Com índices de popularidade surpreendentes durante a Copa de 2014, futebol nos EUA vê mudanças de hábitos atraírem fãs pela televisão e nos estádios brasileiros
Ao redor do mundo, seja qual for o idioma, o evento é
chamado de “Copa do Mundo de Futebol”. Mesmo tendo no dicionário as exatas
palavras para fazer a tradução literal, os americanos seguem chamando o esporte
de “soccer”. Mas, se o vocabulário se mantém intacto, as percepções e hábitos
destes torcedores se transformaram de forma drástica para que a competição
alcançasse índices de popularidade surpreendentes nos Estados Unidos durante o
Mundial de 2014 – e para que outras dezenas de milhares de fãs viajassem para
torcer in loco nos estádios brasileiros.
Classificada em segundo lugar no Grupo G, com quatro pontos, a seleção comandada por Jürgen Klinsmann volta a campo nesta terça-feira, às 17h (horário de Brasília), pelas oitavas de final. A equipe encara a Bélgica na Arena Fonte Nova, em Salvador.
- Esta impressionante alta no interesse nos EUA é um verdadeiro divisor
de águas para a Copa do Mundo e para o futebol. Estamos entusiasmados por ver a
maneira com que os torcedores americanos estão recebendo a Copa do Mundo, como
nunca antes - disse o diretor da TV da Fifa, Niclas Ericson.
Maior artilheiro da história da seleção americana com 57
gols, Landon Donovan não foi relacionado pelo técnico Jürgen Klinsmann na lista
final de 23 atletas que viriam ao Brasil. Com três Mundiais disputados pelos
EUA, o meia-atacante foi o principal nome do país no esporte na última década. Mas,
mesmo todos os seus esforços nos gramados, não se compararam ao efeito causado
pelo marketing em torno de um colega de time na Major Soccer Leage (MSL) nascido
na Inglaterra.
Membro do time de galáticos do Real Madrid por quatro anos,
David Beckham transferiu-se para o Los Angeles Galaxy no início de 2007, e a
transferência explorou o slogan “Beckham comes to América” (Beckham vem para a
América, na tradução literal do inglês) . Casado com a ex-Spice Girl Victoria
Beckham, o astro britânico atraiu a imprensa e um volume de publicidade inédito
para a Major League. Segundo dados do clube, o número de jovens aspirantes a
uma vaga na equipe dobrou, em relação à peneira anterior à chegada do
astro.
Paralelamente à
ascensão de Gulati, os EUA deram passos
significativos no campo. Em 2002, chegaram às quartas de final da Copa
do Mundo. Após a
eliminação na primeira fase em 2006, Gulati começou as investidas para
contratar Jürgen Klinsmann. Em 2010, os americanos se classificaram de
forma dramática na fase de grupos - o gol de Donovan diante da Argélia
virou um marco -, mas caíram nas oitavas,
diante de Gana. No ano seguinte, o técnico alemão finalmente cedeu às
propostas
do dirigente e assumiu o comando da seleção.
- Eu gosto do estilo da equipe com o Klinsmann, acho que
valeu a pena insistir na contratação dele. O time está bem defensivamente e
conta com Dempsey em boa fase. A torcida tem razões para estar confiante,
apesar de eu achar que ainda são poucos os torcedores que acompanham de fato o
dia a dia da equipe. Acho que a maioria só está empolgada por conta da
cobertura da mídia, das reuniões para ver jogos. Hoje em dia vemos nossos
amigos se reunindo em bares para ver jogos. Isso não havia há alguns anos –
disse John Smith, que veio ao Brasil com outros três amigos.
Em busca da vaga nas quartas de final, os Estados Unidos desembarcam em Salvador neste domingo. A equipe deve realizar um treino no final da tarde, mas nem o local nem o horário foram divulgados ainda. Na segunda-feira, o grupo faz o reconhecimento do gramado na Fonte Nova, e na terça entra em campo em busca de mais motivos para que os americanos se interessem pelo futebol.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/estados-unidos/noticia/2014/06/efeito-beckham-e-chefe-indiano-levam-soccer-ao-auge-e-recordes-no-brasil.html
Classificada em segundo lugar no Grupo G, com quatro pontos, a seleção comandada por Jürgen Klinsmann volta a campo nesta terça-feira, às 17h (horário de Brasília), pelas oitavas de final. A equipe encara a Bélgica na Arena Fonte Nova, em Salvador.
Americanos invadem estádios brasileiros
durante a Copa do Mundo (Foto: Getty Images )
Os Estados Unidos só perdem para o Brasil em ingressos
comprados para a Copa do Mundo: foram 198.208 bilhetes, mais do que o triplo da
Argentina, terceira colocada com 61.477. Mesmo considerando que este
número inclui estrangeiros que moram no país, o Consulado Geral dos EUA no
Brasil afirma que mais de 90 mil americanos desembarcaram na terra da Copa nas
últimas semanas.
