Eu comento esportes: Pacotão F-1: brilho de Nico, trapalhada de Koba sobre Massa, e vacilo da RBR

segunda-feira, 17 de março de 2014

Pacotão F-1: brilho de Nico, trapalhada de Koba sobre Massa, e vacilo da RBR

Na 1ª etapa da Fórmula 1 de 2014, na Austrália, Mercedes confirma favoritismo; brasileiro abandona prova logo no início e Ricciardo, em segundo, é desclassificado

Por GloboEsporte.comRio de Janeiro

Muita apreensão cercava o primeiro GP do ano, na Austrália, realizado neste domingo em Melbourne. Na nova era que se iniciava na Fórmula 1, algumas perguntas pairavam no ar, depois do que foi visto durante os testes de pré-temporada: a Mercedes era mesmo favorita? Quantos carros receberiam a bandeira quadriculada? A hegemonia da RBR estava com os dias contados? Felipe Massa e Williams começariam a renovação que todos esperavam? Algumas delas foram respondidas, outras terão de ficar para as próximas etapas de 2014.

Nico Rosberg venceu a prova de abertura da temporada, com folga, e provou que a Mercedes é, definitivamente, um dos times favoritos ao título. Diferentemente da previsão de que meio grid não conseguiria terminar, 14 pilotos cruzaram a linha de chegada. Apesar de o australiano ter tirado leite de pedra ao chegar em segundo com este carro, Sebastian Vettel teve um fim de semana para esquecer, mas isso ainda não pode ser garantido como o fim da dominância da RBR. Massa tinha tudo para iniciar o processo de renascimento da equipe de Grove: largava bem, o carro estava acertado e contava com o poderoso motor Mercedes. Mas o brasileiro viu sua corrida ser arruinada por uma trapalhada de Kamui Kobayashi, com problemas no freio da Caterham, logo na primeira curva de Albert Park. O primeiro pacotão do ano traz tudo o que aconteceu na prova de abertura da nova Fórmula 1.

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Niico Rosberg da Mercedes durante o pódio do

GP da Austrália (Foto: Agência Getty Images)

Ocupando a terceira posição no grid, Nico Rosberg não pensou duas vezes antes de partir para cima do australiano Daniel Ricciardo, em segundo, e do pole position Lewis Hamilton, seu companheiro de equipe e amigo de longa data. Após a largada sensacional, o alemão tomou a ponta e não largou mais. O piloto de 28 anos soube explorar o já conhecido potencial do novo carro da Mercedes, e não encontrou dificuldades para alcançar a vitória na primeira corrida da temporada.

O alemão largou bem e pulou da terceira para a

primeira posição, liderando até o fim

(Foto: Agência Reuters)

Nico Rosberg venceu na Austrália e provou que a Mercedes é favorita ao título (Foto:Reuters)

O piloto da Mercedes já havia conquistado o respeito do circo da F-1 após ofuscar a segunda passagem do heptacampeão Michael Schumacher pela categoria. Com a vitória implacável no Albert Park, o alemão se torna líder do Mundial de Pilotos pela primeira vez na carreira, e desponta como um dos fortes candidatos ao título desta temporada. Além do ritmo forte e consistente durante toda a prova, Nico marcou a volta mais rápida (1m32s478) e cruzou a linha de chegada com 24s5 de vantagem para Ricciardo, que acabaria desclassificado posteriormente.

Com a exibição impecável em Melbourne, Nico chega à quarta vitória de sua carreira na F-1. O alemão, que estreou na categoria em 2006, pela Williams, também repete o feito do pai, Keke Rosberg, quase 30 anos depois. O último triunfo do campeão mundial de 1982 ocorreu justamente no GP da Austrália de 1985, quando a prova ainda era realizada no circuito de Adelaide. Se Nico mantiver o ritmo no restante da temporada, poderá se tornar o segundo piloto a recolocar o sobrenome do pai na galeria de campeões. Até hoje, apenas Damon Hill, vencedor em 1996, alcançou a marca, justificando a herança do pai, Graham, dono dos títulos de 1962 e 1968.

