De cabeça, Riveros marca o único gol gremista no triunfo fora de casa
A CRÔNICA
por
Lucas Rizzatti
Foi com a cabeça de Riveros que o Grêmio, lá no calor de Salvador,
diante do Bahia, começara a arrancada que culminaria no vice do
Brasileiro em 2013. É novamente num mergulho perfeito do volante
paraguaio que o Tricolor espera ter iniciado uma nova era; de parar de
comemorar campanhas e vibrar com títulos, ausentes há 13 anos. Porque o
cabeceio de Riveros deu a vitória sobre o Nacional-URU, na ventania e na
pressão do Parque Central, em Montevidéu, numa quinta-feira de céu
limpo e esperança renovada. A 15ª estreia do Grêmio em Libertadores,
portanto, não poderia ser mais saborosa. É, enfim, permitido sonhar em
2014.
O gol saiu aos 23 minutos do segundo tempo após cruzamento de Ramiro. Numa das poucas jogadas agudas desse novo Grêmio, de um Enderson Moreira abnegado, dentro da política de cortes nas finanças e, assim como Riveros fora no tento, mergulhado na ideia de aproveitar garotos. Afinal, enfrentou, com três estreantes no torneio continental, um caldeirão de quase 30 mil gargantas castelhanas loucas para engolir jovens como Ramiro, Wendell e Luan. Esse último mostrou, mais uma vez, toda sua personalidade. Rhodolfo, um gigante na zaga. E Grohe, firme quando necessário. Mais boas notícias de uma noite beirando a perfeição aos gremistas, que seguem sem perder para o tricampeão Nacional em Libertadores - três vitórias, dois empates.
O Grêmio volta a pensar em Libertadores só no dia 25, uma terça, quando recebe o Atlético Nacional de Medellín na Arena, às 22h. No domingo, com chance de time reserva, retorna ao Gauchão. Enfrenta o Esportivo, em Bento Gonçalves, às 17h. O Nacional-URU tentará buscar pontos fora de casa na segunda rodada. No dia 27, visita o Newell's Old Boys. No fim de semana, pega o Sud América, no campeonato local, no qual é lider ao lado do Fénix.
Pressão, mas com cordialidade charrua
Eles foram chegando aos poucos. No início, silenciosos. Com o tempo, avolumando-se, formando uma massa homogênea. Viraram um aglomerado de camisetas brancas, com o famoso pancho (cachorro-quente uruguaio) numa das mãos e um saco plástico inflável, em três cores, na outra.
Assim, tomava forma o mítico caldeirão do Parque Central, embalado pelo peculiar sistema de som, que mescla comerciais escrachados, músicas frenéticas e palavras de incentivo. Os uruguaios conseguem ser cordiais mesmo diante de um embate tão ferrenho à vista. Não há uma vaia quando a escalação do Grêmio é anunciada. Só após isso os "hinchas" começaram a erguer as espécies de balões. O espetáculo, barulhento e colorido, pintou de azul, vermelho e branco o palco da primeira Copa do Mundo, em 1930.
Tão expressiva é a celebração que a sempre ruidosa torcida do Grêmio teve dificuldades de se fazer ouvir antes de a bola rolar. Os cerca de 600 gremistas alojados na extremidade do reformado pavilhão Hector Scarone ainda tiveram que passar por severa revista antes de pisar no cimento frio do Parque Central. Houve até teste de bafômetro. Alguns acabaram alijados de assistir ao duelo. Quem entrou pôde notar que o clima amistoso começa a esvair-se com a proximidade do jogo. A começar pela entrada em campo do Grêmio, quando, enfim, ouviram-se as primeiras vaias aos gaúchos, vestidos com camisa preta da cor do céu de Montevidéu, calção branco, meia azul. O time era o mesmo que empatou o Gre-Nal no domingo. Gerardo Pelusso também não inventou e foi com o que tinha de melhor.
