Casa da Cabofriense tem portões inoperantes - um deles está no chão - e vira ponto de uso e esconderijo de drogas, relatam funcionários: "Eles se acham poderosos"
Entrelaçados quase como se fossem juntos um sentimento só, o abandono e o medo caminham juntos no Estádio Municipal Alair Corrêa, em Cabo Frio, Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Sede de treinos e jogos da Cabofriense, equipe que disputa a elite do Campeonato Carioca, o Correão acrescentou à sua rotina um clima de insegurança e descaso. Uma breve caminhada por lá é o suficiente para constatar que as queixas feitas por funcionários e vizinhos são pertinentes - a falta de manutenção e o vandalismo são as mais comuns. No entanto, basta uma dose pequena de insistência para que outro problema venha à tona, esse muito mais grave: o estádio que outrora recebeu gigantes do futebol brasileiro agora pode estar sendo usado como local para consumo de drogas.
Administrado exclusivamente pela prefeitura, o Correão foi fundado em 1985 e atravessa um processo de abandono. O lixo espalhado por todas as partes e o mau cheiro nas arquibancadas e nos bancos de reservas não deixam de ser uma consequência da irrisória fragilidade do local. Qualquer um pode entrar. Sim, sem restrição, constrangimento ou dificuldade. Afinal, dois dos três portões estão desprotegidos - um teve o cadeado arrombado, e o outro foi simplesmente trazido ao chão (acompanhe no vídeo, clicando no LINK da FONTE no final da Postagem abaixo, como é fácil entrar no Correão).
As cenas de invasão no gramado tornaram-se diárias.
Para falar sem medo, só não se identificando: todas as declarações e histórias recolhidas pelo GloboEsporte.com foram feitas anonimamente com o objetivo de evitar represálias. Apesar do problema corriqueiro e do perigo, o assunto é um tabu para funcionários e jogadores da Cabofriense.
- Todo dia, se você for, principalmente à tarde, tem gente jogando bola no campo. Como se fosse deles mesmo. Um dia desses invadiram o sistema de iluminação do estádio à noite para ligar o refletor para poderem jogar bola. A invasão continua. É só você chegar e vê - relatou o funcionário "x".
Em
dia de jogo, uma viatura fica no estádio. No
resto da semana, a
segurança fica por conta da
Guarda Municipal, que, por conta das
condições
precárias, vai embora antes do anoitecer
(Foto:
GloboEsporte.com)
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A Guarda Municipal de Cabo Frio é a responsável pela segurança no local. Segundo um agente da que prefere não se identificar, há pouco tempo um guarda era destacado para ficar o dia inteiro no Correão, inclusive pernoite. Agora, por conta das condições precárias e falta de segurança, ele vai embora antes do anoitecer.
Cadeado do portão traseiro do estádio teria sido arrombado mais de uma vez (Foto: GloboEsporte.com)
- Tinha agente no local a noite toda. Entrava com o carro, guardava, passava a noite. Mas, depois que estouraram o cadeado, a direção da guarda falou para que cinco horas, depois do expediente, não ficar mais ninguém não.
À prefeitura, foi perguntado por e-mail "por que o estádio encontrava-se abandonado?" e se "há alguma proposta de reforma ou melhoria na pauta?" Mais de uma semana antes da publicação desta reportagem, mas não houve resposta.
À VONTADE
Momentos
antes do jogo começar, indivíduos invadem o estádio normalmente, fumam,
jogam conversa fora e vão embora (Foto: GloboEsporte.com)
Ao lado de uma ambulância e de uma equipe de enfermeiros que estavam à disposição do confronto, ficaram ali por pelo menos uma hora, à vontade. Em meio aos tragos de cigarros, sequer foram incomodadas por alguém. O cheiro de maconha impregnado atrás de umas das balizas era forte, mesmo pouco tempo depois. Apenas momentos antes de Cabofriense e Lusa começarem a jogar foi que eles deixaram o estádio.
- A gente fica com temor, né, até porque temos família, temos filhos. Não adianta brigar, eles não vão te ouvir mesmo, quer queira ou não. Eles se acham poderosos. Ficamos com medo de qualquer coisa que possa complicar a gente, a família da gente. É desagradável trabalhar com bandido e traficante dentro do campo, com arma na mão, escondendo maconha dentro do campo, nos postes, em bueiros de água. É difícil demais - disse, por sua vez, o funcionário "y".
Logo depois da saída do grupo, uma viatura da Polícia Militar escalada para fazer a segurança da partida chegou e se instalou no portão lateral (o que foi derrubado). E por lá ficou até o fim do jogo, sem mais problemas aparentes.
Por telefone, o tenente-coronel Ruy França, comandante do 25° BPM de Cabo Frio, se disse surpreso com a notícia. No entanto, ele reconheceu a "região complicada" em que se encontra o estádio e garantiu que vai tomar providências.
- Ninguém me passou nada sobre essa situação no estádio. Não fomos informados sobre isso. Mas sabemos que as ruas de acesso têm situações complicadas. Estamos sempre monitorando porque sabemos que é uma região complicada, isso não é novidade para ninguém. Mas vamos continuar monitorando e vamos procurar mais detalhes sobre essa situação, que para nós é uma novidade. A administração do Correão é da prefeitura. Então, nós vamos entrar em contato com as outras autoridades da cidade para saber o que está acontecendo, para sabermos mais detalhes e para eliminarmos isso. Pois uma situação como essa, se for confirmada, não pode acontecer - afirmou.
O número destinado a denúncias, nesse caso, é o 22 2643-0190.
"CADA UM FICA NA SUA"
De acordo com jogadores e funcionários da Cabofriense, o cúmulo aconteceu durante um treinamento realizado nas vésperas do confronto contra o Nova Iguaçu,
válido pelo returno da primeira fase da Copa Rio. Enquanto a equipe
realizava uma atividade no gramado, indivíduos supostamente armados
entraram no estádio e passaram a dividir as atenções do elenco.
Muito lixo e vandalismo mancham a imagem
do maior estádio de Cabo Frio (Fotos:
GloboEsporte.com)
- A situação aqui está de mal a pior, entende. Como torcedor organizado, fico indignado com o pouco caso feito, com um time da elite do Carioca, de expressão de Cabo Frio, pioneiro no futebol da Região dos Lagos, semifinalista do estadual em 2014. A situação do clube não anda nada boa, mas a do estádio anda ainda pior. Só 520 pessoas que podem entrar, não recebe times grandes. Jogamos a Copa Rio para pode ganhar uma vaga na Copa do Brasil. Mas eu te pergunto, para que Copa do Brasil se for pegar um São Paulo, um Corinthians e a gente não pode jogar aqui e ter que levar (o jogo) para Macaé? O negócio está largado aí. O único campo profissional da cidade tem qualquer tipo de evento, qualquer marcação de pelada, está largado - esbravejou.
De fato, o estádio não recebe uma partida de apelo há tempos. A última vez foi em 2009, quando a Cabofriense foi derrotada por 4 a 0 pelo Botafogo, pela Taça Rio - na época, arquibancadas provisórias foram instaladas para suportar o público. De lá para cá, a prefeitura não conseguiu mais obter os laudos necessários, e a capacidade tem sido de pouco mais de 500 torcedores desde então. Segundo o site da federação, a capacidade máxima do Correão é de 10 mil pessoas.
No ano passado, o poder público investiu R$ 600 mil em obras no estádio com o propósito maior de receber os jogos contra os chamados grandes pelo estadual. No entanto, o Corpo de Bombeiros enxergou falhas no sistema de combate a incêndio, e o local permaneceu com capacidade mínima. O prefeito Alair Corrêa, inclusive, reconheceu que o esforço acabou sendo em vão. Eliminada precocemente da Copa Rio, a Cabofriense encerrou as atividades da temporada e ainda não definiu uma data para reapresentação.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/rj/serra-lagos-norte/noticia/2015/11/drogas-e-medo-entra-quem-quer-no-abandonado-estadio-alair-correa-veja.html
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