quinta-feira, 4 de abril de 2013

Dois minutinhos com... Bernardinho: autorama,Titãs, filhos e vôlei, claro


Técnico do Rio de Janeiro diz que gostaria de enfrentar Robert Scheidt e Torben Grael, e afirma que Bruninho é um 'Bernardinho evoluído'

Por Danielle Rocha e André Durão Rio de Janeiro


Era para ser um Natal como outro qualquer, mas não foi. Quebrar os anjos da mãe, jogando futebol dentro de casa, teve consequências. O pequeno Bernardo estava de castigo, certo de que não tinha sido um bom menino e que não encontraria um presentinho embaixo da árvore com seu nome. Foi surpreendido pelo avô. Aquela caixa grande trazia o autorama e a primeira lembrança de ter chorado de felicidade. Falar de infância para Bernardinho é voltar imediatamente a essa cena. Depois dali, a bola passou dos pés para as mãos. Melhor assim. Na quadra, começou a construir um caminho de conquistas. Primeiro como levantador, depois como técnico. Aos 53 anos, com tantos títulos no currículo, continua fanático por vôlei assim como era aos 20. Nunca se esqueceu do conselho que recebeu de seu primeiro treinador, depois que aceitou um convite para jogar um torneio no time adulto, deixando o infanto-juvenil de lado. E sofre com o simples exercício de imaginar como será a vida quando chegar a hora de sair de cena para investir em novos projetos. Ao menos, a rotina que inclui treinos, viagens, competições, palestras e compromissos como empresário, deverá ficar menos puxada. Bem de acordo com o trecho da música "Epitáfio", dos Titãs, que escolheu como sua preferida, no quadro Dois minutinhos com...
Pinça o verso e não consegue segurar o riso: "Devia ter trabalhado menos..."

 Apesar de não gostar muito de responder sobre vida pessoal, Bernardinho topou o desafio. Tinha que responder ao maior número de perguntas no tempo determinado. Algo que deveria ser fácil para alguém de fala tão rápida. Mas quando o assunto deixa a esfera esportiva, o treinador do Rio de Janeiro gosta dos porquês, de tudo bem explicadinho. E aí, os dois minutos viraram 12.
Nos 10 excedentes, falou sobre sua admiração pelos velejadores Torben Grael e Robert Scheidt, e o desejo de enfrentá-los; sobre a maior dor que já sentiu; o poder das filhas Julia e Vitória de fazê-lo rir, a última vez que chorou e sobre a frustração de  ver um país pior do que via quando era jovem. E, claro, comentou sobre mais uma final da Superliga contra o Osasco, que será disputada neste domingo, às 10h, no ginásio do Ibirapuera. A Rede Globo transmite ao vivo e o GLOBOESPORTE.COM acompanha a tudo em Tempo Real. Confira abaixo as respostas que ficaram fora do vídeo:

Aos 50 eu sou...

Mosaico Bernardinho entrevista dois minutos (Foto: Reprodução)

Feliz com tantas coisas que a gente conquistou. Conquista pessoal, esportiva, é no vôlei, é no esporte. Mas frustrado por ver um país pior do que eu via quando era jovem. Acho que isso é uma coisa que me incomoda todos os dias. Vejo que não estou ajudando em muita coisa. Vejo que a gente tem muita coisa para fazer e me incomodo com meu próprio silêncio em relação a coisas erradas.
Se você pudesse enfrentar um atleta de outro esporte, quem seria?
Eu citei dois aqui (Robert Scheidt e Torben Grael) que eu gostaria de enfrentar sim, mas que não tenho o menor jeito. Vou até vomitar no barco. São dois caras tão excepcionais. Você quer medir forças com os melhores. Então, se eu fosse um craque do iatismo gostaria de medir forças com eles, porque acho que são os Pelés da vela e do esporte olímpico brasileiro.


Maior dor que já sentiu?
Do ponto de vista esportivo, algumas frustrações de ver uma grande equipe não conquistar aquilo que podia e merecia conquistar. Por uma série de situações. Em 96 (Olimpíadas de Atlanta) a derrota na semifinal foi uma grande frustração. No âmbito pessoal é difícil dizer. De um modo geral as duas vêm muito em função da dor dos outros. Por exemplo, quando um filho é injustiçado ou quando uma filha sente uma dor ou tem algum problema. Quando você é pai, entende o quanto isso dói. Hoje eu entendo porque meu pai sofreu essas situações, queria brigar por mim. Quando você não é pai não percebe isso.


A última vez que você chorou?
Foi um mês atrás, quando eu vi uma tia minha chorando pela perda de uma filha.


O que faz você rir?
As macaquices das minhas filhas. As brigas das minhas filhas com a mãe, a Fernanda (risos). Isso chega a ser divertido eventualmente, mas é parte do processo. O que me faz sorrir são os pequenos prazeres, que não são pequenos, são enormes, que a gente não valoriza como deve.


Se pudesse entrar numa máquina do tempo para qual época iria?
Gostaria de ver, resgatar alguns personagens que davam algum sentido à história. Personagens que tentaram deixar um legado e que pudessem fazer esse país melhor.


Maior preocupação quando deixar o vôlei?Como preencher esse tempo todo que ele ocupa, né?  É difícil cair no vazio. 
Não vou sentir falta de nada entorno, a não ser disso aqui (aponta para a quadra). Gostaria de poder estar de alguma forma ligado à quadra ou aos atletas. Nessa coisa da troca, do suor, de ralação, de desafio. Não sei o que vou fazer com tempo que dedico a isso. Tanto tempo livre... Claro que há mil projetos aí, mas vou sentir muita falta desse dia a dia. Não vou sentir falta de nada mais. Pode ter certeza que não vou sentir falta dos holofotes, não vou sentir falta de nada, nada, nada, mas nem um pouquinho. Vou sentir falta só disso aqui. Até daqueles holofotes ali que iluminam a quadra.

Bernardinho treino vôlei  (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Bernardinho no treino do Rio de Janeiro
(Foto: André Durão / Globoesporte.com)

Uma palavra
Inconformismo.


Um filme?
"Intocáveis". Esse filme francês me tocou muito, foi muito bacana.


Osasco
Um grande rival. Já tivemos momentos contra Minas, contra  tal, agora é Osasco. Um grande time, que faz um ótimo trabalho. Várias jogadoras que estão lá passaram por aqui. E é um time que quer ganhar da gente sempre.

  
Luizomar de Moura
Um grande treinador. Que faz um trabalho muito bom. Que pode crescer e amadurecer muitas coisas ainda. Se preocupa com muitas coisas que não dizem respeito ao trabalho.


Uma final de Superliga
É o coroamento de um trabalho. Você trabalha para isso. Você não pode chegar aí e ficar tenso em relação a ísso. Tem que estar feliz de estar ali e aproveitar o momento. Todas as dez equipes, 120 jogadoras, contando as 12 que jogam efetivamente em cada equipe da Superliga feminina gostariam de estar lá. Cortaram apenas 24. Essas são, obviamente, são merecedoras de estar lá porque trabalharam para isso. São felizardas de terem tido esse privilégio de jogar mais uma final da Superliga.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/04/dois-minutinhos-com-bernardinho-autoramatitas-filhos-e-volei-claro.html

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