Cidade do camisa 9 para para assistir à estreia da Itália contra a Inglaterra na Copa
A Copa do Mundo do Brasil é um teste de fogo para o camisa 9 que já venceu a primeira batalha. No final do jogo contra a Inglaterra, que a Itália venceu por 2 a 1 com gol do craque, Mario Balotelli mandou calar os críticos na Itália. Mas não em Brescia. Ele sabe que ali na sua cidade é amado por todos, protegido e defendido com unhas e dentes pela população que o vê como ídolo e exemplo para todos os garotos.
- Ele faz bem em ser assim, marrento, manda calar os outros, é isso aí. Nós, brescianos, somos assim e depois? - comentou Luca de 19 anos, um vizinho do craque e da família Balotelli.
Balotelli, primeiro jogador negro da história da seleção italiana
Nasceu em Palermo, filho de pais ganeses, que logo se mudaram para a cidade do norte da Itália (Brescia) e, por falta de condições econômicas, entregaram o garoto para adoção. A família Balotelli ficou com o garoto e o levou para viver em Concesio - um bairro da periferia de Brescia. Foi ali, neste bairro, que se resume a duas ou três ruas com e com uma população muito religiosa, que o garoto Mario Balotelli cresceu e aprendeu a jogar futebol no campo do oratório (como os italianos chamam o espaço lúdico ao lado da igreja).
Oratório da igreja de Concesio, bairro
em que o craque Balotelli viveu e ainda
frequenta (Foto: Claudia Garcia)
Os pais adotivos ainda moram na mesma casa de sempre, Balo tem o seu quarto na residência simples de Concesio e é ali que ele volta sempre que sente falta do carinho dos pais adotivos, Silvia e Franco. No ano passado, mal aterrissou na Itália, depois de abandonar a Copa das Confederações por lesão, Mario Balotelli foi visitar os pais em Concesio. No dia da sua estreia na Copa do Mundo, a reportagem do GloboEsporte.com procurou conversar com a família Balotelli, mas a resposta foi um redondo não.
- Neste momento, não estamos interessados, não queremos falar. Boa tarde, respondeu a mãe Silvia que é o grande apoio de Balotelli. São assim, os pais e os três irmãos adotivos muito raramente acenam aos jornalistas, dizem os vizinhos que eles culpam os jornalistas de difamarem a imagem do jogador e prejudicarem a sua carreira. E os Balotelli já transmitiram esse síndrome do pavor pela mídia a toda a cidade.
Olhos vidrados na televisão para a
estreia de Balotelli e cia diante da
Inglaterra, pela Copa
(Foto: Claudia Garcia)
- Eu não vou falar com vocês por respeito à orientação dos senhores Balotelli. Eles nos pediram para não conversarmos com a imprensa nem contar detalhes da vida dele, porque sempre aparecem aqui jornalistas - comentou Claudia, uma amiga de Balotelli e responsável pelo oratório da Igreja onde o centroavante da azzurra cresceu.
O GloboEsporte.com tentou também contatar os pais biológicos do craque, os Barwuah que viviam ali na zona norte de Brescia, mas segundo a vizinhança teriam se mudado recentemente para Inglaterra. Com este casal ganês, Mario não tem qualquer relação. Não gostou da atitude dos pais biológicos e os culpa de o terem abandonado. Por isso, pediu aos adotivos que retirassem o Barwuah do seu nome e hoje quer ser chamado só de Balotelli. Mas com os irmãos biológicos, Enock, Abigail e Angel, a história é outra e a relação sempre foi ótima. Aliás, Enock e Mario não se desgrudam. O irmão, o segue em Milão e também em Brescia, onde ainda reside e joga futebol em um time pequeno da região. Foi para estes três irmãos, para toda a família Balotelli e para os amigos que Mario dedicou a vitória de ontem diante da Inglaterra.
Balotelli comemora o gol e o dedica aos
amigos e familiares que moram em
Brescia (Foto: Agência Getty Images)
- Quero dedicar este gol e esta vitória à minha família, aos meus amigos que sei que estão em Brescia, em frente da televisão torcendo por mim - declarou o camisa 9, após o jogo de Manaus à televisão italiana.
