Craque colombiano iniciou a carreira no pequeno Envigado, onde treinava em campos de terra, era caçado por rivais e lutava para corrigir defeitos
Com o mesmo rosto, James Rodriguez já mostrava talento desde pequeno na Colômbia(Foto: Arquivo / Corporação Espotiva Los Paisitas)
Nos
campos de areia da sede do Envigado Fútbol Club, na periferia de
Medellín, está o segredo para os belos lances protagonizados por James
Rodríguez na Copa do Mundo. Foi ali, em terrenos irregulares, misturados
com lama e sob um sol forte, que o craque colombiano deu seus primeiros
passos no futebol, marcados pela agora refinada qualidade na perna
esquerda, pela determinação em evoluir e escapar das pancadas dos
adversários. Assim se forjou o meia que, atualmente, é a maior ameaça
para o Brasil no Mundial.
James chegou ao Envigado
com 13 anos, logo após se destacar num torneio infantil com a Academia
Tolimense - ele fez um gol olímpico na decisão da competição, o que o
tornou conhecido em toda a Colômbia e fez com que os dirigentes
envigadenhos corressem para contratá-lo. No clube, ele foi recebido por
Omar Suárez, seu primeiro treinador, que trabalha até hoje na base da
equipe laranja e não esconde o orgulho por ter trabalhado com o atual
camisa 10 colombiano.
- Quando vi James jogando, já
sabia que ele era especial. Ele tinha muita riqueza técnica,
especialmente na perna esquerda, e os campinhos de areia ajudaram nisso,
pois são irregulares, exigem maior controle. São como as praias no
Brasil. Mas James também tinha muita capacidade psicológica, era muito
preparado mentalmente. Era um jovem que queria ser grande desde o início
- contou Suárez.
Pai boleiro, mas distante
Nascido
em Cúcuta, James se mudou ainda pequeno para Ibagué. Desde criança já
tinha na bola sua maior paixão. Pudera: seu pai, Wilson James Rodríguez,
também foi jogador profissional e chegou a defender a Colômbia no
Mundial Sub-20 em 1985. Entretanto, a relação dele com María Del Pilar
Rubio durou apenas três anos, quando se separaram. A aptidão para o
futebol, porém, estava no sangue.
-
James sempre jogou bem, desde o colégio. Todo jogador de futebol tem
talento desde a juventude. Ele tem os genes do pai (risos). Mas é mais
completo, tornou-se um jogador melhor - disse Wilson, que também
trabalha no Envigado com as divisões de base.
A
relação entre James e Wilson é distante. Depois que o pai deixou a
família, coube ao padrasto do meia do Monaco, Juan Carlos Restrepo,
apoiá-lo na luta para tornar-se profissional. Aos poucos, porém, o gelo
foi sendo derretido. Hoje, Wilson garante que tem uma ligação
satisfatória com o filho famoso.
- Estou muito
contente e orgulhoso com meu filho. Quando ele vem aqui em Medellín,
sempre nos falamos. Temos uma relação normal entre pai e filho, apesar
de tudo o que aconteceu. Ele é uma pessoa exemplar, muito educado e
disciplinado.
Perfeccionista, esquentado e precoce
Entretanto,
Wilson perdeu boa parte da formação futebolística de seu filho. No
modesto Envigado, onde até hoje as secretárias usam máquinas de
datilografia para bater as fichas dos novos candidatos a craque, James
impressionou a comissão técnica pela determinação em melhorar como
jogador, mesmo sendo visto como uma grande promessa desde o início.
-
Se num treino era preciso dar 10 voltas no campo, ele queria dar 12, 13
voltas. Ele ficava com raiva quando perdia as partidas, queria mudar
isso, fazer coisas diferentes. Fico muito feliz ao vê-lo fazendo gols de
cabeça e de perna direita na Copa do Mundo, porque tive a oportunidade
de trabalhar isso com ele. O próprio James pedia para fazer trabalhos
específicos para melhorar a perna direita e o cabeceio - lembrou Omar
Suárez.
