Ele está me lapidando e me ensinando a jogar vôlei novamente', diz a
ponteira do Rio de Janeiro, que ficou um ano e três meses sem jogar
Disposto a recuperar o título da Superliga feminina, o Rio de Janeiro
abriu os cofres, foi "às compras" e trouxe de uma só vez a americana
Logan Tom, vice-campeã olímpica nos Jogos de Pequim 2008 e Londres 2012,
e a "gigante" canadense Sarah Pavan, de 1,96m. Mesmo entusiasmado com
as caras novas que desembarcam na Cidade Maravilhosa em dezembro do ano
passado, Bernardinho sempre deixou claro que o principal reforço da equipe carioca era uma velha conhecida: a ponteira Natália.
Contratada na temporada passada, a jogadora foi diagnosticada com um
tumor na canela, amargou um ano e três meses longe das quadras antes de
estrear oficialmente com a camisa do novo time. Agora, ela brinca que
está reaprendendo a jogar com a ajuda do treinador.
- O Bernardo está me lapidando e me ensinando a jogar vôlei novamente. Está tendo um trabalho complicado, pois a cabeça tem que se adaptar a um corpo que ainda não aguenta o tranco e que não é mais o mesmo de antes - disse Natália, um dos trunfos da equipe carioca para o jogo das 21h desta noite contra o São Bernardo, pela 7ª rodada do returno da Superliga feminina.
Exigente, Natália não precisa de uma segunda opinião para saber que
ainda está longe de ser a jogadora que brilhou com a camisa do Osasco.
Mas como o verbo "desistir" não faz parte de seu vocabulário, ela
garante que os momentos de dor e incerteza jamais foram maiores que seu
desejo de voltar a jogar.
- Medo de não poder mais jogar eu nunca tive, mas muitas vezes me
perguntei se conseguiria ser a mesma Natália de antes - afirmou a
jogadora.
Carismática, Natália nem parece que passou pelo que passou. Com uma boa história para contar sempre engatilhada na ponta da língua, a ponteira conversou com o GLOBOESPORTE.COM.
GLOBOESPORTE.COM: Você está pronta para voltar a ser a Natália do Osasco?
NATÁLIA: Eu me cobro muito para isso, mas acredito que preciso de tempo. Meu primeiro jogo como titular depois de um ano e três meses longe das quadras foi dia 21 de novembro. Dentro do jogo eu cometo uns erros que não cometia, às vezes faço uma partida mais ou menos e acho que fui horrorosa. Ainda é difícil o cérebro entender que eu ainda preciso de ritmo, e o inconsciente acaba atrapalhando. Ainda sinto um incômodo, tenho um parafuso que me incomoda e que futuramente pretendo tirar, mas a cabeça tenta proteger a perna e isso atrapalha. Espero que em pouco tempo eu consiga voltar a ser Natália de sempre. Acho que hoje estou 60% da minha capacidade. Meu salto e meus golpes precisam melhorar.
Como você soube que tinha um tumor na canela?
Eu comecei a reclamar de muitas dores na canela quando ainda estava em Osasco, e os médicos decidiram fazer alguns exames. Os resultados constataram apenas uma inflamação, e joguei a Superliga inteira. Entrei de férias e achei que as dores sumiriam com o descanso que meu corpo teria. Mas quando me apresentei à seleção, a canela continuou a doer e tive que fazer os exames novamente. Foi quando os médicos diagnosticaram que eu tinha um tumor benigno. De cara eu já sabia que teria que operar.
O que passou na sua cabeça quando soube da notícia?
