabalhar primeiro que ela, esse era o meu foco - explica Layana, que disputa nos próximos dias a competição por equipes e ao contrários Jogos Olímpicos, ficará na Vila Olímpica até o fim de toda a competição.]
Layana Colman, de azul, foi brilhante
Jogos Olímpicos da Juventude (Foto:
Wander Roberto/Inovafoto/COB)
No masculino, Basile perde na repescagem
Na repescagem, outro revés e o fim do sonho de uma medalha. Basile pegou o Salim Farukhi, do Tajiquistão, e começou bem. Nos primeiros minutos, quase conseguiu um ippon, mas a queda lenta e com o corpo do rival de lado fez com que a arbitragem desse um wazari para o brasileiro. Na sequência, após um erro, Basile foi dominado e finalizado por Salim.
- Estava bem na luta, vencendo. Mas ele me dominou e eu errei. Então ele acabou vencendo. Meu rival conseguiu encaixar uma finalização e tive que bater, pois estava quase apagando. Fico triste, pois nosso esporte tem tradição em Olimpíadas e fica um gostinho ruim por não levar uma medalha. Mas serve de experiência. Já disputei dois mundiais na base e nunca vi uma organização como essa. Nada chegou perto. É uma experiência bem gostosa e importante para competições futuras - explica José Basile.
O brasileiro lutou uma categoria acima da sua, mas preferiu não dar desculpas para a derrota.
- Meus rivais são mais altos e fortes que eu também na categoria até 73kg, onde luto. Então, isso não serve como desculpa e nem quero. Fiz um bom treinamento de campo, tive bons treinos também no Japão, e achava que dava para trazer uma medalha - finaliza o brasileiro.
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