domingo, 10 de novembro de 2013

Mundo Afora: de volta à elite italiana, Hellas Verona vive sonho no calcio

Em seu retorno à Serie A, equipe, que conta com seis brasileiros, vira sensação do torneio, briga na parte de cima da tabela, mas não pensa em repetir scudetto de 1985

Por Rio de Janeiro

Foram 11 longos anos de espera. Quatro deles no inferno da Série C. Sete deles no purgatório da Série B. Somente em 2013, o Hellas Verona pôde retornar ao paraíso, à elite da Itália. E, pelo menos neste início de temporada, a equipe dá sinais de que não pretende deixar o Olimpo do calcio tão cedo: é a surpresa do campeonato nacional, com 22 pontos que a deixam na quinta posição, o que lhe garantiria até mesmo uma vaga na próxima Liga Europa. Muito longe do perigo e da ameaça de voltar aos confins do futebol local.

Esta não é a primeira vez que o Verona surpreende. Na temporada 1984/1985, o feito foi ainda maior: a presença da equipe gialloblù na parte de cima da tabela durou até a última rodada e culminou no scudetto, o único da história do clube. O futebol atual é outro, mas, se uma coisa não muda, é a empolgação dos torcedores quando sua equipe vai bem. O sonho de reviver antigas glórias retorna a cada "tifoso". E, no Hellas, isso não é exceção.
 
- Agora que a gente está fazendo uma campanha incrível, o assunto é só esse. A torcida é uma das mais fanáticas da Itália, tem muito amor pelo clube. Todos falam que esta é a melhor campanha do Verona, só perde para a de 1985. Mas é complicado. O futebol é estranho, nunca se sabe o que pode acontecer. Não tem que pensar lá na frente. A gente sempre acreditou que podia fazer bem, mas fazer tão bem assim ninguém esperava. Estamos vivendo cada jogo como se fosse um sonho – disse o volante brasileiro Jorginho, destaque da equipe na competição. 

Mosaico Hellas Verona 690 (Foto: Editoria de Arte) 
No sentido horário: Jorginho, Rafael, Rafael Marques, 
Luca Toni e torcedores do Verona (Foto: Editoria de Arte)


Repetir o feito de quase três décadas atrás é complicado, principalmente com Roma, Napoli e Juventus já tendo disparado na competição. Uma vaga na Liga Europa parece ser o “título” mais acessível do Verona na temporada. Além disso, para o jornalista italiano Tommaso Pelizzari, do jornal “Corriere dela Sera”, há pouco em comum entre o atual elenco e aquele campeão em 1985.
- Não há similaridade entre as duas equipes. Naquela época, o Verona estava sempre na parte de cima da tabela (o time foi quarto lugar em 1983 e sexto em 1984). Nos dois anos, chegou à final da Copa da Itália). A curiosidade é que o atual técnico da equipe, Andrea Mandorlini, é um aprendiz de Giovanni Trapattoni, que é da mesma escola de Osvaldo Bagnoli, campeão com o Verona em 1985. Ambos foram, inclusive, companheiros de equipe no Milan na década de 1960 – contou Pelizzari.
 
Outra coincidência pode ser encontrada na estrela da equipe. Na campanha do scudetto, o astro foi Preben Elkjaer, atacante dinamarquês. No atual elenco, o principal jogador também é estrangeiro: Jorginho, que, entretanto, já admitiu a possibilidade de defender a seleção italiana e entrou na mira de grandes clubeus europeus.
 
Hellas Verona 1985 (Foto: Reprodução / Site Oficial Hellas Verona) 
Hellas Verona 1985 (Foto: Reprodução / Site Oficial Hellas 
Verona)

PERÍODO DE VACAS MAGRAS

Jorginho e Romulo Hellas Verona (Foto: Getty Images)Jorginho comemora com o compatriota Rômulo: legião brasileira no Verona (Foto: Getty Images)
 
O jogador, de 21 anos, acompanhou de perto a ascensão do Verona. Ele chegou ao clube em 2010, quando o time iniciou a campanha que culminaria na subida à Série B. Na segunda divisão, foi o destaque de uma equipe pressionada a voltar à elite por conta do passado vitorioso.
 
- Quando eu cheguei, o clube estava quebrado. A Série B foi muito difícil, porque a gente já começou como favorito. A segunda divisão é muito competitiva. É um torneio comprido, e a gente conseguiu a subida na última rodada. Teve muita cobrança, porque o time foi montado para ser campeão – lembrou.


Antes do alívio pelo retorno à elite, porém, o Verona sofreu. Após ser campeão nacional em 1985, o time fez boa campanha na temporada seguinte, ficando em quarto lugar, mas, depois, iniciou uma longa derrocada, que culminou no rebaixamento em 1990. No próximo ano, o clube faliu e deu origem a outra entidade, o Verona Football Club. Entre idas e vindas, o nome atual, Hellas Verona Football Club, foi assumido em 1995. Mas a peregrinação pelas diversas divisões do calcio continuou, assim como os problemas financeiros.
 