Fiquei muito tranquila porque na mesma hora o médico disse que o tumor era benigno, e confiava muito nele. Meus pais é que ficaram muito preocupados e não sossegaram até sair o resultado que comprovou que o tumor não era maligno. A segunda cirurgia foi mais complicada. As dores voltaram durante o Grand Prix de 2011, mas achei apenas que seria algum reflexo por ainda não estar cem por cento recuperada da primeira. Como as dores continuaram, fui falar com o Dr. Nei (Pecegueiro, médico da seleção masculina e do Rio de Janeiro) e fiz outro exame. Ele logo viu que tinha alguma coisa errada, mas como não sabia o que era, me indicou um oncologista em São Paulo. Ele viu os exames e pediu para que esperássemos um mês para ver se a dor parava ou se a situação se agravaria. Voltei a treinar e não deu dois dias para voltar a sentir uma dor absurda e descobrir que o tumor infelizmente tinha voltado. Na primeira cirurgia, fiz uma raspagem de 1,5cm no osso, mas a segunda foi bem mais complicada e tive que raspar 3,5cm, fazer um enxerto e colocar uma haste de titânio na perna. Fiquei dois meses e meio andando de muleta e sem poder colocar o pé no chão. Sentia muitas dores no quadril e minha perna inchava.
Você chegou a temer que não poderia mais jogar vôlei?
Quando você passa por um problema grave como esse, sempre existe a possibilidade de não poder voltar a jogar. Principalmente porque o meu caso foi o primeiro. Normalmente quando um atleta opera o joelho, os médicos já sabem o que vai acontecer e o prazo de recuperação. No meu caso não, pois como era uma novidade não sabíamos como meu corpo iria reagir. Lembro que por umas duas ou três vezes cheguei em casa e chorei. Pensava nas Olimpíadas e me perguntava se iria dar tempo para me recuperar. Medo de não poder mais jogar eu nunca tive, mas muitas vezes me perguntei se conseguiria ser a mesma Natália de antes. Sei que ainda estou longe da forma ideal e que tenho muito trabalho pela frente para voltar a ser a jogadora que já fui. Mas tenho que ter paciência e seguir minha recuperação passo a passo.
Como foi o tempo que você ficou impossibilitada de jogar?
É muito complicado não poder fazer o que você mais ama. Na final da Superliga do ano passado, por exemplo, eu fiquei do lado de fora e acabamos perdendo do Osasco por 3 a 0. Foi muito doloroso, pois bate uma sensação de impotência incontrolável. Eu lembro que após o jogo eu não conseguia parar de chorar. Não tem como descrever a sensação horrível que é. Você chega ao treino, vê as meninas treinado e simplesmente não pode fazer nada. Mas uma hora o Bernardinho disse que iria achar alguma coisa para eu fazer, e fez. Mesmo de muleta, ele me obrigou a treinar. Lembro que me colocava sentada num caixote baixinho e mandava as meninas sacarem em mim, e eu tinha que defender e passar mesmo sentada. Eu tomei porrada de todos os lados, mas aquilo foi importante para não perder o contato com a bola e não me sentir totalmente sedentária.
Quais foram as pessoas mais importantes nesse período?
Meus pais e meus irmãos sempre me deram muita força, além do Riad, que joga no time masculino do Rio de Janeiro. Ele não deixava eu chorar, e tentava me fazer rir o tempo todo. As meninas do time também me deram muito apoio. Sempre tive pessoas maravilhosas para me colocar para cima e não deixar eu desistir. Mas às vezes dava vontade de jogar tudo para o alto, pois a dor era enorme e ainda existia a dúvida se eu conseguiria voltar. Mas as incertezas não duravam mais do que cinco minutos, e logo eu voltava a trabalhar.
Apesar do tempo parado o Zé Roberto confiou em você e te levou para as Olimpíadas. Você sempre acreditou que estaria em Londres?
No início batia uma baita insegurança e um certo desespero porque via que o tempo estava passando e eu não conseguia treinar. Sequer conseguia saltar. Mas a comissão técnica do Rio de Janeiro me dizia que o que estava em jogo naquele momento era minha carreira e minha saúde, e que eles não podiam queimar etapas na minha recuperação e forçar a barra para eu voltar mais rápido. Eles davam uma segurada na hora certa e me diziam que eu teria outras Olimpíadas pela frente.
Quando caiu a ficha de que você era campeã olímpica após tudo que passou?