Primeiro treinador de James, Suárez ainda
trabalha com crianças no Envigado
(Foto: Felipe Schmidt)
Logo,
James se converteu numa das estrelas da base do Envigado. Os meninos
disputavam a amizade do camisa 10, e os rivais tentavam explorar seu
lado mais estourado, caçando-o em campo. Fora, a motivação para melhorar
era gastronômica: sua recompensa por bons treinamentos era uma "bandeja
paisa", prato típico da Colômbia, que leva feijão, arroz, carne moída,
torresmo, ovo frito, entre outras coisas.
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Aos
poucos, o garoto foi amadurecendo e, com isso, galgou degraus ainda
maiores na carreira.
Com apenas 15 anos, James estreou na equipe
profissional do Envigado, algo que não é novidade na Colômbia - o
atacante Falcao García, por exemplo, disputou sua primeira partida com
13 anos. A filosofia do Envigado explica um pouco a precocidade de
Rodríguez: neste pequeno clube, que também revelou nomes como Guarín,
Quintero, Giovanni Moreno e Molina, a ordem é vender jogadores o mais
rápido possível.
- Não tínhamos preocupação com a
idade de James. Aqui, na base do Envigado, sempre damos muito apoio aos
meninos considerados especiais. Os diretores davam muita atenção a eles.
Somos um clube que revelou muitos jogadores que atingiram nível mundial
- garantiu Suárez.
James Rodríguez é o maior exemplo
disso. Com apenas 17 anos, foi vendido ao Banfield, da Argentina. Dali,
foi para o Porto e, desde agosto do ano passado, defende as cores do
Monaco, que o comprou por € 45 milhões (cerca de R$ 136 milhões). Na
seleção colombiana, assumiu o posto de principal craque após o corte de
Falcao, e até agora não decepcionou.
Desde pequeno, James Rodriguez já vivia
momentos de glória no futebol(Foto:
Divulgação / Corporacao Espotiva Los Paisitas)
“James ou Neymar? James, é claro”
Os
gols e as grandes atuações de James na Copa tornaram o jovem uma
estrela ainda maior do que era na Colômbia. Quando questionado sobre
quem escolheria para seu time, entre Rodríguez e Neymar, o estudante
Eric, de 24 anos, não titubeia e responde num misto de sinceridade,
orgulho e patriotismo:
- James, é claro. Ele tem muita qualidade.
A
mesma situação acontece no campinho de terra do Envigado. Ali, vários
candidatos a seguir os passos de James não escondem a idolatria pelo
colombiano. Alguns falam que gostam de Messi, outros, de Neymar, mas,
quando o primeiro menino toma coragem para dizer o nome do compatriota,
todas as opiniões mudam e se tornam uma só.
- Eu gosto do James!
Na Copa do Brasil, James Rodríguez se
consagrou como o principal jogador da
Colômbia (Foto: AP)
Para Omar Suárez, um dos rimeiros a moldar os passos de Rodríguez, a tendência é que a idolatria cresça ainda mais.
-
Aqui trabalhamos com 40 meninos, e todos gostam de James. Eles jogam
nos mesmos campos e lugares que ele jogou, e isso é uma alegria para
eles. Todos os meninos da Colômbia estão vendo a que nível o futebol
colombiano pode chegar com James.
Entre nomes
importantes da Colômbia, a opinião é parecida: apesar da qualidade,
Rodríguez está surpreendendo com sua atuação na Copa do Mundo. O técnico
Francisco Maturana, treinador da seleção em 1994, ressaltou que
esperava uma boa participação do camisa 10, mas não neste nível.
-
Foi uma surpresa o desempenho de James, mas é algo sustentando pelo que
ele é. James é um grande jogador, vem amadurecendo. Agora, assumiu o
protagonismo. É daqueles personagens que aparecem de vez em quando no
futebol.
Para Santiago Escobar, técnico que já passou
por diversos clubes do futebol colombiano e lançou nomes como Cuadrado,
Ospina, Jackson Martínez e Zúñiga, poucas palavras são necessárias para
definir o novo craque do país.
- James Rodríguez é extraordinário.
A
este adjetivo, Omar Suárez, Wilson James Rodríguez e os torcedores
colombianos têm uma lista para adicionar: perfeccionista, especial,
talentoso, disciplinado...
Meninos batem bola no campo de areia onde
James começou (Foto: Felipe Schmidt)
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