Briga entre torcedores de Dinamo Zagreb e Estrela Vermelha, em 1990, conhecida como Batalha de Maksimir, expôs tensão étnica na Iugoslávia antes da guerra
Boban sai em defesa de torcedor e chuta policial: ato fez do meia herói nacional na Croácia (Foto: Arquivo AP)
Como todo grande mito, a história tem seu protagonista: Zvonimir Boban. Aos 21 anos, o então capitão do Dínamo Zagreb virou herói nacional na Croácia ao dar uma voadora num policial que estava agredindo um torcedor no campo, depois que a briga das arquibancadas ficou fora de controle e passou para o gramado. Ele foi suspenso pela Federação Iugoslava de Futebol por seis meses, perdeu a chance de disputar a Copa do Mundo daquele ano, mas virou símbolo da independência croata. Ainda nos anos 1990, foi para o Milan, onde marcou época, e capitaneou a Croácia em seu primeiro Mundial, em 1998, quando a seleção alcançou o terceiro lugar.
Apesar disso, Boban não fala mais sobre o jogo que marcou sua carreira. A reportagem do GloboEsporte.com tentou contato com o ex-jogador, que hoje trabalha como comentarista esportivo na Itália, mas não obteve sucesso. Para ser justo, nenhum jogador envolvido naquela partida quis comentar sobre o episódio. Assim, a lenda ganha ainda mais força.
Imagens mostram confusão entre
torcedores no Maksimir
(Foto: Reprodução)
A HISTÓRIA POR TRÁS DA LENDA
A briga entre torcedores do Dinamo e do Estrela Vermelha entrou para a história como símbolo do fim da Iugoslávia, mas não necessariamente causou a guerra entre croatas e sérvios. No máximo, expôs a tensão entre os dois lados: algumas semanas antes do jogo, a Croácia havia eleito seu primeiro presidente em eleições multipartidárias, Franjo Tudman, que defendia a independência de seu país, algo conflitante com a visão de Slobodan Milosevic, mandatário na Sérvia.
Slobodan Milosevic, ex-presidente da Iugoslávia, foi figura central na guerra (Foto: Arquivo AP)
Bauer tinha 17 anos em 1990 e, naquele dia, estava presente no estádio Maksimir, casa do Dinamo e palco da briga. Segundo ele, a polícia, comandada pela Iugoslávia e de clara orientação sérvia, teve papel decisivo no confronto.
- A polícia era comandada por Belgrado (capital da Iugoslávia e situada na Sérvia), não era a favor da Croácia. O problema começou quando os torcedores do Estrela Vermelha começaram a atacar os fãs do Dinamo, que responderam. Ambas as partes começaram a jogar pedras uns nos outros. Estávamos do lado dos torcedores do Dinamo que foram atacados. Eles jogavam pedra na gente, e tentávamos nos defender com bancos de plástico. O engraçado é que um de meus amigos estava de chinelo, tentava correr com o chinelo, mas se atrapalhava. Foi uma loucura. Ficou tudo quebrado. Até a estação de polícia no estádio foi destruída. Chegou um momento em que todos invadiram o campo.
Maksimir é a casa do Dinamo de
Zagreb e foi palco de briga em
1990 (Foto: Divulgação / Site
Oficial ddo Dínamo)
BOBAN: HERÓI NACIONAL
Com a briga no gramado, os jogadores do Estrela Vermelha logo desceram para os vestiários, mas os atletas do Dinamo permaneceram em campo para defender seus torcedores, que passaram a ser perseguidos pelos policiais. Foi neste momento que Boban deixou de ser apenas um jogador para virar herói.
Boban canta o hino com o agasalho croata:capitão na Copa de 1998 (Foto: Getty Images)
Depois de cerca de 70 minutos de pancadaria, os policias conseguiram dispersar os torcedores.
O saldo, porém, foi desastroso: mais de 100 fãs presos, 117 policiais feridos, assim como 39 torcedores do Estrela Vermelha e 37 do Dinamo, de acordo com os jornais da época. O pior, porém, viria a seguir: a sensação de que o fim da Iugoslávia era inevitável.
- Para todos os torcedores, aquela partida significou o fim da Iugoslávia. Antes do jogo, as pessoas já achavam que poderia haver guerra, porque Slobodan Milosevic já incitava o nacionalismo sérvio. A Iugoslávia já estava começando a desmoronar.
Entretanto, a sequência dos acontecimentos não foi imediata ao jogo. Dinamo e Estrela Vermelha ainda se enfrentariam mais duas vezes pelo Campeonato Iugoslavo, sem maiores problemas. Porém, o Maksimir ainda seria palco de outra manifestação croata antes do início da guerra, em 1991.
- Houve um amistoso entre Iugoslávia e Holanda em Zagreb, e todo o estádio estava torcendo pela Holanda. Foi algo incrível. Lembro de um torcedor holandês chegar e não entender nada: "Por que vocês estão torcendo para a gente?" - contou Bauer.
A resposta está no chute de Boban.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2014/04/historias-incriveis-lenda-do-jogo-que-marcou-independencia-croata.html
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