Em seu retorno à Serie A, equipe, que conta com seis brasileiros, vira sensação do torneio, briga na parte de cima da tabela, mas não pensa em repetir scudetto de 1985
Foram
11 longos anos de espera. Quatro deles no inferno
da Série C. Sete deles no purgatório da Série B. Somente em 2013, o
Hellas
Verona pôde retornar ao paraíso, à elite da Itália. E, pelo menos
neste início de temporada, a equipe dá sinais de que não pretende deixar
o Olimpo do calcio tão cedo: é a surpresa do campeonato nacional, com
22 pontos que a
deixam na quinta posição, o que lhe garantiria até mesmo uma vaga na
próxima Liga Europa. Muito longe do perigo e da ameaça de voltar aos
confins do futebol local.
Esta não é a primeira vez
que o Verona surpreende. Na
temporada 1984/1985, o feito foi ainda maior: a presença da equipe
gialloblù na parte de cima da
tabela durou até a última rodada e culminou no scudetto, o único da
história do
clube. O futebol atual é outro, mas, se uma coisa não muda, é a
empolgação dos
torcedores quando sua equipe vai bem. O sonho de reviver antigas glórias
retorna a cada "tifoso". E, no Hellas, isso não é exceção.
-
Agora que a gente está fazendo uma campanha incrível, o
assunto é só esse. A torcida é uma das mais fanáticas da Itália, tem
muito amor pelo clube. Todos falam que esta é a melhor campanha do
Verona, só perde
para a de 1985. Mas é complicado. O futebol é estranho, nunca se sabe o
que
pode acontecer. Não tem que pensar lá na frente. A gente sempre
acreditou que
podia fazer bem, mas fazer tão bem assim ninguém esperava. Estamos
vivendo
cada jogo como se fosse um sonho – disse o volante brasileiro Jorginho,
destaque da equipe na competição.
No sentido horário: Jorginho, Rafael, Rafael Marques,
Luca Toni e torcedores do Verona (Foto: Editoria de Arte)
Repetir o feito de quase três décadas atrás é complicado,
principalmente com Roma, Napoli e Juventus já tendo disparado na competição.
Uma vaga na Liga Europa parece ser o “título” mais acessível do Verona na temporada. Além
disso, para o jornalista italiano Tommaso Pelizzari, do jornal “Corriere dela
Sera”, há pouco em comum entre o atual elenco e aquele campeão em 1985.
-
Não há similaridade entre as duas equipes. Naquela
época, o Verona estava sempre na parte de cima da tabela (o time foi
quarto lugar em 1983 e sexto em 1984). Nos dois anos, chegou à final da
Copa da Itália). A curiosidade é que o
atual técnico da equipe, Andrea Mandorlini, é um aprendiz de Giovanni
Trapattoni,
que é da mesma escola de Osvaldo Bagnoli, campeão com o Verona em 1985.
Ambos foram, inclusive, companheiros de equipe no Milan na década de
1960 –
contou Pelizzari.
Outra coincidência pode ser
encontrada na estrela da
equipe. Na campanha do scudetto, o astro foi Preben Elkjaer, atacante
dinamarquês. No atual elenco, o principal jogador também é
estrangeiro: Jorginho, que, entretanto, já admitiu a possibilidade de
defender a seleção italiana e entrou na mira de grandes clubeus
europeus.
Hellas Verona 1985 (Foto: Reprodução / Site Oficial Hellas
Verona)
PERÍODO DE VACAS MAGRAS
Jorginho comemora com o compatriota Rômulo: legião brasileira no Verona (Foto: Getty Images)
O jogador, de 21 anos, acompanhou de perto a ascensão do
Verona. Ele chegou ao clube em 2010, quando o time iniciou a campanha que
culminaria na subida à Série B. Na segunda divisão, foi o destaque de uma
equipe pressionada a voltar à elite por conta do passado vitorioso.
- Quando eu cheguei, o clube estava quebrado. A Série B
foi muito difícil, porque a gente já começou como favorito. A segunda divisão é
muito competitiva. É um torneio comprido, e a gente conseguiu a subida na última
rodada. Teve muita cobrança, porque o time foi montado para ser campeão –
lembrou.
