segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Má gestão, problemas internos, crise financeira: os motivos para a queda

Salários atrasados, influência política e saída de diversos titulares desde a eliminação da Libertadores, em 2012, demarcam caminho para a tragédia anunciada em campo

Por Rio de Janeiro

O segundo rebaixamento do Vasco em apenas cinco anos pode ser explicado através do acúmulo de problemas na segunda administração do presidente Roberto Dinamite. Crise financeira sem fim, falta de credibilidade no mercado e uma série de escolhas equivocadas - no âmbito administrativo e técnico - levaram o clube a perder jogadores de qualidade que formaram o time campeão da Copa do Brasil e vice do Brasileiro de 2011 em pouquíssimo tempo. 

A análise fria desta nova tragédia esportiva em São Januário leva, em sua origem, para o meio do ano de 2012. Quando o goleiro Cássio, do Corinthians, espalmou o chute de Diego Souza e, minutos depois, Paulinho eliminou o Vasco nas quartas de final da Libertadores, o trem-bala da Colina começou a desmoronar pouco a pouco. Um ano e meio depois, a goleada para o Atlético-PR atira o clube para a Série B e entristece milhões de torcedores.

O GloboEsporte.com lista abaixo os principais fatores que levaram o clube à nova queda para a Segundona. Sem rumo e com futuro ameaçado, a nau cruz-maltina vai para uma nova viagem pelo interior do Brasil e busca outro lema para reviver os dias de glória.

CRISE FINANCEIRA
Roberto Dinamite Cristiano Koehler Vasco Coletiva (Foto: Fred Huber) 
Roberto Dinamite e Cristiano Koehler não conseguiram
 contornar os problemas a tempo (Foto: Fred Huber)

O bloqueio das receitas por conta das dívidas com a Fazenda Nacional começou em agosto de 2012. Os reflexos foram sentidos imediatamente, mas tiveram efeito devastador ao longo desta temporada. Salários atrasados viraram regra em São Januário, deixando funcionários, jogadores e comissão técnica insatisfeitos - Paulo Autuori pediu demissão alegando que a diretoria não cumpriu a promessa de regularizar a situação. O fator extracampo foi assunto em entrevistas e reuniões de vestiário, tomando o lugar do foco absoluto para os jogos. Isso sem contar na falta de credibilidade no mercado para contratar bons reforços. No último mês de outubro, finalmente o acordo com o órgão do Governo foi assinado e livrou o clube da asfixia financeira. Tarde demais.

  
CONTRATAÇÕES EQUIVOCADAS
Renê Simões coletiva Vasco (Foto: Ivo Gonzalez / Agencia O Globo) 
Renê Simões viu as contratações fracassarem e, sem 
ambiente, acabou demitido (Foto: Ivo Gonzalez / 
Agencia O Globo)

Foram nada menos do que 23 caras novas chegando sem parar entre janeiro e outubro - quando Francismar, do Boa Esporte, assinou contrato. Poucos se firmaram, alguns foram embora antes do fim do campeonato, e o saldo negativo caiu, principalmente, na conta do ex-diretor René Simões, que foi anunciado no fim de 2012 para gerir o futebol do Vasco. Em meio à grave crise financeira, ele reforçou a equipe na base de troca-troca e com nomes quase sem expressão. O objetivo era reduzir despesas. Entre as escolhas mais contestadas estão o goleiro Michel Alves e o atacante Robinho, que veio como um agrado ao zagueiro Dedé, vendido semanas depois. Contestado e sem harmonia no dia a dia, René foi demitido, e Ricardo Gomes, que já trabalhava em conjunto, assumiu sua função. Os insucessos não pararam. Investimentos como Rafael Vaz e Montoya não vingaram, e André até fez gols, mas esteve às voltas com polêmicas por excesso na noite carioca. Terminaram como titulares: Fagner, Cris, Guiñazu, Pedro Ken e Edmílson.

TROCA DE TÉCNICOS
Montagem Vasco Gaúcho, Paulo Autuori, Dorival Júnior e Adilson Batista (Foto: Montagem sobre foto da Agência Estado) 
Gaúcho, Autuori, Dorival e Adilson foram os técnicos 
do ano da 2ª queda (Foto: Montagem sobre foto da 
Agência Estado)

O diretor de futebol Ricardo Gomes foi quem fez a análise: com quatro treinadores no comando do clube na temporada, ficou difícil para o time ter um rumo em 2013. O Vasco iniciou a temporada com uma tentativa caseira, Gaúcho, demitido ainda no Carioca. Depois, como esperança de fortalecimento, o badalado Paulo Autuori foi contratado. A campanha já não era boa, e o treinador saiu após a quebra da promessa de colocar salários em dia no meio do ano.
Comandante da campanha de retorno ao Vasco para a Primeira Divisão, em 2009, Dorival Júnior foi contratado. Ele orientou o time, em sua segunda passagem, por três meses e meio. O técnico deixou o clube na 18ª posição da tabela do Campeonato Brasileiro, na zona de rebaixamento, quando faltavam sete rodadas para o fim da competição. As constantes mexidas que fazia nos titulares incomodavam torcedores e dirigentes. O sistema defensivo jamais se acertou. O maior exemplo foi a rotação de Pedro Ken, que atuou nas quatro posições do meio de campo.

