quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A corrida olímpica: recorde do Brasil, Dream Team, estreantes e garantidos

Saiba quem está classificado para as Olimpíadas, como os astros da NBA, e o caminho a ser percorrido por quem ainda busca vaga nos Jogos do Rio 2016



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São Paulo

A largada já foi dada. É longo e cheio de obstáculos o caminho dos atletas mundo afora até alcançar a meta: a classificação para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Aos poucos, as quase 11 mil vagas vão ganhando identidade, ou pelo menos nacionalidade. País-sede, o Brasil já garantiu delegação recorde nos Jogos. Astros, como os do Dream Team de basquete dos Estados Unidos, também já estão assegurados, assim como alguns coadjuvantes de pequenas e distantes ilhas. Cerca de 80% das vagas, porém, ainda estão esperando por um dono. A um ano dos Jogos, a corrida olímpica entra em sua reta final e vai acabar apenas dias antes da abertura do dia 5 de agosto, no Maracanã.

PÁGINA ESPECIAL: clique aqui para acompanhar o panorama de cada modalidade, os países e atletas já classificados e o sistema de qualificação para as vagas em aberto.


RECORDE DO BRASIL

O Brasil vai entrar em cena com número recorde de atletas. Entre classificações conquistadas, vagas de país-sede e índices do atletismo, o país já tem, segundo o Comitê Olímpico do Brasil (COB) 353 competidores garantidos - sem contar os reservas dos revezamentos de atletismo, já que a confederação ainda pode definir o número de suplentes que inscreverá e se os inscreverá. 
Destas vagas, são poucas as que têm identidade certa, como os velejadores Jorge Zarif (Finn), Ricardo Winicki (RS:X), Patrícia Freitas (RS:X), as duplas Ana Barbachan e Fernanda Oliveira (470) e Martine Grael e Kahena Kunze (49er FX); os representantes da maratona aquática Allan do Carmo, Ana Marcela Cunha e Poliana Okimoto, que garantiram seus lugares através do Mundial do Esportes Aquáticos, em Kazan, na Rússia; Hugo Calderano e Yane Marques ouro no Pan de Toronto no tênis de mesa e no pentatlo moderno, respectivamente. 
Cassio Rippel e Felipe Wu, também vencedores no Pan, confirmaram mais duas vagas para o país, e a tendência é que elas sejam preenchidas por eles.

Ana Marcela Maratona Aquática (Foto: Satiro Sodré/SSPress)
Ana Marcela exibe as três medalhas con-
quistadas no Mundial de Kazan 
(Foto: Satiro Sodré/SSPress)


O COB espera que a delegação tenha aproximadamente 400 atletas, bem mais do que os 258 de Londres, em 2012, e os 277 de Pequim, em 2008. Esse crescimento deve ser puxado pela natação - haverá duas seletivas nacionais - e pelo basquete - a CBB (Confederação Brasileira de Basketball) tenta garantir a participação do Brasil como país-sede, mas os times podem ter de buscar a vaga na quadra.


NEM BOLT ESTÁ GARANTIDO

Bolt faz seu gesto característico depois da vitória nos 100m rasos (Foto: Reuters)Bolt já tem o índice olímpico dos 100m rasos, mas ainda concorre com compatriotas pelas três vagas da Jamaica na prova (Foto: Reuters)


Para as provas de atletismo e natação, os atletas precisam conseguir marcas mínimas de classificação, chamadas de índices. Como há limites de representantes por prova por delegação - três no atletismo e dois na natação -, esses índices não garantem de imediato a participação do atleta nas Olimpíadas. Dentro dos limites estabelecidos pelas federações internacionais, as confederações nacionais de cada modalidade escolhem os atletas com índices que desejam inscrever e podem estabelecer critérios de seleção, como seletivas nacionais.

Assim, mesmo o astro jamaicano Usain Bolt não está garantido no Rio 2016 - embora sua presença seja óbvia. Com a marca de 9s87, ele já tem o índice olímpico dos 100m rasos, mas disputa com seus compatriotas os três postos do país caribenho na prova - hoje ele é o segundo do ranking jamaicano, atrás do ex-recordista mundial Asafa Powell.



DREAN TEAM

Depois do anfitrião Brasil, os Estados Unidos é o país com o maior número de atletas já garantidos, ultrapassando a primeira centena. Esse número já elevado de vagas se deve principalmente aos revezamentos do atletismo, ao hipismo, ao tiro e a seis equipes de modalidades coletivas: basquete feminino, hóquei sobre grama feminino, rúgbi masculino, rúgbi feminino, polo aquático masculino e o basquete masculino. Campeões mundiais e olímpicos, os americanos podem montar um novo Dream Team de basquete, com estrelas como LeBron James, Stephen Curry, Kevin Durant e James Harden.