Presidente Barack Obama assiste ao jogo entre Alemanha e EUA (Foto: Agência AP)
Se os estádios têm ficado cheios de torcedores vestindo as
tradicionais listras e estrelas da bandeira, os números mais impressionantes vêm
de empresas especializadas em audiência de televisão. De acordo com a Nielsen,
a partida entre Estados Unidos e Portugal foi o jogo de futebol mais visto
na história da TV americana, com média de 18,22 milhões de espectadores e pico
de quase 23 milhões. A título de comparação, esta medição é superior aos
confrontos dos playoffs da NBA e das decisões de beisebol no ano passado.
o efeito beckham
David Beckham comemora com os filhos título
conquistado pelo Los Angeles Galaxy
(Foto: Agência Getty Images)
- Acho que Beckham foi o primeiro grande nome a aparecer o
tempo todo nas notícias. E então começaram a aparecer mais outros grandes
nomes. Atualmente ouvimos muito sobre Messi. As crianças já crescem ouvindo os
nomes, sabendo as regras e jogando na escola, o que não acontecia em outras
gerações. A geração de nossos pais até teve esse contato na escola, mas, como
não havia essa exposição de mídia, não tinha como se equiparar ao basquete, ao
futebol (americano) ou ao beisebol. E ficava com fama de ser um esporte
feminino – disse Janell Fuller, que foi à Copa de 2006 e está com o marido, Alex, e
os filhos Carlos e Maggie em Salvador para o confronto com a Bélgica.
Janell e a família na Praça da Cruz Caída, em Salvador: 2ª Copa da família (Foto: Helena Rebello)
Nem os dois períodos de empréstimo para o Milan ou a
presença constante nas páginas de celebridades diminuíram os efeitos da semente
plantada involuntariamente por Beckham. Pelo
contrário. Os holofotes atraídos pelo britânico abriram portas para que outros
astros do futebol mundial também vissem os Estados Unidos como um possível
mercado. O francês Thierry Henry acertou com o New York, e os brasileiros
Ronaldinho Gaúcho e Kaká foram cotados para atuar na Liga. Com tantos nomes
famosos em jogo, a mídia do país deu espaço ao “soccer”, e o público foi se
familiarizando cada vez mais.
Para o jornalista
Andrew Das, do jornal "The New York Times", a negociação de Beckham foi
um marco para o estabelecimento de um novo patamar salarial na liga
americana e também para uma mudança de perfil da competição.
-
Quando ele foi para a liga talvez não estivesse mais no auge, mas ainda
era um jogador valioso na Europa e um enorme impulso de credibilidade.
Fez com que jogadores em outros países soubessem que a MLS não era
apenas um porto para se passar um ou dois anos antes da aposentadoria,
mas um campeonato para se jogar no auge. Beckham mostrou um
comportamento profissional trabalhando, treinando e jogando duro, o que
foi um exemplo para os jovens atletas.
Ele ainda aumentou o patamar
salarial e persuadiu nomes como Henry, Tim Cahill e Robbie Keane a virem
também. Isso aumentou o nível competitivo no campo. Aqui no Brasil
podemos ver vários jogadores da liga, não só pelos EUA, mas por Costa
Rica, Honduras e até o herói do Brasil nas oitavas, Julio César.
Um indiano por trás dos panos e campanhas marcantes
Nascido em Allahabad, na Índia, e radicado nos Estados
Unidos desde criança, Sunil Gulati é professor de economia da Universidade de
Columbia. É das aulas que ministra que tira o sustento de sua família – é casado
e tem duas filhas. Seu cargo como presidente da Federação Americana de Futebol
não possui remuneração, é voluntário. Em março deste ano, já às vésperas da
preparação para a Copa do Brasil, ele conquistou a reeleição para seu terceiro
mandato.
Jurgen Klinsmann e Sunil Gulati na apresentação do treinador, em 2011 (Foto: AFP)
Muito antes de assumir o cargo, Gulati esteve envolvido no
desenvolvimento do futebol no país. Jogador e árbitro universitário na
juventude, o indiano conheceu Warner Fricker,
então presidente da federação nacional. Ali começou seu envolvimento na
entidade. Participou do Comitê Organizador da Copa de 1994 e, depois, teve
papel fundamental na profissionalização da MSL.
A combinação parece ter rendido frutos, e os EUA se
classificaram em primeiro lugar nas eliminatórias da Concacaf. No Grupo G,
estreou com vitória sobre Gana, empatou com Portugal e foi superada pela
Alemanha. Campanha suficiente para avançar às oitavas e deixar torcedores
esperançosos.
À direita, John Smith posa com os amigos no Pelourinho (Foto: Helena Rebello)
Em busca da vaga nas quartas de final, os Estados Unidos desembarcam em Salvador neste domingo. A equipe deve realizar um treino no final da tarde, mas nem o local nem o horário foram divulgados ainda. Na segunda-feira, o grupo faz o reconhecimento do gramado na Fonte Nova, e na terça entra em campo em busca de mais motivos para que os americanos se interessem pelo futebol.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/estados-unidos/noticia/2014/06/efeito-beckham-e-chefe-indiano-levam-soccer-ao-auge-e-recordes-no-brasil.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário