Time búlgaro levou quatro anos para sair da segunda divisão, ser tricampeão nacional e chegar à fase de grupos do torneio, pelo qual enfrenta os merengues nesta quarta
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Em setembro de 2010, enquanto o Real Madrid
iniciava mais
uma temporada com o objetivo de conquistar todos os títulos possíveis –
com reforços como Di María, Özil e Khedira -, um pequeno clube da cidade
de
Razgrad, na Bulgária, começava sua ascensão meteórica no futebol. O que
pouca
gente imaginava é que o Ludogorets, quatro anos depois, enfrentaria os
merengues, maiores e atuais campeões da Europa, pela fase de grupos da
Liga dos Campeões.
O duelo acontece nesta quarta-feira, na capital búlgara, Sofia, às 15h45 (de Brasília), e o
GloboEsporte.com transmite ao vivo, além de acompanhar em Tempo Real.
Se toda temporada é igual para o Real Madrid, o mesmo não se
pode dizer do Ludogorets. Até 2010, o clube vagava pelas divisões de acesso da
Bulgária, até que o empresário Kiril Domuschiev resolveu investir na equipe. A partir daí, o elenco foi
reforçado, as Águias subiram para a primeira divisão, foram campeãs, chegaram
ao mata-mata da Liga Europa e, em 2014, enfim, alcançaram a fase de grupos da Champions. A cada ano, um feito diferente.
Domuschiev, ao centro, comemora mais
um título com os jogadores do
Ludogorets (Foto: Divulgação
/Site Oficial)
Entre os reforços para o plantel contratados por Domuschiev,
estão cinco brasileiros. A primeira leva chegou em 2011, com o atacante Juninho
Quixadá, o lateral Guilherme Choco e o armador Marcelinho. Em 2012, veio o
lateral Júnior Caiçara. Em julho deste ano, o meia Wanderson completou a legião
brasuca. O sucesso da empreitada, porém, foi uma surpresa.
- Nunca imaginei que fosse jogar uma competição desse nível,
ainda mais enfrentar um clube como o Real Madrid. Para mim e todos os colegas é
uma novidade maravilhosa. Até a hora do jogo a gente até brinca com isso, mas
no campo, passados aqueles dez minutos de nervosismo, a gente se solta. Se nos
dedicarmos, trabalharmos de uma maneira séria, fechados, podemos vencer um jogo
e fazer história. Vamos trabalhar pra
isso, desse jeito, como quem não quer nada. Não podemos exagerar e achar que
será um jogo de igual para igual. Não vai. Mas se de repente eles não estiverem
num dia bom, acredito que possamos dar trabalho – disse Quixadá, em entrevista por telefone.
Brasileiros do Ludogorets posam antes
de treino para encarar o Real Madrid (
Foto: Arquivo Pessoal)
INVESTIMENTO CAMPEÃO
Juninho chegou ao Ludogorets após uma passagem pelo
Bragantino. Ele é um dos 29 estrangeiros contratados por Domuschiev nos
quatro anos em que está no comando do clube. O investimento do empresário foi
cirúrgico, buscando reforçar o elenco com seus fartos recursos financeiros, sem se preocupar tanto com a infraestrutura ou
as categorias de base. Para se ter uma ideia, as Águias pagam um salário médio
muito superior ao dos outros times da Bulgária, inclusive dos tradicionais CSKA
Sofia e Levski.
- O Ludogorets buscou a glória diretamente com dinheiro por
bons jogadores. O orçamento é muito superior, e o plantel é cheio de jogadores
com bons salários. Uma estrela do CSKA ou do Levski ganha até € 8 mil por mês,
e isso é o mínimo no Ludogorets. Um astro do Ludogorets ganha até € 22 mil
mensais. É uma grande diferença – contou o jornalista búlgaro Dinko Gotsev, do
diário “Daily Trud”.
Juninho Quixadá (de camisa branca)
levanta taça: sala de troféus cheia
no Ludogorets (Foto:
Divulgação /Site Oficial)
Desta forma, Domuschiev transformou o desconhecido e inofensivo Ludogorets em referência no
país. Para Juninho Quixadá, há três razões para explicar como o time chegou ao patamar atual: contratações,
estrutura e sorte.
- Três motivos contribuíram muito para as mudanças que
aconteceram no time desde que cheguei aqui. A estrutura que nos deram, com tudo
de primeira foi um dos pontos que pesou bastante. O investimento feito em
contratações, sempre com jogadores do mesmo nível ou mais qualificados. E a
sorte do presidente de apostar nos nomes certo, profissionais compromissados,
dentro e fora de campo.
