Última aposta do Tigre, e certeira, o treinador identificado com o clube faz jogadores acreditarem e suarem a camisa tricolor até a permanência na primeira divisão
Presidente do Criciúma, Antenor Angeloni tem em sua rotina
diária o jogo de cartas com amigos ao final do dia. O empresário bem sucedido
nos negócios aprendeu ao longo da vida que há momentos para apostar. No clube
que comanda, resolveu dar uma cartada para tentar fazer com que o clube
conseguisse ficar na primeira divisão por pelo menos mais um ano. Na manga de
Antenor, um às: Argel Fucks. As fichas foram bem empregadas no treinador. O
Tigre conseguiu na última rodada se garantir na Série A do Campeonato Brasileiro.
Alegria diante da torcida do time que chama com
intimidade, o 'Tigrão' (Foto: João Lucas Cardoso)
Gaúcho de Santa Rosa, Argel desembarcou no Criciúma dando
choque. A agitação que faz o semblante de Argel alternar caretas foi
transformada por jogadores em espírito de guerra. A mensagem era clara: para
alcançar as necessárias vitórias, era preciso correr atrás delas bem antes dos
próximos 90 minutos. Era necessário suar na véspera para depois deixar a pele
em campo, como diz o comandante. A transpiração suplantou a inspiração,
exigência mínima do técnico.
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- Foi a palavrinha trabalho. Não que outros não estavam
trabalhando, mas a intensidade dele, a cobrança que exerce é maior. Você é
cobrado de uma forma mais rígida e tem que trabalhar de forma semelhante ao de
antes. Quando você é mais cobrado e exigido, você acaba rendendo melhor. Nosso
time conseguiu uma forma de jogar e nesta forma para reagir e conseguimos –
exemplifica o atacante Wellington Paulista, um dos protagonistas na arrancada
do Criciúma na reta final de Brasileirão.
Argel vestiu o boné quando o Criciúma tinha 13 rodadas pela
frente e parecia enterrado na zona de rebaixamento. O pouco tempo até o
fechamento da janela de transferências e com o esgotamento da cota de cinco
contratações de jogadores oriundos da mesma divisão, o treinador puxou ao
elenco apenas um nome de confiança, o meia Ricardinho, que era pouco
aproveitado no Joinville. Para seguir, tinha que fazer com o que tinha em mãos
pudesse render. O discurso motivacional seria certeiro.
Agitado, pensativo, preocupado e sorridente:
Argel Fucks no comando do Tigre (Fotos:
João Lucas Cardoso)
- Ele sempre, que conversa conosco, procura falar que quando foi contratado sabia da qualidade do grupo de jogadores. Chegaram a comentar sobre contratações quando ele chegou, mas ele falou para gente que tinha jogadores capacitados e que não haviam desenvolvido o futebol que o clube esperava. Ele procurou conversar com cada um de nós e a equipe atendeu o que ele pediu. Deu tudo certo – resume o lateral-esquerdo Marlon.
ESTADO DE Choque
Já se passava das 18h daquela terça-feira. A chuva fina
deixava a noite ainda mais gelada em Criciúma. O tempo e dia que antecedia a
partida com o Atlético-MG, antecipada da 25ª rodada, faziam crer que o último
treinamento seria leve no Heriberto Hülse. Não com Argel Fucks. Do meio de
campo, bastaram duas triladas de apito e a ordem para que os jogadores fossem
ao se encontro com celeridade para apresentar seu estilo e decretar o
chacoalhão no Criciúma.
Me chacoalhou de uma forma diferente reconhece Sueliton
- Acho que o Criciúma acertou em cheio em trazê-lo. Foi ele
quem sacudiu todos os jogadores. Particularmente, ele me pegou e me chacoalhou
de uma forma diferente. Até então, ele não sabia do ocorrido com minha mãe e me
sacudiu de uma forma incrível. Depois disso me liberou para colocar as ideias
em dia. Graças ao Argel e a comissão técnica, que nos influencia a pensar
positivo, pudemos acreditar no sonho de conquistar a permanência na primeira
divisão. Houve uma união do grupo. Ele fez uma família com um astral muito bom.
Espero poder ter profissionais ao lado como temos aqui no Criciúma – conta o
pernambucano.
Bate até virar
Teimosia não, insistência. Para o gaúcho de 39 anos, futebol
é repetição e trabalho, muito trabalho. Enquanto seguia um cronograma quase
definido, com treino coletivo dois dias antes do jogo e ajustes na véspera,
incutia nos jogadores o espírito guerreiro que tinha nos tempos de zagueiro.
Como nas entrevistas coletivas pré-jogo, em que não cansava dizer aos
jornalistas que o confronto seguinte era o mais importante de todos, que aquela
era a real final da competição, também repetia aos comandados que era preciso
entrarem campo para lutar pela vida, e não apenas por um resultado.
Teimosia, não. Argel é insistente. Assim, o Tigre mudou seu destino (Foto: João Lucas Cardoso)
As primeiras oito rodadas, após pouco mais de um mês no
clube, serviriam para deixar claro aos atletas o que queria. Com ideais bem
afinados, o time passava a retratar a personalidade do treinador, incansável
até que escutasse o apito final. O Criciúma jogou com a disposição que o Argel
jogava. Teve o sentimento de triunfo que ele teve quando ele encerrou a
carreira de jogador profissional, em 2007.
- O Argel tem uma personalidade muito forte. Ele chegou impactando
o grupo com esta vontade de vencer, esta gana. Os jogadores compraram a ideia
dele, conseguimos assimilar, teve o encaixe de time com o treinador. Nem sempre
tem isso. Em alguns jogos fomos bem e perdemos e ele falava sempre que havíamos
achado a fórmula de jogar. A gente, naquela batida, mesmo com os resultados não
acontecendo, ele dizia a mesma coisa. Tanto que virou. Batemos até virar e
ficamos seis jogos invictos (quatro vitórias e dois empates) até a última
rodada. O time cresceu na hora certa. O fator principal é a garra que ele pede
em campo. A gente pode até perder, mas temos que pintar a cara, como ele diz.
Deu este casamento, de time com o treinador.
Opinião ratificada pelo meia Ricardinho. O jogador indicado
pelo treinador para trocar o Joinville pelo Criciúma demonstra que o fator
agregador do gaúcho é uma das marcas do comandante.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/criciuma/noticia/2013/12/luta-transpira-e-vence-um-criciuma-com-caretas-e-facetas-de-argel-fucks.html
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