sexta-feira, 1 de julho de 2011

Trabalho, chinelo e óculos: as paixões de Robertinha, a estatística da seleção

Desde 1997 na comissão técnica de Bernardinho, paulista cuida do 'dever de casa' dos jogadores, que pegam no pé quando ela deixa a vaidade de lado

Por Helena Rebello Rio de Janeiro

vÔlei Robertinha e Giba (Foto: Arquivo Pessoal)Na abertura dos Jogos de Pequim, Robertinha
posa com o amigo Giba (Foto: Arquivo Pessoal)

Enquanto o Brasil encerrava a fase de grupos da Liga Mundial com um passeio diante da Polônia, Roberta Giglio dava sua contribuição para a vitória à beira da quadra. Responsável pelas estatísticas da seleção masculina e, sobretudo, dos adversários, a paulista pouco dorme para atender às solicitações de Bernardinho e seus comandados e fornecer o “dever de casa” da turma sempre atualizado. Desde 1997 na comissão técnica do treinador, na época ainda servindo à seleção feminina, Robertinha, como é conhecida, compartilha com o chefe a compulsão pelo trabalho. Mas o exagero não se limita ao número de horas gastas na observação de vídeos e análises de jogadas: algumas pequenas "coleções" também preenchem as malas durante as longas viagens a serviço do Brasil.
A maior delas é a de chinelos emborrachados. A única mulher da comissão técnica da seleção tem quase 20 pares da mesma marca, diz que não tem um único par de sapatos e que só usa tênis para correr e entrar em quadra. Há também pequenos acervos de óculos de sol, bonés e gorros. Para auxiliar no trabalho, um arsenal de laptops: sete próprios e pelo menos dois por vez cedidos pela Confederação Brasileira de Vôlei.
info números robertinha vôlei 3 (Foto: ArteEsporte) Alguns números curiosos de Robertinha, responsável pelas estatísticas da seleção masculina de vôlei

Formada em educação física, Robertinha dava aulas em uma escolinha de vôlei antes de começar a trabalhar com números. A primeira experiência com estatísticas foi no Mundial Interclubes de 91, quando ainda cursava a faculdade. Daí em diante não parou mais e, para facilitar sua tarefa, desenvolveu com o pai um programa de computador pioneiro no Brasil para compilar dados do esporte.
vôlei leila roberta brasil estatísticas (Foto: Helena Rebello / Globoesporte.com)Robertinha passa informções para Leila comentar
jogo (Foto: Helena Rebello / Globoesporte.com)

A idéia deu tão certo que várias seleções estrangeiras já fizeram propostas para utilizar a ferramenta. Em 2002, Adriana Behar e Shelda, então melhor dupla de vôlei de praia feminino do país, a procuraram para ajudar na preparação para os Jogos Olímpicos de Atenas. Na época, uma versão especial foi montada para dar suporte às quatro duplas brasileiras que competiram na Grécia. Mas Robertinha não comercializa a tecnologia. O máximo que faz é treinar pessoas que hoje trabalham com ela e servem a seis equipes da Superliga.
- As tecnologias vieram para ajudar. O que eu faço agora em 15 segundos eu fazia em horas na mão. Antigamente trabalhávamos em um jogo. Agora podemos trabalhar em dez, com vídeos, todas combinações possíveis e imagináveis. Fizemos muitas melhorias e hoje o programa é um monstro. Já fui procurada por seleções de fora para vender, mas não me interessa. Eu quero ter uma ferramenta minha para que, a cada dia, eu possa dar mais condições para as pessoas que estão comigo trabalharem.
A rotina de competições e viagens fez a estatística se afastar de alguns amigos e perder momentos importantes em família, como o casamento do único irmão, em 2003. O período mais difícil em sua trajetória na seleção foram as Olimpíadas de Atenas, no ano seguinte. Com quatro jogos por dia para assistir e analisar, só era possível dormir cerca de duas horas por noite.
vôlei Robertinha estatística da seleção em Tóquio (Foto: Arquivo Pessoal)Fazendo compras em Tóquio: Robertinha já esteve 18 vezes no Japão (Foto: Arquivo Pessoal)

- Foi a competição mais louca que de participei na vida. Nos últimos dias eu chorava para acabar, não agüentava mais. Eu saia da Vila às 7h da manhã, chegava às 2h e ele (Bernardinho) estava na varanda me esperando. Eu mal jantava e virava a noite para entregar as coisas para ele. Foi a competição em que mais trabalhei, disparado. Na Liga Mundial tenho levado computador para os treinos para tentar ter mais tempo, mas durmo no máximo 4h por noite. Quem sofre é a Mariana (D’Aragona, chefe de delegação e colega de quarto), porque a impressora não para.
vôlei robertinha bebê brasil treino (Foto: Helena Rebello / Globoesporte.com)Com o sobrinho Eduardo em treino do Brasil em
São Paulo (Foto: Helena Rebello/Globoesporte.com)

Mesmo com o enorme volume de tarefas, Robertinha encontra espaço para ter um pouco de vaidade. Ela conta que não liga muito, mas que é cobrada pelos jogadores quando não se cuida.
- Nessa loucura toda, em 2005, quando me dei conta, estava 16 quilos acima do peso. Os meninos me encheram muito e comecei a correr todos os dias para voltar ao normal. Hoje em dia tenho a preocupação de pintar o cabelo. Se vamos ficar três semanas fora, tenho que levar tinta, porque os meninos reparam e pegam muito no pé.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2011/07/trabalho-chinelo-e-oculos-paixoes-de-robertinha-estatistica-da-selecao.html

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