A CRÔNICA
por
Diego Ribeiro e Rodrigo Faber
"Nós temos seis, eles têm uma”. Quase uma entidade no Boca Juniors, Juan Román Riquelme proferiu esta frase um dia antes do duelo contra o Corinthians, pelas oitavas de final da Libertadores. Machucado, ele nem precisou entrar em campo para os xeneizes mostrarem por que devem ser sempre respeitados. Sempre. Com a disposição de 11 dentro de campo e outros 50 mil fora dele, o Boca fez 1 a 0 em um preguiçoso Timão na noite desta quarta-feira, em La Bombonera, e saiu à frente na luta por uma vaga nas quartas de final.
Com o resultado, o Corinthians precisa vencer por dois gols de diferença o confronto de volta, dia 15 de maio, no Pacaembu. Vitória alvinegra por 1 a 0 leva a decisão para os pênaltis. Depois do gol marcado por Blandi, aos 13 do segundo tempo, o Timão parecia ter se reduzido não a um time que “só tem uma Libertadores”, mas sim a algum outro que nunca havia jogado a competição. O nervosismo demonstrado em campo foi incomum.
O Boca ainda é aquele seis vezes campeão do torneio, treinado pelo mítico Carlos Bianchi, mesmo que em campo essa tradição enorme não seja traduzida em tanto talento. Bastou a mística e um pouco de competência para os argentinos marcarem com Blandi aos 13 do segundo tempo. O Timão sentiu o gol, chegou a esboçar reação, mas não merecia melhor sorte em Buenos Aires. Nem a expulsão de Ledesma, aos 38 da etapa final, fez a equipe brasileira crescer.
Antes de pensarem no jogo de volta das oitavas, os dois rivais têm clássicos pela frente, ambos no domingo. O Boca recebe o River em La Bombonera pelo Campeonato Argentino, enquanto o Corinthians enfrenta o São Paulo no Morumbi, pela semifinal do Campeonato Paulista – jogo único.
Paulinho protege a bola de adversário, no tenso jogo entre Boca Juniors e Corinthians (Foto: AP)
Durante a semana, muito se falava sobre o maior respeito do Boca diante do Timão em relação ao ano passado, quando a equipe brasileira ainda buscava seu primeiro título continental. A diferença de tratamento pôde ser percebida desde o início, com a pressão da torcida local na mítica La Bombonera, a maior cautela dos xeneizes no ataque e, principalmente, a postura corintiana em campo.
Não que o time do ano passado tivesse sentido a pressão, tanto que empatou por 1 a 1 o primeiro jogo da final e foi confortável para a decisão em casa. Desta vez, porém, o Corinthians soube ser matreiro nas condições mais adversas. O Boca foi mais incisivo no primeiro tempo e quase chegou duas vezes ao gol em jogadas aéreas – Burdisso, aos 35, e Blandi, aos 42, levaram perigo a Cássio.
Clemente Rodríguez disputa com Romarinho (EFE)
Romarinho, herói corintiano na Bombonera em 2012, também não é dos mais queridos pelo Boca. Caçado pelos jogadores e xingado pela torcida, o atacante mostrou frieza e “amarelou” um xeneize – o volante Leandro Somoza. Paulo André se desentendeu com Erviti, outro que adora uma confusão. Pequenos atos que mostraram um Corinthians maduro, mesmo sem o futebol que se espera do atual campeão do mundo.
A própria torcida do Boca, 12º jogador em todas as partidas, colaborou para esfriar o jogo em alguns momentos. Por três vezes, o sistema de som do estádio pediu que os torcedores parassem de mirar lasers no gramado – sob o risco de o jogo ser suspenso. O árbitro Enrique Osses chegou a parar a partida para informar o problema às autoridades.
Fabio Santos tenta bloquear chute de Erviti, do Boca Juniors (Foto: EFE)
Toda a tranquilidade mostrada na etapa inicial desapareceu em questão de pouco tempo. A começar pela saída de Danilo, lesionado, antes mesmo dos cinco minutos – o meia é quem dita o ritmo, quem segura a bola. Com Jorge Henrique em seu lugar, o Timão se retraiu um pouco mais e esperou o Boca. Mesmo limitado, o time da casa cresceu na base da disposição, da camisa, da torcida.
Paulo André, na marcação (Foto: AP)
Pela primeira vez nesta Libertadores, o Corinthians sentiu o golpe. Passes simples viraram um problema gigante. Em um lance emblemático, Ralf estava a alguns passos de Fábio Santos e conseguiu errar o alvo. Novos erros da zaga possibilitaram contra-ataques, que só não terminaram em gol porque o Boca, apesar de gigante na tradição, atualmente é um time limitado.
Do banco, Tite resolveu incrementar o ataque com Pato no lugar de Romarinho, justamente o melhor corintiano em campo no segundo tempo – no chute que exigiu defesa difícil de Orión e na jogada que originou um chute na trave de Guerrero. Na sequência, Ledesma mandou para a rede, pegando rebote de um estabanado e fora de ritmo Cássio - mas o gol foi corretamente anulado, por impedimento. No calor da Bombonera, Ledesma não ouviu o apito do juiz e saiu comemorando como um louco. Tirou a camisa e levou o cartão amarelo. Um minuto depois, fez falta feia e foi expulso, indo de herói a vilão em um instante.
Mas já não havia tempo para o empate. O Corinthians tem condições de virar o jogo e conseguir a classificação às quartas de final, mas agora sabe que não se brinca com uma camisa seis vezes campeã da América.
Autor do gol do Boca, Nicolas Blandi é cumprimentado pelos colegas de time (Foto: AFP)
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