Antes do alívio pelo retorno à elite, porém, o Verona
sofreu. Após ser campeão nacional em 1985, o time fez boa campanha na temporada
seguinte, ficando em quarto lugar, mas, depois, iniciou uma longa derrocada,
que culminou no rebaixamento em 1990. No próximo ano, o clube faliu e deu
origem a outra entidade, o Verona Football Club. Entre idas e vindas, o nome
atual, Hellas Verona Football Club, foi assumido em 1995. Mas a peregrinação
pelas diversas divisões do calcio continuou, assim como os problemas
financeiros.
- A crise do Verona foi igual à de muitos outros clubes:
a incapacidade ou impossibilidade de lidar com os gastos da Série A depois do
aumento do dinheiro referente às cotas de televisão, que fez com que os custos
de salários e todo o resto aumentassem também – analisou Pellizzari.
A RECONSTRUÇÃO
Ex-presidente do Verona, Martinelli reergueu o clube (Foto: Reprodução / Site Oficial Verona)
A reestruturação do Verona só teve início de fato em 2009, quando
Giovanni Martinelli assumiu a presidência do clube. O dirigente, que morreu em
outubro, é visto como o grande responsável pela boa fase do time. Nascido na
cidade, ele superou problemas de saúde e se equilibrou entre o Verona e seus negócios pessoais para tocar o projeto gialloblù.
- Quando eu cheguei, o clube estava quebrado. Então
entrou nosso ex-presidente. Ele era uma grande pessoa e mudou muita coisa. Era
daqui da cidade, e todo mundo o apoiou. Ele fez um trabalho bacana, apesar de
ser limitado profissionalmente, pois tinha pouca disponibilidade. Ele tinha
algumas empresas, assumiu o Verona porque viu que o clube estava quebrado. O
Verona era a paixão dele, e ele quis reerguer o time – explicou Jorginho.
Nesta recuperação do Verona, os brasileiros têm sido
protagonistas desde o início. Atualmente, existem seis atletas no elenco atual.
O mais antigo é o goleiro Rafael, ídolo da torcida, que está no clube há cinco
temporadas e chegou quando time estava ainda na terceira divisão. Além dele e de
Jorginho, há ainda o arqueiro Nicolas, o zagueiro Rafael Marques, o lateral
Rômulo e o volante Raphael Martinho.
- Acredito que isso ajuda a gente. Todos brincam muito.
Tem também outros sul-americanos. São três argentinos, um uruguaio... O grupo é
bem unido, está fluindo tudo para o mesmo lado, correndo todo mundo junto –
disse Jorginho.
Torcida do Verona exibe faixa em homenagem a Martinelli
após morte do ex-presidente (Foto: Getty Images)
E, entre a legião brasileira, há também a experiência
italiana, personificada no artilheiro Luca Toni. Aos 36 anos, o centroavante,
campeão mundial em 2006, assumiu o papel de líder do elenco. Ele é o goleador
do Verona na temporada, com seis gols, um a mais que Jorginho.
- Essa mistura de experiência com juventude foi muito
falada aqui. A vontade de crescer e humildade do grupo é um fator muito
importante. O Luca Toni, com 36 anos, depois de ganhar tudo, se sacrifica, dá
conselho. É o primeiro a chegar ao treino. Todos acabam aprendendo – contou o
meia brasileiro.
PÉS NO CHÃO PARA VIVER O SONHO
Apesar da boa fase e dos resultados surpreendentes, a principal preocupação do Verona ainda é garantir a permanência na Serie A e pôr fim aos anos de sofrimento longe da elite. Afinal, mesmo com o início em alto nível, apenas 11 rodadas foram disputadas até o momento.
- Nosso objetivo, desde o começo, é salvar o ano, não
cair. Estamos indo bem, mas a estrada é muito longa. Tem muito ponto para
disputar. Temos que chegar aos 40, nosso objetivo é esse. Ainda é muito
cedo para pensar em algo a mais – afirmou Jorginho.
Luca Toni comemora com a torcida do Verona: veterano
é um dos destaques do time (Foto: Agência EFE)
- Acredito que a expectativa para o Verona ainda é a
mesma: chegar o mais rápido possível aos 40 pontos e permanecer na Série A. O
resto virá depois e será merecido. É possível que o time consiga a
classificação para a Liga Europa, mas é difícil – apontou o jornalista
Pellizzari.
A ordem, portanto, é aproveitar os 38
jogos no paraíso. Conseguir realizar a árdua tarefa de sonhar, mas
manter os pés no chão. O próximo desafio é contra o Genoa, neste
domingo, fora de casa.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-italiano/noticia/2013/11/mundo-afora-de-volta-elite-italiana-hellas-verona-vive-sonho-no-calcio.html
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