Após noite difícil, levantadora faz esforço para não mostrar fraqueza para companheiras e adversárias, se isola ouvindo música, controla o choro e distribui carinho após título
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Na escuridão do quarto do hotel, a sensação era a de ouvir a mesma música por horas. Daquelas que despertavam os sentimentos que Fofão queria dominar. A cabeça insistia em fazê-la pensar no último jogo de Superliga da carreira e no Osasco. Noite longa, difícil, solitária. Na manhã seguinte, entrou no ônibus fingindo a tranquilidade habitual. Precisava "fazer cara de que está tudo bem". Era ponto de honra não mostrar fraqueza para as companheiras, muito menos para as adversárias. Minutos antes, uma van com 15 pessoas e outros quatro carros lotados chegavam na Arena da Barra. A caravana partiu cedo da porta de sua casa, no bairro do Flamengo, cheia de familiares e amigos. Fizeram questão de esperá-la na porta do ginásio só para desejar boa sorte. Receberam um sorriso e nada mais. Fofão já estava concentrada para enfrentar o momento diferente.
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No vestiário seguiu o seu ritual para entrar no que chama de "bolha de isolamento". Sentada, com fones no ouvido, fitava cada jogadora em silêncio. O jogo começava para ela ali. Sentia como estava cada uma, o que precisaria falar ou fazer para motivar cada uma em quadra. As músicas haviam sido selecionadas e colocadas no ipod por uma amiga. "Não sou boa com essas coisas de tecnologia". Já estava no clima do jogo e pronta para dar de cara com a arquibancada, vestida em sua grande maioria com a camisa 7 que defende. A distribuição foi feita pelo Rio de Janeiro em homenagem a sua levantadora que, por precaução, foi previamente avisada. Não precisava da surpresa para aumentar a ansiedade. Era hora de enfrentar o primeiro obstáculo. Equipe anunciada, lá estava a capitã entrando em cena correndo, puxando a fila. Se o semblante era fechado, as mãos mostravam o que sentia.
Voltou-se para Gabi e bateu no peito, na altura do coração.
Fofão durante aquecimento (Foto: Danielle Rocha)
Um levantamento feito na medida e finalizado com perfeição por Natália provocou seu primeiro momento de comemoração na partida. Dali em diante, a tranquilidade foi voltando ao rosto. O Rio de Janeiro não dava espaços para o Osasco. Fofão usava todo o seu repertório, o bloqueio estava bem montado, Natália e Gabi estavam afinadas e o adversário não reagia. Com o placar marcando 18/11, ela foi chamada para o banco. De lá, aplaudiu a distribuição feita por Roberta e ainda conversava um pouco. Ganhou um beijo no braço do fisioterapeuta Guilherme Tenius, o Fiapo. Os dois tiveram um trabalho intenso nesta temporada para que as panturrilhas e os tendões de Aquiles não a impedissem de cumprir seu objetivo. Fofão cuidou da parte física como nunca antes.
- Ela não teve nenhuma lesão séria nesta temporada. Sentia um pouco de dor em alguns períodos, mas emagreceu quase 5kg nos últimos dois meses e, mais leve, ajudou no processo. A gente segurava ela em alguns treinos e sempre era mandada para o balde de gelo. Fofão chegou zerada a esta decisão - comemorava Fiapo.
Sem dores e doida pelo título. Tinha pressa. No segundo set, foi a primeira a se colocar na linha lateral da quadra. Queria jogo. Fazia segredo na rede, colocando a mão na frente da boca para combinar o que seria feito. Reclamava com o árbitro, levava a melhor e caminhava a passos firmes para o saque. Numa jogada que começou toda errada e terminou com uma pancada de Gabi, reservou um afago na cabeça e um beijo para a jovem ponteira. A equipe comandava o placar (15/12). O 2 a 0 estava próximo. Bernardinho promoveu a inversão e a campeã olímpica ia novamente para o banco (24/21). Ficou só um ataque fora. Mas a parcial foi para o bolso.
Parte da caravana com parentes, amigos e o
marido (de camisa preta) de Fofão
(Foto: Arquivo pessoal)
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marido chora
- Chorei com ela aqui na grade. Quem poderia imaginar que ela teria uma carreira tão longa, que aos 45 anos seria campeã no maior campeonato do país pela quinta vez? Quem poderia imaginar que depois de ficar no banco por tantos anos fosse ganhar um ouro olímpico? Ela foi a cinco Olimpíadas, ganhou três medalhas... Eu me lembro das noites em que dormia e fazia gestos de defesa quando sonhava com Bernardinho atacando bolas em cima dela nos treinos (risos). Não tinha como alguém, lá no começo, dizer que ela escreveria essa bonita história - disse João Marcio.
Ao longe, ele avistou a mulher, sorridente. Fofão estava descontraída, sempre ladeada por Fabi.
A dona da festa organizava o posicionamento de Fabiana, central do Sesi-SP, no terceiro degrau do pódio. Riram um bocado durante a cerimônia de premiação. Posou para fotos e quando se deu conta, estava com uma coroa de cartolina na cabeça. Tratou logo de tirá-la, arrancando gargalhadas das companheiras. Antes de ser eleita a melhor jogadora da final (recebeu o prêmio das mãos de Emanuel e o reverenciou) e de erguer a taça referente ao 10º título da equipe, Fofão foi homenageada pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). A placa e as flores foram dadas pela mãe. Minutos após o momento de emoção, chamou Regiane e lhe ofereceu o buquê.
Companheiras se uniram para dar a despedida
que Fofão merecia (Foto:
Alexandre Arruda/CBV)
Com as mãos imitando o formato de um coração, a capitã agradecia a torcida que levou faixas, gritou seu nome e apoiou o time. O dever havia sido cumprido. Mas ainda falta um compromisso antes do adeus, antes de ser ex-Fofão e passar a atender por dona Helia, como brinca: a disputa do Mundial de Clubes, na Suíça. Terça-feira é dia de treino.
FONTE:
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