domingo, 19 de fevereiro de 2017

Ex-jogadora luta contra câncer após 14 anos de exposição ao sol: "Se cuidem"



VÔLEI DE PRAIA



Aos 38 anos, Michelle Peters, a Chell, descobriu a doença de pele dois anos depois
de encerrar a carreira. Brasiliense segue em tratamento e faz alerta aos mais jovens




Por
Rio de Janeiro

Michelle Peters Chell vôlei de praia câncer de pele (Foto: Arquivo pessoal)Uma das manchas cancerígenas que apareceram no corpo da ex-jogadora (Foto: Arquivo pessoal)


Um sinal diferente em cima do nariz fez a ex-jogadora Michelle Peters procurar um médico. Conhecida como Chell no mundo do vôlei de praia, a brasiliense de 38 anos levou um susto quando teve o diagnóstico. A mancha, que crescia gradativamente com o passar do tempo, era um câncer de pele. Semanas depois, diversas outras manchas apareceram no corpo da ex-jogadora, que encerrou a carreira em 2014. Chell iniciava ali a sua luta contra um dos mais comuns tipos de câncer, o qual pode levar o indivíduo à morte se não tratado. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, foram 200 mil novos casos no país em 2016. Recuperando-se bem do problema de saúde, a ex-atleta faz um alerta aos mais novos.

- Foram 14 anos de exposição solar, e a doença só começou a aparecer dois anos depois de eu encerrar a carreira, quando a minha pele já estava muito menos queimada. No vôlei de praia, nós jogadores costumamos ser alertados sobre a proteção solar, mas em dias de competição é muita tensão, então muitas vezes você não repõe adequadamente essa proteção. Foi o que aconteceu comigo. Eu passava protetor, mas vez ou outra não renovava. Isso ficando cerca de 6h exposta ao sol. Estou pagando um preço caro e faço um alerta para que todos se cuidem e não esqueçam de se proteger - disse Chell.

Michelle já removeu boa parte dos sinais cancerígenos que apareceram pelo corpo. As próximas manchas a serem retiradas estão numa das pernas da ex-atleta. As remoções têm sido feitas em consultório sem necessidade de cirurgia. O câncer de Chell é do tipo carcinoma basocelular, o mais frequente e menos grave. Há também o carcinoma espinocelular (sinais com a forma de um nó e que formam uma casquinha) e o melanoma maligno (pinta escura que vai se deformando ao longo do tempo), este último o mais grave e que pode ser fatal se não for detectado a tempo.

Michelle Peters Chell e Andrezza  vôlei de praia (Foto: Reprodução Facebook)
Chell (à esq.) e sua antiga parceira Andrezza  
durante competição (Foto: Reprodução Facebook)


- Não gosto nem de lembrar o susto que tive quando vi o meu primeiro exame dizendo que estava com câncer. É uma palavra muito forte. Hoje estou enfrentando bem o problema, mas tive que mudar completamente o meu estilo de vida. Praticamente não pego sol mais e, quando saio de casa, uso filtro solar, óculos e boné. É muito ruim passar por isso - disse Chell, que é casada, mãe de um filho, mora em Brasília e ainda perdeu um bebê recentemente num aborto espontâneo sem relação qualquer com o câncer de pele.



JOGADORES DEMONSTRAM PREOCUPAÇÃO COM O PROBLEMA

O relato dos problemas de saúde de Chell tomaram as redes sociais nos últimos dias, levando os atletas em atividade a atentarem mais para os cuidados com a pele. Medalha de prata na Rio 2016, quando atuava ao lado de Ágatha, Bárbara Seixas revelou que costuma ir ao dermatologista frequentemente para avaliar a pele. Apesar dos cuidados, a atleta, que joga atualmente com Fernanda Berti, demonstra bastante preocupação com o tema.

- Proteção solar é igual a roupa para a gente. Temos que nos proteger bastante todos os dias, em competição ou treinamento. Costumo ir frequentemente ao dermatologista observar isso e ver se tenho alguma mancha, alguma coisa suspeita, porque eu me preocupo bastante quanto a isso - afirmou Bárbara.

Bárbara Seixas comemora a vitória brasileira em Olsztyn (Foto: Divulgação/FIVB)
A medalhista olímpica Bárbara Seixas possui 
cuidados redobrados com a pele 
(Foto: Divulgação/FIVB)


Opinião semelhante tem Saymon. Campeão do Major Series de Fort Laudardale, o parceiro de Álvaro Filho toma cuidados redobrados com a pele, aplicando protetor solar no corpo duas ou três vezes por dia.

- Felizmente nunca tive problema de pele. O sol é o nosso pior inimigo, mesmo porque a gente fica mais de 5h por dia treinando na praia. Passo muito protetor solar, hidratante e faço limpeza de pele em casa - revelou.

Campeã do Circuito Brasileiro 2016/17 ao lado de Larissa, nesta sexta, em Maceió, Talita contou que a dupla costuma treinar em horários de menor incidência de raios ultravioleta - até às 10h e após às 16h. No entanto, nem sempre é possível se preservar do sol mais nocivo à pele.

- A exposição que a gente tem no sol é muito grande, vou ao dermatologista todos os anos, mas esse negócio é muito ruim, porque mesmo se cuidando a gente ainda corre um risco. Fico sempre atenta para ver se tem alguma pinta no corpo, e o caso da Chell serviu de alerta - disse.



LÁBIOS TAMBÉM DEVEM SER PROTEGIDOS

Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o médico Flávio Luz ressaltou que a situação dos atletas que praticam suas modalidades expostos ao sol é mais complicada do que as pessoas que se expõem à radiação solar por outros motivos. Ele lembrou que a proteção solar considerada adequada pode atrapalhar o desempenho dos desportistas, principalmente jogadores de vôlei de praia, que geralmente estão mais concentrados na competição.

- Como o atleta tem que estar focado em sua performance, sugiro que os jogadores de vôlei de praia sempre tenham uma pessoa para aplicar protetor. Na testa, como é uma área de muito suor, o ideal é proteger com um boné. Atento também para a importância da proteção aos lábios. Atletas que recebem muita radiação solar devem usar uma pasta labial. O câncer de pele nos lábios é muito agressivo - frisou.

alison, bruno schmidt, vôlei de praia (Foto: Paulo Frank/CBV)
Pessoas de pele clara, como Bruno Schmidt e 
Alison são os que correm mais risco 
(Foto: Paulo Frank/CBV)


Flávio Luiz explica que quanto mais clara a pele da pessoa, mais sujeita ela está ao câncer de pele. Tanto é que a incidência maior da doença no Brasil está nos estados da Região Sul, onde a população é predominantemente branca e de olhos claros.

- As pessoas mulatas e negras não estão livres do câncer de pele, mas estão mais protegidas. A melanina (proteína que determina o tom de pele do indivíduo) age como se fosse um protetor solar natural - afirmou o médico, lembrando que o atleta deve procurar um dermatologista para saber qual grau de proteção solar deve usar.

Para os atletas que apresentaram os primeiros sintomas de câncer de pele, o especialista dá duas notícias boas. Os sinais cancerígenos quase sempre podem ser removidos em consultórios ou em cirurgias simples, e aqueles desportistas que passam pelo problema não precisam abandonar a carreira.

- O atleta de vôlei de praia que passar pelo problema pode seguir com a sua carreira. Ele só precisa remover as manchas e passar a ter cuidado redobrado com a exposição ao sol - finalizou.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei-de-praia/noticia/2017/02/ex-jogadora-luta-contra-cancer-apos-14-anos-de-exposicao-ao-sol-se-cuidem.html

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