Acho que não caiu até hoje (risos). Mas para chegar lá não foi nada fácil. O Zé conversava bastante comigo e me perguntava se iria dar. Eu consegui treinar forte na última semana lá em Londres e ele confiou em mim. A força e a paciência dele me motivaram. Ser campeã é um sonho de uma vida inteira, pois as pessoas não têm nem ideia do que eu passei. Foi muito complicado. Toda vez que chorei nos treinos era porque sentia uma dor absurda. Tive que sacrificar muita coisa, mas de um jeito ou de outro eu merecia estar lá. Na hora que a gente estava no pódio não tínhamos a exata noção do que significava aquilo. É indescritível a sensação, desde a entrada na vila olímpica, com tantas estrelas. Meu sonho é chegar em 2016 e poder ajudar mais dentro de quadra.
Foi difícil tomar a decisão de deixar o Osasco depois de cinco temporadas?
O Rio já tinha tentado me tirar de lá, mas a gente nunca tinha chegado a um acordo. Queria muito vir para cá e trabalhar com o Bernardo e com essa comissão técnica. Quando apareceu mais essa oportunidade, o Harry, que é o supervisor da equipe, brincou e disse que era a última vez que eles tentavam me tirar de lá (risos). Eu disse para ele ficar tranquilo que daria tudo certo dessa vez. É complicado porque você cria um ambiente de família, tenho um relacionamento de amizade com todo mundo lá. Desde o Luizomar (de Moura, técnico) até as meninas. A torcida sentiu um pouco e até hoje pega no meu pé. Me chamam de judas, de traidora, mas isso mostra que fui importante e que as pessoas sentem minha falta. Tomei a decisão certa e estou muito feliz no Rio de Janeiro.
Já deu para arrumar um namorado carioca ou seu coração ainda está sem dono?
Diria que estou feliz. Fica a dica... (risos).
Essa felicidade tem alguma relação com o fato de você estar sempre nos jogos de basquete do Flamengo?
(Risos). Gosto de ir aos jogos porque tenho vários amigos lá.
Você sempre teve um jeito moleca de ser, brincalhão fora das quadras. Isso te ajudou a se adaptar ao Rio de Janeiro?
Já me sinto um pouco carioca. As pessoas falam que já tenho até sotaque. Saio dos treinos na Urca e dou de cara com o Pão de Açúcar. Aqui é sensacional. Se puder quero ficar por muitos anos. Já fiz muitas amizades fora do vôlei e conheço muitos lugares. Como eu quase não gosto de falar, faço amizade muito fácil (risos). Antes de a Superliga começar, quando temos mais tempo livre, cheguei a conhecer alguns lugares legais na balada. No meio da temporada é jogo direto, muito treinamento e não dá para sair. Já fui no Pão de Açúcar, mas ainda não consegui ir no Cristo Redentor.
Você foi treinada anos pelo Luizomar, tem o Zé Roberto como técnico na seleção e agora ganhou o Bernardinho como comandante. Você se sente uma felizarda por ter a chance de trabalhar com três dos principais técnicos do país?
Com certeza. Meu primeiro técnico foi o Luizomar, que é um paizão para mim, sou amigo da família toda dele. O Zé me pegou pequenininha também, e me conhece bastante. Eu acho que ele e o Bernardo são os dois melhores técnicos do mundo. Ainda estou conhecendo o Bernardo melhor, é apenas minha segunda temporada com ele.
Qual a importância de cada um na sua carreira?
O Luizomar foi o cara que me tirou de casa e me deu a oportunidade de disputar minha primeira Superliga. O Zé foi o técnico que me convocou pela primeira vez e me deu a possibilidade de jogar na seleção adulta. Foi muito paciente de ter me esperado e me levado para Londres. O Bernardo está me lapidando e me ensinando a jogar vôlei novamente. Está tendo um trabalho complicado, pois a cabeça tem se adaptar a um corpo que ainda não aguenta o tranco e que não é mais o mesmo de antes.
O Luizomar e o Zé Roberto são técnicos mais tranquilos e de
muita conversa, bem diferente do estilo do seu atual treinador. Você já
se acostumou com as broncas do Bernardinho?