O sábado não havia sido proveitoso para Valtteri Bottas. Prejudicado pela instabilidade do FW36 na pista molhada, o companheiro de Felipe Massa conseguiu apenas o décimo melhor tempo do treino classificatório. A realidade, contudo, era ainda pior: o finlandês iria largar da 15ª posição, devido à punição pela troca de câmbio no último treino livre. No domingo, o piloto de 24 anos resolveu transformar as adversidades em oportunidades. Após a saída precoce do brasileiro, acertado por Kamui Kobayashi na primeira curva, Bottas chamou para si a responsabilidade de marcar os primeiros pontos da Williams no campeonato.

Valtteri Bottas teve o pneu furado após tocar no

muro, mas se recuperou e chegou em quinto

(Foto: AFP)

O finlandês, que disputa sua segunda temporada pela Williams, começou um show de ultrapassagens e, ao fim da primeira volta, já havia ganhado cinco posições. Na décima volta, Bottas quis arriscar e abusou da confiança. O piloto partiu para cima de Fernando Alonso, da Ferrari, e acabou tocando a roda traseira direita no muro. A manobra lhe custou uma ida para os boxes, mas não foi suficiente para acabar com sua empolgação. O companheiro de Massa trocou o pneu, retornou para a pista em 16º, e voltou a pedir licença para os adversários. Na volta 35, Bottas começou a atacar o compatriota Kimi Raikkonen e conseguiu deixar o concorrente da Ferrari para trás. Após tantas investidas, o surpreendente piloto terminou com o quinto lugar e marcou 10 pontos para o time de Grove.

Sempre sorridente, Daniel Ricciardo não economizou na comemoração pelo segundo lugar em Melbourne (Foto: Getty Images)

O exitoso segundo lugar de Daniel Ricciardo, que conseguiu superar os problemas da RBR e ofuscou o tetracampeão Sebastian Vettel durante todo o fim de semana, provocou uma euforia descomunal nas arquibancadas do circuito de Albert Park. Os australianos se emocionaram ao ver o sorridente compatriota no pódio, algo que nem mesmo Mark Webber conseguiu em nenhuma das 12 corridas que disputou em seu país. A alegria, no entanto, durou pouco mais de cinco horas.
Os comissários da FIA investigaram possíveis irregularidades no sistema de fluxo de combustível da RBR, e chegaram à conclusão que o carro de Ricciardo extrapolou o limite de 100kg de combustível por hora, infringindo uma novidade no regulamento deste ano, o que acarretou na sua desclassificação. A equipe austríaca se pronunciou imediatamente sobre o caso, assegurando que o combustível fornecido ao motor está em plena conformidade com as regras. A escuderia de Ricciardo e Vettel pretende recorrer da polêmica decisão.

Enquanto Rosberg abria uma ampla vantagem sobre os adversários, o outro piloto da Mercedes vivia uma situação completamente diferente. Hamilton, que poderia ser a principal fonte de ameaça para o companheiro alemão, sofreu com o motor de seu W05 e precisou abandonar a prova apenas duas voltas depois da largada. Antes, o campeão mundial de 2008 já havia constatado a superioridade do amigo de infância, que ofuscou sua pole position e tomou a ponta da corrida poucos segundos depois do sinal verde.

Lewis Hamilton desolado por ter de abandonar

a prova ainda no começo

(Foto: Agência Reuters)

Após o abandono de Hamilton, não demorou muito para o tetracampeão Sebastian Vettel desistir de lutar contra os problemas recorrentes do RB10. O alemão se recolheu aos boxes ainda na terceira volta, e interrompeu sua incrível série de nove vitórias consecutivas, que marcou a segunda metade do campeonato em 2013 e culminou na conquista de seu quarto título mundial. O martírio de Vettel no Albert Park começou ainda no teste classificatório, quando o piloto foi eliminado no Q2, pela primeira vez desde o GP da China de 2012.

Por um longo tempo, japoneses foram sinônimo de pilotos ruins, graças às lendárias trapalhadas de Satoru Nakajima na F-1, no final da década de 1980. No GP da Austrália, Kamui Kobayashi resolveu fazer uma “homenagem” a seu famoso compatriota. A expectativa era que o piloto de 27 anos, de volta à categoria após uma temporada sem equipe, poderia fazer uma boa prova, a despeito das limitações da Caterham. No treino classificatório, Kamui surpreendeu ao levar o novo carro da equipe malaia ao Q2. A largada do “showman” nipônico, entretanto, não poderia ter sido mais desastrosa. Koba saiu da 14ª posição e, afetado por uma falha no freio, passou reto na curva 1, acertando em cheio a Williams de Felipe Massa.