E eles estavam. Todos eles. Enock acompanhou o encontro com outros amigos de Mario num bar em Brescia. Os Balotelli, trancados a sete chaves em casa, também viram o jogo e, toda a Brescia, se sentou em frente à televisão à meia-noite em Itália para torcer pelo seu craque. O Globoesporte.com acompanhou o duelo com alguns amigos e conhecidos de infância de Balotelli no oratório da Igreja de Concesio, onde craque deu os primeiros toques na bola e aprendeu a jogar, até assinar pelo profissional do Lumezzane aos 15 anos de idade.
A amiga Claudia organizou uma noite especial para torcer pelo ídolo.
- Decidimos transmitir o jogo aqui ao vivo com esse telão para que todos esses garotos que sonham em ser Balotelli possam ver os jogos de Itália. São todos bem-vindos, disse a responsável do espaço.
E muitos deles apareceram com bola debaixo do braço para jogarem no intervalo, camisas de Balotelli vestidas, mas nem muitas, porque não é costume os italianos andarem enfeitados com as cores da Azzurra pelas ruas.
- Não ligamos muito a isso. Quem vai ao estádio sim, mas pelas ruas não gostamos de nos vestir com a camisa da seleção. Vamos ver se ganha e passa às oitavas de final. Aí, sim, já nos entusiasmamos um pouco mais - disse um torcedor.
Alessandro, amigo Balotelli, diz que Balotelli é um fenômeno (Foto: Claudia Garcia)
- Vamos Mario, Brescia está com você. Ele é criticado, mas é um fenômeno, não há nada a dizer - comentou Alessandro, de 17 anos, que conheceu o atacante no oratório e encontra Mario, por vezes, sempre que este aparece ali no bar para comprar chicletes e balas.
O amigo de Balotelli, Serafino, também apareceu para assistir ao jogo com a galera. Serafino vai completar 19 anos, é mais novo que Mario mas também joga no Lumezzane, clube onde o camisa 9 da Itália atuou até ser contratado pelo Inter de Milão. Mas a história de Serafino é bem diferente daquela do jogador eleito o melhor em campo no clássico do último sábado. O jovem bresciano está procurando emprego porque a sua carreira como jogador não decolou e nem acredita que pode decolar. Mas Mario será sempre um ídolo.
- O que posso dizer é que Mario é um garoto de ouro, é verdade que é um pouco maluco, sempre foi assim, mas tem um coração enorme, e é um exemplo para todos nós de Brescia e para toda a Itália. Ele era tranquilo. Quando tinha 13, 14 anos já era enorme, muito melhor do que os outros e por isso nem precisava jogar muito para ganhar de todo o mundo aqui, roubava a bola a quem queria, mas era muito humilde, brincava com todos os garotos e ainda hoje é assim. Ele aparece com a sua Ferrari, mas entra aqui, fala com todo o mundo, cumprimenta, se diverte com coisas simples. É Mario - afirmou Serafino que se lembra de jogar com o agora craque da Azzurra ali no campinho pelado de Concesio.
Casa de Mario Balotelli e a noiva Fanny
Neguesha em Brescia
(Foto: Claudia Garcia)
É Mario. É Balotelli. O garoto grande conhecido em todo o mundo que sempre que pode volta aqui a Brescia, à sua casa, ao seu mundo, no único canto de um país onde não se sente estranho, um país que está pronto a apoiá-lo na Copa, mas que também o insulta com palavrões e comentários racistas. A relação entre a Itália e o primeiro negro da história da seleção vai ser sempre assim difícil, estranha, mas não em Brescia, ali é a sua casa, ali ele é aceito. A propósito, o outro craque da Azzurra, Andrea Pirlo também é bresciano e já agora, Cesare Prandelli também é. Pura coincidência?
- Claro que não, nós somos os melhores de Itália. Força Mario! Força Brescia, gritou um torcedor antes do início do jogo.
Com o triunfo, a Itália ficou com três pontos no Grupo D da Copa, atrás apenas da Costa Rica, que venceu o Uruguai, devido ao saldo de gols. Na próxima rodada, nesta sexta-feira, encara os costarriquenhos na Arena Pernambuco, às 13h (de Brasília).
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/italia/noticia/2014/06/com-gol-balotelli-dribla-relacao-dificil-com-os-italianos-e-brescia-o-aplaude.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário