terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Kalil critica Mineirão e o legado da Copa: 'O que temos é um terror'

Em participação no programa Camarote, do canal Premiere, presidente do Atlético-MG isenta Dilma e CBF, mas diz que pretende sair do Brasil em junho

Por Rio de Janeiro

O programa Camarote, do canal Premiere, recebeu como convidado esta semana, na estreia do seu novo cenário, o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil Filho, que deixa o cargo no fim deste ano. Ele foi entrevistado pelo apresentador Jorge Luis Rodrigues e pelos jornalistas André Rizek, do SporTV, e Maíra Lemos, da TV Globo. Um dos dirigentes mais atuantes do futebol brasileiro e filho de Elias Kalil, que comandou o clube na década de 1980, ele falou sobre diversos assuntos como a perspectiva para a temporada de 2014; Mineirão; a sua maneira de presidir; o legado da Copa do Mundo para o país; a dívida dos clubes; a perda do Mundial; a relação com Ronaldinho Gaúcho; a magia do Independência; e o fato de a Cidade do Galo ser a concentração da Argentina durante o Mundial. A íntegra da entrevista vai ao ar no próximo sábado - dia 01 de março -, às 23h, no canal Premiere. 

Na opinião de Kalil, o grande número de competições que o Atlético-MG vai disputar este ano - cinco no total - só comprova a grande temporada que fez em 2013. Ele acredita que o clube vai repetir o êxito em 2014, pois manteve a maioria do elenco. Já sobre a Copa do Mundo, o dirigente não é tão confiante, mas isentou a presidente Dilma e a CBF pelos problemas na organização do Mundial. Ele também afirmou que ficará dividido numa eventual final entre Brasil e Argentina, já que o país vizinho ficará concentrado na Cidade do Galo.

- Eu nunca tive a ilusão da Copa do Mundo melhorar o futebol brasileiro. Disse um tempo atrás que estávamos valorizando demais a Copa do Mundo, que dura apenas um mês. Era para todo mundo estar empolgado com a Copa, mas o que temos é um terror. A presidente Dilma não tem culpa. A cúpula da CBF também não tem. Os verdadeiros responsáveis por transformar a Copa numa tragédia estão escondidos embaixo da mesa

Quando o assunto foi dívida de clubes, Kalil disse que os dirigentes querem apenas prazo para pagá-las. Ele afirmou que o Atlético-MG joga no Mineirão quando quiser, mas não é interessante, pois não quer sustentar empreiteiro. O presidente também comentou sobre o perfil ideal do seu sucessor.

- O próximo presidente tem que ser mais novo do que eu (54 anos), além de arrojado e experimentado. É preciso ter força física e ser inteligente para continuar um trabalho que foi muito difícil construir. 

Confira os principais temas abordados na entrevista.

Expectativa para a temporada
- As perspectivas são muito boas. O problema é que este ano o calendário está ainda mais cruel por conta da Copa do Mundo. Além do Mineiro, da Libertadores e do Brasileiro teremos também a Recopa Sul-Americana e a Copa do Brasil. Ao mesmo tempo é uma coisa boa, pois se vamos participar de tantas competições é porque tivemos um ano vitorioso em 2013. Mantivemos o grupo, o que é um ponto positivo, já que na prática ninguém desaprende ou fica tão velho de um ano para o outro. Queremos conquistar o bi do Brasileiro e da Libertadores. Temos obrigação de disputar os dois e contamos com um elenco gabaritado para isso.

Legado da Copa do Mundo  
 Disse um tempo atrás que estávamos valorizando demais a Copa do Mundo, que dura apenas um mês.
Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG
 
 - Eu nunca tive a ilusão de a Copa do Mundo melhorar o futebol brasileiro. Disse um tempo atrás que estávamos valorizando demais a Copa do Mundo, que dura apenas um mês. O Brasil enriqueceu, o poder aquisitivo aumentou, mas é ilusão achar que vamos encher o Mineirão, por exemplo, em competições pouco interessantes com preços de ingressos a R$ 80. Era para todo mundo estar empolgado com a Copa, mas o que temos é um terror. O resultado é que ninguém hoje quer sair de casa por ter jogo de Copa do Mundo.

A 'tragédia' da Copa
- A presidente Dilma não tem culpa. A cúpula da CBF também não tem. Os verdadeiros responsáveis por transformar a Copa numa tragédia estão escondidos embaixo da mesa. Os únicos que ganharam com a Copa foram o Atlético-PR, o Corinthians e o Internacional por conta dos estádios. Os outros 17 clubes da Série A vão chupar dedo. Quando o mês de julho chegar ao fim acabou a brincadeira. Aí eu quero ver quem vai encher a barriga dos banqueiros e empreiteiros. Adoro Cuiabá, morei em Lucas do Rio Verde, mas lá (Mato Grosso) não pode ter estádio construído ao preço de R$ 1 bilhão para receber ópera depois da Copa.

