Curta passagem de apenas três meses do treinador pela Gávea despertou momentos de amor e ódio na torcida rubro-negra, multa incomum no Brasil e declaração curiosa
Mano Menezes tem relação de amor e ódio comos torcedores do Flamengo (Foto: Richard Souza)
O respeito toma conta dos dois lados para o reencontro, que tem trama de novela e espera pelas cenas dos próximos capítulos. Durante a semana, jogadores como André Santos e Chicão, comandados por Mano nas duas equipes, procuraram não apimentar o reencontro deste domingo. O técnico Jayme de Almeida, no entanto, não teve tantos cuidados, e se mostrou contrariado com a declaração de seu antecessor, que disse ter certeza do título rubro-negro na Copa do Brasil mesmo após sua saída.
Na sexta-feira, Mano foi seco e definiu como "curta" sua passagem pela Gávea. De fato, pouco mais de três meses não contam muito no calendário, mas foram momentos intensos, da chegada ao inusitado anúncio após o jogo contra o Atlético-PR.
Empatia relâmpago: a chegada de Mano ao Flamengo
- É um prazer muito grande estar aqui. Quando você inicia uma carreira, tem determinados lugares que mira como objetivo. E, certamente na carreira de um técnico brasileiro, um dos objetivos é um dia assumir o Flamengo, e eu estou assumindo essa responsabilidade agora, com orgulho, como já disse - afirmou Mano, em sua apresentação na Gávea.
Mano Menezes teve seu primeiro
contato com os torcedores logo após
ser apresentado na Gávea (Foto:
Cahe Mota)
- Ele é um profissional muito bem sucedido, no Grêmio, no Corinthians, na seleção brasileira, e tenho certeza de que vai ser no Flamengo também. Vamos contar com ele para levar o Flamengo lá em cima de novo. Acho que a torcida também está feliz. O Flamengo merece o Mano, e o Mano merece o Flamengo também.
Situação inversa: reencontro frustrante com Corinthians
Logo depois do jogo, Mano não viu tamanha superioridade do adversário e classificou o placar elástico como um "duro golpe para assimilar" para um Flamengo imaturo. O técnico até brincou dizendo que as equipes que comanda não costumam ser vazadas dessa maneira.
- Se não estiver equivocado, a última vez que um time meu perdeu por essa quantidade de gols foi em 2005, quando o Grêmio foi derrotado pela Anapolina. Isso mostra como as coisas funcionam. Quando rivais tão fortes como Corinthians e Flamengo se enfrentam, um placar de 4 a 0 foge da realidade. Você perder aqui para o Corinthians é normal, mas não por esse resultado.
Cara de poucos amigos: Mano durante
a goleada de 4 a 0 sofrida para o
Corinthians (Foto: Alexandre Vidal /
FlaImagem)
Euforia: jogo marcante em meio à campanha mediana
Enquanto Elias e todos os outros jogadores comemoravam o gol, Mano caminhava de volta ao banco de reservas com as mãos unidas junto ao rosto em uma festa solitária. Era a emoção de uma tarefa que parecia impossível para muitos: superar um dos principais times do país, que terminou a temporada como campeão brasileiro.
Mano extravasa ao comemorar a vitória
sobre o Cruzeiro no Maracanã (Foto:
Dhavid Normando / Agência Estado)
A decepção: saída inesperada e multa incomum no brasil
- Vamos conversar um pouco diferente. Acabo de ter uma reunião com todos e comuniquei oficialmente que não sou mais técnico do Flamengo. Primeiro informei ao Paulo Pelaipe (diretor executivo rubro-negro). Depois do jogo, fiz o comunicado a todos os jogadores. Estávamos fechando um ciclo de quatro meses e senti no resumo do jogo de hoje que não consegui passar para esse grupo aquilo que penso de futebol. E quando é assim, é porque o técnico precisa sair. Com essa visão, tomei essa decisão difícil e inédita na minha carreira, mas julgo ser a mais correta neste momento para que o Flamengo trilhe outro caminho que não seja esse, mais perto da zona de rebaixamento do que na parte de cima da tabela - anunciou em discurso que se repetiu em nota em seu site oficial dias depois.
Mano estava sozinho de frente para os jornalistas. Fez o comunicado sem direito a perguntas. A decisão pegou a todos de surpresa, dentro e fora do clube. A diretoria não encontrava explicação, e alguns jogadores tentaram demovê-lo da ideia até o último segundo. Chicão, Hernane, André Santos e Marcelo Moreno o perseguiram até a porta que dava acesso ao auditório onde seria dada entrevista coletiva. Não teve jeito. O treinador se mostrou irredutível e pediu apenas que o respeitassem. Boatos na época davam conta de que já existia um contato entre o técnico e o Corinthians para ser o substituto de Tite, que não teria o contrato renovado ao fim da temporada.
