Atacante de Portugal sofre com tendinite no joelho durante o Mundial, faz o seu primeiro gol no último jogo e parece abatido na despedida do Brasil
Cristiano Ronaldo olhou também para o telão para visualizar a própria imagem antes de bater uma falta defendida por Fatawu Dauda. Se no "espelho, espelho meu" o craque perguntar à Dona Fifa se "no mundo há alguém melhor do que eu", ouvirá que não. Nem houve diante de Gana. O camisa 7 foi escolhido o melhor da partida pelos que votaram no site da entidade máxima do futebol. Fez também o seu primeiro gol na competição – agora tem três, um em cada Copa –, como prova de que foi bem na despedida. Ainda que as sete, oito, nove, incontáveis tentativas de lançarem ou tocarem para ele não tenham chegado. Os companheiros o procuram. A bola o procura. Só que ele é humano. Tão humano que errou três oportunidades açucaradas para aumentar a vantagem, uma de cabeça e duas com os pés.
CR7 marca e pega a bola, mas a volta para o
centro do gramado não teve força
(Foto: Reuters)
– Tivemos muitas oportunidades. Tínhamos que marcar três gols e depender da Alemanha vencer de dois. Demos nosso melhor, mas não foi possível. Era tarefa complicada. Mas o que fica no fim é que, sim, era possível. As oportunidades que criamos... Saímos de cabeça erguida, tentamos dar o melhor, mas não conseguimos - afirmou Cristiano Ronaldo, se repetindo talvez para lembrar que a vaga parou nas inúmeras chances desperdiçadas. Portugal poderia, sim, ter feito 5 a 1.
Antes deste triste 26 de junho, porém, já avisara com antecedência, numa das poucas entrevistas que deu:
– Seria mentira dizer que somos uma seleção top. Não é verdade. Estamos com muitos problemas de lesões e suspensões. Temos uma seleção limitada – afirmou ele, quatro dias atrás.
Tão limitada ao ponto de o fazer gesticular muito, chamar a atenção de Éder, reclamar dos passes no gramado de Brasília, olhar para baixo. A paciência foi se esvaindo. Irritação de quem está acostumado a um elenco galáctico que o ajuda no Real Madrid. Agora, andava sozinho, acertava um chute desnecessário no adversário com a jogada parada. Levava a mão ao rosto. Caminhava lentamente. A mesma lentidão que mostrou para voltar ao meio de campo após marcar seu primeiro gol na Copa de 2014, aparentemente abatido com o pouco tempo restante para o milagre.
Uma, duas, três... Foram várias as chances
desperdiçadas. E a Cristiano só restava
lamentar (Foto: Reuters)
Andava introspectivo. Pensava sozinho, assim como nas 21 vezes que parou no campo e levou a mão à cintura. Parecia pensar no novo fim sem título. Sentiu o joelho esquerdo que o prejudicou por conta de uma tendinite durante toda a estada no país. Chegou a mancar. Levou uma outra pancada, desta vez no joelho direito. Ficou no chão com dores. Apoiou-se nas próprias pernas ao menos sete vezes.
Poderia ter sido pior. Digamos que a pontualidade inglesa o guiasse e estaria fora do Mundial com uma rodada de antecedência. Ainda bem que deu aquele passe na medida para Varela contra os EUA (2 a 2), uma das poucas lembranças boas de seu futebol nos dois jogos iniciais. Não fosse isso e esta quinta-feira melancólica seria apenas um protocolo a mais a se cumprir.
Existia esperança para que tudo não acabasse em tristeza, mesmo sim com uma improvável, mas espetacular reviravolta. Era necessária uma goleada. Mas faltou a garra uruguaia durante 90 minutos, talvez durante os 270 minutos do Mundial. E os 67.540 mil presentes, grande maioria só para vê-lo jogar, os mesmos que ensurdeceram o estádio quando sua imagem apareceu no telão no aquecimento, começaram a gritar "Gana" Gana!". Aí um torcedor soltou: "Vai, Cristiano Ronaldo! Faz alguma coisa", como se implorasse para ver o melhor do craque.
O gol de Gana foi como um choque de
realidade para Cristiano Ronaldo.
Estava difícil, ficou pior
(Foto: Agência Reuters)
Às vezes é bom soltar o ombro, tirar a pressão e jogar com a alegria dos costarriquenhos, a grande surpresa desta Copa do Mundo do Brasil, invictos e primeiros colocados num grupo com três campeões mundiais (Itália, Uruguai e Inglaterra). Tentar beber da tequila mexicana e seguir o ritual "arriba, abajo, al centro y adentro". Sabe por quê? Faltou ir mais adentro dos adversários como faz corriqueiramente nos campeonatos europeus que o consagraram quando joga, principalmente, pelo lado esquerdo. Estava fora de sintonia. Atuou nos dois lados, foi para o meio. Fez gol, chutou. No entanto, pouco se deu bem no mano a mano contra os ganeses.
Assim como Baggio (1994), Ronaldo (1998), Figo (2002), Ronaldinho Gaúcho (2006) e Messi (2010), não foi campeão da Copa após ser eleito melhor do mundo. E longe de ser uma provocação argentina – um catalã –, Messi, seu rival anual no prêmio de melhor do mundo, já fez quatro gols só nessa edição. E está nas oitavas. A Cristiano Ronaldo, restou ser tietado por vários jogadores ganeses ao fim do jogo, todos, principalmente os que passaram o jogo no banco de reservas querendo trocar uma palavra, dar um abraço ou apertar a mão daquele que, dentro das quatro linhas, brilhou mais do que qualquer um em todo o planeta no ano passado.
A
cena do fim do jogo: jogadores de Gana vão
ter seu momento com o melhor do mundo
(Foto: Getty Images)
Atualmente com 29 anos, Cristiano Ronaldo terá 33 em 2018, na Rússia. Idade avançada para crer num futebol de alto nível daqui a quatro temporadas, apesar de parecer, em seu clube, um vinho francês: quanto mais velho, melhor. Da marca CR7 ninguém duvida. Mas até que ponto ela pode mudar um jogo numa Copa assim como o fez no Real Madrid e na decisão eliminatória contra a Suécia de Ibrahimovic? Deu a hora de Portugal voltar para Portugal. E como uma andorinha só não faz campeão, até 2018, melhor do mundo.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/portugal/noticia/2014/06/um-cr7-so-nao-faz-campeao-melhor-do-mundo-deixa-copa-do-mundo.html
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