Após mudança no sistema do ranking feminino, ponteira teme ficar fora de mais uma temporada e vê risco de perder as Olimpíadas: "É uma briga de clube mesmo, é ego"
- Não tenho opção. O Murilo tem mais um ano de contrato com o Sesi-SP. Eu não tenho direito de escolher para onde ir. Estou fazendo o que as pessoas querem que eu faça: ou ir embora do Brasil ou ficar mais um ano parada. Ficando mais um ano parada, como eu vou voltar? Eu já tenho 30 anos. Não é que eu vou me aposentar. Quero fazer o que eu gosto, que é jogar vôlei, mas a opção que eu tenho é essa. Parar eu não quero - disse Jaqueline.
Jaqueline sofre ao pensar que pode
ficar mais uma temporada parada
(Foto: Marcos Ribolli)
- Nós temos opções, mas não queremos por exemplo que eu jogue no Brasil e a Jaque vá morar na Turquia. É uma escolha muito difícil. Vai ficar mais uma temporada parada ou vamos ficar distantes? É algo que vamos ter de decidir nas próximas semanas. Ela está sofrendo muito por causa disso. Construímos a vida em São Paulo, tínhamos planos, e as coisas estão ficando difíceis por causa disso. Vai dar um jeito - disse Murilo.
“Briga de clube”
- Hoje, o Sesi tem duas de sete pontos (Dani Lins e Fabiana), o Osasco tem duas e o Campinas também (Natália e Tandara). Só o Rio de Janeiro que poderia abrigar as outras duas, que são a Jaqueline e a Fernanda Garay (a ponteira está no vôlei turco). Para entrar em um time de São Paulo, ela precisaria de uma rotação ou de um patrocinador para investir em outras equipes. Não é a realidade no momento de hoje. Na minha opinião, ficou muito ruim para as jogadoras de sete pontos no feminino. Vamos torcer para mais patrocinadores aumentem o investimento nos times, porque temos quatro times para oito atletas, sendo que duas estão fora no momento. É o momento para valorizar as campeãs olímpicas e fazer com que elas fiquem no Brasil.
Acho que estamos fazendo o caminho inverso - opinou Murilo, que ressaltou o fato de estrangeiras não serem pontuadas até a temporada 2013/14 e valerem cinco pontos a partir da próxima competição.
Jaqueline e Murilo descartam morar
afastados poucos meses depois do
nascimento do filho Arthur (Foto:
Marcos Ribolli)
É briga de clube mesmo, é ego. O jogador que acaba
se prejudicando.
Jaqueline
- Esse ranking só atrapalha nossas vidas, dos jogadores. Parece que somos mais valorizadas lá fora do que aqui no Brasil. É isso que estou sentindo agora. Tenho propostas de times do exterior, mas eu não quero deixar minha família. É briga de clube mesmo, é ego. O jogador que acaba se prejudicando. Infelizmente, os atletas não têm direito de opinar. Nós, que fazemos o espetáculo, não temos direito a isso.
Depois de saber da mudança, Jaqueline ainda tentou uma reavaliação da sua pontuação, já que cirurgias são avaliadas caso a caso. Ele enviou cartas aos clubes explicando a situação, mas apenas um time considerou que o parto cesariano merecia um decréscimo de um ponto para a bicampeã olímpica.
- É uma cirurgia muito delicada. Você não sabe bem como está por dentro. É complicado. Estamos buscando tanto isso, e chega uma hora que cansa, que eu falo: “amor, não adianta, não vão mudar”. Ninguém entendeu meu lado - lamentou Jaqueline.
De olho no retorno e no Mundial
Jaqueline: dias de angústia com a indefinição sobre seu futuro no vôlei (Foto: Marcos Ribolli)
- O que eu posso fazer no momento é a parte física. O que estou mantendo é isso. Não posso treinar, porque os times estão em final de temporada, então é complicado. Eu poderia estar treinando antes, mas muitas coisas aconteceram, e eu preferi ficar fora agora, baixar a poeira para pensar no que vai acontecer comigo.
Há um ano sem jogar, a saudade só cresce. Ver os jogos do Osasco a faz sentir mais vontade de soltar o braço em pancadas precisas. Até torcer pelo marido mexe com Jaqueline.
- No jogo do Murilo (a final da Superliga Masculina), eu não parava de chorar. Primeiro pela emoção de ver o filho no pódio com o pai (o Sesi foi prata ao perder do Cruzeiro), que era o sonho dele, e também pela vontade de estar em uma final. Em todos esses anos eu participei de finais da Superliga. Ver os jogos das meninas é complicado. É a única coisa que eu sei fazer muito bem, é o que eu amo. É difícil, mas tenho de conviver com isso.
Sem saber em qual clube atuará na próxima temporada, Jaqueline se apega à esperança de voltar a defender a seleção brasileira. A equipe bicampeã olímpica vai se juntar no CT de Saquarema nos próximos meses para a preparação de olho no principal objetivo do ano: a conquista inédita do Mundial, que este ano será realizado na Itália, entre 23 de setembro e 12 de outubro.
Bicampeã olímpica, Jaqueline tem esperança de jogar o Mundial da Itália (Foto: Reuters)
Se for convocada, Jaqueline confia que pode entrar no ritmo rapidamente para brigar por uma vaga no time com Fernanda Garay, Natália, Gabi e outras ponteiras.
- Eu tenho esperança de jogar o Mundial. Se eu for convocada, vou querer disputar com as meninas. Eu não sei como vou voltar, mas estou fazendo o possível para me manter em forma e disputar uma vaguinha.
Rio 2016 em risco
- Com certeza essa situação me atrapalha para as Olimpíadas. Como eu vou pensar em 2016 se eu não consigo jogar? Não tem condições. Como o Zé Roberto vai me convocar se eu não vou jogar a Superliga? Esse ano ele pode ter o motivo de não me levar por causa da gravidez, mas e o ano que vem? Qual vai ser a “desculpa”? Não tem como pensar em Olimpíadas.
Não está claro o futuro de Jaqueline, mas, com o apoio de Murilo e de Arthur, ela mantém a esperança.
- Vamos ver no que vai dar. Vou lutar até o fim.
Para dar à luz Arthur, Jaqueline ficou
fora da temporada 2013/14 (Foto:
Marcos Ribolli)
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2014/04/longe-da-superliga-e-da-selecao-jaqueline-chora-pela-volta-quadras.html
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