quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Técnico de Cigano não vê Velásquez resistente a golpes: 'Ponto fraco dele'

Luiz Dórea diz que problemas particulares prejudicaram pupilo na segunda luta contra Cain e critica Daniel Cormier por comentários: 'Ética ele não tem'

 Por Direto de Houston, EUA

Junior Cigano liquidou Cain Velásquez com pouco mais de um minuto na primeira luta entre eles, mostrando grande poder de nocaute. Na segunda, o americano dominou o brasileiro por cinco rounds e o castigou com duros golpes, mas não conseguiu nocautear. Para Luiz Dórea, que apareceu no cenário nacional quando era o técnico do pugilista Acelino "Popó" Freitas e há anos é o treinador principal de Cigano, é nessa área que está a grande diferença entre os adversários. O especialista em boxe acredita que seu pupilo é muito superior ao rival na resistência a pancadas:

- Acho que aí está o ponto fraco do Velásquez: assimilação. Ele busca a luta muito forte, mas não suporta golpe, não tem esse poder. Contra o (Cheick) Kongo (no UFC 99, em 2009) ele caía, levantava e ia nas pernas. Kongo, em vez de sair e continuar golpeando, buscava o clinch, aí dava tempo para o Velásquez se recuperar. Cigano, quando der um golpe duro, tem que acabar com a luta. Tem que farejar o nocaute. Tudo que a gente faz é em busca do nocaute. O Cigano sabe nocautear, não se afoba. O Cain é um grande atleta, mas o ponto fraco dele, com todo respeito, é a assimilação de golpes realmente. Ele não provou que suporta isso - disse em entrevista ao Combate.com no hotel onde os lutadores estão hospedados.

Luiz Dórea UFC  (Foto: Evelyn Rodrigues) 
Ex-treinador de Popó, Luiz Dórea é o mestre de Junior Cigano
(Foto: Evelyn Rodrigues)
 
Cigano e Velásquez vão se enfrentar pela terceira vez no UFC 166, em Houston (EUA), na noite deste sábado. A derrota do ex-campeão no fim do ano passado, na opinião de Dórea, deveu-se em grande parte a problemas particulares, totalmente fora do octógono. E o revés serviu para mostrar ao mundo a força do queixo e o coração do pupilo, segundo o treinador:

Mesmo estando em sua melhor forma e no controle das ações, o Cain não conseguiu acabar a luta. Com todo respeito ao Cain, mas se a luta fosse ao contrário e o Cigano tivesse batido nele a metade daquilo, certamente a luta teria acabado, porque Ciganoé um pegador nato"
Luiz Dórea, treinador de Cigano
 
- Na primeira luta, Cigano nocauteou em um minuto. Na segunda o Cigano não entrou na luta. Ele sofreu golpes durante cinco rounds, sofreu várias quedas e se levantou em todas. Cigano é um atleta completo. Além de ser um grande nocauteador, é um grande assimilador também. Para isso não tem treinamento, nasce com o atleta. Quem aguenta aguenta, quem não aguenta... Não tem exercício para o queixo. Isso mostrou que, mesmo estando em sua melhor forma e no controle das ações, o Cain não conseguiu acabar a luta. Com todo respeito ao Cain, mas se a luta fosse ao contrário e o Cigano tivesse batido nele a metade daquilo, certamente a luta teria acabado. O aprendizado da derrota é muito grande. O que aconteceu com ele foi muito fora do ringue, a cabeça dele. Mas dois raios não caem no mesmo lugar. Ele aprendeu muito com isso e está muito mais maduro.

Questionado sobre quais problemas seriam esses, Dórea preferiu manter discrição. Mas sabe-se que, na época, Cigano estava em fase de separação da então esposa, Vilsana.

Cigano e Cain Velasquez , UFC 155 (Foto: Getty Images) 
Velásquez venceu Cigano no UFC 155 por decisão unânime
dos jurados (Foto: Getty Images)
 
- São problemas particulares que nós, lutadores, às vezes não conseguimos deixar embaixo do ringue e levamos para cima. No dia, está lá só o corpo, mas a mente está em outro lugar. Graças a Deus ele conseguiu ajeitar a vida dele, superou mais uma etapa. O foco agora é o título. Naquele momento ele tinha outras coisas na cabeça que tiravam a direção da luta. Agora não. Está tranquilo, focado, e a equipe está muito confiante.

Outro ponto que prejudicou Cigano, segundo o próprio lutador, foi o treino em excesso. Luiz Dórea contou que a equipe contratou um fisiologista para não deixar que isso se repita e disse que o peso-pesado agora está muito mais profissional:

Além de ser um grande nocauteador, (Cigano) é um grande assimilador também. Para isso não tem treinamento, nasce com o atleta. Quem aguenta aguenta, quem não aguenta... Não tem exercício para o queixo. Isso nasce com o atleta"
Luiz Dórea
 
- Em relação à equipe, contratamos um fisiologista para poder controlar a carga de treinamento dele. Nós vínhamos bem, e isso (overtraining) foi constatado pelos exames após a luta. De início a gente não sabia. Por isso hoje nós estamos muito mais amparados. Contratamos um fisiologista, que acompanha ele tanto de manhã quanto de tarde nos treinamentos, para ver o secar dele. E a gente distribuía a carga de treinos para evitar esse overtraining. Foi tudo um aprendizado. O esporte é uma evolução constante. Quando um atleta ou um treinador pensa que sabe tudo, isso é o início do fim dele. O Cigano investe muito nele. Com certeza nessa luta ele vai estar em melhor condição. Ele está muito mais profissional, com alimentação na hora certa, comendo tudo o que tem que comer, seguindo à risca o horário de repouso de tal hora a tal hora. Sempre foi um grande atleta, mas hoje está muito mais fortalecido profissionalmente.

