Público brinca, dança, canta e faz até ‘campanha’ por Bebeto em tarde onde partida ficou em segundo plano: ‘Qual é o jogo que vai ter mesmo?’
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Noventa minutos de futebol e cinco horas de muita diversão. Assim foi o
sábado do torcedor que esteve presente na reabertura do Maracanã. Convidados para o primeiro evento-teste do estádio, mais de 20 mil
operários, familiares e amigos transformaram o local em um gigantesco
parque de diversões. Com comida de graça, atrações das mais diversas e
até mesmo brindes, não seria absurdo dizer que o que menos importou foi o
que aconteceu em campo, na vitória por 8 a 5 dos Amigos de Ronaldo
contra os Amigos de Bebeto. Pequenos problemas estruturais, então,
passaram batido.- Veja galeria de fotos dos operários no evento-teste do Maracanã
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Apesar da presença de cambistas nos arredores dos estádios, nas arquibancadas o que se viu foi a participação em massa de operários orgulhosos por participarem do primeiro evento no estádio que sediará a final da Copa de 2014. O ambiente familiar era comprovado pela presença em bom número de crianças e mulheres, além de abraços de celebração entusiasmados entre amigos que trabalharam nos últimos três anos para que a obra fosse concluída a tempo da Copa das Confederações.
A visão da área destinada aos operários no Maracanã: convidados especiais da festa (Foto: Cahê Mota )
- Tem muita coisa maquiada daqui da entrada até a arquibancada que ainda precisa ser feita.
Uma das coisas a serem “feitas” é o conserto do sensor que libera as roletas do estádio. Ainda na fila, os voluntários orientavam para que os canhotos dos ingressos fossem destacados. Pouco antes do portão de entrada, eles eram entregues a outro funcionário, que liberava o acesso sem checar a veracidade do bilhete.
Na chegada, os trabalhadores e seus familiares encararam longa fila para entrar (Foto: Janir Junior)
Já dentro do estádio, o clima de colônia de férias tomava conta do local. Voluntários distribuíam martelos infláveis que seriam responsáveis por um barulho quase incessante durante o jogo e recebiam o público ao som de megafones dizendo: “Sejam bem-vindos. Uma nova história começa a ser escrita, e vocês fazem parte dela”. Entre a rampa de acesso e as arquibancadas, porém, as opções de lazer eram muitas.
Voltada para as crianças, um setor denominado de “Pequena Área” oferecia jogos de totó,vídeo game, chutes ao alvo, além de painéis para fotos produzidas no novo Maracanã. Operários de todas as faixas etárias se aventuraram no local e não escondiam a alegria por poderem desfrutar de um ambiente que por muito tempo foi sinônimo apenas de trabalho. Medalhas de honra ao mérito também eram distribuídas para recordação.
Ingresso dos operários dava direito a lanche durante o evento-teste (Foto: Cahê Mota )
A aprovação da área de lazer foi tamanha que, mesmo a medida que a partida se aproximava, parecia que muitos abririam mão do que aconteceria em campo para permanecer no local. Entre os que seguiam para as arquibancadas, alguns não estavam preocupados exatamente com o jogo. Era o caso de Francisco das Chagas, maranhense deslocado para o Rio para trabalhar na montagem da cobertura do estádio. Questionado sobre para quem iria torcer, o operário coçou a cabeça, pensou e mandou:
- Rapaz, qual é o jogo que vai ter mesmo?
Com vitória de Bebeto ou Ronaldo, porém, a sensação era a mesma: de dever cumprido.
- É impressionante ver esse estádio assim, com tudo pronto, pintadinho, numerado. É a coisa mais linda do mundo. Nem parece o mesmo lugar. Valeu muito a pena. Valeu a pena correr até risco de vida lá em cima (na cobertura). O coração está acelerado – disse Francisco.
Fotógrafos do governo registram a visita das crianças ao novo Maracanã (Foto: Cahê Mota )
Ao seguir para as arquibancadas, o maranhense pôde perceber a preocupação evidente com a segurança no local. Ao contrário do que acontecia antigamente, entrada e saída foram determinadas para locais distintos – somente até o apito inicial – e detectores de metal foram instalados. Com a ausência de máquinas de raio-x, torcedores com bolsas maiores eram obrigados ainda a passar por uma pequena vistoria.
Já na arquibancada, os voluntários recebiam os torcedores com um recado até certo ponto surpreendente: não havia necessidade de seguir a risca os lugares marcados no ingresso. A única exceção foi na parte mais próxima da Tribuna de Honra, que receberia a presidente Dilma Rousseff. O local foi ocupado somente por militares. A rigidez, por sua vez, durou somente até o intervalo.
Com quase todos os mais de 20 mil torcedores já a postos, o ambiente se tornou ainda mais festivo. Do campo, animadores realizavam sorteio e puxavam coreografias. O martelo inflável, distribuído na entrada, virou febre e servia tanto para fazer barulho quanto para dar um formato diferenciado a tradicional “ola”. Entretanto, não demorou muito para as coreografias coletivas darem lugar ao molejo individual ao som de músicas do momento que ecoavam no sistema de som.
Após gritos de torcida como “Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor” e “O Maraca é nosso”, o DJ fez o aquecimento com "Fio Maravilha" para depois emendar o funk “Passinho do Volante”, com o refrão “Ah, lek, lek, lek”, e o sertanejo “Balada Boa”, de Gusttavo Lima. O Maraca virou boate.
Exatos 22 minutos antes do horário previsto para o início do jogo, o estádio escureceu e silenciou. No momento mais emocionante da noite, celulares iluminavam o local enquanto um telão gigantesco foi aberto no lado oposto da arquibancada para a apresentação de um filme que contou a história do estádio e o desenrolar da obra. Neste instante, a união das coreografias começou a dar lugar a paixão por clubes, com imensa maioria de torcedores do Flamengo. A cada imagem exibida, a alternância era evidente: “Éééé” para conquistas rubro-negras e “Uhhhhh” para os rivais, que tentavam reagir gritando o nome de seus times.
Na parte final do vídeo, o Maracanã voltou a ser um só novamente. Em agradecimento aos presentes, o locutor chamou os operários de heróis e disse: “São construtores do Brasil, que trabalham dia e noite sem torcida, e merecem os aplausos da nação”. Orgulhosos do “filho” que ali nascia, participantes da reconstrução do estádio se abraçavam e cumprimentavam, como se vibrassem o gol que lhes cabia cantando em uma só voz: “O Maraca é nosso, aha, uhu”.
Mesmo com voluntários, lugares marcados não são respeitados no primeiro jogo (Foto: Cahê Mota )
- Estou ansioso. É uma honra estar aqui. A emoção é grande. Nosso dever está quase cumprido. Ainda falta um pouquinho – disse Diogo Oliveira, morador de Nova Iguaçu e responsável pela montagem de andaimes na obra.
Torcedores tentam orientar Naldo e torcem por Bebeto
Reações positivas e negativas ainda marcaram a exibição das escalações nos telões, que contou com a numeração errada de muitos jogadores. E como o placar pouco importava, os torcedores pareciam buscar soluções para tornar tudo mais divertido. O primeiro “alvo” foi Naldo, a surpresa no time de Ronaldo. Completamente perdido no ataque ao lado do Fenômeno, o cantor até acertava os passes, mas permanecia quase que o tempo todo em impedimento.
Naldo registra ensaio no gramado: ídolo dos torcedores (Foto: Reprodução / Instagram)
Durante a paralisação, uma estratégia que deu certo no início virou problema. Com as entradas fechadas por uma fita amarela, os torcedores se viam obrigados a passar no meio das arquibancadas até a saída, o que acabou causando problemas na visão do campo quando a bola voltou a rolar. Assim, todos os acessos passaram a ter trânsito livre e a área restrita próxima da Tribuna de Honra foi liberada. Na volta do segundo tempo, um problema “cultural” ficou claro: eram muitos os torcedores que, por não terem que sentar nos lugares marcados, assistiam o jogo em pé.
A atitude colocava um ponto final em uma das novidades do Maracanã: a ausência de ponto cego – ou seja, todos os assentos deveriam ter visão total do que acontece no campo. Aglomerados em parapeitos que dividem setores e até mesmo em escadas, os torcedores ignoravam quem estava sentado nas primeiras fileiras e não eram repreendidos por voluntários. Mais do que isso, muitos dos voluntários faziam parte desses grupos ou ignoravam o trabalho para tirar fotos e acompanhar a partida. Lugares destinados a deficientes também não foram respeitados.
Em campo, a falta de competitividade tirava um pouco a graça da partida, apesar dos gols em profusão. Da metade do segundo tempo até o final, um detalhe passou a monopolizar a atenção do público: a luta de Bebeto por seu gol. A cada tentativa do tetracampeão, o público reagia com entusiasmo: fosse rindo em alguns tropeções ou lamentando as defesas de Fábio Noronha.
O golaço marcado por Ronaldo, aos 32, mereceu um capítulo à parte, e o Fenômeno teve seu nome gritado por todo estádio. Faltava ainda o gol de Bebeto. E ele aconteceu no último lance da partida, de pênalti, para ser o mais comemorado.
O apito final de Ana Paula Oliveira mandou os jogadores para o vestiário, mas não os operários para casa. A conclusão do sorteio de prêmios, realizado no campo, manteve o Maracanã lotado por mais 30 minutos antes de encerrar uma noite em que nem todos voltaram para casa cientes do 8 a 5 imposto pelo time de Ronaldo. A diversão, porém, foi garantida.
Na parte interna do estádio, salão de jogos faz a alegria de operários e filhos (Foto: Cahê Mota )
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-das-confederacoes/noticia/2013/04/salao-de-festas-futebol-vira-detalhe-em-dia-de-diversao-no-maracana.html
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