LeBron James na final do basquete entre Estados Unidos e Espanha (Foto: Reuters)
Astro da NBA, LeBron James pode ser tricampeão 
olímpico no Rio 2016 (Foto: Reuters)


OLHO EM FIJI

A um ano dos Jogos do Rio, Fiji já é o país que mais evoluiu em número de representantes em relação às Olimpíadas de Londres. Em 2012, o arquipélago paradisíaco da Oceania levou aos Jogos apenas nove atletas e já mais do que triplicou esse número para 2016, chegando a 30 vagas. Dois esportes coletivos são responsáveis por esse crescimento. Fiji surpreendeu ao vencer o pré-olímpico continental de futebol masculino e pela primeira vez disputará uma grande competição da modalidade. A maior aposta, porém, é a equipe masculina de rúgbi, modalidade que volta ao programa olímpico depois de mais de 90 anos. Fiji é o atual campeão da Série Mundial e forte candidato à medalha no Rio, o que seria o primeiro pódio olímpico do país. As fijianas também são favoritas à vaga da Oceania no rúgbi, já que Austrália e Nova Zelândia se garantiram na Série Mundial.

Fiji é o atual campeão da Série Mundial de rúgbi (Foto: Reprodução/Facebook)
Fiji é o atual campeão da Série Mundial de rúgbi 
(Foto: Reprodução/Facebook)


KOSSOVO E SUDÃO DO SUL, OS ESTREANTES

Dois países farão sua estreia olímpica nos Jogos do Rio 2016. Reconhecido pela ONU como país independente da Sérvia desde 2008, Kosovo foi admitido como membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) em dezembro de 2015 e até anunciou porta-bandeira para a abertura do Maracanã: a bicampeã mundial de judô Majlinda Kelmendi, que teve de disputar as Olimpíadas de Londres pela Albânia.

Majlinda Kelmendi Judoca treinando em Kosovo (Foto: Agência Reuters)
Após competir pela Albânia em Londres, a 
bicampeã mundial Majlinda Kelmendi será 
porta-bandeira de Kosovo na primeira 
abertura olímpica da história com a 
presença do país (Foto: Agência Reuters)


Mais novo país africano, o Sudão do Sul se tornou independente do Sudão em 2011 e está em guerra civil há dois anos, mas conseguiu no último domingo se tornar a 206ª delegação do Rio 2016. Os sul-sudaneses foram admitidos como membros do COI e, com isso, terão presença na abertura do Maracanã. Em 2012, o maratonista Salva Kiir Mayardit disputou os Jogos de Londres, mas não pôde defender o Sudão do Sul e competiu sob a bandeira do COI.


PRIMEIRA MEDALHA NA MIRA

Além dos países estreantes, algumas delegações buscam pela primeira vez chegar ao pódio olímpico. É o caso de San Marino. Cercado pela Itália, o país é o quinto menor do mundo, tem apenas 61km² (mais de dez vezes menor do que a cidade-sede dos Jogos), com cerca de 32,5 mil habitantes e duas fortes candidatas a medalhas já classificadas: as irmãs Alessandra e Arianna Perilli, ambas da prova de fossa olímpica do tiro. Alessandra ficou muito perto do pódio nas Olimpíadas de Londres, empatando com duas adversárias na segunda posição. No desempate, porém, ela acabou ficando na quarta colocação e vendo o sonho do inédito pódio de San Marino ser adiado. 

Alessandra Perilli, atiradora de San Marino (Foto: Getty Images)
Quarta colocada nos Jogos de Londres, Alessandra 
busca primeira medalha olímpica de San Marino 
(Foto: Getty Images)


Outro país que tem na mira a esperança da primeira medalha olímpica é Mianmar. Localizado no sudeste asiático, o país foi dominado por um regime militar até 2011 e ainda vive tensões civis. O atirador Naung Ye Tun está classificado para a prova da pistola de ar de 10m.


