sábado, 8 de março de 2014

No Dia da Mulher, atletas falam sobre vaidade e luta pelo fim do preconceito

Fernanda Garay e Gabi, do vôlei, Bia e Branca Feres, do nado sincronizado, e Isabel Swan, da vela, contam como mesclam a força do esporte e a delicadeza feminina

Por Rio de Janeiro

Elas conquistaram o mundo, invadiram o mercado de trabalho, passaram a dividir com os homens as tarefas domésticas e a criação dos filhos. Tudo isso sem perder o charme e a delicadeza. Assim como em vários âmbitos, no esporte não foi diferente. Misturando força e beleza, as atletas chamam a atenção não apenas por suas demonstrações de resistência, com duros ciclos de treinos e competições, mas também pela feminilidade, percebida em pequenos detalhes. Neste sábado se comemora o Dia Internacional da Mulher, e representantes de algumas modalidades falaram sobre o desafio de coordenar a carreira esportiva, muitas vezes repleta de símbolos masculinizados, com as nuances do universo feminino, que felizmente tem sido cada vez menos alvo de preconceito na sociedade. 

Garay se prepara antes de entrar em quadra na Turquia  (Foto: Divulgação)Garay se prepara antes de entrar em quadra na Turquia (Foto: Divulgação)

Quando Fernanda Garay saiu do Brasil para jogar no Fenerbahçe, na Turquia, sabia que não estava trocando apenas de país e de time, mas também de cultura. Receosa com o que iria encontrar nesse novo cenário, onde a religião muçulmana é predominante e não raro se vê mulheres cobertas dos pés à cabeça pelas ruas, a jogadora acabou se surpreendendo ao perceber nas companheiras de equipe um comportamento feminino muito semelhante ao da sua terra natal
.
- Na verdade, toda a mulher é vaidosa e acho que ao longo dos anos a gente vai se conhecendo melhor e descobrindo coisas boas. Vamos pegando a prática. No começo da minha carreira eu não pensava nisso, mas depois descobri as maquiagens e acabei sendo conquistada por esse mundo. 
Aqui na Turquia não é diferente. As mulheres são incrivelmente bem arrumadas e maquiadas.

 Assim que cheguei, eu via as jogadoras do meu time se preparando antes das partidas e não queria ficar de fora. Elas me fizeram alcançar meu objetivo de vida: passar delineador (risos). Além disso, elas pintam as unhas sempre uma hora, quarenta minutos antes dos jogos, para não estragar o esmalte.

Fê Garay mostra que aprendeu com as companheiras turcas a passar o delineador  (Foto: Arquivo pessoal )
Fê Garay mostra que aprendeu com as 
companheiras turcas a passar o 
delineador (Foto: 
Arquivo pessoal )

Apaixonada por rímel, blush e pincéis de maquiagem, Fê Garay, que tem no currículo nada menos que uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres, já pensou em trocar as quadras por um salão de beleza, e afirma que se não fosse jogadora de vôlei, gostaria de trabalhar com estética.

- Sempre me imaginei trabalhando em um salão de beleza e agora que eu aprendi a fazer a unha, estou me superando. Pensei em fazer um curso de estética e de cabeleireira porque acho esse universo incrível.Uma mulher pode estar muito mal, sem grana, em crise, mas se faz uma mudança no cabelo, uma maquiagem, melhora tudo, porque mexe diretamente com a auto estima.

Vaidosa, Garay aprendeu técnicas de beleza com as novas companheiras de equipe  (Foto: Arquivo pessoal)
Vaidosa, Garay aprendeu técnicas de beleza 
com as novas companheiras de equipe 
 (Foto: Arquivo pessoal)

Também adepta dos procedimentos de beleza, Gabi, ponteira do Rio de Janeiro, não dispensa os cuidados diários com a pele do rosto e com o corpo, mas não se considera uma pessoa que exagera na vaidade. 

Gabi, ponteira do Rio de Janeiro, não dispensa os cuidados diários com a pele do rosto e corpo (Foto: Divulgação)Gabi não dispensa os cuidados 
diários com a pele do rosto e 
corpo (Foto: Divulgação)

Aprendi a me cuidar com a minha mãe, mas não me considero uma mulher mega vaidosa. Acho que toda  mulher tem a sua vaidade e seus cuidados com o corpo. Como estamos sempre treinando, jogando, não costumo usar nada muito pesado, mas nunca deixo de usar uma base com protetor e rímel, que são os que mais gosto. Para o jogo, gosto de estar com as unhas e a sobrancelhas feitas.

Se por um lado o esporte ganhou cada vez mais espaço para essas feminilidades, por outro, ainda há um resquício de preconceito. Bia e Branca Feres, atletas do nado sincronizado, já foram vítimas de críticas por terem optado por pela carreira esportiva, mas se negaram a dar ouvidos aos comentários negativos, e com a beleza aliada ao talento, se destacam cada vez mais nas piscinas.

- Às vezes até as próprias mulheres criticam e torcem o nariz para a gente. Por parte dos homens, é diferente. Ser atleta é sempre motivo de orgulho e admiração. O mais importante é a gente ser feliz fazendo o que ama. 

Bia e Branca Nado Sincronizado (Foto: Reprodução / Instagram)
Bia e Branca afirmam que já sofreram 
preconceito por terem escolhido a 
carreira esportiva (Foto: 
Reprodução / Instagram)


Representantes de um esporte predominante feminino, as atletas incentivam o discurso de igualdade entre os sexos e afirmam que não se incomodariam se o nado sincronizado masculino fizesse parte do programa olímpico algum dia.

- Existem homens que praticam nado sincronizado. São poucos, mas os que já assistimos eram incríveis. É uma questão cultural e de história mesmo. Esse tabu vai demorar para ser quebrado. 

Está sendo quebrado na dança e a gente já consegue perceber isso com clareza. Quem sabe, daqui alguns anos, a gente não possa assistir a um padadê (dupla mista) aquático. 

 Isabel Swan se divide entre a força e a delicadeza no esporte  (Foto: Arquivo pessoal )Isabel Swan se divide entre a força e a delicadeza no esporte (Foto: 
Arquivo pessoal )

A força que Isabel Swan precisa fazer para modificar o curso de seu barco contrasta com a delicadeza de sua expressão. Medalhista de bronze na vela das Olimpíadas de Pequim, a atleta mescla aspectos femininos e masculinos durante seus treinos e competições.

- Temos que ter raça e força no vento forte, mas ser uma bailarina a bordo no vento fraco, fazendo movimentos muito suaves. Então, dependendo do vento, mudo. Procuro manter minha delicadeza, embora o esporte as vezes exija ser uma guerreira.

Seja na quadra, na piscina ou no mar, as atletas pretendem comemorar o Dia Internacional da Mulher com a esperança de que o sexo feminino conquiste cada vez mais espaço.

- Espero que a mulher consiga seguir conquistando o respeito da sociedade. Que consiga diminuir e quem sabe acabar com a desvalorização e o preconceito - afirma Gabi.

- Precisamos ser olhadas e reconhecidas como seres que pensam, produzem, participam e cooperam - completa Isabel. 


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/outros-esportes/noticia/2014/03/no-dia-da-mulher-atletas-falam-sobre-vaidade-e-luta-pelo-fim-do-preconceito.html

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