Com jornada dupla de treino e trabalho em oficina, Michel Gomes colhe bons frutos em prova de duplas mistas e agora viaja para competir em mundial indoor
São três conduções para ir ao treino, outras três
para
voltar para casa. Depois de um breve descanso no horário do almoço, oito
horas
de trabalho como mecânico de caminhões. Apesar da rotina de pouco sono e
muito
suor, o esforço de Michel Gomes está se transformando em resultados
promissores
no remo adaptado - sendo cotado como praticamente garantido nas
Paralimpíadas de 2016. Medalhista mundial ao lado de Joseane Lima na
disputa de
duplas mistas da categoria TA, o atleta do Flamengo viaja nesta
quinta-feira
para Boston em um voo solo: vai competir pela primeira vez em um mundial
indoor.
Michel Gomes durante seu trabalho como
mecânico (Foto: Arquivo Pessoal)
Determinado a aprender a nova modalidade, Michel foi até a sede do remo do Flamengo, na Gávea, procurar um dos personagens da matéria. O técnico Franquilin Oliveira ouviu a história do rapaz, correu atrás para que a diretoria permitisse seu ingresso na equipe rubro-negra e hoje colhe os frutos pela boa aposta que fez.
- Quando ele veio pedindo para remar, não tínhamos um projeto aberto, só um grupo seleto. Mas fiquei muito interessado na nossa conversa, vi que ele tinha um porte interessante. Nossa diretoria abriu esse precedente e decidi pôr todas as minhas fichas nele. Expliquei que não adiantava ser fortão e não ter resistência aeróbia, que era preciso um conjunto de valências. Ele se mostrou muito dedicado e rapidamente já estava com bons resultados, mesmo com o dia pesado que ele tem. Vi que com certeza evoluiria muito mais, e vai crescer mais ainda se puder se dedicar só ao esporte – disse o treinador.
O atleta posa durante durante seu treinamento (Foto: Helena Rebello)
No dia em que recebeu a reportagem do GloboEsporte.com, Michel enfrentou um problema comum em seu dia a dia. Os passageiros sentados nos assentos preferenciais ignoraram sua dificuldade de mobilidade, e boa parte do trajeto foi feita em pé. Já cansado e com dores nas pernas ao chegar ao treino, pediu a Franquilin que não pegasse tão pesado nos exercícios.
Quando volta para casa, novamente pegando três conduções, o mecânico descansa um pouco, almoça e vai cumprir seu turno como mecânico de caminhões, ofício que exerce desde os 21 anos – começou na profissão aos 12 consertando veículos de passeio. A maratona se estende no mínimo até as 22h, e só então o atleta consegue dormir.
- Estou chegando no meu limite para conciliar o trabalho com o remo, mas ainda dependo financeiramente da mecânica. Eu amo a mecânica, sinto muita satisfação quando recebo um carro parado e vejo que ele sai funcionando direitinho com o meu trabalho. Mas o remo virou minha paixão, minha realização pessoal. Eu não tinha ideia de como era o esporte, aí Deus botou isso no meu coração, encontrei a pessoa certa para me ajudar (Franquilin) e o Flamengo me abriu as portas. O meu caso com o remo é paixão, é superação. Quero mostrar para o meu filho (Walace, de 12 anos) que, se com a minha limitação eu consigo, ele não pode fazer por menos, tem que batalhar na vida. O dinheiro é consequência.
Michel também trabalha na academia em
dia de treinamento (Foto: Helena Rebello)
Nesta quinta-feira, no entanto, ele viajará sem a parceira de competições. Em Boston, o atleta rubro-negro vai competir no Crash B, como é conhecido o mundial de remo indoor, no domingo. Nesta modalidade ele compete com outros atletas da classe TA. Cada um fica em um ergômetro, máquina que simula o movimento da remada e fica conectada a um telão, onde barcos virtuais ilustram as posições de cada remador na disputa. Apesar da descrição lembrar uma narrativa de um videogame, Michel garante que o empenho e a emoção da briga por medalhas são os mesmos.
- Na água você está vendo o outro barco do lado, talvez puxe mais a competitividade. Não sei direito porque nunca competi no indoor, e acho que vou prestar mais atenção na orientação do meu coordenador do que na tela em si. Mas para mim vai ser como se eu estivesse na água, vou querer sempre dar o meu melhor. Tem as diferenças de peso, porque na máquina você ganha em termos de rendimento (é mais leve, então os tempos são mais baixos se comparadas as mesmas distâncias), mas minha força vai ser a mesma. Para mim as duas competições tem o mesmo valor. Vou com a maior expectativa de trazer um bom resultado.
FONTE:
http://glo.bo/1AL2UuD
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