terça-feira, 5 de maio de 2015

Crise na CBFS e boicote de jogadores: seleção completa 170 dias sem jogar

A um ano e quatro meses do Mundial, selecionado canarinho está sem comando técnico e nenhuma previsão de estreia na temporada: "É triste o momento", diz Falcão


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Rio de Janeiro


No dia 16 de novembro de 2014, o Brasil venceu a Colômbia por 7 a 2 e conquistou o seu oitavo título do Grand Prix de Futsal. A partida realizada em São Bernardo do Campo (SP) foi o último compromisso da seleção brasileira, que completa, nesta terça-feira, incríveis 170 dias sem entrar em quadra. Para piorar a situação, o selecionado canarinho segue sem previsão de voltar a atuar, mesmo restando apenas um ano e quatro meses para o próximo Mundial, na Colômbia. Enquanto a Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) busca um nome para dirigir a equipe, um grupo de jogadores liderados por Falcão declarou boicote à atual administração. O grupo trabalha nos bastidores para que o futsal passe a ser gerido pela CBF.

Falcão Brasil Grand Prix Masculino de Futsal (Foto: Gaspar Nobrega / Foto&Grafia)
Falcão, na última partida da seleção, em novembro: 
170 dias sem jogos (Foto: Gaspar Nobrega 
/ Foto&Grafia)


- É triste o momento. As pessoas que estão ali (na CBFS) estão por birra, porque sabem que as coisas não vão acontecer e, se elas pensam no esporte como tanto falam, deveriam abrir mão e deixar as coisas ocorrerem de outra forma. Estamos a um ano do Mundial e torcemos para que esses problemas se resolvam o quanto antes para que façamos uma Eliminatória digna no ano que vem e que possamos ir para o Mundial - afirmou Falcão.

O estopim da crise aconteceu no início deste ano. Endividada e impedida de negociar contratos de patrocínio com estatais devido à reprovação de um dos seus balanços, a CBFS decidiu antecipar sua eleição presidencial para o fim de março, após cancelar a realização da Copa América, que seria o primeiro compromisso oficial da seleção em 2015. Revoltados com a administração da entidade, os principais jogadores do país resolveram lançar a candidatura do ex-atleta Nilton Romão, presidente da AABB-SP. Por conta de uma aliança entre o oposicionista Marcos Madeira e a situacionista Louise Bedé, Romão teve a sua candidatura inviabilizada, o que culminou na eleição de Madeira e na consequente revolta dos jogadores.

- Eles estão brigando por um poder que não existe, querem a CBFS pelo poder e pela seleção brasileira. Possivelmente não vai haver seleção brasileira. Estamos bem fechados quanto a isso. Os clubes não irão liberar jogadores e nós iremos tentar de todas as formas, via CBF, de puxar a seleção de alguma forma. Se não tiver jeito, vamos deixar eles se enforcarem até o fim - comentou o craque antes da eleição à presidência da CBFS.

Marcos Madeira Marco Polo Del Nero Weber Magalhães CBF (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
Del Nero entre Marcos Madeira (à esq.) e Weber 
Magalhães: briga de bastidores (Foto: 
Rafael Ribeiro/CBF)


As palavras do camisa 12 tiveram eco no comando da seleção. Técnico do selecionado canarinho desde o meio do ano passado, Serginho Schiochet entregou o cargo em março, acompanhado por toda a sua comissão técnica. Supervisor de seleções da CBFS e grande interlocutor entre atletas e dirigentes, Reinaldo Simões também pediu demissão, alegando compromisso com os jogadores e falta de clima para trabalhar.

- Essa aliança não tem cabimento algum. Não podemos apoiar isso, pois o Madeira sempre foi opositor e crítico ferrenho à atual diretoria e, de uma hora para outra, resolve compor uma chapa com pessoas que já estão lá. Isso é um retrocesso muito grande. Coloquei o meu cargo à disposição e todos os demais membros da comissão técnica resolveram tomar o mesmo caminho. Não há clima para se trabalhar dessa forma - afirmou Reinaldo na ocasião da aproximação entre Marcos Madeira e Louise Bedé, então vice-presidente do antigo mandatário, Renan Tavares.