Dórea recordou um golpe aplicado por Velásquez que balançou Cigano no início da segunda luta e o fez praticamente abandonar toda a estratégia de jogo que estava traçada. Para o técnico, o pupilo lutou o restante do combate no "automático":

- Quando começou a luta, o Cigano estava muito bem na defesa de quedas. O que faltava era contragolpear depois de se defender. Ele foi treinado para isso e naquele momento não fez. Então, achei que depois que falássamos com ele no córner, ele faria isso. Mas não voltou contragolpeando. Aí veio o golpe duro que ele levou na cabeça. Nesse golpe, o Cain ficou mais de um minuto nas costas dele socando. Quando ele foi para o córner, toda a parte técnica e tática acabou. Ali ele estava lutando para se recuperar do golpe. Lutou no automático durante três ou quatro rounds ali. "Não posso cair, não posso cair". Tanto que quando acabou a luta, ele me disse: "Professor, eu só vi o senhor falando para levantar a guarda". Eu já passei isso com outros atletas também, tenho 34 anos nisso aqui. Ele estava no automático. Isso mostra o coração dele. O Cain poderia ter acabado a luta, tinha o controle, mas não soube finalizar como Cigano. Cigano é um nocauteador, um finalizador. Naquele momento ai faltou "punch" mesmo, porque ele conectou muitos golpes. E o Cigano é muito resistente.

Luiz Dórea UFC  (Foto: Evelyn Rodrigues) 
Dórea concedeu entrevista no hotel onde o UFC está
hospedado em Houston (Foto: Evelyn Rodrigues)
 
A declaração de Daniel Cormier, parceiro de treinos de Velásquez e que vai enfrentar Roy Nelson no coevento principal do mesmo card, de que o amigo virá totalmente diferente e vai surpreender na terceira luta foi tratada como amadorismo por parte de Luiz Dórea:

- Da parte de Cormier isso é um jogo de palavras. Não muda nada. Isso é coisa de amador. Nós somos profissionais, e as coisas se decidem lá dentro. Nós temos que estar preparados para tudo. Existem táticas. O Cigano tem a nossa tática, e eles têm a deles. Alguém vai conseguir colocar a tática em jogo primeiro. Esse já sai na frente. Agora, essas mudanças aí... Só se o cara der salto mortal lá dentro (risos). Todo o resto faz parte do esporte. E estamos preparados para tudo. Cain é completo: soca, chuta, põe muito bem para baixo. Mas temos nossa linha. Queremos manter a luta dentro do nosso controle, e nosso controle é na trocação. Ali é onde estamos em casa.

São problemas particulares que nós, lutadores, às vezes não conseguimos deixar em baixo do ringue e levamos para cima. No dia, está lá só o corpo, mas a mente está em outro lugar. Graças a Deus ele (Cigano) conseguiu ajeitar a vida, superou mais uma etapa"
Luiz Dórea
 
O treinador também não gostou de ouvir que Cormier afirmou que a preparação de Cigano está errada e foi duro com o americano, dizendo que faltou ética a ele:

- Sem resposta. Primeiro que ele ainda é atleta, e não treinador. Se ele fosse treinador, teria mais ética e não se comportaria dessa forma. Acho ele um ótimo atleta, mas para ser treinador tem que mudar muito, porque pelo menos a ética ele já não tem. Quem é ele? Nós vamos seguir o que ele fala? Que ele continue sendo lutador, pois é um grande campeão e vai longe. Mas tem que rever os conceitos para quando quiser virar treinador.

O canal Combate transmite a pesagem do UFC 166 às 18h (de Brasília) desta sexta-feira e todas as lutas do evento a partir de 19h15m de sábado. O Combate.com também exibe a pesagem e acompanha todo o card em Tempo Real no sábado, além de transmitir o duelo entre Dustin Pague e Kyoji Horiguchi, pela categoria peso-galo (até 61kg), ao vivo.

UFC 166
19 de outubro de 2013, em Houston (EUA)
CARD PRINCIPAL


Cain Velásquez x Junior Cigano
Daniel Cormier x Roy Nelson
Gilbert Melendez x Diego Sanchez
Gabriel Napão x Shawn Jordan
John Dodson x Darrell Montague
CARD PRELIMINAR
Tim Boetsch x CB Dollaway
Nate Marquardt x Hector Lombard
Sarah Kaufman x Jessica Eye
George Sotiropoulos x KJ Noons
T.J. Waldburger x Adlan Amagov
Tony Ferguson x Mike Rio
Jeremy Larsen x Andre Fili
Dustin Pague x Kyoji Horiguchi


Banner Combate (Foto: Combate)
 
FONTE:
http://sportv.globo.com/site/combate/noticia/2013/10/tecnico-de-cigano-nao-ve-velasquez-resistente-golpes-ponto-fraco-dele.html

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