MAGNATA EXIGENTE E MISTERIOSO
Apesar da disposição para gastar, Domuschiev não é um típico
magnata envolvido no futebol. Entre os jogadores, é visto como exigente e
reservado dentro do possível. Em entrevista ao jornal espanhol “As”, contou que
resolveu comprar o Ludogorets após passar alguns anos ajudando o clube
financeiramente, mas deixou claro que quer ajudar a entidade a se tornar
sustentável. Em campo, revelou cobrar seriedade dos jogadores, com direito a
multa caso seja contrariado.
- Ele é diferente de todos os presidentes dos times do
Brasil. A gente sabe que é bilionário, mas mesmo assim ele é uma pessoa boa,
humilde, conversa com todo mundo, cumpre com os deveres. O que mais me admira
da pessoa dele é o compromisso. Faz questão de cumprir com tudo que fala.
Também quer a nossa parte, que a gente se concentre ao máximo na equipe, cobra
muito, mas é um cara espetacular. Ele é na dele. Tem muito dinheiro, quer estar
sempre nos holofotes, mas para o dinheiro que tem, imaginava que seria o oposto
do que é – contou Quixadá.
Apesar das palavras de Domuschiev, seu envolvimento com o
Ludogorets segue um mistério. Os próprios jogadores não entendem bem o que atraiu
o empresário para Razgrad, uma cidade de 33 mil habitantes sem grandes
atrações.
- Confesso que nós ficamos na dúvida em saber o motivo pelo
qual ele resolveu investir aqui. A cidade é muito pequena, não tem praticamente
nada, não tem hotéis de qualidade, shopping. Até hoje é um mistério – completou
Juninho Quixadá.
Ludogorets Arena não pode receber
jogos da Champions
(Foto: Getty Images)
Entre os rivais, a intervenção de Domuschiev também não é
bem vista. Para o repórter Gotsev, a vantagem financeira do Ludogorets em
relação aos outros times é vista por algumas pessoas como prejudicial ao
futebol local.
- O modelo de negócios do Ludogorets não beneficia
diretamente os outros. Você pode ver que é claramente ruim para a competição,
porque eles são capazes de comprar os melhores jogadores de seus rivais. Nem
todo mundo gosta do novo poder do Ludogorets.
ZAGUEIRO HERÓI VIROU NOME DE ARQUIBANCADA
tempo para esquecerem disso por aqui, ele virou
herói – brincou Quixadá.
Controvérsias à parte, o Ludogorets é o atual tricampeão búlgaro, conquistou a Copa da Bulgária em 2012 e 2014, mesmos anos em que levantou a Supercopa do país. Na temporada passada, chegou às oitavas de final da Liga Europa. Estruturalmente, o próximo passo é construir um estádio em Razgrad com capacidade para abrigar jogos da Champions – atualmente, a equipe manda as partidas continentais na capital Sofia.
Nos playoffs da Champions deste ano, o Ludogorets só conseguiu a vaga na fase de grupos graças à façanha histórica de um zagueiro romeno. No duelo decisivo com o Steaua, o brasileiro Wanderson fez o gol da vitória por 1 a 0 que levou o jogo para a prorrogação e, posteriormente para os pênaltis. Ainda no tempo normal, o goleiro Stoyanov, da seleção búlgara, foi expulso, e o zagueiro Cosmin Conti foi para o gol. Nas penalidades, defendeu dois chutes, virou herói e já disse até que não quer mais falar sobre isso. No clube, porém, seu feito segue vivo.
- Nós tínhamos uma esperança enorme de classificar, mas quando nosso goleiro foi expulso, confesso que imaginei que tudo estava acabado. Só que aconteceu tudo aquilo que ninguém imaginava. No novo estádio tem uma arquibancada com o nome dele, na parte atrás do gol, onde fica a torcida organizada. Vai demorar muito
Moti festeja um dos pênaltis
defendidos contra o Steaua
(Foto: Efe)
Por outro lado, outra história já foi esquecida pelos
torcedores do Ludogorets. Quando entrarem em campo para enfrentar o Real
Madrid, os brasileiros do time búlgaro poderão ser orgulhar de ter mudado a
imagem dos jogadores de nosso país no clube. Antes, eram vistos como pouco
profissionais. Agora, a história é diferente.
- Quando eu cheguei, o brasileiro era muito mal falado.
Diziam que só gostava de balada, de bebida. Hoje recebemos elogios, somos
pessoas comportadas, bastante profissionais. No primeiro ano que chegamos nós
éramos vigiados, era estranho. Graças a Deus conseguimos mudar isso – finalizou
Quixadá.
* Estagiário, sob supervisão de Felipe Barbalho
FONTE:
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