O que vai fazer durante a Copa
- Vou tentar sair do Brasil, mas está difícil arrumar passagem mesmo que seja para Assunção. Quero sair por medo do que possa acontecer. Fui convidado para assistir à estreia, mas para o campo (estádio) eu não vou.   

Alexandre Kalil programa Premiere Camarote (Foto: Gabriel Branco) 
Presidente Alexandre Kalil participou do 
programa Camarote, no canal Premiere 
(Foto: Gabriel Branco)

Atlético-MG jogar no Mineirão
- O Atlético-MG quer jogar no Mineirão. Claro que quero jogar num belo estádio como o Mineirão, mas não vou sustentar empreiteiro. Com uma taxa de ocupação de 60% do estádio, o clube deixa de faturar R$ 100 milhões por ano. O Atlético-MG joga lá quando quiser, mas não é interessante.

Seleção argentina na Cidade do Galo

- Acertamos preço e contrato com quem queria se hospedar no Atlético-MG. O clube acertou um contrato, vai cumprir este contrato, mas não vai investir nada. Só vai receber. A maior torcida de Minas vai estar torcendo e protegendo a Argentina. Tenho certeza que o torcedor do Atlético-MG vai torcer para a Argentina. Tenho que torcer para a Argentina não chegar à final contra o Brasil, pois vou ficar dividido.

Imagem de cartola 
- Não vejo problema em ser chamado de cartola. Agora se me chamar de bandido dou tapa na cara.

Dívida dos clubes
- Não pretendemos ter os benefícios da linha branca das montadoras e grandes indústrias. Queremos apenas prazo para pagar as dívidas. E assumir o compromisso que daqui para frente quem não pagar vai a para a Segunda Divisão. Caso contrário daqui a 20 anos, os futuros dirigentes vão discutir como vão pagar as contas de 2014 a 2035. Eu não vivo do futebol. É lindo falar a palavra pagar. Se eu pagar os impostos devidos e os outros não, eu (Atlético-MG) vou parar na Segunda Divisão. O resultado é que ninguém da Série A pagou nada. Uma maneira de resolver este problema das dívidas é pegar 5% do faturamento bruto do futebol. Quem fatura muito vai pagar muito e quem fatura pouco vai pagar pouco. Nós queremos prazo para pagar as dívidas. Se esta cartolagem que está no comando for abraçada, salva o futebol brasileiro.

Maneira de comandar o Atlético-MG
Sou atleticano e não quero passar. Alteticano tem que sentir saudade.
Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG
 
 - Comigo não tem democracia nem golpe. Fui procurado para mudar o estatuto do clube e continuar na presidência, mas sou contra. Quem fica mais de seis anos no comando tem que explicar por que está gostando tanto do poder. Ao mesmo tempo quem sofre as críticas sou eu. Se o Ronaldinho ou o treinador não derem certo, a culpa é minha. Para todos os problemas, a culpa será sempre minha. No entanto, tenho a plena consciência de que não ganhei nada sozinho. Tem um monte de diretores que trabalharam muito para o título da Libertadores. Ninguém pode me falar o que é ser atleticano, pois sou atleticano. Ser presidente do Atlético-MG é muita coisa, ainda mais para uma pessoa simples como eu. Sou atleticano e não quero passar. Atleticano tem que sentir saudade.

Estátua para Ronaldinho
- Tem que fazer estátua de todos os jogadores por causa da conquista da Libertadores. Para o time ser campeão não adianta eu querer. O presidente quer sempre ganhar, mas os jogadores também têm que querer. Na última partida, o América-MG foi para o intervalo vencendo por 2 a 0. De duas uma: ou aconteceu um milagre ou o Autuori (técnico) é um gênio.

Relação com R10 
- Eu tenho uma relação muito boa com o Ronaldinho, pois foi muito franca desde o primeiro dia. Temos confiança um no outro. Ele confia no presidente e eu confio no jogador. Ele se preparou para o Mundial de Clubes como se fosse um jogador da categoria de base em início de carreira.  Eu só falo o que posso cumprir. Minha relação é igual com todos os jogadores. Contrato não é feito para rasgar. Na época da sua contratação, 74% da torcida não queria a sua contratação, de acordo com uma pesquisa do Esporte Espetacular. No dia seguinte, ele foi contratado. É só descer na Cidade do Galo e colocar a camisa para cair na graça da torcida.

Derrota no Mundial de Clubes
- Não sou de dar palestra para jogador. Após a derrota no Mundial disse para o elenco que estava muito machucado e doído, mas muito orgulhoso por eles terem me levado para o Marrocos. Eu nunca imaginei que o Atlético-MG fosse me levar para o Marrocos como presidente. É só olhar o que era o clube em 2008 e onde ele foi parar em 2013. Tínhamos R$ 19 mil em caixa e R$ 2 milhões em cheques pré-datados naquela época. Tomara que este ano eu possa estar novamente no Marrocos com o Atlético-MG como presidente.