Adilson Batista foi a bola da vez já em novembro, em busca da salvação. Seu aproveitamento foi razoável, com três vitórias nas seis primeiras rodadas. Em nova filosofia, ele optou por esquemas táticos cautelosos, utilizando três zagueiros e três volantes. A equipe mostrou mais consistência e se apoiou ofensivamente na fase de Marlone e Edmílson. O desfecho com a goleada sofrida para o Atlético-PR, no entanto, freou a arrancada e impediu que o Vasco atingisse seu objetivo.

GOLEIROS

Em 2013, o Vasco viveu um intenso rodízio no gol, que só trouxe insegurança e ansiedade para os arqueiros cruz-maltinos Michel Alves, Diogo Silva e Alessandro, de estilos e origens distintas. O último começou - e terminou - o ano como titular, mas perdeu a vaga para Michel Alves depois de 15 jogos. No Brasileiro, a princípio houve a manutenção. Seis rodadas depois, porém, ele já dava lugar a Diogo Silva, beneficiado com a chegada de Dorival Júnior. Foram 15 rodadas como titular, até que uma trapalhada contra o São Paulo, seguida de queixa a respeito do comportamento da torcida, forçou nova mudança. Mas Michel Alves ficou apenas dois jogos no posto novamente, e Diogo Silva voltou. Só que outras duas falhas contra o Botafogo fizeram o técnico retornar com Alessandro, que permaneceu no gol até o fim da competição nacional.

Foram pelo menos dez pontos perdidos no Brasileirão por causa das falhas de goleiros. Diogo Silva ocupou a meta vascaína em 22 ocasiões, tendo sofrido 22 gols. Já Michel Alves foi titular em oito jogos e foi vazado 17 vezes. Alessandro, por sua vez, buscou a bola no fundo da rede em 12 oportunidades em oito partidas. No total, o Vasco sofreu 61 gols no Brasileirão, tendo a terceira pior defesa da competição, atrás apenas do lanterna Náutico (79) e do Criciúma (63).

SAÍDA DE JOGADORES


Fernando Prass, Fagner, Renato Silva, Rodolfo e Thiago Feltri (Felipe); Nilton, Rômulo, Juninho Pernambucano e Diego Souza; Eder Luis (Carlos Alberto) e Alecsandro. Essa foi a base do Vasco da campanha da Libertadores de 2012, que acabou em eliminação pelo Corinthians nas quartas de final, em gol de cabeça de Paulinho aos 42 do segundo tempo. Mais de uma dezena de jogadores deixou o clube a partir daquela derrota até o fim do ano e iniciou a derrocada.

Sem receitas devido ao bloqueio financeiro, a diretoria não conseguiu reposição à altura. Ao longo desta temporada, o cenário se repetiu - mesmo que em escala menor. A dupla de zaga, Dedé e Douglas, foi vendida; Eder Luis, quando melhorava seu rendimento, foi emprestado; Alisson foi liberado de volta ao Cruzeiro em posição carente no elenco. O próprio Marlone, oficialmente ainda sob contrato, já foi negociado com um grupo de investidores enquanto a bola rolava. Além disso, os lucros foram relativamente baixos, já que as multas não eram altas e o clube não tinha poder de barganha. A perda técnica com a saída de Dedé jamais foi reparada.
FALTA DE COMANDO NO FUTEBOL
José Hamilton Mandarino vasco (Foto: Globoesporte.com) 
Após sair, José Hamilton Mandarino não teve substituto
 na vice-presidência por mais de um ano (Foto: 
Globoesporte.com)

O ex-vice-presidente de futebol José Hamilton Mandarino deixou o cargo em setembro de 2012. Não houve substituto imediato na pasta. Oficialmente, o presidente Roberto Dinamite acumulou o cargo, como aconteceu também em 2008, no ano do primeiro rebaixamento. Deputado estadual e presidente do clube, com compromissos institucionais, Dinamite nem sempre podia viajar com a equipe ou dar o suporte necessário para o departamento.
No fim de setembro, após o clube entrar na zona de rebaixamento e a pressão aumentar em São Januário, conselheiros sugeriram o vice-presidente geral Antônio Peralta e Ercolino de Luca como segunda opção. Peralta declinou do convite, e Ercolino, cotado anteriormente, acabou aceitando. O diretor de futebol Ricardo Gomes, inexperiente no cargo, tentava de todo modo acalmar o vestiário, contornar os casos de indisciplina e a crise financeira, mas a falta de maior sustentação e até erros de logística eram críticas constantes em especial de Dorival Júnior.

CLIMA POLÍTICO

Isolado politicamente e alvo da torcida pela péssima campanha no Brasileiro e pelo desmonte do time campeão da Copa do Brasil, o presidente Roberto Dinamite viu ressurgir no cenário político de São Januário o ex-presidente e desafeto Eurico Miranda. Atual presidente do Conselho de Beneméritos, o cartola mobilizou seus seguidores para uma polêmica campanha de associação em massa visando as eleições de 2014, ainda sem data. A estratégia, que inclui pagamento a muitos sócios que depois tentaram e não conseguiram cancelar o cadastro no quadro associativo do clube, passa por pagamento de matrícula e mensalidades.
Outro candidato, Roberto Monteiro, vice-presidente do Conselho Deliberativo, usou da mesma estratégia e conseguiu apoio de nomes importantes do clube, como do ex-vice de futebol Mandarino. Em jogos dentro de São Januário, houve princípio de briga e confusão com seguranças de Eurico e torcedores, que antes hostilizavam Roberto Dinamite. O clima na Colina ferve meses antes da eleição.



FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/vasco/noticia/2013/12/ma-gestao-problemas-internos-crise-financeira-os-motivos-para-queda.html

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