Dona Rose promete soltar a voz nas arquibancadas do Centro Aquático de Toronto e embalar o filho rumo ao esperado título de maior medalhista pan-americano da história
O adolescente Thiago Pereira morria de vergonha dos gritos estridentes da mãe. O tradicional “Vai, Thiagooo!” vindo das arquibancadas de qualquer competição nunca passou despercebido. Às vezes, os amigos da piscina questionavam: “Você já explicou para sua mãe que isso é só uma eliminatória?”. Sim, ele explicou. De nada adiantava. Toda orgulhosa, Dona Rose nunca deixou de berrar durante as provas - até com os replays, ela mesma admite. É assim desde o seu primeiro Pan. Assim será até o último. Vinte e uma medalhas pan-americanas depois, a voz ainda está boa, forte, firme. Como o filho. Juntos, um na água e outro na arquibancada, formam uma dupla e tanto. O Centro Aquático de Toronto presenciará mais um desses encontros neste sábado. Provavelmente, o mais especial deles. Do fundo da alma, a mãe promete arrancar o berro mais alto e emocionante de todos, aquele que o empurrará rumo ao título de maior medalhista da história da competição.
- Tenho que agradecer muito a Deus por ainda ter voz,
coração, ainda ter saúde para gritar. É uma emoção estar no meu quarto Pan com
a garganta afiada. Estou firme. Eu sei que ele está tendo um esforço muito
maior do que aquele menino de 17 anos. Então, vou gritar muito porque ele vai
precisar de muita energia. Eu peço à torcida brasileira que todo mundo venha
com uma energia positiva, porque essa é uma conquista para o Brasil.
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Dona Rose confere atenta o placar, ao lado da
nora Gabriela Pauletti (Foto: Satiro Sodré/SSPress)
Dona
Rose é daquelas torcedoras fanáticas. Dessas que se
vestem em homenagem ao ídolo, viajam para onde for atrás dele, tietam e
berram.
Como berram... Quando o filho vai para o palco, neste caso, a piscina,
fica
difícil de controlar os gritos e a emoção. Mesmo depois de tantos
títulos e
medalhas a torcida continua igual: firme e forte. Ou até mais intensa,
como nos
Jogos Pan-Americanos de Toronto. O incentivo dessa vez tem um toque
especial. Dono
de 21 medalhas, Thiago está em busca do título de maior medalhista da
história
da competição. Após os três pódios no Canadá até agora, ele só precisa
ficar
entre os três primeiros colocados nas duas provas que disputa nesta
sexta (200m medley 4x100m medley) para ultrapassar o ex-ginasta cubano
Érick Lopez, dono de
22.
Com o "Vai, Thiago!" tinindo, Rose foi atração no Pan do Rio em 2007 (Foto: Globoesporte.com)
- Estou muito feliz. Não tem como não olhar para trás, não
tem como não olhar para aquele menino de 2003, com 17 anos. A gente jamais
poderia supor que, 12 anos depois, a gente estaria aqui esperando para vê-lo
ser o maior medalhista de todos os tempos. É uma emoção muito grande. Ele é
o mesmo menino de coração, mas agora um homem. Não tenho nem o que dizer. Eu
não podia deixar de estar aqui nesse momento especial da vida dele e da minha
vida também.
Dona Rose foi responsável pelas primeiras braçadas de
Thiago, em Volta Redonda, cidade onde ele nasceu. Aos 2 anos, o menino deu um
enorme susto ao cair sem querer na piscina da casa de seu tio. Foi o suficiente
para a mãe decidir que ele precisava aprender a nadar o quanto antes. Ela só
não podia imaginar que sua iniciativa renderia tantos frutos, transformando o
filho em dos principais ídolos esportivos do país.
Aos 12 anos, Thiago já começava a se destacar entre os
meninos de sua idade. Incentivado pela mãe, passou a levar o esporte a sério. O
passo mais importante foi quatro anos depois, quando resolveu trocar Volta
Redonda por Belo Horizonte e se dedicar para valer à carreira de atleta. O
menino despontou, foi convocado para os Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo,
em 2003 e fez história. Foi lá que o adolescente de 17 anos foi apresentado ao
mundo, garantindo as duas duas primeiras medalhas. Foi lá também que o grito “Vai,
Thiagoooo” ganhou força e passou a ser peça fundamental nas conquistas do nadador.
Thiago conta com a força extra da esposa e da
mãe em Toronto (Foto: Satiro Sodré/SSPress)
Sem cobertura, o enorme Parque Aquático Maria Lenk tinha
tudo para dificultar a vida de Dona Rose na edição seguinte, no Rio 2007.
Ela provou, porém, que não há nada que lhe impeça de ser ouvida quando o filho
está na piscina. Foi na competição disputada “em casa” que a mãe do campeão
ficou famosa. O “Vai, Thiagoooo” embalou todos os seis ouros, uma prata e um
bronze. A calorosa torcida brasileira se envolveu, engrossando o coro.
- A carreira dele se deve muito ao Pan. Eu sei que a medalha
olímpica foi muito, muito esperada. Mas para ele se tornar o queridinho, essa
identificação com o brasileiro, foi nos Jogos Pan-Americanos. Santo Domingo foi
o grande boom para a torcida brasileira. E claro que 2007 fortaleceu muito isso.
INFO - Thiago PEreira medalhas (Foto: Editoria de Arte)
Outras oito medalhas viriam na edição seguinte, em
Guadalajara 2011. Novamente com seis ouros, uma prata e um bronze. Foi no
México também que começou a quebrar recordes, tornando-se o maior medalhista de
ouro do Brasil na competição, com 12 no total. O marco mais importante, porém,
está próximo de acontecer. Depois de faturar dois ouros e um bronze em Toronto,
o brasileiro só precisa de mais duas medalhas para virar o maior medalhista
pan-americano de todos os tempos. Como em todas as outras vezes, Dona Rose
estará na arquibancada, caprichando no grito mais importante de todos.
- Ele finge que não gosta, mas gosta. Quando era mais
menino, ele tinha vergonha. Eu tinha a sensação de que, quando ele era pequeno,
nadava rápido para eu parar de gritar. “Minha mãe é louca e tal”. E os amigos
falavam para ele me explicar quando era só eliminatórias, que eu não precisava
ficar gritando. Ele falava: “Mas não adianta, ela torce até no replay”. E eu
torço mesmo.
O Mister Pan já sabe a quem dedicar o título de maior medalhista da história da competição.
- Minha mãe, Dona Rose, foi quem começou isso tudo. Foi a
pessoa que me colocou na natação, quem me apoio desde pequeno e quem me apoia
até hoje. Nas grandes competições está sempre ao meu lado, independentemente do
resultado, seja bom ou ruim. Ela estará sempre em primeiro lugar.FONTE:
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