sábado, 8 de março de 2014

Às vésperas de fazer 84 anos, 'chefe' do vôlei segue lapidando futuras joias

Com 38 anos de Confederação Brasileira de Vôlei, Helcio Macedo se orgulha por ter trabalhado com quase todos os medalhistas olímpicos da década de 90 até hoje


Por Direto de Santiago, Chile
O primeiro flerte aconteceu em 1975, mas o “casamento” entre o professor de educação física Helcio Macedo e a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), que contou com um empurrãozinho do então presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, só engatou no ano seguinte. De lá para cá são nada menos do que 38 anos dedicados ao vôlei brasileiro e muitas histórias para contar. A dois meses de completar 84 anos, o chefe da delegação da equipe feminina da modalidade, que estreia nos Jogos Sul-Americanos de Santiago, no Chile, contra a Colômbia, neste sábado, às 20h (horário de Brasília), fez quase de tudo na CBV. Até treinador da seleção feminina principal, em 1980, ele já foi. Mas o que seu Helcio gosta mesmo é de ensinar. Há quase quarenta anos na função de chefiar os times brasileiros nas principais competições de base pelo mundo, por suas mãos passaram todos os medalhistas olímpicos da década de 90 para cá, com exceção do líbero Serginho. Mas o motivo é óbvio.


Helcio Macedo vôlei (Foto: Marcello Pires)
Prestes a completar 84 anos, 38 deles vividos 
dentro do vôlei, o chefe da delegação do vôlei 
feminino em Santiago, Helcio Macedo, está 
sempre atento a encontrar nossas promessas 
(Foto: Marcello Pires)


- Como a figura do líbero não existia até 1997, o Serginho nunca participou das seleções de base. Só por isso não trabalhei com ele. Isso só comprova como realmente ele é um fenômeno na sua posição. Mas me orgulho de poder ter trabalhado com todos os outros. O mais gratificante é ser tratado com carinho e respeito cada vez que encontro com cada um deles. Sempre fazem questão de me agradecer – explicou.

Tudo indica que futuramente a história se repetirá. Gabriela, ponteira de apenas 17 anos do Maringá e apontada por Helcio como uma das quatro promessas, ao lado da oposto Loraine, da central Laisa, e da também ponteira Lana, da equipe que lutará pelo ouro com os principais rivais em Santiago, todos representados por suas equipes principais, é só elogios ao “chefe”.

 É uma espécie de professor por tudo que já passou dentro do vôlei
Gabriela, sobre Helcio

 - Ele nos ensina muito todos os dias. É uma espécie de professor por tudo que já passou dentro do vôlei. Ele conversa muito com a gente e está sempre procurando mostrar os bons e maus exemplos.  É sempre muito carinhoso com todas e acho que é normal impor algumas regras. Somos privilegiadas de tê-lo por perto - afirmou Gabriela, que está na seleção desde 2012.

Mas os métodos do chefe não chegam a causar estragos. Apesar de tantos anos no comando das seleções de base, Helcio garante que nunca teve problema para segurar o ímpeto ou conter a inquietação das jovens promessas. Muito pelo contrário, gentil e doce com as meninas e todos ao seu redor, ele destaca o comprometimento de todos nesses 38 anos de serviços prestados ao vôlei brasileiro.

- Além de formar atletas, a filosofia de trabalho da CBV também sempre teve como objetivo educar esses jovens. Eles sempre entenderam isso e nunca tivemos problemas muito graves. É normal que às vezes aconteçam alguns atritos, mas a tarefa mais difícil talvez seja mostrar a eles o caminho certo nesse mundo liberal de hoje em dia (risos) - disse.

O envolvimento de Helcio com a seleção brasileira, no entanto, começou muito antes de ser convidado por Nuzman para trabalhar na CBV. Em 1951, o ex-levantador do Olímpico, clube de Belo Horizonte da época, fez parte da primeira seleção campeã sul-americana. A aposentadoria das quadras veio em 1957, mas o vôlei continuou no sague. Antes de formar gerações de medalhistas olímpicos, foram dez anos na presidência da Federação Mineira da modalidade.


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HISTÓRIAS COM CRAQUES DO VÔLEI

Há quatro décadas vivendo do vôlei e para o vôlei, seu Helcio coleciona histórias e algumas revelações guardadas a sete chaves. Entre os inúmeros craques que viu começar, alguns fizeram histórias e são lembrados com carinho. Mas a gentileza do chefe da delegação do vôlei feminino no Chile é tanta que ele se desculpa se caso um dia sua memória falhe.


vôlei Giba olimpíadas (Foto: Getty Images)Giba esteve em quatro Olimpíadas
(Foto: Getty Images)

- Sinceramente, talvez o Giba tenha sido o mais completo de todos que passaram pelas minhas mãos. Ele sempre foi um menino espetacular na base e mesmo baixo para os padrões do vôlei mundial se tornou o melhor do mundo. O Nalbert também foi outro jogador espetacular, principalmente pela liderança que exercia sobre os companheiros. Mas são tantos atletas que fico com medo de cometer alguma injustiça e esquecer nomes importantes – destaca seu Helcio.

Entre muitas das curiosas histórias vividas ao longo dessas quase quatro décadas, duas foram lembradas por ele. Os personagens são dois craques, mas que causaram impressões distintas logo nas suas primeiras avaliações.


- O Carlão era desengonçado, sem jeito e num primeiro momento achei até que não daria jogador. Ele na verdade queria ser goleiro e chegou a ser dispensado. Mas sempre foi guerreiro e nunca desistiu. Deu no que deu, e ele até hoje ele é lembrado como nosso eterno capitão. Outra situação marcante aconteceu com a Jaqueline. Ela uma menina jovem, simples e muito humilde. Chegou em São Paulo para a primeira avaliação de ônibus e sequer tinha material para treinar. Mas rapidamente mostrou que era guerreira e tinha talento. Era dedicada nos treinos, superou vários problemas de contusão e foi bicampeã olímpica. Nunca tivemos dúvidas de que daria certo – contou.  

Mas nem sempre as coisas aconteceram naturalmente. Fabi e Fernanda Venturini, por exemplo, chegaram para serem avaliadas como ponteiras. A primeira, pela baixa estatura, virou líbero, a segunda, apesar de alta, foi convencida a jogar como levantadora. As apostas foram tão acertadas que ambas se tornaram as melhores do mundo nas suas posições.


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'vovô' hELCIO

O amor de seu Helcio pelo vôlei não influenciou tanto assim as futuras gerações dos Macedo. Dentre seus cinco filhos, do casamento de 55 anos com dona Rosa Macedo, e sete netos, apenas Marcela, de 21 anos, seguiu seus passos. Levantadora reserva da equipe adulta do Minas Tênis Clube, a jogadora com passagens pela seleção infanto enche o avô de orgulho, mas ao mesmo tempo foi motivo de preocupação.

- É uma situação complicada e me incomodou muito no começo. Sei que ela tem talento e não tive influência nenhuma na sua convocação, mas fiquei com muito receio de atrapalhar o futuro dela no vôlei de alguma forma pelo que as pessoas poderiam pensar. Conversei muito com ela sobre isso. Hoje ela não faz mais parte da seleção, mas ainda acredito que ela possa ter uma carreira de sucesso – aposta o avô coruja.   

* O repórter viaja a convite da CBV


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/jogos-sul-americanos/noticia/2014/03/vesperas-de-fazer-84-anos-chefe-do-volei-segue-lapidando-futuras-joias.html

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