Falcão e seus pares se aproximaram do atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, nos últimos meses. O intuito do camisa 12 é que entidade máxima do futebol brasileiro passe a ser a gestora da seleção do país, já que o item VIII do artigo 5º do seu estatuto permite a retomada do controle do futsal a qualquer momento. Del Nero foi empossado no último dia 16 de abril. Na ocasião, o dirigente negou que tenha sido procurado por jogadores e afirmou que a CBF está disposta apenas em "colaborar para apaziguar os ânimos". 


Segundo apurou o GloboEsporte.com, as conversas entre o grupo de Falcão e Del Nero estão estagnadas por conta da influência política do dirigente Weber Magalhães, atual vice-presidente geral da CBFS.  Ex-vice-presidente da CBF para a Região Centro-Oeste, Weber tem boa relação com a diretoria da entidade máxima do futebol e tem usado o seu prestígio junto a Del Nero para que o futsal não passe para as mãos da CBF.

A seleção brasileira está sem patrocinador master desde o fim de 2013, quando os Correios optaram por não renovar o contrato. O motivo é a reprovação do balanço da CBFS referente ao período entre novembro de 2012 e dezembro de 2013. Desde então, o máximo que a Confederação conseguiu foi fechar patrocínios pontuais para os eventos que a seleção disputou em 2014, como o amistoso contra a Argentina no Mané Garrincha, e o Grand Prix de Futsal. Um dos trunfos de Falcão para que o futsal passe para as mãos da CBF, é um contrato de patrocínio para a seleção apalavrado com a montadora GM/Chevrolet. 


madeira não consegue formar comissão técnica

Com um mês completado à frente da CBFS na última sexta-feira, Marcos Madeira ainda não conseguiu formar uma comissão técnica para dirigir a seleção. Segundo o dirigente, seus primeiros dias de trabalho têm sido voltados para as questões financeiras da entidade, que tem dívidas milionárias, oriundas das últimas administrações.

PC Oliveira técnico futsal (Foto: Divulgação)
PC Oliveira era o sonho da CBFS para o 
comando da seleção (Foto: Divulgação)


- Encontramos a Confederação totalmente desorganizada, sem caixa nenhum e com débito enorme. Nesse período, apesar de ter sido curto, deu para fazer bastante coisa em termos de organização. Tivemos que enxugar bastante em termos de pessoal e outros gastos, mas já estamos enxergando uma luz no fim do túnel. Já admitimos um gerente administrativo de alta capacidade, um diretor de marketing e já está com projetos encaminhados. Estamos em conversações bastante encaminhadas em termos de patrocínio e tenho certeza que dentro de 30-45 dias já teremos patrocinadores para o futsal brasileiro - afirmou Madeira, em matéria publicada no site oficial da entidade.

Segundo apurou o GloboEsporte.com, o sonho de Madeira para o comando da seleção era o técnico PC Oliveira, campeão mundial em 2008. Desligado recentemente do Sorocaba, o treinador foi um dos profissionais procurados pelo presidente da CBFS na última semana. O convite, no entanto, não foi aceito. Outro nome ventilado foi o de Ney Pereira, que dirigiu o time verde-amarelo entre o início de 2013 e o meio do ano passado. Procurados pelo GloboEsporte.com, Madeira, Ney Pereira e PC não foram encontrados para comentar o assunto.

O Mundial de Futsal 2016 será entre 10 de setembro e 2 de outubro do ano que vem, nas cidades de Cali, Bucaramanga, Villavicencio e Ibagué, todas na Colômbia. A América do Sul tem direito a três vagas, além do país-sede. A Confederação Sul-Americana (Conmebol) ainda não divulgou a data e o local das Eliminatórias. A tendência é que o evento aconteça num dos três primeiros meses de 2016.

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