sábado, 11 de agosto de 2012

Londres, dia 15: um sábado para amadores em Londres


Brasil ganha, com o vôlei, uma das três medalhas de ouro em disputa no sábado. Futebol masculino e Esquiva Falcão são prata

Por Alexandre Alliatti Rio de Janeiro

Vôlei, Comemoraçao do Brasil x eua (Foto: Agência Reuters)Brasileiras, eufóricas, comemoram ouro. 'Fazemos
por amor', diz Fabi (Foto: Agência Reuters)

Uma das músicas cantadas por Paul McCartney na cerimônia de abertura das Olimpíadas foi “The End”. É uma letra curta, mas grande o suficiente para passar a mensagem de que, no final das contas, o amor que uma pessoa recebe é o mesmo que ela oferece. Neste sábado, quando o Brasil tanto se encantou com a vitória da seleção feminina de vôlei e tanto torceu por Esquiva Falcão, voltou à tona a ideia de esporte amador - essa expressão tão usada para designar aquelas modalidades que não têm o mesmo profissionalismo do futebol. Amador, ao pé da letra, é aquele que ama. Ou aquele que faz algo por amor. Talvez aí esteja a explicação para o bicampeonato olímpico do vôlei. E talvez aí esteja a diferença na visão de boa parte dos brasileiros sobre a prata de Esquiva e a do futebol masculino. É como se o boxeador recebesse de volta o amor que oferece ao esporte, parafraseando Paul. E os jogadores, não – embora as lágrimas deles na derrota para o México alertem que as críticas podem ser injustas.

Em uma linha imaginária que colocasse o mais extremo amadorismo de um lado e o mais completo profissionalismo do outro, Esquiva ficaria em uma ponta, e a seleção masculina de futebol em outra. Neymar e seus colegas têm tudo aquilo que falta a Esquiva. E ambos são prata – o que explica o sentimento de orgulho com o boxeador e de frustração com os jogadores. No meio do caminho entre eles, está o vôlei feminino – já muito longe da penúria do boxe amador, mas também a léguas do conforto do futebol. Para renascer nos Jogos Olímpicos, radicalizar seu jogo, passar pela Rússia do jeito que passou (salvando seis match-points) e depois bater os Estados Unidos na final, não bastaria às atletas brasileiras ter profissionalismo. Elas precisariam também de amadorismo.

- Nós fazemos isso por amor, gente. Nós amamos o vôlei – resumiu Fabi ao SporTV logo depois da conquista.

O Brasil começou o sábado com chances de ganhar mais três medalhas de ouro. Garantiu a do vôlei, com vitória de 3 sets a 1 sobre as americanas. No futebol, a sina olímpica persiste depois da derrota de 2 a 1 para o México. O país continua sem jamais ter conquistado um ouro no esporte. Já no boxe, Esquiva perdeu por muito pouco. Levou 14 a 13 do japonês Ryota Murata.


medalha de ouro vôlei feminino Olimpíadas 2012 (Foto: Reuters)Brasileiras no pódio: bicampeãs olímpicas com vitória de 3 a 1 sobre os EUA (Foto: Reuters)

Das cinzas, nasce o ouro


vôlei Zé Roberto brasil olimpíadas 2012 (Foto: AFP)José Roberto Guimarães é o primeiro brasileiro
tricampeão olímpico (Foto: AFP)

Há pouco mais de uma semana, soaria exagero prever que a seleção feminina de vôlei seria bicampeã olímpica. A primeira fase do Brasil não foi boa. Nos cinco jogos iniciais, foram duas derrotas. A classificação dependeu, por uma ironia do destino, dos Estados Unidos. Se as americanas perdessem para a Turquia, a equipe de José Roberto Guimarães estaria automaticamente eliminada já na etapa de classificação. Mas elas venceram. E acabaram pagando caro pelo profissionalismo. Pagaram com o título.

O Brasil renasceu das cinzas de diferentes formas. No campeonato, dada a situação na primeira fase; nas quartas de final, quando a Rússia teve a bola do jogo seis vezes; e na final, depois de um primeiro set avassalador das americanas.

O Brasil começou mal o jogo. Muito mal. Levou 25 a 11 – uma surra. Mas teve forças para reagir, vencer os três sets seguintes, ganhar o jogo, ganhar o ouro: 25/17, 25/20, 25/17. Jaqueline, 
gigantesca, fez 18 pontos. Hooker, a tão temida craque americana, marcou 14.

A vitória eternizou de vez o treinador da geração mais vitoriosa do vôlei feminino brasileiro. José Roberto é a primeira pessoa nascida no país a ter três medalhas de ouro. Além das duas conquistas com as mulheres, levou os homens à vitória em Barcelona 1992.
De orgulho e dor


Esquiva Falcão medalha de prata (Foto: Reuters)Esquiva Falcão morde medalha de prata após
disputa de final inédita (Foto: Reuters)

Doeu a prata de Esquiva Falcão. Por toda a trajetória de vida dele, pelo exemplo de superação de um atleta saído da pobreza para chegar a uma final olímpica, doeu a derrota por apenas um ponto. E doeu mais ainda por saber que ela foi resultado de uma punição. O brasileiro perdeu dois pontos por, na visão da arbitragem, atrasar o combate ao abraçar o japonês repetidas vezes.
Foi uma luta muito equilibrada. Ryota Murata, com uma guarda que parecia intransponível, venceu o primeiro round por 5 a 3. O brasileiro ficou mais vivo no segundo assalto. Venceu por 5 a 4. Ficou tudo para os últimos minutos. E Esquiva foi novamente melhor, mas a punição jogou tudo pelo ralo.

