Principal força da Ucrânia, time com 13 brasileiros foge dos conflitos em Donetsk e tenta se reencontrar longe de casa. "Deixamos tudo para trás", diz Luiz Adriano
Sob um incomum calor de setembro, milhares de pessoas circulam pelas ruas de Kiev, na Ucrânia. Crianças, famílias e casais de namorados estão por todos os cantos da cidade. Não se sente tensão no ar. A crise que sitiou a região leste do país, ex-república soviética, parece não assustar os moradores da capital, localizada no centro-norte ucraniano. Se não há clima de guerra em Kiev, por outro lado são inúmeras as cicatrizes deixadas pelas recentes disputas civis, que culminaram no golpe de Estado e a destituição do então presidente Viktor Yanukovich em fevereiro.
A praça da Independência, no centro de Kiev, virou um santuário com homenagens àqueles que perderam a vida nas batalhas. Cartazes, flores e bandeiras da nação dividem o cenário com vidros ainda estilhaçados e lágrimas de parentes.
Longe de Donetsk, brasileiros do
Shakhtar disputam pelada em
condomínio em Kiev (
Foto: Felipe Rocha)
O futebol, claro, não driblou a crise que aflige a Ucrânia. Para o Shakhtar Donetsk, principal clube do país e que conta com 13 brasileiros no elenco, a rotina mudou completamente. O atual pentacampeão nacional saiu de Donetsk, no leste ucraniano e ponto de bombardeios que destruíram parte do estádio e do centro de treinamentos da equipe, para refugiar-se em Kiev, a mais de 700 quilômetros de distância.
- Deixamos tudo para trás. Casa, carro, roupas. É muito triste o que está acontecendo em Donetsk, com pessoas inocentes morrendo. Não sabemos quando isso vai acabar - lamenta o atacante Luiz Adriano, há quase 8 anos no Shakhtar.
Dentinho se diverte na brincadeira com os companheiros de Shakhtar (Foto: Felipe Rocha)
Aos poucos, a vida dos brasileiros do Shakhtar vai se ajeitando em Kiev. Eles contrataram uma espécie de ‘‘frete clandestino’’ para resgatar os bens deixados nas antigas casas em Donetsk. Dez deles vivem agora em um mesmo condomínio de luxo na capital. Não raro, curtem os dias de folga com uma pelada na quadra esportiva comum aos edifícios. Os vizinhos ‘gringos’ entram na roda e ganham apelidos com rapidez idêntica a que tomam os gols. Dentinho acerta o ângulo e grita ‘Vai, Corinthians’; Douglas Costa e Taison esquecem a antiga rivalidade Gre-Nal e estão no mesmo time; Alex Teixeira completa o quadro imbatível.
Diluído o susto inicial com a crise da Ucrânia, os brasileiros do Shakhtar não estão descontentes com a mudança para Kiev. Enquanto o indesejável inverno local não impõe suas evidentes restrições, eles tiram proveito da troca de cenários.
- Donetsk é uma cidade pequena em comparação a Kiev. Aí, acabamos frequentando sempre os mesmos lugares. Então, temos agora mais opções de lazer, de restaurantes, para aproveitar nos dias livres – conta o auxiliar técnico, Antônio Carlos Zago.
Estrutura do Shakhtar em Kiev é bem
diferente da que os jogadores tinham
em Donetsk (Foto: Felipe Rocha)
'Shakhtar Kiev’ nos treinos, ‘Shakhtar Lviv’ na Champions
A cidade de Lviv, no extremo oeste da Ucrânia, próxima da fronteira com a Polônia, é a nova casa do Shakhtar Donetsk nos principais jogos da equipe na temporada. Ou seja, será em Lviv que o clube vai mandar suas partidas pela Liga dos Campeões da Europa. O Shakhtar está no Grupo H da competição ao lado de Porto, Athletic Bilbao e BATE Borisov. A estreia do campeão ucraniano acontece na próxima quarta-feira diante do Athletic Bilbao, na Espanha.
- Não é uma situação fácil para nós. Estaremos longe de nossa torcida. E vocês sabem que o apoio dos torcedores ajuda a conquistar grandes resultados. Tomara que consigamos encher o estádio mesmo longe de nossa cidade – afirmou o técnico, o romeno Mircea Lucescu.
Para diminuir os deslocamentos, o Shakhtar também tem mandado algumas partidas, do Campeonato Ucraniano, em Kiev. Na capital, aliás, o clube faz a maioria de seus treinos em um centro esportivo improvisado e de difícil acesso no subúrbio da cidade.
- Nem o GPS acha o local - brinca Antônio Carlos.
Se o campo de treino não merece críticas, não há sequer um vestiário para os atletas trocarem de roupas. Fim do treinamento, todos os jogadores seguem direto para o ônibus do clube. Banho, somente em um hotel no centro de Kiev, ponto de encontro antes e depois das atividades.
Certamente, uma nova realidade para quem tinha, em Donetsk, uma estrutura compatível à oferecida pelos principais clubes da Europa.
Praça em Kiev virou santuário com
homenagens às vítimas da guerra na
Ucrânia (Foto: Felipe Rocha)
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