As vezes parece que ele vai me engolir, mas estou me dando superbem com isso. Eu pensei que ficaria abalada, que ia sair chorando dos treinos, mas estou me adaptando bem. Já sabemos que esse é o jeito dele. Mas fora de quadra ele é bem tranquilo. As pessoas me param na rua e me perguntam se ele é muito bravo. Eu sempre digo que ele é uma moça fora da quadra, tamanha a delicadeza e a educação com que trata todo mundo. As vezes até me pergunto se ele é mesmo o Bernardo da televisão (risos).
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/02/natalia-deixa-drama-para-tras-e-curte-fase-de-aprendizado-com-bernardinho.html
- O Bernardo está me lapidando e me ensinando a jogar vôlei novamente. Está tendo um trabalho complicado, pois a cabeça tem que se adaptar a um corpo que ainda não aguenta o tranco e que não é mais o mesmo de antes - disse Natália, um dos trunfos da equipe carioca para o jogo das 21h desta noite contra o São Bernardo, pela 7ª rodada do returno da Superliga feminina.
Natália demorou mais um ano para estrear com a camisa do Rio de Janeiro (Foto: Luiz Doro / adoforoto)
Medo de não poder mais jogar eu nunca tive, mas muitas vezes me perguntei se conseguiria ser a mesma Natália de antes"
Natália
Carismática, Natália nem parece que passou pelo que passou. Com uma boa história para contar sempre engatilhada na ponta da língua, a ponteira conversou com o GLOBOESPORTE.COM.
GLOBOESPORTE.COM: Você está pronta para voltar a ser a Natália do Osasco?
NATÁLIA: Eu me cobro muito para isso, mas acredito que preciso de tempo. Meu primeiro jogo como titular depois de um ano e três meses longe das quadras foi dia 21 de novembro. Dentro do jogo eu cometo uns erros que não cometia, às vezes faço uma partida mais ou menos e acho que fui horrorosa. Ainda é difícil o cérebro entender que eu ainda preciso de ritmo, e o inconsciente acaba atrapalhando. Ainda sinto um incômodo, tenho um parafuso que me incomoda e que futuramente pretendo tirar, mas a cabeça tenta proteger a perna e isso atrapalha. Espero que em pouco tempo eu consiga voltar a ser Natália de sempre. Acho que hoje estou 60% da minha capacidade. Meu salto e meus golpes precisam melhorar.
Como você soube que tinha um tumor na canela?
Eu comecei a reclamar de muitas dores na canela quando ainda estava em Osasco, e os médicos decidiram fazer alguns exames. Os resultados constataram apenas uma inflamação, e joguei a Superliga inteira. Entrei de férias e achei que as dores sumiriam com o descanso que meu corpo teria. Mas quando me apresentei à seleção, a canela continuou a doer e tive que fazer os exames novamente. Foi quando os médicos diagnosticaram que eu tinha um tumor benigno. De cara eu já sabia que teria que operar.
Natália está sempre com o sorriso no rosto (Foto: Daniel Ramalho / Adoro Foto)
Fiquei muito tranquila porque na mesma hora o médico disse que o tumor era benigno, e confiava muito nele. Meus pais é que ficaram muito preocupados e não sossegaram até sair o resultado que comprovou que o tumor não era maligno. A segunda cirurgia foi mais complicada. As dores voltaram durante o Grand Prix de 2011, mas achei apenas que seria algum reflexo por ainda não estar cem por cento recuperada da primeira. Como as dores continuaram, fui falar com o Dr. Nei (Pecegueiro, médico da seleção masculina e do Rio de Janeiro) e fiz outro exame. Ele logo viu que tinha alguma coisa errada, mas como não sabia o que era, me indicou um oncologista em São Paulo. Ele viu os exames e pediu para que esperássemos um mês para ver se a dor parava ou se a situação se agravaria. Voltei a treinar e não deu dois dias para voltar a sentir uma dor absurda e descobrir que o tumor infelizmente tinha voltado. Na primeira cirurgia, fiz uma raspagem de 1,5cm no osso, mas a segunda foi bem mais complicada e tive que raspar 3,5cm, fazer um enxerto e colocar uma haste de titânio na perna. Fiquei dois meses e meio andando de muleta e sem poder colocar o pé no chão. Sentia muitas dores no quadril e minha perna inchava.