- A crise do Verona foi igual à de muitos outros clubes: a incapacidade ou impossibilidade de lidar com os gastos da Série A depois do aumento do dinheiro referente às cotas de televisão, que fez com que os custos de salários e todo o resto aumentassem também – analisou Pellizzari.
 
A RECONSTRUÇÃO

Martineli Hellas Verona  (Foto: Reprodução / Site Oficial Hellas Verona)Ex-presidente do Verona, Martinelli reergueu o clube (Foto: Reprodução / Site Oficial Verona)
 
A reestruturação do Verona só teve início de fato em 2009, quando Giovanni Martinelli assumiu a presidência do clube. O dirigente, que morreu em outubro, é visto como o grande responsável pela boa fase do time. Nascido na cidade, ele superou problemas de saúde e se equilibrou entre o Verona e seus negócios pessoais para tocar o projeto gialloblù.
 
- Quando eu cheguei, o clube estava quebrado. Então entrou nosso ex-presidente. Ele era uma grande pessoa e mudou muita coisa. Era daqui da cidade, e todo mundo o apoiou. Ele fez um trabalho bacana, apesar de ser limitado profissionalmente, pois tinha pouca disponibilidade. Ele tinha algumas empresas, assumiu o Verona porque viu que o clube estava quebrado. O Verona era a paixão dele, e ele quis reerguer o time – explicou Jorginho.
 
Nesta recuperação do Verona, os brasileiros têm sido protagonistas desde o início. Atualmente, existem seis atletas no elenco atual. O mais antigo é o goleiro Rafael, ídolo da torcida, que está no clube há cinco temporadas e chegou quando time estava ainda na terceira divisão. Além dele e de Jorginho, há ainda o arqueiro Nicolas, o zagueiro Rafael Marques, o lateral Rômulo e o volante Raphael Martinho.
 
- Acredito que isso ajuda a gente. Todos brincam muito. Tem também outros sul-americanos. São três argentinos, um uruguaio... O grupo é bem unido, está fluindo tudo para o mesmo lado, correndo todo mundo junto – disse Jorginho.
 
Torcida Hellas Verona (Foto: Getty Images) 
Torcida do Verona exibe faixa em homenagem a Martinelli 
após morte do ex-presidente (Foto: Getty Images)
 
E, entre a legião brasileira, há também a experiência italiana, personificada no artilheiro Luca Toni. Aos 36 anos, o centroavante, campeão mundial em 2006, assumiu o papel de líder do elenco. Ele é o goleador do Verona na temporada, com seis gols, um a mais que Jorginho.
 
- Essa mistura de experiência com juventude foi muito falada aqui. A vontade de crescer e humildade do grupo é um fator muito importante. O Luca Toni, com 36 anos, depois de ganhar tudo, se sacrifica, dá conselho. É o primeiro a chegar ao treino. Todos acabam aprendendo – contou o meia brasileiro. 

PÉS NO CHÃO PARA VIVER O SONHO

Apesar da boa fase e dos resultados surpreendentes, a principal preocupação do Verona ainda é garantir a permanência na Serie A e pôr fim aos anos de sofrimento longe da elite. Afinal, mesmo com o início em alto nível, apenas 11 rodadas foram disputadas até o momento.
 
- Nosso objetivo, desde o começo, é salvar o ano, não cair. Estamos indo bem, mas a estrada é muito longa. Tem muito ponto para disputar. Temos que chegar aos 40, nosso objetivo é esse. Ainda é muito cedo para pensar em algo a mais – afirmou Jorginho.
 
Luca Toni Hellas Verona (Foto: Agência EFE) 
Luca Toni comemora com a torcida do Verona: veterano 
é um dos destaques do time (Foto: Agência EFE)
 
- Acredito que a expectativa para o Verona ainda é a mesma: chegar o mais rápido possível aos 40 pontos e permanecer na Série A. O resto virá depois e será merecido. É possível que o time consiga a classificação para a Liga Europa, mas é difícil – apontou o jornalista Pellizzari.
A ordem, portanto, é aproveitar os 38 jogos no paraíso. Conseguir realizar a árdua tarefa de sonhar, mas manter os pés no chão. O próximo desafio é contra o Genoa, neste domingo, fora de casa.
 
- Para muitos jogadores do elenco, é o primeiro ano na Série A. Conseguir um feito com o Verona seria histórico. Para a gente, não é só mais um jogo. É um sonho jogar na Série A, contra jogadores importantes – finalizou Jorginho.  

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-italiano/noticia/2013/11/mundo-afora-de-volta-elite-italiana-hellas-verona-vive-sonho-no-calcio.html

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