OS SEM MEDALHAS

A lista completa de países sem medalhas olímpicas conta com Albânia, Andorra, Angola, Antigua e Barbuda, Aruba, Bangladesh, Belize, Benin, Bolívia, Bósnia e Herzegovina, Butão, Brunei, Cabo Verde, Camboja, Chade, Comores, Congo, Dominica, El Salvador, Fiji, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Guam, Honduras, Iêmen, Ilhas Cayman, Ilhas Cook, Ilhas Maldivas, Ilhas Marshall, Ilhas Salomão, Ilhas Virgens Britânicas, Jordânia, Kiribati, Kosovo, Laos, Lesoto, Libéria, Líbia, Madagascar, Malawi, Mali, Malta, Mauritânia, Micronésia, Mônaco, Nauru, Nepal, Nicarágua, Omã, Palau, Palestina, Papua-Nova Guiné, República Democrática do Congo, Ruanda, Samoa, Samoa Americana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Nevis, São Tomé e Príncipe, São Vicente e Granadinas, Seychelles, Serra Leoa, Somália, Suazilândia, Sudão do Sul, Timor Leste, Turcomenistão, Tuvalu e Vanuatu. O principado de Liechtenstein tem nove medalhas nos Jogos Olímpicos de Inverno, mas nunca subiu ao pódio nos Jogos de Verão.


BRITÂNICO OU IRLANDÊS?


Rory McIlroy (Foto: Reuters)Norte-irlandês, Rory McIlroy ficou dividido entre defender a Irlanda ou a Grâ-Bretanha nas Olimpíadas de 2016 (Foto: Reuters)


Para a maioria dos atletas, criar uma identidade nacional e defender essa nação nas Olimpíadas é um processo natural. Não para Rory McIlroy. Número 1 do mundo no golfe, ele cogitou não disputar os Jogos do Rio 2016 para não ter de definir sua nacionalidade nem como irlandês nem como britânico. McIlroy nasceu e cresceu em Holywood, cidade da Irlanda do Norte, um dos países membros do Reino Unido. No Circuito Mundial de Golfe, ele defende a Irlanda do Norte, só que o país não participa das Olimpíadas, assim como Inglaterra, Escócia e País de Gales, que também compõem o Reino Unido e se juntam nos Jogos para defender a Grã-Bretanha. O golfista se viu no dilema de escolher entre o seu lado britânico, o seu lado irlandês ou sequer participar dos Jogos para não irritar ninguém. Em junho do ano passado, porém, Rory McIlroy anunciou que competirá sob a bandeira da Irlanda no Rio 2016 - ele lidera o ranking olímpico do golfe.

- Estive pensando muito sobre minha decisão e lembrando todos os tempos em que representei a Irlanda como amador. Joguei pela Irlanda minha vida inteira, e não há motivo para mudar isso agora. Estarei orgulhoso de defender a Irlanda em 2016. Se você olhar os jogadores de rúgbi, críquete e hóquei sobre a grama, eles veem a Irlanda como uma só, no golfe é da mesma maneira – disse McIlroy ao anunciar sua decisão, lembrando as modalidades coletivas em que a equipe irlandesa representa toda a ilha.


Á PROCURA DE UMA NAÇÃO

Outro britânico com um incomum problema de nacionalidade foi Aaron Cook. Campeão mundial júnior de taekwondo em 2008, ele representou a Grã-Bretanha nos Jogos de Pequim naquele ano. Só que Aaron decidiu abandonar o programa de treinamento da seleção britânica para o ciclo olímpico dos Jogos de Londres, apostando em técnicos próprios. O resultado foi uma briga com a Federação de Taekwondo da Grã-Bretanha que o tirou das Olimpíadas de 2012. O Comitê Olímpico Britânico até tentou intervir, mas, mesmo sendo campeão europeu de 2012, Aaron foi substituído por Lutalo Muhammad, que acabou com o bronze nos Jogos de Londres.
Para não ficar fora de outras competições por causa do desentendimento com a Federação de Taekwondo da Grã-Bretanha, Aaron Cook passou a defender em competições internacionais a Ilha de Man, uma dependência da Coroa Britânica. A solução, porém, não o ajudava na busca por uma vaga nos Jogos do Rio 2016, já que os atletas da Ilha de Man defendem a Grã-Bretanha nas Olimpíadas. Aaron então procurou uma nação que o abraçasse e encontrou apoio na Moldávia. Patrocinado pelo bilionário Igor Iuzefovici, que também é presidente da Federação de Taekwondo da Moldávia, Aaron conseguiu a cidadania moldávia e defendeu o país do Leste Europeu pela primeira vez no Mundial de Chelyabinsk, na Rússia, em maio, ficando com o bronze da categoria até 80kg. Ele é o vice-líder do ranking olímpico da categoria.

Aaron Cook, líder do ranking mundial de taekwondo (Foto: Reuters)
Aaron Cook vai defender a Moldávia nas 
Olimpíadas de 2016 (Foto: Reuters)


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