domingo, 31 de julho de 2016

No "esporte dos anjos", queniana tenta vencer fama de país de corredores




OLIMPÍADAS RIO 2016

TIRO CO ARCO



Única do país na modalidade, Shehzana Anwar é treinada pela mãe e começou no esporte por influência religiosa. Agora, sonha com equipe nos jogos de 2020




Por
Rio de Janeiro



Em meio a tantos corredores, Shehzana Anwar preferiu usar as mãos. No Quênia, se o caminho mais provável no esporte está nas pistas, a jovem escolheu aos 13 anos outro rumo. Incentivada pelo islamismo, que diz que o tiro com arco, o hipismo e a natação são os “únicos esportes que os anjos fariam”, como ela diz, decidiu tentar a sorte. Em casa, teve seu maior apoio: a mãe, Tabassum Anwar, que também virou sua técnica em busca do sonho olímpico. Campeã africana, é a única atleta do tiro com arco da delegação do Quênia qualificada para os Jogos do Rio. Dos 83 quenianos inscritos no evento, 51 praticam alguma modalidade do atletismo.

O tiro com arco era a maior paixão de Tabassum na infância. Os tempos, porém, eram diferentes, e ela não seguiu carreira. Em meio aos outros três irmãos, Shehzana, de 26 anos, foi a única a se interessar pelo esporte. A mãe, então, viu a oportunidade de que a filha seguisse o caminho que ela havia sonhado antes. O ponto alto da jornada é agora, no Rio de Janeiro.

Zhehzana Anwar Quênia tiro com arco (Foto: João Gabriel Rodrigues)
Zhehzana Anwar, com a mãe, Tabassum: atleta 
do tiro com arco (João Gabriel Rodrigues)


- Eu tenho três irmãos. Por isso acho que minha mãe está cansada de mim porque ela está presa a mim desde que comecei no tiro com arco. Como ela é a minha técnica, vai comigo a todas as competições. Mas isso também fez com que nos uníssemos. E ela me dá o incentivo certo nos treinos. É minha família. Eu sempre amei esportes. Fiz vários. Religiosamente, no Islã, acreditamos na história do profeta que, de todos os esportes que os homens fazem, apenas tiro com arco, hipismo e natação são esportes que os anjos fariam. Quando comecei no tiro com arco, meus pais eram muito religiosos e me incentivaram a fazer. Eles acharam que seria uma bênção. É por isso que agora estou presa ao esporte (risos).

A mãe, ao ver a filha representar o Quênia nos Jogos, sorri feliz. Ao lembrar de seus sonhos da infância, festeja o caminho que a filha seguiu.

- Quando eu era mais nova, o tiro com arco costumava ser a minha paixão. Então, acabou se tornando a paixão dela também. Eu nunca competi, como ela está competindo agora. Nós treinamos juntas. Ela me incentiva, eu a incentivo. É por isso que estamos aqui. Era algo que eu sempre quis fazer, mas nunca consegui. Fui criada em um ambiente diferente. Ela tem outros três irmãos. Quando eu a criei, ela era a mais esportista deles. Então, eu a incentivei.  Eu acho que ela se sente muito confiante. No Quênia, ela vence inclusive os homens. Ela vence todo mundo. Acho que isso a deixa ainda mais confiante.



No Quênia, Shehzana trabalha com recursos humanos. Procura, em toda a África, funcionários para empresas e indústrias locais. Diante da força do atletismo de seu país, sonha com o crescimento do tiro com arco para, quem sabe, não seja a única queniana no esporte nos Jogos de 2020.
- O tiro com arco ainda é muito pequeno no Quênia. Quênia é para os corredores, obviamente. Mas ainda estamos tentando fazer o esporte crescer. Com sorte, vamos conseguir. Quem sabe, na próxima Olimpíada, possamos ter um time por aqui.

Por enquanto, ela está feliz. No sambódromo, onde serão realizadas as competições do tiro com arco, consegue ver um dos pontos turísticos do Rio, o Cristo Redentor. Se conseguir algum tempo livre após a disputa, espera fazer uma visita ao lado da mãe.

- É tudo muito bonito. Tudo está funcionando muito bem. Eu não poderia estar mais feliz.


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