sábado, 8 de março de 2014

Mulheres da Vila: comissão técnica do Peixe também tem seu 'lado feminino'

Juliane Fechio e Sandra Merouço, respectivamente psicóloga e nutricionista do clube praiano, falam como é trabalhar em um ambiente tão masculino como o do futebol

Por Santos, SP

A mulher pede passagem no futebol. Presença cada vez maior nas arquibancadas, elas já ocupam espaços antes dominados pelos homens. Não só na arbitragem, mas também nas comissões técnicas – muitas vezes dividindo a responsabilidades com a missão de serem mães. Neste sábado, quando é comemorado o Dia Internacional da Mulher, o GloboEsporte.com apresenta as duas profissionais que se dedicam, diariamente, ao bem estar do melhor time do Campeonato Paulista até o momento: o Santos.

Juliane Fechio Sandra Merouço Santos (Foto: Lincoln Chaves)
Juliane Fechio e Sandra Merouço: as meninas 
da comissão técnica de Oswaldo de Oliveira 
(Foto: Lincoln Chaves)

Dentre as mulheres, a nutricionista Sandra Merouço é quem está há mais tempo no clube: desde 1998, a convite de Vanderlei Luxemburgo, então técnico do Peixe, após um episódio no qual metade do elenco sofreu com uma infecção gastrointestinal. O mesmo treinador, aliás, levou-a para a comissão técnica do time principal, em 2004 – antes ela trabalhava com a base.

Entra técnico, sai técnico; entra diretoria, sai diretoria, e Sandra continua no Santos. Alcançar o reconhecimento no clube não foi fácil. Um trabalho de “formiguinha”, segundo ela, ainda mais porque, de acordo com a especialista, pouco se falava sobre alimentação no futebol há 15 anos.

– No começo, realmente foi difícil. Acho que porque os jogadores não conheciam o trabalho. Talvez, para eles, o nutricionista fosse um “chef de cozinha”. Com a molecada é mais fácil, já que você faz meio que um trabalho de mãe. Eles não têm os vícios de um atleta profissional há uns quatro, cinco anos e diz, às vezes "mas sempre joguei assim". (A permanência) Acho que é resultado do trabalho. Viram que funcionava, gerava desempenho, evitava lesões – conta Sandra.


Juliane Fechio Santos (Foto: Lincoln Chaves)No Santos desde 2011, Juliane sempre sonhou trabalhar com futebol (Foto: Lincoln Chaves)

A psicóloga Juliane Fechio, por sua vez, chegou ao Santos em 2011, também para trabalhar na base, mas foi promovida à comissão do profissional por outro ex-técnico do Peixe, Muricy Ramalho. De lá para cá, teve até o trabalho destacado publicamente pelo meia Felipe Anderson (hoje no Lazio, da Itália), que a agradeceu, em uma entrevista coletiva, pelo apoio psicológico.

O desconhecimento no mundo do futebol sobre o papel do nutricionista quando Sandra chegou ao Peixe não difere muito, segundo Juliane, do que ainda paira sobre o trabalho do psicólogo do esporte. De acordo com ela, são poucos os clubes que apostam nesse tipo de profissional.

– O futebol ainda tem muito preconceito (com o psicólogo do esporte). Há um conceito de que é coisa para louco. Então, quando cheguei, fui sendo inserida aos poucos (no grupo). Quando me tornei familiar, aí sim o Muricy me apresentou. A manutenção do profissional está relacionada à criação de confiança. Quando comecei a trabalhar com o futebol queria me manter por ao menos seis meses, e já estou há três anos (no Santos) – descreve.



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Tanto Juliane como Sandra não encontraram resistência por serem mulheres, mesmo em um ambiente tão masculino. A receita, segundo elas, é o profissionalismo.

– É questão de como você se coloca, qual a sua postura. Tem de ter esses cuidados. Entendo que em algumas funções, como a de preparador físico ou fisioterapeuta, que lidam mais diretamente com o atleta, acho que a profissional ser mulher poderia tirar um pouco a liberdade (do jogador). Mas em outras áreas estamos ganhando esse espaço. Nos clubes e palestras das quais participo sobre futebol dá para perceber uma presença feminina cada vez maior – destaca Sandra.

– Sempre falo que não é qualquer mulher que pode estar num CT. Você tem de ser discreta, ter postura. E eles respeitam, não tenho problema. Creio que a mulher tem mais facilidade para criar vínculos de confiança com o atleta. Acho que é um ponto forte – diz Juliane, que tem a ajuda de médicos, massagistas e até dos vídeos divulgados pela Santos TV, que mostram os bastidores do vestiário, para conhecer melhor os jogadores com os quais trabalha.


Sandra Merouço Santos (Foto: Lincoln Chaves)Indicada por Luxemburgo, Sandra Merouço está no Peixe desde 1998 (Foto: Lincoln Chaves)

Em meio à corrida vida no futebol, elas ainda lidam com o papel de esposas e mães. As duas, no entanto, encaram tudo com naturalidade e agradecem apoio e compreensão de filhos e maridos.

– Meus filhos eram pequenos quando eu comecei no futebol, então eles estão acostumados e até acham legal. Acho que têm orgulho (risos). Meu marido é médico e também trabalha no Santos (na base). No começo ele até ficou um pouco preocupado por eu ter de trabalhar entre tanto homem, mas é tranquilo. Tudo é questão de postura. Não só no futebol, mas em qualquer área que você trabalha – diz Sandra, que é mãe de um rapaz de 24 anos e uma moça de 21.

– Quando você decide trabalhar com futebol, abre mão de algumas coisas. Mas é uma opção. Eu trabalho com o que sempre sonhei, como o meu sonho também sempre foi ser mãe. As mulheres não são felizes se não tiverem sucesso profissional, e esse é meu caso. Como também não seria feliz se não tivesse minha filha (de cinco anos). Um complementa o outro. Meu marido trabalha com treinamento desportivo e entende o fato de eu trabalhar nesse meio – emenda Juliane.



FONTE:
http://globoesporte.globo.com/sp/santos-e-regiao/noticia/2014/03/mulheres-da-vila-comissao-tecnica-do-peixe-tambem-tem-seu-lado-feminino.html

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