Esquiadora aproveita nova rotina após quase cinco meses hospitalizada para passear em shopping e confia na possibilidade de voltar a movimentar os braços e as pernas
Ter travado uma batalha pela vida e ficado tetraplégica já foi motivo de muita angústia e medo. Mas Lais aprendeu a tocar a vida para a frente e lutar para sempre ter dias melhores e novos motivos para comemorar. Ela agora vive, ao lado da mãe, Odete, em um apartamento bancado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), em Miami, onde seguirá fazendo o tratamento em busca de reabilitação. A ex-ginasta sabe que não existe certeza de que ela voltará a andar, mas a sua fé e a corrente positiva que foi feita para torcer por Lais fazem com que ela não desista do seu objetivo diário de recuperar os movimentos das mãos, braços, pernas e pés.
– Eu agradeço todo mundo que está rezando, que está torcendo por mim. Se Deus quiser vai dar certo. Quem sabe, eu volto a dar uns pulinhos – afirmou Lais, que, além do pescoço, também consegue movimentar os seus ombros.
Lais Souza se diverte com suas amigas,
a sua fisioterapeuta e a sua cuidadora
em Miami (Foto: David Abramvezt)
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Sorrindo em diversos momentos, curtindo uma gostosa brisa que amenizava o calor de Miami e contando com o olhar atento das amigas Laís e Thaysa, da fisioterapeuta Denise Lessio e da cuidadora americana Endyia, Lais Souza concedeu entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com. Ela falou sobre a nova fase da sua vida, contou como está enxergando o mundo de uma cadeira de rodas e disse que só agora está caindo a ficha de tudo que aconteceu com ela depois daquele dia 27 de janeiro, quando ao descer a pista de esqui de Salt Lake City, se chocou contra uma árvore e sofreu grave lesão na coluna cervical.
Dois dias depois de receber alta do hospital, Lais
Souza passeia por shopping de Miami
(Foto: David Abramvezt)
confira a entrevista com lais
Como foi receber a notícia da alta e como você está sentindo?
LAIS SOUZA: Tive alta agora há pouco e estou me sentindo bem melhor, graças a Deus. A recuperação aqui em Miami fez bem para mim. Tem pessoas maravilhosas passando pela minha vida. Estou confiante com as pessoas que estão do meu lado e eu posso contar com elas para sempre. Eu espero que dê tudo certo até o fim. Eu agradeço todo mundo que está rezando, que está torcendo por mim. Se Deus quiser vai dar certo. Quem sabe eu volto a dar uns pulinhos.
Você falou em dar uns pulinhos. Quando você está dormindo, nos seus sonhos você está dando esses pulinhos?
Eu só sonho com isso. Eu sonho muito que eu estou treinando ginástica, que estou pulando, estou andando. Acho que desde quando eu sofri o acidente, tive uma noite só que sonhei que estava na cadeira. Mas nesse sonho, eu levantava, me mexia. Estou bem confiante com as coisas que vem acontecendo.
Você superou momentos complicados até receber alta. Como foi chegar até aqui?
Eu estava muito mal no começo. Estava com aparelho para respirar e para comer. Agora que estou bem melhor, que saí do hospital, a ficha vai caindo. Eu vou reconhecendo algumas coisas, passando mais tempo com a minha mãe, com a minha família. As pessoas que estão ao meu lado agora, vou poder contar para sempre. Bola para frente e pensamento positivo.
Você sempre teve esse pensamento positivo?
Eu nunca deixei de acreditar, em nenhum momento. Nem quando eu estava entubada, com muita dor. Sempre procurei levantar a cabeça e me esforçar para não deixar a peteca cair. E agora está sendo a mesma coisa. Saí do hospital e estou encarando coisas novas. Tem pessoas que me reconhecem às vezes na rua. Eu vou em um restaurante e encontro brasileiros, tem muitos brasileiros aqui. Eles falam "oi" e dizem que estão torcendo, rezando. Esse carinho está ajudando. Está sendo dia após dia, fase após fase.
Ser atleta facilita a sua dedicação ao tratamento?
Eu sempre tive esse pensamento positivo e uma garra grande, por conta do esporte, das competições e tudo mais. Tudo que eu acabei usando como atleta, estou usando agora, por mais que esteja paralisada, estou usando toda essa garra, a confiança e o esforço que eu fazia todos os dias para treinar e para me dedicar: academia, fisioterapia e mais treinamento. Querendo ou não, o meu psicológico está preparado para isso. É como se fosse uma grande competição, mas com um treinamento muito pesado. É como se fosse uma nova carreira de atleta que estou encarando. Não dá para tirar de letra, mas eu preciso desse ritmo de vida para que consiga melhorar mais rápido.
Você sente algum tipo de dor? Sente alguma diferença nesses dias após a alta?
Eu sinto um pouco de dor. Eu sinto as minhas mãos estranhas, uma sensação de formigamento. O meu pescoço dói, porque eu operei faz pouco tempo. Ainda tenho um pouco de dor, mas nada que eu não consiga aguentar. O meu ponto de vista está diferente, por estar na cadeira. Parece que eu vejo as coisas de uma maneira diferente, porque eu sinto por dentro do meu corpo. As pessoas me olham de uma maneira diferente por causa da cadeira ou porque ficam com dó. Eu não consigo ainda definir isso.
E como estão as visitas? Deve ter bastante gente querendo te ver depois dessa alta. Tem falado com os seus amigos do Brasil?Tem muita gente que quer vir do Brasil me visitar. Tem gente que eu nunca vi na minha vida e quer me visitar, quer conhecer a Lais Souza. Isso é estranho para mim, mas ao mesmo tempo me dá motivação. Não só gente famosa, mas muitas outras pessoas. Nem eu sabia que eu era tão querida. Eu tenho falado com alguns atletas amigos meus. Muito com o Diego (Hypolito), Daiane (dos Santos), Maurren (Maggi), Jade (Barbosa), muita gente. Eu me sinto bem com isso. Eu quero que as pessoas venham. É muito bom para mim.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas-de-inverno/noticia/2014/06/apos-alta-lais-revela-sonhos-e-planos-quem-sabe-volto-dar-uns-pulinhos.html
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