Fato é que a paciência do técnico estava no limite antes mesmo da última derrota. O motivo era o descontentamento com a postura de alguns jogadores fora de campo. As notícias de uma agitada festa na casa de Carlos Eduardo e da batida de carro de André Santos na mesma madrugada foram decepções para o comandante. Pouco tempo antes, Mano chegou a dizer que não vigiaria ninguém em seu horário livre, mas tomaria atitudes se achasse que o rendimento em campo estava sendo afetado. Além disso, incomodou a dificuldade da diretoria em reforçar o elenco. Após três meses, apenas o próprio André Santos e Chicão chegaram como reforços de uma lista extensa de tentativas frustradas.
- O Mano podia criar mil desculpas, mas em momento algum fez isso. Ele assumiu a responsabilidade. (...) Ele não conseguiu fazer o Flamengo jogar da forma que gostaria. Os jogadores não estavam reagindo, e saiu para não prejudicar o clube. O Mano teve uma atitude de muita coragem porque sabe o que representa decisão, sabe a multa no contrato. É quase inédito um treinador ter que pagar alguma coisa para sair. De repente, o próximo treinador consegue melhorar o time.
pós-Mano: título, ofensas e declaração curiosa
Torcedores lembram pedido de demissão
de Mano após o título do Fla na Copa do
Brasil (Foto: Reprodução / Twitter)
- Geralmente, as pessoas querem ver sangue, querem jogar treinador contra jogador, mas nunca disse que eles não estavam entendendo. Eu que não consegui.
- Eu tinha certeza de que o Flamengo ia ganhar a Copa do Brasil. Mesmo assim, achei que deveria sair. Exatamente naquele momento (após a vitória contra o Cruzeiro, nas oitavas) deu para sentir que o Flamengo ganharia a Copa do Brasil. Foi uma série de fatores que me levou a entender que não tinha como colaborar com a parte importante (que é a colaboração do técnico, naquele momento) e achei que deveria sair. Foi isso que fiz - explicou.
Na última sexta-feira, exatamente um mês depois da curiosa declaração, Jayme de Almeida concedeu entrevista coletiva no Ninho do Urubu e respondeu a Mano. Para o atual técnico rubro-negro, seu antecessor jamais poderia prever o título na situação difícil em que o time se encontrava.
- Trabalho como auxiliar desde 2010 aqui e tenho muito respeito pelo Mano Menezes. Depois do Vanderlei (Luxemburgo), que conheço desde os 15 anos e não conta, foi o técnico que me deu mais liberdade aqui para conversar. Tenho um carinho grande por ele e sei que é recíproco. Mas afirmar que sabia que seria campeão é um pouco difícil. A gente tinha segurança de muito pouca coisa, ainda mais bater campeão de algo. Ninguém achava isso. Nem tinha certeza de que escaparia do rebaixamento. Depois do confronto com o Botafogo na Copa do Brasil é que acendeu uma luz no fim do túnel - contestou.
Jayme de Almeida e Mano: ex-auxiliar
acha impossível técnico ter previsto
título (Foto: Alexandre Cassiano /
Ag. O Globo)
a hora do reencontro: respeito dos dois lados
Menezes, neste domingo, é algo que vem sendo esperado desde que o treinador deixou o clube em setembro do ano passado. Antes de rever o antigo comandante, há a dúvida sobre as diferentes atitudes e reações dos jogadores rubro-negros. Mas nas entrevistas durante a semana, os atletas pregaram respeito. O lateral-esquerdo André Santos garantiu que cumprimentará normalmente o treinador, que chegou a convocá-lo pra a seleção brasileira e com quem também trabalhou o Corinthians.
- Sou grato a ele pelo trabalho que fez ao longo da minha carreira. É um cara inteligente, humilde, vencedor no que faz. Vou cumprimentá-lo. Se não estava feliz aqui, foi tentar ser feliz em outro lugar. Nós estamos felizes com o Jayme, mas não podemos esquecer o Mano. Ele trabalhou aqui e saiu dizendo que a culpa não era dos jogadores. Não teve problema com ninguém do clube.
Contratado pelo Fla no meio da temporada passada a pedido de Mano, Chicão tem afinidade com o técnico, com quem também jogou no Corinthians. Mesmo assim, o zagueiro disse que nunca conversou com ele sobre o assunto depois de sua saída. O defensor não quis entrar em polêmica e inclusive dividiu os méritos da conquista da Copa do Brasil com o ex-treinador.
- Sinceramente, não entendi, mas foi uma decisão dele. Não sei se era o momento, mas ele decidiu assim. Ficou um tempo parado e vamos reencontrá-lo da melhor maneira possível. Ele também teve participação no título (da Copa do Brasil), principalmente naquele jogo com o Cruzeiro.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/2014/04/empatia-euforia-decepcao-e-ofensas-mano-fla-e-o-reencontro-de-emocoes.html
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