quarta-feira, 6 de maio de 2015

Pioneiras do surfe no Irã lutam contra o preconceito e a desigualdade social

Surfista Easkey Britton e a cineasta Marion Poizeau, idealizadoras do filme "Into the sea", planejam transformar sociedade ao levar esporte para culturas e áreas de risco


Por
Rio de Janeiro

 

Engana-se quem pensa que o Irã é uma república islâmica marcada pela opressão e violência às mulheres. Quando a surfista irlandesa Easkey Britton e a cineasta francesa Marion Poizeau  chegaram ao país, em 2010, elas não sabiam o que encontrariam e nem como seriam recebidas. Primeira mulher a surfar no Irã, feito que inspirou um documentário, Easkey driblou o preconceito e hoje vê o surfe como um meio de diminuir as diferenças sociais e transformar o mundo. Foi ela que incentivou as iranianas Mona Seraji e Shalla Yasini a iniciarem no esporte e conquistarem um espaço para as mulheres no país. As três tornaram-se pioneiras do esporte no Irã, que já tem a sua primeira escolinha de surfe. 

- Usando o surfe para criar ondas globais de mudanças sociais - disse nas redes sociais a irlandesa, que pretende levar o surfe para outras culturas e áreas de risco, como a Faixa de Gaza e outros localidades como na Índia e em Bangladesh.

Surfe no Irã (Foto: Divulgação)
Surfista Easkey Britton e as iranianas Mona 
Seraji e Shalla Yasini são pioneiras no surfe 
iraniano (Foto: Divulgação)


Easkey foi batizada com o nome de uma região na costa da Irlanda que é um tradicional destino de surfistas da ilha. E sempre fez da água o seu habitat natural. Aprendeu a surfar nas águas geladas de Rossnowlagh e, aos 16, tornou-se a primeira irlandesa a se arriscar em Teahupoo, no Taiti, também conhecida como a praia dos crânios quebrados. Quando a irlandesa surfou pela primeira vez no Irã, todo o vilarejo parou para ver a cena incomum.

Poucos meses depois, em uma praia próxima a Chabahar, no sul do país, perto da fronteira com o Paquistão, Easkey e Marion foram surpreendias por um carro de polícia. Passado o susto, elas perceberam que as autoridades queriam apenas alertar sobre o perigo de pedras no local e saber se a irlandesa e a francesa estavam seguras.

Surfe no Irã (Foto: Arquivo Pessoal)Após o surfe chegar ao Irã, foi criada a primeira escolinha da modalidade Foto: Arquivo Pessoal)


Como as mulheres não são obrigadas a usar burcas no país, apenas lenços para cobrir a cabeça, ela comprou um hijab de lycra feito especialmente para praticar o esporte para não ferir os costumes locais. Shalla conta que espera que as mulheres iranianas possam tem a oportunidade de disputar campeonatos de surfe no futuro.

- Desde que você use roupas apropriadas para mulheres islâmicas, você pode surfar. Pode ser um pouco difícil de surfar, mas assim você pode praticar o esporte sem qualquer limitação, assim como fizemos no sul do Irã. Espero fazer parte de um campeonato internacional de surfe, como mulheres de outros países. Espero que todas as iranianas tenham essa oportunidade - contou a iraniana, que tem a cineasta como um espelho.

Baluchistan teoricamente seria uma das regiões mais perigosas do mundo, mas os iranianos foram muito receptivos. A primeira viagem foi uma surpresa. Resolvemos voltar em 2013 e eu entrei em contato com duas atletas iranianas, a Mona e a Shalla, para saber se elas tinham o interesse de aprender a surfar. As duas ficaram empolgadas e foi assim que plantamos a semente. Éramos quatro mulheres querendo dividir a nossa paixão pelo esporte em um lugar inesperado" 
Marion Poizeau

O documentário "Into the sea", idealizado por Marion, conta a história das pioneiras no surfe iraniano: a surfista Easkey, a snowboarder Mona e a mergulhadora Shalla. O filme revela a jornada das mulheres em praias inóspitas de uma região rural no sudeste do país, na remota Baluchistan, até a capital Teerã, onde o esporte já vem colhendo frutos. 

- Fomos a primeira vez em 2010. Queríamos explorar a costa persa e ver como era o surfe por lá. Baluchistan teoricamente seria uma das regiões mais perigosas do mundo, mas os iranianos foram muito receptivos. O surfe ainda não era praticado no Irã e os locais ficaram entusiasmados de ver o esporte pela primeira vez. A primeira viagem foi uma grande surpresa. 
Fiz um filminho com a Easkey, coloquei na internet e tivemos um retorno muito positivo no Irã e em todo o mundo. Resolvemos voltar em 2013 e eu entrei em contato com duas atletas iranianas, a Mona e a Shalla, para saber se elas tinham o interesse de aprender a surfar. As duas ficaram empolgadas e foi assim que plantamos a semente do surfe no Irã. Éramos quatro mulheres querendo dividir a nossa paixão pelo esporte em um lugar inesperado - revelou Marion.

Surfe no Irã (Foto: Arquivo Pessoal)
Após o pioneirismo de Easkey Britton e Marion 
Poizeau, surge ganha novos adeptos no Irã 
(Foto: Arquivo Pessoal)


Para a cineasta, ainda é pretensioso comentar sobre as transformações no país. O que mudou, segunda ela, foi a sua percepção do Irã depois de dividir a experiência com homens, mulheres e crianças. Todos ficaram felizes apenas pelo fato de tentar praticar o esporte. Marion contou com o apoio de um líder religioso no loca, que viu no surfe a possibilidade de aumentar o turismo em uma região que não é frequentada nem mesmo por iranianos.

- Nós não tínhamos a expectativa de levar as mulheres de Baluchistan para o mar, mas algumas delas tentaram depois de terem sido encorajadas pelos maridos e pelos pais. Até agora, nós não tivemos nenhum problema ao surfar e a aventura continua. Fiz muitos amigos no Irã e agora divido o meu tempo entre o Irã e a França. Com os meus amigos iranianos e a Easkey, nós temos planos de desenvolver escolas de surfe no país e até fabricar pranchas lá - finalizou.


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