sábado, 27 de junho de 2015

Vinhos, agente e "aulas" de Eriksson unem técnicos de Brasil e Paraguai

Histórico técnico sueco que treinou Dunga e Ramon Díaz na Fiorentina, nos anos 80, fala da liderança do "tímido" brasileiro, conta que mudou sua posição e aponta favorito



Por
Concepción, Chile

 
Figurinha Dunga Fiorentina 1989/1990 (Foto: Reprodução)Figurinha de Dunga na Fiorentina, na temporada 88/89 do Campeonato Italiano (Foto: Reprodução)


Neste sábado, Dunga estará num banco de reservas e Ramón Díaz em outro. Técnicos de Brasil e Paraguai que, como relatou o brasileiro há uma semana, já trocaram confidências e tomaram vinho juntos há muito tempo. Certamente, nem imaginavam que, anos depois, disputariam uma vaga para enfrentar a Argentina na semifinal da Copa América.

Fortes elos ligam os comandantes. O sucesso de ambos como jogadores na Europa passou pela Itália. O agente era o mesmo, Antonio Caliendo, italiano, é claro. E os dois foram treinados por um dos homens de maior prestígio no futebol da época: o sueco Sven-Goran Eriksson.

Dunga chegou à Fiorentina para a temporada 1988-89. Justamente quando Díaz deixou o clube rumo à Internazionale. Eriksson havia chegado em 87, quando o atacante argentino, hoje técnico do Paraguai, já fazia parte do elenco. Ao planejar a temporada seguinte, entre os reforços que solicitou à direção da Fiorentina, estava um certo brasileiro.

– Eu queria Dunga fortemente porque o vi jogar muitas vezes pelo Pisa. Ele era forte. Quando enfrentou a Fiorentina, jogou como um meia avançado, e como deu trabalho nossos quatro defensores. Impressionante – relembrou Eriksson em entrevista ao GloboEsporte.com
A diretoria atendeu seu pedido e Dunga chegou com 24 anos. Depois dos primeiros treinos na pré-temporada, o sueco desconfiou do sucesso do jogador. Era tímido demais, calado demais. Mas bastaram as primeiras partidas para que ele convencesse seu técnico: daria certo.

Mesmo introvertido fora de campo, Dunga, segundo Eriksson, conquistou rapidamente um status de liderança dentro do grupo. Uma liderança natural, imposta de maneira calma, ainda menos visível do que passaria a ser ao longo dos anos 90 com a camisa da seleção brasileira.

– Ele não falava muito, era um pouco tímido, mas quando entrou em campo se transformou. Falava muito e todos o seguiam. Era um líder que nasceu para ser líder. Era natural.

Ramón Díaz técnico Paraguai (Foto: AP)Ramon Díaz dá entrevista na Copa América. Seleção paraguaia está invicta no torneio (Foto: AP)


Ramón Díaz, por outro lado, corria menos, era menos líder, porém fazia mais gols. Era atacante. Foram 22 nas duas temporadas de Fiorentina, o que não impediu que, em determinado momento, seu carro fosse cercado por torcedores raivosos com uma vitória em 12 jogos. Eriksson, por sua vez, dizem os jornais da época, jamais era contestado.

Díaz se transferiu para a Internazionale, mas os brindes com Dunga se deram graças a Caliendo, um dos mais antigos empresários de jogadores do mundo que uniu seus clientes fora de campo.

O técnico sueco consegue encontrar um ponto em comum entre os adversários deste sábado: a inteligência para se posicionar quando estavam no gramado.

– Dois jogadores muito inteligentes. Dunga tinha uma visão de jogo privilegiada, bom posicionamento em campo, bom passe. Assim como Falcão, que treinei no Roma anos antes, sabia ler muito bem o jogo. Ramon fazia gols sempre. Sabia quando tinha que correr, mas quando não precisava, não corria. Estava sempre no limite de ficar impedido, mas tinha inteligência para correr na hora certa, entrar na área e gol, gol, gol. Os gols eram sua vida, era muito difícil defender contra ele.

Dunga tinha visão de jogo privilegiada, posicionamento e passe bons. Sabia ler muito bem o jogo. Era um pouco tímido, mas quando entrou em campo, falou
Sven-Goran Eriksson

Em 2010, Dunga e Eriksson se enfrentaram na Copa do Mundo. O sueco estava à frente da seleção de Costa do Marfim, derrotada pelo Brasil por 3 a 1. O mestre afirma que já esperava ver seu discípulo se transformar num treinador conceituado, justamente pelas características de liderança e visão de jogo que revelava como atleta.

Enquanto Ramón Díaz tenta retomar os melhores momentos de sua carreira, e Dunga busca impulsioná-la no retorno à seleção brasileira, Eriksson se distancia cada vez mais do futebol competitivo. Há dois anos, publicou uma autobiografia em que se expõe totalmente. Fala de mulheres, como perdeu dinheiro, sucessos e fracassos. Agora, lançou uma coleção de vinhos.
Técnico do Shanghai Dongya, clube chinês onde atua o argentino Darío Conca, o sueco de 67 anos, prêmios e títulos aos montes no currículo, está longe dos tempos de glória que teve, predominantemente no Benfica e no Lazio, mas não consegue abandonar o futebol. E vê tudo. Viu até a entrevista de Neymar depois de ser suspenso por quatro partidas e deixar a concentração brasileira no Chile.

– Ele será um dos melhores jogadores do mundo por muitos anos. Eu vi sua entrevista na televisão. Ele pediu desculpas a todos e admitiu sua falha. Basta. A vida continua – decretou o histórico Sven-Goran Eriksson, que também não se furtou de apontar, entre seus pupilos, um favorito para avançar à semifinal da Copa América.

– O Brasil é mais forte no papel. Então, Dunga.


FICHA TÉCNICA

BRASIL: 
Jefferson, Daniel Alves, Thiago Silva, Miranda e Filipe Luís; Fernandinho, Elias, Philippe Coutinho e Willian; Robinho e Roberto Firmino. Técnico: Dunga

PARAGUAI: 
Villar, Valdez, Paulo da Silva, Aguilar e Píris; Aranda, Victor Cáceres, González e Benítez; Haedo Valdez e Santa Cruz. Técnico: Ramón Díaz

Data: 27/06/2015 Horário: 18h30 (de Brasília) Local: Estádio Ester Roa, em Concepción (Chile) Árbitro: Andrés Cunha (URU) Auxiliares: Mauricio Espinosa e Carlos Pastorino (URU) Transmissão: a TV Globo, o Sportv e o GloboEsporte.com transmitem a partida ao vivo

Dunga Eriksson Brasil x Costa do Marfim 2010 (Foto: AP)
Dunga e Eriksson se enfrentaram na Copa de 
2010: um pela seleção brasileira e outro por 
Costa do Marfim (Foto: AP)


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