sexta-feira, 7 de março de 2014

Criador da cavadinha conta origem do chute: 'Aposta por cerveja e chocolate'

Ex-jogador tcheco, Antonin Panenka vai torcer pelo Brasil na Copa e diz que inventou cobrança como uma forma de superar goleiro companheiro de clube

Por Praga, República Tcheca

A pressão estava toda sobre Antonin Panenka no dia 20 de junho de 1976, no estádio Marakana, em Belgrado, na antiga Iugoslávia. O alemão Uli Hoeness havia desperdiçado sua cobrança de pênalti, e cabia ao meia tchecoslovaco a missão de converter seu chute, confirmar a vitória por 5 a 3 e dar o primeiro título da Eurocopa a seu país. Pois Panenka não se importou com a responsabilidade: correu rápido, como se fosse soltar uma bomba, mas, no último momento, deu apenas um toque sutil na bola, que caiu suavemente no fundo da rede, no meio do gol, enquanto o goleiro Sepp Maier ia para o lado esquerdo. Naquele momento, nascia um novo estilo de bater pênaltis. 

Antonin Panenka penalti cavadinha Eurocopa 1976 (Foto: Reprodução)
Momento histórico: Panenka cobra pênalti de 
cavadinha na final da Euro de 1976 contra a 
Alemanha (Foto: Reprodução)


No Brasil, a cobrança ficou conhecida como cavadinha, mas, na Europa, o chute leva o nome de seu criador, de forma merecida. Naquele toque simples, Panenka desafiou convenções e também se arriscou: afinal, a Tchecoslováquia vivia sob uma ditadura comunista, e o futebol tinha seu papel como ferramenta de propaganda do regime. Um possível erro poderia colocar a carreira do meio-campista em risco, mas ele garante que não se importou. 



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- Não tive medo. Eu tinha 1000% de certeza de que marcaria o gol. Ninguém estava esperando que eu batesse o pênalti daquele jeito - contou Panenka ao GloboEsporte.com, durante evento do Tour da Taça em Praga, na República Tcheca.

Tanta confiança não era apenas questão de autoestima. Antes de "estrear" a cavadinha, Panenka treinou duro para aperfeiçoar o chute. A princípio, porém, a razão era uma simples aposta com o goleiro Zdenek Hruska, seu companheiro no Bohemians, time da cidade de Praga.

- Eu estava deitado e comecei a pensar num jeito de surpreender os goleiros. Após cada treino, eu permanecia em campo com os goleiros e fazia apostas, tentando fazer gols em cobranças de falta e pênalti. O vencedor ganhava cerveja ou chocolate. Eu estava perdendo estas apostas, então comecei a pensar numa forma de vencer. Treinei durante dois anos antes de bater aquele pênalti na final da Eurocopa - relatou. 


Antonin Panenka Tour da Taça (Foto: Felipe Schmidt)
Antonin Panenka posa ao lado da taça da Copa 
do Mundo de 2014 em evento em Praga 
 (Foto: Felipe Schmidt)

Apesar de ter ficado famoso por causa do pênalti, Panenka teve uma carreira de destaque. Atuou durante quase toda sua carreira no Bohemians e só deixou a Tchescolováquia aos 28 anos, quando, pela regra do país, um jogador de futebol estava liberado para atuar no exterior. O meia foi para o Rapid Viena, da Áustria, onde também virou ídolo. 


Totti, o melhor 'discípulo'
Hoje, Panenka é presidente do Bohemians. Mas seu legado não para por aí: ele virou nome de revista esportiva na Espanha e, claro, é constantemente lembrado sempre que um grande craque o homenageia numa cavadinha. Entre todos, para ele, quem bate melhor é Totti, do Roma. 

Panenka cavadinha 1976 (Foto: Reprodução)Panenka depois do gol de cavadinha quando conquistou a Eurocopa em 76 (Foto: Reprodução)

- Muitos jogadores já tentaram o chute. Zidane, Totti, Ibrahimovic, Sergio Ramos, Pirlo... Mas também já vi muitos errarem. Para mim, quem bate melhor é Totti.

No Brasil, nomes como Djalminha e Loco Abreu ficaram famosos pela cobrança, enquanto Maicosuel e, mais recentemente, Alexandre Pato erraram e foram criticados por suposta falta de responsabilidade. Para Panenka, porém, usar a cavadinha é, na verdade, o oposto: resultado de muita disciplina.

- Para bater bem você precisa de uma longa preparação, treinar bastante. É preciso ter 1000% de certeza de que vai marcar. Não se pode subestimar o goleiro. A base do sucesso é o corpo, o movimento, a corrida. É preciso convencer o goleiro de que você vai jogar a bola em algum lado - ensinou Panenka. 


Torcida pelo brasil
Na última Copa do Mundo, Loco Abreu se destacou com uma cavadinha na disputa de pênaltis entre Uruguai e Gana nas quartas de final. Em 2006, Zidane marcou desta forma na final contra a Itália. Panenka, agora, espera uma reedição no Mundial do Brasil.

- Ah, sempre fico muito feliz. Gosto muito quando os jogadores tentam este tipo de pênalti. 


Antonin Panenka Tour da Taça (Foto: Felipe Schmidt)
O ex-meia tchecoslovaco torce para que o Brasil 
seja novamente campeão mundial: 'Sou fã' (Foto: 
Felipe Schmidt)


Para a Copa de 2014, Panenka revelou estar na torcida pelo Brasil. Entretanto, adverte que não será fácil conquistar a competição em casa.

- Eu sou um grande fã do Brasil. Acho que a Seleção vai chegar na semifinal, provavelmente junto com Argentina, Espanha e Alemanha. Torço para o Brasil, mas vai ser difícil, porque o time joga em casa e terá uma grande pressão.

Não que pressão seja problema para Panenka. Quem sabe o Brasil não vence a Copa com uma cavadinha de Neymar?

- Primeiro de tudo, alguém tem que cair na área para haver o pênalti - brincou o ex-jogador. 



FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2014/03/criador-da-cavadinha-conta-origem-do-chute-aposta-por-cerveja-e-chocolate.html

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