quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Após 5 a 1, responsável por renovação do Brasil admite: "Estamos bem atrás"

Márcio Oliveira assumiu seleção feminina depois do fracasso nas Olimpíadascom objetivo de revelar "novas Martas"; demitido por Vadão, ele pede mais apoio ao time


Por São José dos Campos, SP

 

Em 2012, após fracasso do futebol feminino brasileiro nas Olimpíadas de Londres, o técnico Márcio Oliveira recebeu um convite da CBF. O presidente José Maria Marin queria uma renovação completa com o objetivo de revelar "novas Martas, Cristianes e Formigas". Mas, após um ano e oito meses de trabalho, Márcio foi demitido para chegada de Vadão. Como legado, o técnico garante ter montado a base do time Sub-20 que perdeu para a Alemanha por 5 a 1 no Mundial no Canadá. A goleada é comparada com o futebol masculino - o histórico 7 a 1 para os alemães. Na opinião de Márcio, a parte emocional foi um dos pontos que pesou no Canadá.

Márcio Oliveira técnico da Seleção Brasileira (Foto: Divulgação/ CBF)Márcio Oliveira assumiu o Brasil após fracasso nas Olimpíadas de Londres (Foto: Divulgação/ CBF)

- Vi todos os jogos do Mundial. Quando assumi a seleção cuidando de todas as categorias, viajei o Brasil inteiro atrás de talentos e montamos esse time Sub-20. Faltou equilíbrio emocional em muitas partidas. O time teve falhas individuais, além de problemas nas partes técnica e física. Contra a Alemanha, estamos bem atrás. O Brasil conseguiu igualar marcando sob pressão e abrindo o placar. Mas no segundo tempo a questão física pegou bastante - avaliou o ex-treinador do Brasil, que hoje voltou a trabalhar em São José dos Campos-SP, onde já faturou a Libertadores Feminina.

No Canadá, a seleção brasileira comandada pelo técnico Doriva Bueno realizou três partidas: empate contra China (1 a 1), derrota para os EUA (1 a 0) e humilhação contra Alemanha (5 a 1). Na estreia, as chinesas empataram no finzinho, quando o jogo caminhava para uma vitória brasileira. Contra os Estados Unidos, o gol foi tomado também no fim da segunda etapa. Além das questões emocionais e físicas, Márcio Oliveira descarta uma possível deficiência tática ou o adjetivo "ultrapassado".

- Não estamos ultrapassados taticamente, não. Quando coordenei a seleção feminina, designei uma profissional da comissão para realizar cursos no exterior e nos atualizar com o que de mais moderno se pratica no futebol feminino. Isso foi feito. O nosso problema ainda é a valorização da modalidade, a falta de competições fortes espalhadas pelo Brasil, além de mais investimento nas categorias de base. É na base que está o grande problema e a grande solução - opinou.

Letícia Santos lateral Brasil x Alemanha feminino (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
Lateral Letícia Santos, do São José-SP, 
no duelo contra Alemanha no Canadá 
(Foto: Rafael Ribeiro / CBF)

O Brasil Sub-20 realizou apenas dois amistosos antes de partir para o Canadá. E agora a seleção feminina principal, sob comando de Vadão, disputa a Copa América 2014 no Equador, de 11 a 28 de setembro. Antes da estreia na competição, o time fará apenas um amistoso, contra a Holanda, no dia 20.

 O nosso futebol feminino depende do pai e da mãe patrocinarem. Mas os talentos brotam aqui no Brasil. É preciso haver profissionalização
Adilson Galdino, técnico do São José-SP que classificou a seleção sub-20 ao Mundial

Técnico do Sub-20 na "era Márcio Oliveira", Adilson Galdino foi o responsável por classificar a seleção para o Mundial do Canadá. No Sul-Americano, o Brasil foi campeão invicto batendo o Paraguai na final.

Galdino compara o futebol masculino com o feminino ao falar sobre a qualidade das jogadoras daqui. Mas quando o assunto é profissionalização, ele afirma ser incomparável.

- É outra realidade. As dificuldades no feminino são enormes. Talento individual, tem, eles brotam aqui. Essa magia do futebol brasileiro masculino também está no feminino. Mas é preciso oferecer condições profissionais para as meninas desde o sub-11, como Alemanha, EUA e outros países fazem. Sem olhar a base, o Brasil não vai ganhar um ouro olímpico de uma hora pra outra - disse.

marta brasil x japão (Foto: Reuters)
Com Marta apagada, Brasil se despediu 
das Olimpíadas de 2012 com derrota 
para o Japão (Foto: Reuters)

Sobre as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016: o que esperar do Brasil? Na opinião de Márcio Oliveira e Galdino, a seleção não entra com favoritismo. Mas o talento pode fazer a diferença.

- Torço para o Vadão dar essa virada de página ao futebol feminino, com as competições se fortalecendo aqui, as categorias de base, tudo em conjunto para que o resultado seja refletido em uma competição como é a Olimpíada - comentou Márcio.

Lava-rápido Bagé Priscilinha São José (Foto: Danilo Sardinha/Globoesporte.com)Zagueira do São José-SP e da seleção precisa vender sorvetes e lavar carros após os jogos do futebol feminino
(Foto:
DaniloSardinha/Globoesporte.m)

- Temos talentos promissores no Brasil. A camisa 10 e capitã do Sub-20 (Andressa) tem todas as condições para se tornar uma grande estrela, como Marta, Formiga e Cristiane. Também temos Andressa Alves, Chu, enfim, uma lista de talentos. O que precisam é profissionalizar a modalidade por aqui - destacou Galdino.

Campeãs da Libertadores vendem sorvetes e lavam carros após jogos
O São José-SP, do Vale do Paraíba, é o atual campeão da Libertadores Feminina. Campeão Paulista em 2012, a equipe joseense conta com uma lista de jogadoras na seleção. Do time Sub-20 que estava no Canadá, são de São José: Letícia (goleira), Letícia Santos (lateral-direita) e Gabi Ceará (volante). No time principal, convocado por Vadão: Bruna Benites (zagueira), Poliana (lateral), Formiga (volante), Andressa Alves (meia), Chu e Giovânia (atacantes). Em 2012, o GloboEsporte.com mostrou que a zagueira Bagé, do São José e da seleção, vende sorvetes e lava carros após os jogos da equipe para complementar o orçamento.

- Os homens não precisam se preocupar tanto em ter algo paralelo quanto as mulheres. O futebol feminino é muito instável e, por isso, temos de já começar a pensar no futuro (..) Às vezes, a seleção tem meninas que são convocadas, mas não jogam por nenhum clube. Falta apoio ao esporte e a saída é se desdobrar - declarou Bagé, à época.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2014/08/apos-5-1-responsavel-por-renovacao-do-brasil-admite-estamos-bem-atras.html

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