Volante lembra gol perdido contra Inter em 2006 pelo Libertad, lamenta Paraguai fora da Copa, mas exalta vida no Brasil e faz do torneio continental seu Mundial particular
Eram 24 minutos do segundo tempo. O Grêmio penava em campo na reformada Fonte Nova. O cabeceio de Elano encontra a trave. Desta vez, Riveros não deixaria a bola escapulir. Mesmo com dois zagueiros do Bahia levantando as pernas em ameaça concreta de chute, mergulhou "sem pensar" num peixinho tão eficiente quanto arriscado. A bola entrou. Gol. Mas Riveros caiu, quase desmaiado, visivelmente afetado pelo choque inevitável. Porém se ergueu para não mais cair. Até hoje, é exaltado pelo gol marcado em agosto passado, marco da reação do time de Renato Gaúcho rumo à vice-liderança do Brasileiro.
Riveros não teme a dor. Motiva-se com ela. Usa o azar de 2006, a pancada de 2013 e o mais recente golpe, ver o Paraguai fora da Copa, como combustíveis. Ao marcar o gol da vitória na estreia tricolor contra o Nacional-URU, há duas semanas, virou a cara da Libertadores para o Tricolor. Competição que, na falta da vaga ao Mundial, virou a sua Copa do Mundo particular.
coragem
Riveros mete a cabeça entre zagueiros e vira
símbolo para torcida
Estreia de ouro
Em seu primeiro jogo, já marcara
contra o Flu na Arena, de cabeça
libertadores
Também de cabeça, fez o gol que abriu a
campanha tricolor
muy amigo da libertadores
Na verdade, Riveros já desbravara bastante a Libertadores. Falta conquistá-la. A história mostra que o torneio continental acompanha a carreira do volante com promissora frequência. É pé-quente. Seu primeiro clube profissional foi o Taquary. Chegou em 2000, na terceira divisão. Em 2004, já disputava sua primeira Libertadores. A experiência durou pouco. Caiu na fase preliminar em mata-mata com o Palmeiras. Com o Libertad, trajetória mais do que semelhante. Superior. Ajudou o time a se classificar e chegou até a semifinal em 2006, eliminado no já amplamente citado duelo com o Inter. No ano seguinte, poderia até ter enfrentado o Grêmio no meio do caminho. Mas acabou tolhido pelo futuro campeão Boca Juniors. A chance mesmo fora diante do maior rival tricolor. Riveros sabe por que perdeu.
- Não aproveitamos para matar o jogo em casa (seria 2 a 0 no Beira-Rio). Na Libertadores, tem que ganhar em casa. Se fizer os nove pontos em casa, está praticamente classificado. Temos que ser fortes em casa, impor respeito. Depois, catamos algum ponto fora de casa - receita, já com a mente no Nacional de Medellín.
Momentos do volante paraguaio em treino e
entrevista no Estádio Olímpico (Foto:
Lucas Rizzatti/Globoesporte.com)
sem copa: a dor paraguaia
- Ainda agora estamos doídos pela gente paraguaia, que estava muito motivada com a Copa, perto de casa. A gente ia jogar praticamente em casa, no Brasil. Mas são coisas que passam, que aconteceu. O Paraguai foi nos últimos quatro Mundiais. Mas agora aconteceu tudo isso - lembrou, triste. - Tenho que jogar a Libertadores como uma Copa do Mundo.
Seus 33 jogos no Grêmio, no entanto, mostram que esse espírito de Copa (do Mundo e Libertadores) sempre esteve presente. Logo na estreia, num simbólico 28 de julho de 2013, comemoração dos 30 anos da primeira Libertadores do Grêmio, marcara de cabeça no 2 a 0 sobre o Fluminense. O excesso de estrangeiros e de volantes à época o fizeram flutuar entre o time e o banco. Nunca se incomodou. Inclusive na pré-temporada de 2014, quando Enderson Moreira indicava que o paraguaio começaria como reserva. Mas Souza rumou ao Morumbi. E Riveros aproveitou como poucos. O gol contra o Nacional-URU, a seu melhor estilo, em mergulho de cabeça, coroa uma relação íntima entre o jogador, a Libertadores e, agora, o Grêmio.
- A torcida pede muita raça. E é a minha característica desde que comecei. É fazer um sacrifício, colocar o esforço máximo dentro de campo. É a minha característica - resume.
em casa: mística da 16 e chimarrão
- Havia escolhido a 16 porque usava esse número na seleção. Depois, quando cheguei, me coloquei a par da importância do Jardel e do carinho que a torcida tem por Arce e Rivarola. É bom. Mas é uma grande responsabilidade também. Então temos que tratar de deixar o máximo em campo - ponderou, sério.
São sete meses desde sua estreia, e o português começa a se desvencilhar do apressado sotaque espanhol. Sinal de rápida adaptação. Mas Riveros celebra mesmo é a felicidade da família. Fica tranquilo ao constatar que Porto Alegre é a cidade à qual a esposa e os dois filhos pequenos mais bem se acostumaram.
- Aqui e no Paraguai, temos o churrasco e o chimarrão como hábitos. A gente se sente em casa - sorri, orgulhoso.
O que não tira do volante a saudade de sua acanhada e calorosa Julían Augusto Saldívar. O pai Arsenio e a mãe Ramona seguem lá, como seus quatro irmãos. O mais novo, de 23 anos, é zagueiro e está para ser emprestado ao San Lorenzo paraguaio, da segunda divisão - time também defendido por Riveros, por empréstimo, quando pertencia ao Taquary.
- A minha família sempre está comigo - garante, ao dizer que mantém contato imediato com o Paraguai, logo após os jogos pelo Grêmio. - Quando vou lá, não só meus pais, mas amigos e conhecidos me recebem muito bem. Sempre tem um joguinho.
Vibração
com gol em sua estreia, jogo na Copa de
2010, união com os demais
gringos do grupo,
cuidado ao ajudar o jovem Maxi Rodríguez
a se trajar e
marcação sobre Pato
novamente na seleção (Foto: Editoria
de
Arte/Globoesporte.com)
Em Porto Alegre, mora perto do capitão Hernán Barcos, em condomínio na zona norte da cidade. Também próximo a Maxi Rodríguez. A dupla mais experiente serve como um porto seguro ao garoto uruguaio, que, assim como Riveros, saiu de alguma veia aberta da América Latina para viver o sonho de jogar no futebol brasileiro.
Para Riveros, o sonho ainda nem começou. Questionado sobre algum grande momento que já vivera no Grêmio, emenda uma resposta para animar qualquer torcedor, antes da partida desta terça-feira, na Arena:
- Meu melhor momento ainda está por chegar.
E será, com certeza, com entrega e sacrifício. Até alguma dor. Com a cara de Riveros.
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FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/gremio/noticia/2014/02/da-dor-ao-gol-riveros-encarna-alma-tricolor-na-libertadores-minha-copa.html
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