Assim, os filhos de Touro Moreno voltam para o Brasil com uma prata e um bronze – o de Yamaguchi Falcão. Esquiva foi o primeiro boxeador do país a chegar a uma final olímpica. Ficou orgulhoso, mesmo com a derrota por tão pouco na final.
- Não estou triste. Entrei para a história com a prata. Estou muito feliz com meu resultado. O ouro não veio, mas a prata está valendo ouro – disse ele.

De onde mais se esperava...


medalha Brasil futebol Lucas, Neymar, Damião, Hulk, Oscar (Foto: Getty Images)Jogadores brasileiros olham medalha de prata em
Londres depois de derrota (Foto: Getty Images)

Era da seleção masculina de futebol que mais se esperava um ouro, o que quase soa como contradição, já que isso jamais aconteceu. As quedas precoces de Espanha e Uruguai, concorrentes fortes, fez aumentar a convicção. Mas, de novo, não deu.

E por uma bobagem. Sabe-se lá como poderia ter sido o jogo se Rafael não tivesse passado tão mal para Sandro logo no início do duelo. Em inacreditáveis 29 segundos, o México já estava na frente. Mas restava uma partida inteira para virar. Em vão.

O Brasil foi além de não conseguir empatar: levou o segundo, por Peralta, o mesmo que havia feito o primeiro. Rafael, após dar um toque de letra quando o Brasil já afundava rumo ao vice, quase levou um cascudo de Juan, indignado com o lance do colega. E ainda teve o gol de Hulk, aos 46 minutos do segundo tempo – beirou a crueldade, por dar a esperança do 2 a 2. Oscar, no último lance da partida, quase empatou de cabeça. O quase foi aquilo que definiu quem seria ouro e quem seria prata.

Encerrada a partida, parte do elenco desabou no gramado. Os jogadores pareciam incrédulos. Neymar, sumido no jogo, ficou com o olhar perdido, tentando entender o que acontecera. Lucas chorou. E todos eles, alinhados no pódio, tiveram que ver a festa mexicana.
Até logo, Usain Bolt


Bolt, Atletismo, 4x100 (Foto: Getty Images)Bolt conquista seu terceiro ouro em Londres, agora
nos 4x100m (Foto: Getty Images)

O grande astro do atletismo nos Jogos Olímpicos de 2012 deu seus últimos passos em Londres neste sábado. E com vitória, como de hábito. Usain Bolt ajudou a Jamaica a se tornar bicampeã e quebrar o recorde mundial, que era dela própria, nos 4x100m. Ele foi o responsável pelos últimos metros e deu um jeito de facilitar uma disputa que era complicada contra os americanos, que ficaram com a prata. O bronze foi para Trinidad e Tobago.

Foi a sexta medalha de ouro de Bolt em Olimpíadas. Ele é bicampeão nos 100m e nos 200m, além dos dois títulos no revezamento. Em Pequim e em Londres, o cenário foi o mesmo: três disputas e três ouros para o fenômeno.


Os donos da casa também puderam comemorar. Mo Farah, já campeão nos 10.000m, ganhou neste sábado os 5.000m. Foi ovacionado pelo público. Nos 4x400m para mulheres, os Estados Unidos amenizaram a decepção do revezamento masculino e ficaram com o ouro.
Já no basquete não existe concorrência para os americanos. A seleção feminina garantiu o ouro ao vencer a França por 86 a 50. A Austrália ficou com o bronze.

No handebol, as algozes da seleção brasileira ficaram com o topo do pódio. A Noruega ganhou o ouro ao bater Montenegro por 26 a 23. É o bicampeonato olímpico das nórdicas.
O dia também foi de disputas no taekwondo. A brasileira Natália Falavigna não deu sorte. Ela foi derrotada pela sul-coreana In Jong Lee por 13 a 9 já na primeira luta. E ainda se machucou. Mesmo que fosse para a repescagem (caso sua adversária avançasse até a final), não poderia lutar, por causa da lesão na perna direita. Foi uma fratura.

O taekwondo também reservou uma das cenas mais curiosas do dia. Na categoria acima de 80 quilos, o italiano Carlo Molfetta teve que encarar um adversário 20cm maior que ele. Daba Modibo Keita, de Mali, tem 2,03m, contra 1,83m do europeu. Adivinha quem ganhou?
Sim, Molfetta. Na comemoração, ele fez o sinal de um raio, mesmo gesto de Usain Bolt após suas conquistas. Mereceu...


taekwondo, Keita e  Carlo Molfetta, Londres 2012 (Foto: Agência AFP)Carlo Molfetta encara gigante e se dá melhor no taekwondo (Foto: Agência AFP)

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