Você chegou a temer que não poderia mais jogar vôlei?
Quando você passa por um problema grave como esse, sempre existe a possibilidade de não poder voltar a jogar. Principalmente porque o meu caso foi o primeiro. Normalmente quando um atleta opera o joelho, os médicos já sabem o que vai acontecer e o prazo de recuperação. No meu caso não, pois como era uma novidade não sabíamos como meu corpo iria reagir. Lembro que por umas duas ou três vezes cheguei em casa e chorei. Pensava nas Olimpíadas e me perguntava se iria dar tempo para me recuperar. Medo de não poder mais jogar eu nunca tive, mas muitas vezes me perguntei se conseguiria ser a mesma Natália de antes. Sei que ainda estou longe da forma ideal e que tenho muito trabalho pela frente para voltar a ser a jogadora que já fui. Mas tenho que ter paciência e seguir minha recuperação passo a passo.
Como foi o tempo que você ficou impossibilitada de jogar?
É muito complicado não poder fazer o que você mais ama. Na final da Superliga do ano passado, por exemplo, eu fiquei do lado de fora e acabamos perdendo do Osasco por 3 a 0. Foi muito doloroso, pois bate uma sensação de impotência incontrolável. Eu lembro que após o jogo eu não conseguia parar de chorar. Não tem como descrever a sensação horrível que é. Você chega ao treino, vê as meninas treinado e simplesmente não pode fazer nada. Mas uma hora o Bernardinho disse que iria achar alguma coisa para eu fazer, e fez. Mesmo de muleta, ele me obrigou a treinar. Lembro que me colocava sentada num caixote baixinho e mandava as meninas sacarem em mim, e eu tinha que defender e passar mesmo sentada. Eu tomei porrada de todos os lados, mas aquilo foi importante para não perder o contato com a bola e não me sentir totalmente sedentária.
Quais foram as pessoas mais importantes nesse período?
Meus pais e meus irmãos sempre me deram muita força, além do Riad, que joga no time masculino do Rio de Janeiro. Ele não deixava eu chorar, e tentava me fazer rir o tempo todo. As meninas do time também me deram muito apoio. Sempre tive pessoas maravilhosas para me colocar para cima e não deixar eu desistir. Mas às vezes dava vontade de jogar tudo para o alto, pois a dor era enorme e ainda existia a dúvida se eu conseguiria voltar. Mas as incertezas não duravam mais do que cinco minutos, e logo eu voltava a trabalhar.
Ser campeã é um sonho de uma vida inteira, pois as pessoas não têm nem ideia do que eu passei"
Natália
No início batia uma baita insegurança e um certo desespero porque via que o tempo estava passando e eu não conseguia treinar. Sequer conseguia saltar. Mas a comissão técnica do Rio de Janeiro me dizia que o que estava em jogo naquele momento era minha carreira e minha saúde, e que eles não podiam queimar etapas na minha recuperação e forçar a barra para eu voltar mais rápido. Eles davam uma segurada na hora certa e me diziam que eu teria outras Olimpíadas pela frente.
Quando caiu a ficha de que você era campeã olímpica após tudo que passou?
Acho que não caiu até hoje (risos). Mas para chegar lá não foi nada fácil. O Zé conversava bastante comigo e me perguntava se iria dar. Eu consegui treinar forte na última semana lá em Londres e ele confiou em mim. A força e a paciência dele me motivaram. Ser campeã é um sonho de uma vida inteira, pois as pessoas não têm nem ideia do que eu passei. Foi muito complicado. Toda vez que chorei nos treinos era porque sentia uma dor absurda. Tive que sacrificar muita coisa, mas de um jeito ou de outro eu merecia estar lá. Na hora que a gente estava no pódio não tínhamos a exata noção do que significava aquilo. É indescritível a sensação, desde a entrada na vila olímpica, com tantas estrelas. Meu sonho é chegar em 2016 e poder ajudar mais dentro de quadra.
