Em família, Rubinho analisa carreira, cita Senna e admite rixa com Schumi
Entre troféus e capacetes, recordista de
corridas na F-1 abre as portas de casa para o Esporte Espetacular e
conta detalhes sobre sua vida nas pistas
Por Alexander Grünwald e TandeSão Paulo
Aos 40 anos, Rubens Barrichello
é um piloto realizado. Depois de 19 temporadas na Fórmula 1 – período
no qual ele obteve o recorde de 325 GPs disputados, incluindo 68 pódios,
11 vitórias e dois vice-campeonatos –, o competidor vive atualmente uma
época de renovação em sua vitoriosa carreira. De volta ao Brasil após
mais de duas décadas vivendo no exterior, Rubinho está curtindo a nova
fase como piloto da Stock Car e também como comentarista convidado da TV
Globo nas transmissões da F-1, desafios que ele encara com confiança e
tranquilidade.
De bem com a vida, Barrichello recebeu o Esporte Espetacular
em sua casa em São Paulo, local onde passa a maior parte do tempo fora
das pistas, curtindo a esposa Silvana e os filhos Eduardo, de 11 anos, e
Fernando, de seis.
Barrichello conversa com Tande em sua casa (Foto: Alexander Grünwald/ GLOBOESPORTE.COM)
Durante o “tour” pela residência dos Barrichello, Rubinho levou Tande a
uma viagem pelas histórias de uma carreira que mesclou vitórias e
decepções, como a do dia 12 de maio de 2002, quando foi obrigado pela Ferraria ceder a vitória no GP da Áustria ao então companheiro de equipe,Michael Schumacher.
Mesmo com o segundo lugar na linha de chegada, Rubinho foi presenteado
pelo alemão com o troféu de vencedor – segundo ele, “o mais polêmico da
casa”. Com a taça nas mãos, o piloto conta detalhes daquele dia, que
entrou para a história da F-1.
Rubinho guarda o troféu do GP da Áustria de 2002 (Foto: Alexander Grünwald/ GLOBOESPORTE.COM)
- É por causa dele que eu acho que a Fórmula 1 mudou completamente. Tem
gente que acha que eu ganhei dinheiro pra deixar aquela ultrapassagem.
Isso aqui é simplesmente o que eu ganhei naquele dia, lutando contra
tudo e todos. E tenho muito orgulho dele. Era o aniversário da minha
esposa, e eu disse a ela: “eu vou trazer o troféu de primeiro lugar como
presente”. Pouca gente sabe que eu saí do carro e fui direto para o
banheiro, tive ânsia de vomito, passei mal pra caramba, porque desceu
mal. Mas, naquele momento em que eu subi no pódio, eu lembrava da minha
esposa. Quando o Schumacher me ofereceu o troféu, eu peguei dele, na
hora – recorda.
Além de guardar muitos dos troféus da época da Fórmula 1, Rubinho
também tem outra bela recordação em casa: a coleção de capacetes, que
mescla modelos usados por ele próprio desde os tempos do kart e outros
que foram presenteados por colegas das pistas, como Fernando Alonso, Michael Schumacher, Tony Kanaan, Dario Franchitti, Jenson Button, Mark Webber e Sebastian Vettel.
Diante dos “cascos” multicoloridos, Rubinho comenta a recente polêmica
envolvendo a dupla da RBR. No GP da Malásia, segunda etapa do Mundial de
2013, o alemão desobedeceu a uma ordem da equipe para poupar os motores dos dois carros e ultrapassou o australiano, que liderava a prova. A atitude causou uma reação raivosa de Webber, que mostrou o dedo médio ao companheiro ainda dentro do cockpit, além de provocar constrangimento no pódio e gerar um pedido de desculpas por parte do tricampeão Vettel.
Barrichello diz que a F-1 deveria ter regras mais claras quanto ao jogo de equipe (Foto: Alexander Grünwald / GLOBOESPORTE.COM)
- Existe uma situação na qual, por consumo de gasolina, por situação de
motor, de pneu, a equipe pede para que você diminua os giros, reduza o
seu ritmo. Eu não sei onde houve o mal-entendido, mas houve. Porque
muito provavelmente o Webber deve ter sido comunicado que o de trás
também iria baixar os giros, mas que atacaria, ou não atacaria. Até que a
gente saiba exatamente o que aconteceu, é tudo muito polêmico. Para
falar bem a verdade, o que eu mais queria é que na Fórmula 1 existisse
essa simplicidade de falar: “o cara vai baixar o giro atrás, mas ele vai
lutar pela posição”. Porque aí é justo. Mas tem que ser comunicado,
para que as coisas fiquem claras – frisa Barrichello.
