segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Luta, transpira e vence: um Criciúma com caretas e facetas de Argel Fucks

Última aposta do Tigre, e certeira, o treinador identificado com o clube faz jogadores acreditarem e suarem a camisa tricolor até a permanência na primeira divisão

Por Criciúma, SC

Presidente do Criciúma, Antenor Angeloni tem em sua rotina diária o jogo de cartas com amigos ao final do dia. O empresário bem sucedido nos negócios aprendeu ao longo da vida que há momentos para apostar. No clube que comanda, resolveu dar uma cartada para tentar fazer com que o clube conseguisse ficar na primeira divisão por pelo menos mais um ano. Na manga de Antenor, um às: Argel Fucks. As fichas foram bem empregadas no treinador. O Tigre conseguiu na última rodada se garantir na Série A do Campeonato Brasileiro.

Argel Fucks Criciúma técnico (Foto: João Lucas Cardoso) 
Alegria diante da torcida do time que chama com 
intimidade, o 'Tigrão' (Foto: João Lucas Cardoso)

Gaúcho de Santa Rosa, Argel desembarcou no Criciúma dando choque. A agitação que faz o semblante de Argel alternar caretas foi transformada por jogadores em espírito de guerra. A mensagem era clara: para alcançar as necessárias vitórias, era preciso correr atrás delas bem antes dos próximos 90 minutos. Era necessário suar na véspera para depois deixar a pele em campo, como diz o comandante. A transpiração suplantou a inspiração, exigência mínima do técnico.


- Foi a palavrinha trabalho. Não que outros não estavam trabalhando, mas a intensidade dele, a cobrança que exerce é maior. Você é cobrado de uma forma mais rígida e tem que trabalhar de forma semelhante ao de antes. Quando você é mais cobrado e exigido, você acaba rendendo melhor. Nosso time conseguiu uma forma de jogar e nesta forma para reagir e conseguimos – exemplifica o atacante Wellington Paulista, um dos protagonistas na arrancada do Criciúma na reta final de Brasileirão.

Argel vestiu o boné quando o Criciúma tinha 13 rodadas pela frente e parecia enterrado na zona de rebaixamento. O pouco tempo até o fechamento da janela de transferências e com o esgotamento da cota de cinco contratações de jogadores oriundos da mesma divisão, o treinador puxou ao elenco apenas um nome de confiança, o meia Ricardinho, que era pouco aproveitado no Joinville. Para seguir, tinha que fazer com o que tinha em mãos pudesse render. O discurso motivacional seria certeiro.

Argel Fucks Criciúma  (Foto:  João Lucas Cardoso) 
Agitado, pensativo, preocupado e sorridente: 
Argel Fucks no comando do Tigre (Fotos: 
João Lucas Cardoso)


























- Ele sempre, que conversa conosco, procura falar que quando foi contratado sabia da qualidade do grupo de jogadores. Chegaram a comentar sobre contratações quando ele chegou, mas ele falou para gente que tinha jogadores capacitados e que não haviam desenvolvido o futebol que o clube esperava. Ele procurou conversar com cada um de nós e a equipe atendeu o que ele pediu. Deu tudo certo – resume o lateral-esquerdo Marlon.  
 
ESTADO DE Choque
Já se passava das 18h daquela terça-feira. A chuva fina deixava a noite ainda mais gelada em Criciúma. O tempo e dia que antecedia a partida com o Atlético-MG, antecipada da 25ª rodada, faziam crer que o último treinamento seria leve no Heriberto Hülse. Não com Argel Fucks. Do meio de campo, bastaram duas triladas de apito e a ordem para que os jogadores fossem ao se encontro com celeridade para apresentar seu estilo e decretar o chacoalhão no Criciúma.
 
Me chacoalhou de uma forma diferente reconhece Sueliton
 Caras, bocas e caretas estiveram no repertório do treinador nos últimos dois meses. Pode ser considerado normal pelo estilo e pela pressão que havia sobre seus ombros, e da forma que gosta. Argel é daqueles que acredita que as conquistas regadas ao sofrimento tem muito mais valor. O lateral-direito Sueliton deve comungar da mesma ideia a partir do trabalho desenvolvido como comandando do gaúcho. Até porque mostraria evolução ainda maior a partir de uma dura no comandante. O treinador chegou a fazê-lo chorar no vestiário do Heriberto Hülse. Mas o efeito seria benéfico. Com aquela ação, somada à superação da leucemia por sua mãe, um Sueliton vigoroso desabrochou para ser peça importante na arrancada para deixar o rebaixamento para trás.

- Acho que o Criciúma acertou em cheio em trazê-lo. Foi ele quem sacudiu todos os jogadores. Particularmente, ele me pegou e me chacoalhou de uma forma diferente. Até então, ele não sabia do ocorrido com minha mãe e me sacudiu de uma forma incrível. Depois disso me liberou para colocar as ideias em dia. Graças ao Argel e a comissão técnica, que nos influencia a pensar positivo, pudemos acreditar no sonho de conquistar a permanência na primeira divisão. Houve uma união do grupo. Ele fez uma família com um astral muito bom. Espero poder ter profissionais ao lado como temos aqui no Criciúma – conta o pernambucano.  

Bate até virar
Teimosia não, insistência. Para o gaúcho de 39 anos, futebol é repetição e trabalho, muito trabalho. Enquanto seguia um cronograma quase definido, com treino coletivo dois dias antes do jogo e ajustes na véspera, incutia nos jogadores o espírito guerreiro que tinha nos tempos de zagueiro. Como nas entrevistas coletivas pré-jogo, em que não cansava dizer aos jornalistas que o confronto seguinte era o mais importante de todos, que aquela era a real final da competição, também repetia aos comandados que era preciso entrarem campo para lutar pela vida, e não apenas por um resultado.
 
Argel Fucks Criciúma técnico (Foto: João Lucas Cardoso)Teimosia, não. Argel é insistente. Assim, o Tigre mudou seu destino (Foto: João Lucas Cardoso)
 
As primeiras oito rodadas, após pouco mais de um mês no clube, serviriam para deixar claro aos atletas o que queria. Com ideais bem afinados, o time passava a retratar a personalidade do treinador, incansável até que escutasse o apito final. O Criciúma jogou com a disposição que o Argel jogava. Teve o sentimento de triunfo que ele teve quando ele encerrou a carreira de jogador profissional, em 2007.

- O Argel tem uma personalidade muito forte. Ele chegou impactando o grupo com esta vontade de vencer, esta gana. Os jogadores compraram a ideia dele, conseguimos assimilar, teve o encaixe de time com o treinador. Nem sempre tem isso. Em alguns jogos fomos bem e perdemos e ele falava sempre que havíamos achado a fórmula de jogar. A gente, naquela batida, mesmo com os resultados não acontecendo, ele dizia a mesma coisa. Tanto que virou. Batemos até virar e ficamos seis jogos invictos (quatro vitórias e dois empates) até a última rodada. O time cresceu na hora certa. O fator principal é a garra que ele pede em campo. A gente pode até perder, mas temos que pintar a cara, como ele diz. Deu este casamento, de time com o treinador.

Opinião ratificada pelo meia Ricardinho. O jogador indicado pelo treinador para trocar o Joinville pelo Criciúma demonstra que o fator agregador do gaúcho é uma das marcas do comandante.
 
- O que ele faz é puxar todos os jogadores para o mesmo lado. Ele conseguiu fazer isso no Criciúma, todo o elenco pensava da mesma forma. Não houve vaidades, apenas todo o esforço voltado ao clube. Isso faz diferença.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/criciuma/noticia/2013/12/luta-transpira-e-vence-um-criciuma-com-caretas-e-facetas-de-argel-fucks.html

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