Clube tenta descobrir destino de pagamento por evento de rúgbi na Gávea em 2012. Confederação pagou - mas dinheiro não entrou na contabilidade
A história começou em março do ano passado - quando a CBRu alugou o gramado rubro-negro para realizar um evento de rúgbi de sete (ou rugby sevens - a modalidade olímpica do esporte). O evento aconteceu nos dias 10 e 11 de março de 2012. O Flamengo cobrou R$ 25 mil pelo aluguel de suas dependências. Na hora de acertar o pagamento, porém, a confederação foi surpreendida por um pedido:
- Iríamos fazer a transferência bancária. Mas o clube solicitou o pagamento do valor em espécie. Transferimos o valor para uma agência no Rio, sacamos e levamos ao clube - disse o presidente da CBRu, Sami Arap.
O primeiro recibo: pagamento em espécie recebido da Confederação Brasileira de Rúgbi
- Quando o meu pessoal foi fazer o pagamento, já havia um recibo pronto, assinado por um gerente do clube. Como não sabíamos se o gerente possuía poderes, pedimos que o recibo ou fosse assinado por um vice-presidente ou um diretor estatutário. Esse recibo consta na contabilidade da confederação - disse Arap.
Outro recibo aponta funcionário como favorecido no depósito dos R$ 25 mil (Foto: Reprodução)
Carlos Eduardo, demitido em fevereiro, fala em documento forjado
O evento na Gávea em 2012 (Foto: André Durão )
O GLOBOESPORTE.COM conversou com Carlos Eduardo. O ex-funcionário disse inicialmente que o recibo com seu nome era forjado. E que poderia provar que o dinheiro jamais entrou em sua conta.
- Eu não sei, isso foi uma calúnia, é um documento forjado, é xerox. No momento em que levaram isso, puxei a minha conta toda, não vi nenhum depósito de R$ 25 mil. Isso é mentira, tanto que isso é uma xerox, totalmente forjada, isso aí qualquer um faz no Paint (software para edição de imagens), qualquer programa faz. Eu puxei o extrato da minha conta que estava no recibo, não tem nada de R$ 25 mil. Eu tenho provas, é só puxar a minha conta toda e ver, como eu fiz na época. Totalmente mentira isso, tem como provar. Inclusive quem veio falar isso comigo foi o Clément. Posso te mandar o contrato, posso te mandar o recibo deles afirmando que pagaram lá no financeiro (do clube). Falei para o Clément que isso aí não tem problema nenhum.
Perguntado se poderia fornecer o recibo de pagamento direto na conta do clube, Cadu afirmou:
- Tenho, tenho, tenho... Tenho não, posso conseguir no clube. Posso enviar amanhã.
Um dia após esta primeira conversa, Carlos Eduardo mudou de ideia e disse que não poderia mais enviar o comprovante de que o dinheiro não entrou na sua conta. E acrescentou que foi demitido do clube por perseguição de Izard.
- Estou muito exposto, não quero falar mais. Eu não sei por que fui demitido, o Izard teve alguma implicância comigo. É uma pessoa totalmente arrogante. É uma questão de perseguição na verdade. Não sou primo do Cacau, conheço de outros tempos. O Clément nem falava comigo direito. Mas foi muito arrogante com o pessoal - disparou Cadu.
O GLOBOESPORTE.COM procurou Izard - mas ele não foi autorizado a falar pelo clube. Já Cacau Cotta disse que é natural pedir o pagamento em espécie:
- É natural pedir o pagamento em dinheiro vivo para agilizar. O clube é cheio de dívida. O Spanta Neném (bloco de carnaval que realiza ensaios na sede de remo do Rubro-Negro) também paga em dinheiro, por exemplo.
Renato Darlan, o ex-gerente do Fla-Gávea que assinou o recibo com o nome de Cadu como favorecido, afirmou que ocorreu um erro de procedimento.
- Foi aberta uma sindicância na época mas não encontraram nada. Todas as provas estavam bem apresentadas no jurídico e no financeiro. A grande verdade é que essa nova diretoria está se preocupando muito em encontrar erros do passado e nesse caso não vão encontrar, infelizmente para eles.
Darlan deu sua versão para a existência dos dois recibos:
- O Cacau nesse período estava viajando, eu estava respondendo por ele. Nós fizemos esse recibo, mas nem encaminhamos para a confederação, porque percebemos que era uma falha de procedimento. E aí a gente substituiu esse documento por esse assinado pelo Cacau de uma forma correta.
Questionado como isso seria possível se Cacau estava viajando, Darlan respondeu:
- Mas depois, posteriormente, a gente fez um outro. Tanto é que o pagamento foi feito depois desse recibo. Esse recibo assinado por mim é de data consideravelmente anterior ao outro.
A data dos dois recibos, no entanto, é a mesma - 6 de março de 2012. Ao ser informado disso, Darlan deu outra explicação:
- Os dois são 6 de março? Mas enfim, a gente verificou que o procedimento era errado e fez outro. Alguém pegou esse documento na mesa do Cadu e distribuiu. Ato falho, porque a gente já tinha cancelado esse e enviado o outro para o rúgbi. Inclusive já foram apresentadas as contas do garoto, que não tinha nada a ver com a situação. Foi um levantamento feito pelo Arthur Rocha, criador de caso número um do Flamengo, e que na oportunidade não conseguiu provar o que tinha alegado e ficou por isso mesmo.
Recibos de pagamento de aluguel de campo no Flamengo (Foto: Reprodução)
Coincidência: assalto com mesmo valor
Pouco mais de um mês depois dos recibos - no dia 10 de abril - aconteceu uma coincidência. Foi noticiado pelo GLOBOESPORTE.COM, com informações fornecidas por um dirigente da gestão Patrícia Amorim, um assalto a um funcionário do clube. Dario Florentino Fernandes registrou uma ocorrência na 14ª DP dizendo que foi orientado a buscar R$ 25 mil na agência do Banco Itaú na Rua José Linhares, no bairro do Leblon. A ocorrência registra que Dario saiu da agência, pegou um táxi que andou por 550 metros até a Rua Fadel Fadel. Na Fadel Fadel, ele saltou para caminhar mais 100 metros até a portaria do clube. Antes disso foi abordado por um homem com uma pistola - que levou o dinheiro. Seguranças do clube ainda teriam tentado perseguir o assaltante que conseguiu fugir na garupa de uma moto que estava estacionada na Cobal (que fica na mesma rua).
Por telefone, Dario afirmou que foi ao banco a pedido da então presidente Patrícia Amorim e que o dinheiro que sacou no Itaú não era do Flamengo. A verba seria destinada a um projeto social que a Patrícia mantinha na sede da Gávea. Apenas o funcionário registrou a queixa. O clube não participou da ocorrência que atualmente está em suspenso (em outras palavras, a investigação não progrediu). Questionado sobre o motivo de não ter sido acompanhado por qualquer segurança para um saque de tamanho valor, Dario afirmou que não poderia falar mais por telefone e sugeriu um encontro ao vivo - que não foi autorizado pelo clube.
Três dias depois do assalto aconteceu outra coincidência: a contabilidade do clube acusou a entrada de algumas notas que comprovariam despesas de melhorias na sede social, somando exatamente R$ 25 mil.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2013/02/um-pagamento-dois-recibos-e-nada-no-caixa-fla-procura-r-25-mil.html
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