Foi difícil tomar a decisão de deixar o Osasco depois de cinco temporadas?
O Rio já tinha tentado me tirar de lá, mas a gente nunca tinha chegado a um acordo. Queria muito vir para cá e trabalhar com o Bernardo e com essa comissão técnica. Quando apareceu mais essa oportunidade, o Harry, que é o supervisor da equipe, brincou e disse que era a última vez que eles tentavam me tirar de lá (risos). Eu disse para ele ficar tranquilo que daria tudo certo dessa vez. É complicado porque você cria um ambiente de família, tenho um relacionamento de amizade com todo mundo lá. Desde o Luizomar (de Moura, técnico) até as meninas. A torcida sentiu um pouco e até hoje pega no meu pé. Me chamam de judas, de traidora, mas isso mostra que fui importante e que as pessoas sentem minha falta. Tomei a decisão certa e estou muito feliz no Rio de Janeiro.
Já deu para arrumar um namorado carioca ou seu coração ainda está sem dono?
Diria que estou feliz. Fica a dica... (risos).
Essa felicidade tem alguma relação com o fato de você estar sempre nos jogos de basquete do Flamengo?
(Risos). Gosto de ir aos jogos porque tenho vários amigos lá.
Você sempre teve um jeito moleca de ser, brincalhão fora das quadras. Isso te ajudou a se adaptar ao Rio de Janeiro?
Já me sinto um pouco carioca. As pessoas falam que já tenho até sotaque. Saio dos treinos na Urca e dou de cara com o Pão de Açúcar. Aqui é sensacional. Se puder quero ficar por muitos anos. Já fiz muitas amizades fora do vôlei e conheço muitos lugares. Como eu quase não gosto de falar, faço amizade muito fácil (risos). Antes de a Superliga começar, quando temos mais tempo livre, cheguei a conhecer alguns lugares legais na balada. No meio da temporada é jogo direto, muito treinamento e não dá para sair. Já fui no Pão de Açúcar, mas ainda não consegui ir no Cristo Redentor.
Você foi treinada anos pelo Luizomar, tem o Zé Roberto como técnico na seleção e agora ganhou o Bernardinho como comandante. Você se sente uma felizarda por ter a chance de trabalhar com três dos principais técnicos do país?
Com certeza. Meu primeiro técnico foi o Luizomar, que é um paizão para mim, sou amigo da família toda dele. O Zé me pegou pequenininha também, e me conhece bastante. Eu acho que ele e o Bernardo são os dois melhores técnicos do mundo. Ainda estou conhecendo o Bernardo melhor, é apenas minha segunda temporada com ele.
Qual a importância de cada um na sua carreira?
O Luizomar foi o cara que me tirou de casa e me deu a oportunidade de disputar minha primeira Superliga. O Zé foi o técnico que me convocou pela primeira vez e me deu a possibilidade de jogar na seleção adulta. Foi muito paciente de ter me esperado e me levado para Londres. O Bernardo está me lapidando e me ensinando a jogar vôlei novamente. Está tendo um trabalho complicado, pois a cabeça tem se adaptar a um corpo que ainda não aguenta o tranco e que não é mais o mesmo de antes.
Natália comemora a conquista do ouro olímpico em Londres com o técnico Zé Roberto (Foto:Arquivo pessoal)
As vezes parece que ele vai me engolir, mas estou me dando superbem com isso. Eu pensei que ficaria abalada, que ia sair chorando dos treinos, mas estou me adaptando bem. Já sabemos que esse é o jeito dele. Mas fora de quadra ele é bem tranquilo. As pessoas me param na rua e me perguntam se ele é muito bravo. Eu sempre digo que ele é uma moça fora da quadra, tamanha a delicadeza e a educação com que trata todo mundo. As vezes até me pergunto se ele é mesmo o Bernardo da televisão (risos).
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/02/natalia-deixa-drama-para-tras-e-curte-fase-de-aprendizado-com-bernardinho.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário