sábado, 18 de julho de 2015

“Vai, Thiagooo!”: mãe prepara pulmão e coração para o grito do recorde

Dona Rose promete soltar a voz nas arquibancadas do Centro Aquático de Toronto e embalar o filho rumo ao esperado título de maior medalhista pan-americano da história



Por
Direto de Toronto, Canadá



O adolescente Thiago Pereira morria de vergonha dos gritos estridentes da mãe. O tradicional “Vai, Thiagooo!” vindo das arquibancadas de qualquer competição nunca passou despercebido. Às vezes, os amigos da piscina questionavam: “Você já explicou para sua mãe que isso é só uma eliminatória?”. Sim, ele explicou. De nada adiantava. Toda orgulhosa, Dona Rose nunca deixou de berrar durante as provas - até com os replays, ela mesma admite. É assim desde o seu primeiro Pan. Assim será até o último. Vinte e uma medalhas pan-americanas depois, a voz ainda está boa, forte, firme. Como o filho. Juntos, um na água e outro na arquibancada, formam uma dupla e tanto. O Centro Aquático de Toronto presenciará mais um desses encontros neste sábado. Provavelmente, o mais especial deles. Do fundo da alma, a mãe promete arrancar o berro mais alto e emocionante de todos, aquele que o empurrará rumo ao título de maior medalhista da história da competição.

- Tenho que agradecer muito a Deus por ainda ter voz, coração, ainda ter saúde para gritar. É uma emoção estar no meu quarto Pan com a garganta afiada. Estou firme. Eu sei que ele está tendo um esforço muito maior do que aquele menino de 17 anos. Então, vou gritar muito porque ele vai precisar de muita energia. Eu peço à torcida brasileira que todo mundo venha com uma energia positiva, porque essa é uma conquista para o Brasil.  


Dona Rose, confere atenta o placar, ao lado da nora Gabriela Pauletti (Foto: Satiro Sodré/SSPress)
Dona Rose confere atenta o placar, ao lado da 
nora Gabriela Pauletti (Foto: Satiro Sodré/SSPress)


Dona Rose é daquelas torcedoras fanáticas. Dessas que se vestem em homenagem ao ídolo, viajam para onde for atrás dele, tietam e berram. Como berram... Quando o filho vai para o palco, neste caso, a piscina, fica difícil de controlar os gritos e a emoção. Mesmo depois de tantos títulos e medalhas a torcida continua igual: firme e forte. Ou até mais intensa, como nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. O incentivo dessa vez tem um toque especial. Dono de 21 medalhas, Thiago está em busca do título de maior medalhista da história da competição. Após os três pódios no Canadá até agora, ele só precisa ficar entre os três primeiros colocados nas duas provas que disputa nesta sexta (200m medley 4x100m medley) para ultrapassar o ex-ginasta cubano Érick Lopez, dono de 22.  

Rose Vilela, Mãe Thiago Pereira 2007 (Foto: Globoesporte.com)Com o "Vai, Thiago!" tinindo, Rose foi atração no Pan do Rio em 2007 (Foto: Globoesporte.com)


- Estou muito feliz. Não tem como não olhar para trás, não tem como não olhar para aquele menino de 2003, com 17 anos. A gente jamais poderia supor que, 12 anos depois, a gente estaria aqui esperando para vê-lo ser o maior medalhista de todos os tempos. É uma emoção muito grande. Ele é o mesmo menino de coração, mas agora um homem. Não tenho nem o que dizer. Eu não podia deixar de estar aqui nesse momento especial da vida dele e da minha vida também.

Dona Rose foi responsável pelas primeiras braçadas de Thiago, em Volta Redonda, cidade onde ele nasceu. Aos 2 anos, o menino deu um enorme susto ao cair sem querer na piscina da casa de seu tio. Foi o suficiente para a mãe decidir que ele precisava aprender a nadar o quanto antes. Ela só não podia imaginar que sua iniciativa renderia tantos frutos, transformando o filho em dos principais ídolos esportivos do país. 

Aos 12 anos, Thiago já começava a se destacar entre os meninos de sua idade. Incentivado pela mãe, passou a levar o esporte a sério. O passo mais importante foi quatro anos depois, quando resolveu trocar Volta Redonda por Belo Horizonte e se dedicar para valer à carreira de atleta. O menino despontou, foi convocado para os Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003 e fez história. Foi lá que o adolescente de 17 anos foi apresentado ao mundo, garantindo as duas duas primeiras medalhas. Foi lá também que o grito “Vai, Thiagoooo” ganhou força e passou a ser peça fundamental nas conquistas do nadador.

Esposa e mãe prestigiam Thiago no PPan de Toronto (Foto: Satiro Sodré/SSPress)
Thiago conta com a força extra da esposa e da 
mãe em Toronto (Foto: Satiro Sodré/SSPress)


Sem cobertura, o enorme Parque Aquático Maria Lenk tinha tudo para dificultar a vida de Dona Rose na edição seguinte, no Rio 2007. Ela provou, porém, que não há nada que lhe impeça de ser ouvida quando o filho está na piscina. Foi na competição disputada “em casa” que a mãe do campeão ficou famosa. O “Vai, Thiagoooo” embalou todos os seis ouros, uma prata e um bronze. A calorosa torcida brasileira se envolveu, engrossando o coro. 

- A carreira dele se deve muito ao Pan. Eu sei que a medalha olímpica foi muito, muito esperada. Mas para ele se tornar o queridinho, essa identificação com o brasileiro, foi nos Jogos Pan-Americanos. Santo Domingo foi o grande boom para a torcida brasileira. E claro que 2007 fortaleceu muito isso.

INFO - Thiago PEreira medalhas (Foto: Editoria de Arte)INFO - Thiago PEreira medalhas (Foto: Editoria de Arte)


Outras oito medalhas viriam na edição seguinte, em Guadalajara 2011. Novamente com seis ouros, uma prata e um bronze. Foi no México também que começou a quebrar recordes, tornando-se o maior medalhista de ouro do Brasil na competição, com 12 no total. O marco mais importante, porém, está próximo de acontecer. Depois de faturar dois ouros e um bronze em Toronto, o brasileiro só precisa de mais duas medalhas para virar o maior medalhista pan-americano de todos os tempos. Como em todas as outras vezes, Dona Rose estará na arquibancada, caprichando no grito mais importante de todos. 

- Ele finge que não gosta, mas gosta. Quando era mais menino, ele tinha vergonha. Eu tinha a sensação de que, quando ele era pequeno, nadava rápido para eu parar de gritar. “Minha mãe é louca e tal”. E os amigos falavam para ele me explicar quando era só eliminatórias, que eu não precisava ficar gritando. Ele falava: “Mas não adianta, ela torce até no replay”. E eu torço mesmo.

O Mister Pan já sabe a quem dedicar o título de maior medalhista da história da competição.
- Minha mãe, Dona Rose, foi quem começou isso tudo. Foi a pessoa que me colocou na natação, quem me apoio desde pequeno e quem me apoia até hoje. Nas grandes competições está sempre ao meu lado, independentemente do resultado, seja bom ou ruim. Ela estará sempre em primeiro lugar.


FONTE:
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