Alexandre Kalil programa Premiere Camarote (Foto: Gabriel Branco) 
Alexandre Kalil falou sobre diversos assuntos 
como Copa, dívida dos clubes e  
(Foto: Gabriel Branco)

O que faltou para o Atlético-MG conquistar o Mundial
- Faltou futebol para ser campeão do mundo. Fomos muito ansiosos. O mundo parou com razão dentro do Atlético-MG por causa do Mundial, pois era uma experiência única. Quantos presidentes de clubes comandaram grandes times, mas não conseguiram disputar o Mundial? A sorte que sobrou na Libertadores, como naquele pênalti defendido pelo Victor no último minuto, faltou no Mundial.

Volta por cima do Jô 
- Vitória do próprio Jô, que já está no terceiro contrato com o clube. Quando ele chegou avisei que se aprontasse iria para a rua. Disse pra ele: 'você tem 1,90m de altura, é canhoto, tem boa saúde, vai querer jogar tudo isso no lixo?'. Desde então, ele vem num processo de recuperação. Está com a vida toda montadinha. Vai ser pai agora e é nome certo na Copa do Mundo.

Magia do Independência
- O Engenhão e o Maracanã são frios. Para esquentar o Maracanã tem que entupir o estádio. Já no Independência 20 mil torcedores esquentam. É o modelo arquitetônico do estádio aliado a uma torcida apaixonada e fanática como a do Atlético-MG. 

Kalil nas redes sociais
- O atleticano é chato. O bom era quando a gente não ganhava nada. A gente não ganhava nada e ainda discutia de frente com o cruzeirense. 

O futebol europeu quebrou, faliu
Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG

 Mercado do futebol e venda do Bernard
- Não sofro muito com venda de jogador. Eu trato o clube como se fosse meu. Não tem no futebol jogador que você não venda por 25 milhões de euros. No entanto, eu acredito que esta lógica de jogador sair para o exterior possa ser invertida. Hoje temos apenas três grandes mercados de jogador no mundo: Ucrânia, Rússia e China. Há um esvaziamento de ofertas da Europa. O futebol europeu quebrou, faliu. Eu tive uma oferta do Tottenham pelo Bernard no valor de 18 milhões de euros, mas eu queria segurá-lo por conta da Libertadores e recusei. Eu disse que não vendia, mas vendia. Logo em seguida veio a oferta de 25 milhões de euros do Shakhtar Donetsk. Muito se falou no Porto na época, mas não teve proposta realmente concreta. Hoje só tem transação meia-boca, que a gente mesmo já faz no mercado interno. Acho que vamos assistir a esta retomada de um jogador ficar dez anos num clube. Tive propostas pelo Jô e pelo Marcos Rocha, mas quanto custa colocar outro Jô no lugar do Jô?

Relação com empresários
  - Na minha gestão não vendi parte de jogador para ninguém. Eu vendi jogador por inteiro. O empresário faz parte do negócio de compra e venda.

Situação do Gilberto Silva 
- O Gilberto Silva fez uma cirurgia muito séria. Tenho, inclusive, uma reunião com ele esta semana. Ele tem uma idade avançada e teve um problema cirúrgico. O Atlético-MG é um clube organizado. Esta semana mesmo não contratamos um jogador, cujo futebol eu gosto, após o médico Rodrigo Lasmar vetar a contratação.

Próximo presidente
 É preciso ter força física e ser inteligente para continuar um trabalho que foi muito difícil construir.
Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG
 
 - O sucessor tem que ser da minha panela. Eu tenho uma panela de diretores que me ajudaram bastante. Tenho uma diretoria muito atuante. Dessa estrutura vamos tirar o nome, mas não tem nada decidido. Ao mesmo tempo acho que vai aparecer muito marinheiro de primeira viagem para fazer oposição. O próximo presidente tem que ser mais novo do que eu (54 anos), além de arrojado e experimentado. É preciso ter força física e ser inteligente para continuar um trabalho que foi muito difícil construir. Não estou dando dica, pois toda a diretoria é mais jovem do que eu.

Liga no futebol brasileiro 
- Numa liga, o executivo é fundamental. Ganhamos uma eleição no Clube dos 13 com apoio do Cruzeiro, do Corinthians e dos quatro grandes do Rio - Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo -, mas viraram a mesa. Podíamos trocar, reformular as pessoas, mas a base estava construída. 
Temos que caminhar para uma liga, mas temos contrato até 2018. A liga é boa comercialmente.
Do que vai sentir falta e o que não vai deixar saudade ao deixar a presidência

- Não vou sentir falta da imprensa (risos), pois é chata. Eu gosto do Atlético-MG. Se proibir este assunto em casa, ninguém vai ter o que falar. Eu gosto de falar do Atlético-MG porque eu sei falar do Atlético-MG. Hoje eu decido os rumos do clube e vou voltar a ser um torcedor de arquibancada. Vou sentir falta disso.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/mg/noticia/2014/02/kalil-ironiza-mineirao-e-critica-legado-da-copa-o-que-temos-e-um-terror.html

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