quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Calculista, Zanetti não liga para enxurrada de cobranças até 2016


'Cada um tem que trabalhar seu psicológico para aguentar', diz ginasta campeão olímpico e eleito melhor atleta do ano

Por Gabriele Lomba Rio de Janeiro

O ano foi meticulosamente calculado: cada adversário a superar, cada competição a vencer, e até mesmo a perder - e como perder. Mas nada evitou que o coração disparasse naqueles minutos antes de ouvir seu nome. Ao se juntar a Sheilla, do vôlei, para receber o troféu de melhor atleta do ano, do Prêmio Brasil Olímpico, Arthur Zanetti fechou 2012 do jeito que sonhava. O campeão olímpico das argolas em Londres - primeira medalha do país na ginástica artística - desceu do palco de novo sereno, com a segurança que lhe é peculiar. E pronto para uma enxurrada de cobranças até os Jogos do Rio, em 2016.

- Todo mundo fala muito sobre cobrança, pressão por resultados, porque as Olimpíadas vão ser aqui no Brasil. Mas, para mim, é uma cobrança boa. Cada um tem que trabalhar seu psicológico para aguentar. Estou preparado para as cobranças. Vou trabalhar ainda mais para que nada dê errado - disse o ginasta, de 22 anos.


Sheilla e Arthur Zanetti Prêmio Brasil Olímpico 2012 (Foto: Fernando Soutello/Agif/COB)Ao lado de Sheilla, Zanetti foi o grande homenageado no Prêmio Brasil Olímpico 2012(Foto: Fernando Soutello/Agif/COB)

Zanetti nem pensa em afrouxar o ritmo. Estudante de Educação Física, traçou como uma das prioridades em 2013 a Universíade, em julho, na Rússia. Lá, defenderá o título conquistado dois anos antes, na China. No fim de setembro, vai em busca de um ouro inédito no Campeonato Mundial, na Bélgica - foi prata no passado, no Japão. O ciclo olímpico Rio 2016, para ele, começa em janeiro, depois de merecidas férias.

- Meu sonho é repetir o ouro em 2016 e levar uma equipe masculina completa aos Jogos.

Zanetti já provou ser bom quando o assunto é traçar metas. No início do ano, anotou todas elas em um quadro. E foi apagando uma por uma, torneio por torneio, adversário por adversário. Em janeiro, conquistou ouro na Arena North Greenwich, evento-teste para as Olimpíadas de Londres. Na etapa de abertura da Copa do Mundo, em Cottbus, na Alemanha, uma prata, segundo ele, planejada.

- Ganhei tudo que queria e perdi o que queria. Em Cottbus, fiz uma série antiga para não mostrar a nova ao chinês. Assim ele não saberia o que eu iria apresentar nas Olimpíadas.

O chinês em questão é Yibing Chen, tetracampeão mundial e até então defensor do ouro olímpico nas argolas. Ele era o único que ainda jogava pedras em seu caminho.

A partir dali, o paulista quis vencer e venceu as etapas de Maribor (Eslovênia), em Oseijek (Croácia) e Ghent (Bélgica) da Copa do Mundo. Os resultados o inflavam de confiança. Era o maior adversário de Yibing. Mas insistia em não querer saber do chinês. Concentrou-se, blindou-se. E voltou a traçar uma estratégia, agora especificamente para os Jogos de Londres: tirou um movimento da série e passou em quarto para a final. Só assim competiria em oitavo, por último.

No dia da decisão, foi para a sala de aquecimento enquanto parte dos rivais se apresentava. Observando e torcendo, de perto ou longe, todos ainda poderiam trazer um quê de desconfiança naquele baixinho de 1,56m. A imagem de Daiane dos Santos derrapando em Atenas 2004; a queda de Diego Hypolito em Pequim 2008…

Zanetti não tinha nada disso na memória. Subiu nas argolas, fez sua série com perfeição. Desceu e olhou para Marcos Goto - seu treinador há 15 anos, em São Caetano (SP) -, que já comemorava, antes mesmo de a nota aparecer no telão: 15.900, primeira medalha da história da ginástica verde-amarela em Olimpíadas. Medalha de ouro para o brasileiro, aposentadoria para o chinês.

Depois de Londres, Zanetti foi prata em Ostrava (República Tcheca), campeão brasileiro por equipes e campeão dos Jogos Abertos do Interior. Estava com férias já quase marcadas quando pintou convite para a Copa Toyota, no Japão. Foi para lá e fechou a temporada com ouro: 15.900 pontos, a mesma nota das Olimpíadas.

Na noite de terça-feira, no Rio de Janeiro, a recompensa maior em seu país. Subiu ao palco do Theatro Municipal três vezes: primeiro na homenagem aos medalhistas olímpicos, depois para receber o prêmio de melhor da ginástica artística e, enfim, o de melhor do ano. Pouco antes dos últimos aplausos, viu e aplaudiu Marquinhos, escolhido melhor técnico de esportes individuais.

- Fiquei emocionado, porque ele faz parte desta conquista. O meu coração bateu mais forte do que eu imaginava. Agora é descansar.

 
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/premio-brasil-olimpico/noticia/2012/12/calculista-zanetti-nao-liga-para-enxurrada-de-cobrancas-ate-2016.html

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