Técnico paralímpico dos Estados Unidos, campeão olímpico será guia de Ivonne Mosquera-Schimidt, mas evita pensar em correr também nas Paralimpíadas do Rio
Joaquim Cruz durante entrevista coletiva em Toronto nesta sexta-feira (Foto: Helena Rebello)
- Dois guias com quem ela trabalha, tiveram problema com
passaportes. Não chegaram em tempo de mandar as inscrições para o Canadá. Como
não tínhamos outro guia para as provas de meio-fundo, a única pessoa que
poderia ajudar era eu. Se você conhece a história dele, quer trabalhar com ela,
quer fazer parte. Sempre falo para meus atletas que os sonhos deles são meus
sonhos. A diferença é que o guia tem que participar
direto, é um atleta que faz o aquecimento, os trabalhos, as corridas. O
treinador é aquele gordinho que fica ali só dando ordem e marcando o tempo, que
seria o meu trabalho - disse Joaquim.
Joaquim será o atleta-guia mais velho em ação no evento
canadense. Pelo programa do evento, os dois correrão os 1.500m da classe T11 e
os 800m da classe T12, para deficientes visuais. Ivonne perdeu a visão com dois
anos devido a um câncer da retina (retinoblastoma) - ela superou mais dois
tumores malignos.
Joaquim explica que, apesar da diferença de
altura, não tem problema de sincronismo
com Ivonne (Foto: Helena Rebello)
Apesar
da idade, o campeão olímpico exibe boa forma física - nunca deixou de
correr para poder comer sem remorso, como costuma afirmar. Em
dois meses de preparação mais intensa já visando uma performance mais
competitiva, perdeu pouco mais de cinco quilos com o aumento da carga de
treinos. Mas os torcedores, brasileiros ou americanos, não devem se
animar com
a possibilidade de vê-lo em ação nas Paralimpíadas de 2016, no Rio de
Janeiro.
- Espero não ter problemas com guia. Vamos ter em mento que
tenho 52 anos, e terei 53 anos em 2016. Em dois meses, eu me machuquei duas
vezes. Não quero prolongar essa ideia porque sou muito competitivo. Espero que
tenha uma pessoa bem mais jovem que possa acompanhar a Ivonne. Meu objetivo é
que ela fique pronta e que fique mais rápida, enquanto eu, por causa da idade,
vou ficar mais velho. Não queria flertar com essa ideia (de guiar nas
Paralimpíadas).
Vou continuar a guiar em treinos porque sou um técnico muito
dinâmico, não mando um paratleta para casa porque ele está sem guia. Não vou depender
de um guia. Minha prioridade é ser técnico. Mas competir no Rio... vocês estão
me deixando nervoso (risos). Espero que não. Não deu tempo para pensar em nada. Aconteceu tão rápido. Vamos deixar
acontecer para depois pensar - disse o campeão olímpico.
Joaquim Cruz em ação nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984 (Foto: Arquivo)
Mesmo fora da pista nas Paralimpíadas, Joaquim declara a
torcida para os paratletas americanos.
Apesar dos Jogos serem no Rio de
Janeiro, o espírito competitivo e o profissionalismo ficam à frente do
patriotismo. Como um dos orientadores de David Brown, concorrente direto de
nomes como Lucas Prado e Lucas Gomes, ele prefere ver o pupilo no topo do pódio
do que os compatriotas.
- Vou me sentir ótimo. É meu garoto. É uma questão de
geografia. A única diferença é que ele é dos Estados Unidos. Se o Brasil
estiver no caminho, vamos ter que ultrapassá-lo. O brasileiro pode chegar em
segundo. O objetivo dos meus atletas são os meus objetivos. A diferença é que
eu não consigo fazer o trabalho na pista, mas vou me assegurar que eles façam o
trabalho para mim, todo dia, no treino.
Com 1,93m de
altura, Joaquim contou que foi mais fácil se
adaptar para guiar a baixinha Ivonne, de 1,50m, que o velocista David
Brown. A
cordinha com o americano era presa na mão, o que exige uma sincronia
maior para adaptação das passadas. Com Ivonne, a cordinha é presa na
cintura.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/parapan/noticia/2015/08/de-coach-guia-aos-52-joaquim-cruz-volta-competir-em-toronto.html
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