Confiante na possibilidade de fazer uma boa prova para a Williams e brigar por uma vaga no pódio, o brasileiro não escondeu sua fúria ao ter que abandonar a disputa por causa do acidente provocado pelo japonês. Massa pediu uma punição rigorosa, mas a direção da prova decidiu que o piloto não teve culpa no episódio. Pelo Twitter, Koba cometeu uma “trapalhada” virtual: primeiro assumiu o erro, e depois disse não que não poderia ter feito nada para evitar a fatídica colisão. O mais engraçado é que, momentos antes de seu “tributo” ao compatriota Nakajima, o piloto da Caterham foi fotografado abraçando o adversário brasileiro, com quem mantinha uma boa relação fora das pistas.

Felipe Massa e Kamui Kobayashi abraçados

pouco antes do GP da Austrália

(Foto: Divulgação)

O desempenho surpreendente de Kevin Magnussen nos testes da pré-temporada já indicava que a McLaren havia acertado em cheio na escolha do dinamarquês de 21 anos para assumir o posto de novo companheiro do veterano Jenson Button. Mas o calouro não ficou só na promessa e fez questão de “mostrar serviço” em sua estreia na Fórmula 1. Com o segundo lugar herdado após a desclassificação de Ricciardo, Magnussen igualou os feitos de Jacques Villeneuve, em 1996, e Lewis Hamilton, em 2007, que também subiram ao pódio na primeira corrida da categoria.

Kevin Magnussen estreou com estilo em

Melbourne (Foto: Agência Reuters)

Com o pódio, o novato também superou o melhor resultado obtido pelo pai, Jan, ao longo de 25 GPs. O piloto de 40 anos tem o sexto lugar no GP do Canadá de 1998 como ápice da carreira na principal categoria do automobilismo mundial. De quebra, Magnussen foi responsável por acabar com um incômodo jejum da McLaren, que estava a 19 etapas longe do pódio.

Outro estreante da F-1 também merece os parabéns pelo desempenho no GP da Austrália. Tímido e discreto, o russo Daniil Kvyat conseguiu acompanhar o ritmo do francês Jean-Eric Vergne e cruzou a linha de chegada logo após o companheiro de equipe da STR. Com o nono lugar, o calouro quebrou o recorde de mais jovem piloto a pontuar na F-1. O feito foi alcançado aos 19 anos e 295 dias, superando Sebastian Vettel, que tinha 19 anos e 322 dias quando marcou seus primeiros pontos, no GP dos Estados Unidos de 2007, ainda pela Sauber.

Daniil Kvyat, da STR, no GP da Austrália

(Foto: Getty Images)

Última equipe a apresentar o carro da temporada 2014, a Marussia também ficou para trás na largada do GP da Austrália. Primeiro, Max Chilton permaneceu parado no grid na saída para a volta de apresentação. Após o aquecimento, foi a vez de o companheiro Jules Bianchi ficar estacionado e atrapalhar a tentativa de dar início à corrida. A dupla teve que largar dos boxes. Milagrosamente, Chilton conseguiu percorrer 55 voltas, ocupando a última posição da tabela de tempos. Bianchi não completou 90% da disputa e não conseguiu se classificar.

A Lotus também viveu momentos pouco inspiradores em Melbourne. Antes mesmo da volta de apresentação, Romain Grosjean foi punido com um drive-through, por descumprir o cronograma de formação do grid, que deve estar com todos os carros posicionados 15 minutos antes da largada. O francês também precisou largar dos boxes. O venezuelano Pastor Maldonado, que sequer chegou a registrar tempo no treino classificatório, estava solitário na última fila do grid.

Com problemas no sistema de recuperação de energia, a dupla abandonou a prova, determinando um início bem diferente de temporada para a equipe inglesa, que começou 2013 com vitória de Kimi Raikkonen, neste mesmo Albert Park.

Nenhuma das duas Lotus conseguiu concluir a

primeira etapa do ano (Foto: Getty Images)

Fora das pistas, a atriz Michelle Rodriguez, amante de velocidade e uma das estrelas da série de filmes “Velozes e Furiosos”, prestigiou o GP da Austrália de 2014.