Celeste cogita "perseguição", pressão política sobre a Fifa e se blinda diante de todos após mordida, lembrando episódios de desconfiança em Olimpíadas e Maracanazo
A massiva reprovação da mídia internacional, sobretudo a inglesa, para a agressão do camisa 9 gerou uma blindagem geral no Uruguai. Impera a ideia, grosso modo, de que todos estão contra a Celeste e que há uma conotação política e técnica em uma eventual suspensão ao jogador. A Fifa ainda avalia o caso após receber a defesa da federação uruguaia. Esperava-se uma resposta na noite de quarta-feira, o que não ocorreu. Luisito pode até perder a Copa inteira. A decisão deve ser divulgada nesta quinta, em entrevista coletiva no Rio de Janeiro.
As declarações de Diego Lugano na entrevista coletiva de terça, num hotel em Natal, exemplificam a postura da seleção. Na verdade, o capitão não atuou nos últimos dois jogos e foi escalado para falar aos jornalistas exatamente para passar o tom do pensamento do grupo. Funcionou como um escudo aos demais, que não precisaram entrar no assunto. Para o defensor, seria conveniente punir o Uruguai com um gancho a sua maior figura, que poderia se tornar o craque do Mundial e incomodar muita gente, inclusive o Brasil, numa eventual quartas de final.
- Suárez é perigoso para os adversários e é carismático. A figura de Suárez vende. Pode ser o craque da Copa. Gera um pouco de medo, entendemos. E sabemos que o Uruguai tem menos peso político. Mas o Luis vai se levantar e levar o nosso time nas costas de novo - avisou o zagueiro, em tom de revanche.
O próprio treinador Óscar Tabárez já havia antecipado, após a vitória sobre a Itália, o sentimento de se considerar inferior a "gigantes" do futebol e se apegar à pátria apaixonada pela seleção, de apenas 3 milhões de almas. Curiosamente, venceu os dois adversários considerados teoricamente superiores (ingleses e italianos) e acabou derrotado na estreia pela surpresa Costa Rica, quando precisou ser Golias e não conseguiu.
- Nós somos um país pequeno, e enfrentamos gigantes de igual para igual. Temos que dar tudo no campo sempre, e é isso o que fazemos. Existe uma hostilidade contra o Luis Suárez. Há pessoas escondidas atrás da árvore esperando um deslize para condená-lo. Ele é sempre atacado, como vocês estão fazendo nesta coletiva. Temos que defendê-lo também, porque este é um campeonato de futebol, e não de moralismo barato - avisou o Maestro.
Olimpíadas e Maracanazo: Davi à solta
Ghiggia faz gol que fez o Davi detonar o Golias(Foto: agência AP)
O exemplo mais fiel remete à primeira Copa no Brasil, o Maracanazo, é claro. O Uruguai via um país inteiro aclamando os brasileiros como os campeões do mundo, com direito a manchetes nos principais jornais. Até porque a Seleção, de grandes goleadas sobre Espanha e Suécia, só precisava de um empate num Maracanã lotado. O capitão e hoje mito uruguaio Obdulio Varela foi ainda mais revanchista do que Lugano. Espalhou os jornais pelo vestiário e ordenou aos seus colegas que urinassem nas letras ufanistas.
O 2 a 1 dos charruas, ou Davi, foi tão inesperado que a Fifa já tinha preparado a festa para o Brasil, ou Golias. Tanto que o presidente da entidade, Jules Rimet, entregou a taça a Varela sem solenidades, num ritual quase escondido, clandestino, como se ninguém quisesse ver o Uruguai campeão. Para os celestes, alguma semelhança com 2014 não é mera coincidência.
Lugano leva discurso forte aos microfones e
fecha vestiário uruguaio durante a Copa do
Mundo (Foto: Gettyimages)
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/uruguai/noticia/2014/06/caso-suarez-deflagra-complexo-de-davi-e-uruguai-se-fecha-gigantes.html
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