O melhor mesmo é se impor. Logo de cara. Aos nove segundos, Nicolas
Prieto levantou Pará na linha lateral. Enderson, colado a campo, bateu
palmas, pediu vibração. Era a Libertadores, tão desejada, começando à
vera para o Grêmio. O Tricolor a recebeu de braços abertos, pois
devolveu a entrada forte com carrinhos de Rhodolfo e Zé Roberto nos
minutos seguintes. Times, portanto, iguais na virilidade e também no
futebol. O próprio Rhodolfo mostrou, aos oito minutos, que pode ser
viril e habilidoso. Desarmou o artilheiro e ídolo Iván Alonso, lançou
Barcos e a bola, depois, se ofereceu a chute de Luan, sobre a meta, na
melhor jogada criada até então no ventoso Parque Central. A resposta
veio aos 11 minutos. Wendell cortou mal um cruzamento. De Pena, figura
de maior relevo charrua, emendou um belo chute, que lascou tinta do
poste canhoto de Grohe, que saltara por mero protocolo.
Riveros, incendiando o jogo
Aos 15 minutos, o primeiro lance que realmente ferveu o caldeirão. Riveros cai na linha de lado, Prieto chuta a bola sobre o paraguaio, que o empurra. Torcida se enerva com o bolo de jogadores formados. Logo depois, Pará encara De Pena com dedo em riste e Barcos cobra o árbitro contra a initmidação uruguaia. Antonio Arias, aliás, deixou o jogo correr. O que enraiveceu ambas as partes. Faltava a torcida se irritar. Aos 26, a bola foi lançada para o pé perigoso de Alonso. Impedimento marcado. O Parque Central inteiro rugiu, indignado. Os fãs alocados na parte superior, com visão para as cabines de TV espichavam os pescoços, em busca da imagem definitiva sobre o lance polêmico.
Voltam o exótico sistema de som e a cordialidade uruguaia, que chegou a ponto de um torcedor se virar aos repórteres oferecendo algumas providenciais balas de menta.
Déjà vu gremista
Se no primeiro tempo o Nacional criou apenas uma chance clara de gol, a segunda etapa reservaria sofrimento mais agudo aos gremistas. Logo nos primeiros minutos, os donos da casa mostraram nova postura. Encurralaram os gaúchos até conseguirem um escanteio. Na cobrança, o zagueiro Scotti tocou de cabeça, e Marcelo Grohe fez uma grande defesa.
Mas foram apenas os primeiros 15 minutos de susto. Aos poucos, o Grêmio voltou a se encontrar em campo, e os ataques do Nacional passaram a rarear. E além de controlar a posse de bola, por vezes até com certa facilidade, o time de Enderson começou a assustar o veterano goleiro Munúa. Aos 21 minutos, Barcos recebeu a bola mano a mano com o zagueiro, limpou e bateu colocado para a defesa do arqueiro.
Era o ensaio do gol. Dois minutos depois, depois de uma longa troca de
passes no campo do Nacional, o próprio Barcos fez ótimo lançamento para
Ramiro pela direita, que cruzou na área. A bola viajou e, no segundo
poste, encontrou a cabeça de Riveros. Camisa 16, assim como o ídolo
Jardel, artilheiro da Libertadores de 1995, usou o mesmo experiente do
ex-jogador e tocou para o gol vazio.
É fácil dizer, mas verdadeiro. O gol fez bem ao Grêmio. Depois de abrir o placar, ficou ainda mais dono das ações e exarcebou a maior qualidade técnica dos seus jogadores. Não foi aquele jogo que, depois de marcar, os visitantes se fecharam para segurar o resultado. Tanto é que o próprio Riveros quase ampliou aos 32 minutos. Ele apanhou uma sobra dentro da área e soltou uma bomba. Ela explodiu na rede, mas pelo lado de fora.
O técnico Gerardo Peluso, então, tentou sacar uma das principais armas do banco. Álvaro Recoba, astro uruguaio ingressou no gramado, e incendiou a partida. A pressão foi quase insustentável. Muitas jogadas aéreas na área, grito da torcida e uma bola tirada quase de dentro do gol por Léo Gago, que entrou já no final do jogo. Mas ela não entrou. Vitória do Grêmio. No Parque Central. Contra um tricampeão. Não há melhor maneira de iniciar a busca pelo seu tricampeonato.
O gol saiu aos 23 minutos do segundo tempo após cruzamento de Ramiro. Numa das poucas jogadas agudas desse novo Grêmio, de um Enderson Moreira abnegado, dentro da política de cortes nas finanças e, assim como Riveros fora no tento, mergulhado na ideia de aproveitar garotos. Afinal, enfrentou, com três estreantes no torneio continental, um caldeirão de quase 30 mil gargantas castelhanas loucas para engolir jovens como Ramiro, Wendell e Luan. Esse último mostrou, mais uma vez, toda sua personalidade. Rhodolfo, um gigante na zaga. E Grohe, firme quando necessário. Mais boas notícias de uma noite beirando a perfeição aos gremistas, que seguem sem perder para o tricampeão Nacional em Libertadores - três vitórias, dois empates.
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O Grêmio volta a pensar em Libertadores só no dia 25, uma terça, quando recebe o Atlético Nacional de Medellín na Arena, às 22h. No domingo, com chance de time reserva, retorna ao Gauchão. Enfrenta o Esportivo, em Bento Gonçalves, às 17h. O Nacional-URU tentará buscar pontos fora de casa na segunda rodada. No dia 27, visita o Newell's Old Boys. No fim de semana, pega o Sud América, no campeonato local, no qual é lider ao lado do Fénix.
Jogadores do Grêmio comemoram gol contra o
Nacional (Foto: Lucas U
ebel/Divulgação, Grêmio)
Eles foram chegando aos poucos. No início, silenciosos. Com o tempo, avolumando-se, formando uma massa homogênea. Viraram um aglomerado de camisetas brancas, com o famoso pancho (cachorro-quente uruguaio) numa das mãos e um saco plástico inflável, em três cores, na outra.
Assim, tomava forma o mítico caldeirão do Parque Central, embalado pelo peculiar sistema de som, que mescla comerciais escrachados, músicas frenéticas e palavras de incentivo. Os uruguaios conseguem ser cordiais mesmo diante de um embate tão ferrenho à vista. Não há uma vaia quando a escalação do Grêmio é anunciada. Só após isso os "hinchas" começaram a erguer as espécies de balões. O espetáculo, barulhento e colorido, pintou de azul, vermelho e branco o palco da primeira Copa do Mundo, em 1930.
Tão expressiva é a celebração que a sempre ruidosa torcida do Grêmio teve dificuldades de se fazer ouvir antes de a bola rolar. Os cerca de 600 gremistas alojados na extremidade do reformado pavilhão Hector Scarone ainda tiveram que passar por severa revista antes de pisar no cimento frio do Parque Central. Houve até teste de bafômetro. Alguns acabaram alijados de assistir ao duelo. Quem entrou pôde notar que o clima amistoso começa a esvair-se com a proximidade do jogo. A começar pela entrada em campo do Grêmio, quando, enfim, ouviram-se as primeiras vaias aos gaúchos, vestidos com camisa preta da cor do céu de Montevidéu, calção branco, meia azul. O time era o mesmo que empatou o Gre-Nal no domingo. Gerardo Pelusso também não inventou e foi com o que tinha de melhor.
Balões brancos embalam torcida no Parque
Central (Foto: Lucas Rizzatti/GloboEsporte.com)
Riveros, incendiando o jogo
Aos 15 minutos, o primeiro lance que realmente ferveu o caldeirão. Riveros cai na linha de lado, Prieto chuta a bola sobre o paraguaio, que o empurra. Torcida se enerva com o bolo de jogadores formados. Logo depois, Pará encara De Pena com dedo em riste e Barcos cobra o árbitro contra a initmidação uruguaia. Antonio Arias, aliás, deixou o jogo correr. O que enraiveceu ambas as partes. Faltava a torcida se irritar. Aos 26, a bola foi lançada para o pé perigoso de Alonso. Impedimento marcado. O Parque Central inteiro rugiu, indignado. Os fãs alocados na parte superior, com visão para as cabines de TV espichavam os pescoços, em busca da imagem definitiva sobre o lance polêmico.
Barcos divide com jogador do Nacional (Foto: Lucas Uebel/Divulgação, Grêmio)
Aos 27, sem impedimento, Zé Roberto soltou bomba no centro do gol.
Munua rebateu do jeito que pôde. No rebote, Luan enfiou a cabeça na bola
para nova defesa atrapalhada do experiente goleiro. E o ritmo
permaneceu o mesmo. O Grêmio se atrevendo. O Nacional retrucando. E
sempre com Pena. Aos 30, entrara pela primeira vez na área, mas o tiro
saiu muito alto. Precisco foi Luan, que alçou na medida para Ramiro. Não
contava com o chute mascado do volante. Luan não se importava. Mas
Barcos, sim. A cada erro no ataque, o capitão levava aos mãos para o
céu, ou as batia contra as coxas, meneando a cabeça, contrariado. Estava
muito isolado. Sozinho também estava Cruzado. Livre na quina da pequena
área, o peruano perdia grande chance ao disparar torto contra Grohe. De
tanto chumbo trocado sem alvo atingido, o jeito era encerrar o primeiro
tempo.Voltam o exótico sistema de som e a cordialidade uruguaia, que chegou a ponto de um torcedor se virar aos repórteres oferecendo algumas providenciais balas de menta.
Déjà vu gremista
Se no primeiro tempo o Nacional criou apenas uma chance clara de gol, a segunda etapa reservaria sofrimento mais agudo aos gremistas. Logo nos primeiros minutos, os donos da casa mostraram nova postura. Encurralaram os gaúchos até conseguirem um escanteio. Na cobrança, o zagueiro Scotti tocou de cabeça, e Marcelo Grohe fez uma grande defesa.
Mas foram apenas os primeiros 15 minutos de susto. Aos poucos, o Grêmio voltou a se encontrar em campo, e os ataques do Nacional passaram a rarear. E além de controlar a posse de bola, por vezes até com certa facilidade, o time de Enderson começou a assustar o veterano goleiro Munúa. Aos 21 minutos, Barcos recebeu a bola mano a mano com o zagueiro, limpou e bateu colocado para a defesa do arqueiro.
Ramiro afasta a bola contra o Nacional
(Foto: Lucas Uebel/Divulgação, Grêmio)
É fácil dizer, mas verdadeiro. O gol fez bem ao Grêmio. Depois de abrir o placar, ficou ainda mais dono das ações e exarcebou a maior qualidade técnica dos seus jogadores. Não foi aquele jogo que, depois de marcar, os visitantes se fecharam para segurar o resultado. Tanto é que o próprio Riveros quase ampliou aos 32 minutos. Ele apanhou uma sobra dentro da área e soltou uma bomba. Ela explodiu na rede, mas pelo lado de fora.
O técnico Gerardo Peluso, então, tentou sacar uma das principais armas do banco. Álvaro Recoba, astro uruguaio ingressou no gramado, e incendiou a partida. A pressão foi quase insustentável. Muitas jogadas aéreas na área, grito da torcida e uma bola tirada quase de dentro do gol por Léo Gago, que entrou já no final do jogo. Mas ela não entrou. Vitória do Grêmio. No Parque Central. Contra um tricampeão. Não há melhor maneira de iniciar a busca pelo seu tricampeonato.
Riveros comemora o gol que decidiu a partida
em Montevidéu (Foto: AP)
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