Rubinho conquistou 11 vitórias na Fórmula 1 (Foto: Alexander Grünwald/ GLOBOESPORTE.COM)
Questionado sobre a relação com o ex-companheiro da Ferrari, Rubinho
abre o coração. Diz que já houve uma amizade com Michael Schumacher, mas
que alguns desentendimentos acabaram afastando-o do alemão quando já
não dividiam mais o time italiano, algo que fizeram por seis temporadas,
de 2000 a 2005, período no qual o heptacampeão conquistou cinco de seus
títulos.
- Era meu interesse ser amigo de um grande cara que sabia de tanta
coisa e que praticamente era o dono da equipe. Então você quer tê-lo
como amigo pra que você possa estar dentro das informações, de tudo que
acontece. Hoje em dia a gente não tem mais esse contato. E também numa
das edições do Kart das Estrelas, falou-se pela imprensa umas bobeiras.
Ele acreditou mais naquilo do que na minha voz. Então, eu não preciso de
um amigo que não quer ser meu amigo. O Schumacher é um cara muito
divertido com um copo na mão. Mas extracompetitivo com um carro de
corrida na mão – salienta.
Rubinho confessa que tem todas as suas 325 corridas de F-1 gravadas. E
que, sempre que pode, volta a assistir alguma delas. Algo que costuma
fazer ao lado dos filhos. O mais velho, Eduardo, já está seguindo os
passos do pai e disputando corridas de kart.
Cercado pela família, Barrichello reverencia Ayrton Senna (Foto: Alexander Grünwald /GLOBOESPORTE.COM)
Durante a gravação para o Esporte Espetacular, o piloto aproveita o
momento que os meninos chegam da escola para acompanhar alguns momentos
históricos de sua carreira nas pistas. Como o primeiro teste na Fórmula
1, pela equipe Jordan, no fim de 1992. E também uma entrevista ao lado
de seu grande ídolo, Ayrton Senna.
Pouco mais de um ano depois de ingressar na categoria, Barrichello se
viu com a responsabilidade de substituir o tricampeão mundial.
- Foi um peso muito grande. Quando me dei conta, vi que tinha uma nação
inteira em busca de uma coisa muito grande. Que naquele momento eu não
estava nem preparado, não tinha a equipe necessária nem a idade pra que a
coisa acontecesse. Foi um peso grande – admite.
Agarrado aos filhos, ele acompanhou também imagens (para ele, inéditas)
do resgate de helicóptero após o forte acidente em Ímola, no mesmo fim
de semana no qual Senna morreu. E, sem esconder as lágrimas, reviu a
verdadeira epopeia que viveu rumo à primeira vitória na Fórmula 1, em
2000. Naquela prova, ele largou em 18º, e permaneceu na pista com pneus
para pista seca quando já chovia em boa parte do autódromo de
Hockenheim, na Alemanha.
Agarrado
aos filhos e sob o olhar da esposa Silvana, Rubinho chora ao lembrar
dos tempos difíceis que viveu em suas 19 temporadas na Fórmula 1 (Foto:
Alexander Grünwald / GLOBOESPORTE.COM)
Barrichello também analisou este começo de temporada da Fórmula 1 em
2013. Apesar de terem sido disputadas apenas duas provas, o campeonato
já mostrou que a rivalidade entre Fernando Alonso e Sebastian Vettel
continuará forte, e que o retorno de Felipe Massa ao primeiro pelotão
pode apimentar as disputas por vitórias.
- O Felipe é o grande talento do Brasil. No ano passado, ele passou por
aquele momento em que provavelmente esqueceu que faz isso porque gosta.
É confiança mesmo, é harmonizar a equipe em torno dele. Ele está
andando bem por causa disso, é gostar dele mesmo. Já o Vettel é o nome
mais forte que temos no campeonato ainda, mas acho que o Fernando
Alonso, que passou raspando no ano passado, deve dar o que falar esse
ano também.
Rubinho durante a apresentação da programação 2013 da TV Globo (Foto: Sidney Garambone)
As duas décadas vivendo o universo da F-1 formam um currículo perfeito
para a nova função de Rubens Barrichello fora das pistas. Quando não
estiver nas pistas, disputando as etapas da Stock Car, ele será comentarista convidado da TV Globo na atual temporada da Fórmula 1.
Sua estreia vai acontecer no dia 21 de abril durante o GP do Bahrein, o
quarto da temporada. Rubinho participará de, pelo menos, dez
transmissões neste ano, integrando a equipe que já conta com Reginaldo
Leme e com o também ex-piloto de Fórmula 1 Luciano Burti, que já está há
nove anos como comentarista da TV Globo.
- É uma coisa maravilhosa passar um pouquinho do meu conhecimento para o
povo. Passar o que eu vivi nestes 19 anos. Você vê uma piscadinha de um
piloto, sabe que aquilo quer dizer alguma coisa, então a ideia é passar
para o público que é fanático por Fórmula 1 essa minha paixão – afirma
Barrichello.
Rubens Barrichello e Tande no Esporte Espetacular (Foto: Alexander Grünwald / GLOBOESPORTE.COM)
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