Brasileiro diz que briga entre três clubes nesta temporada é exceção na Espanha, elogia trabalho de Simeone e afirma que time é 'desenhado' para Diego Costa
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Os quase 20 anos de jejum na Espanha fazem com que os torcedores do Atlético de Madrid ainda estranhem um sábado como este: ver seu time entrar em campo, diante do Athletic de Bilbao, sendo "secado" pelo Barcelona, atualmente apenas visto pelo retrovisor, assim como o rival Real Madrid. Líder do Campeonato Espanhol, os colchoneros vivem uma temporada irretocável e se mostram penetras para lá de incômodos na festa frequentada quase sempre apenas por blaugranas e merengues. Apesar disso, um dos membros mais antigos da legião brasileira no Vicente Calderón, o lateral Filipe Luís alerta: o ano do Atlético é apenas uma exceção em tal universo.
- O Campeonato Espanhol é de dois clubes, não adianta. É isso hoje, ano que vem, daqui a cinco anos... A diferença é abismal. A cada ano que passa, eles contratam mais, pagam mais caro, e os outros times não têm como brigar. O que o Atlético fez de diferente é que o clube contratou alguns jogadores e manteve a base que vem de anos. Como quase nunca fazem isso aqui na Espanha, está fazendo a diferença. Mas a gente sabe que ano que vem a briga deve ser de novo entre Barcelona e Real - diz o brasileiro, que chegou ao clube em 2010 e entra em campo neste sábado, para enfrentar o Atletic Bilbao.
Filipe Luís com Arda Turan e Adrián:
conjunto dá vantagem para o Atlético
de Madrid na temporada (Foto: EFE)
A opinião de Filipe tem base. Enquanto o Atlético de Madrid não ergue o troféu do Campeonato Espanhol desde a temporada 1995/96, Barça e Real dividem a hegemonia total há exatamente dez anos - o último campeão diferente foi o Valencia, em 2013/14. Este domínio pode ser creditado à divisão do faturamento do torneio entre os clubes participantes: um estudo da consultoria "Deloitte" apontava que, em 2012, os dois clubes recebiam, juntos, mais de 55% da receita da Liga, enquanto, dez anos antes, tal número ficava em 38%.
Por isso, o feito do Atlético vem sendo comemorado pela parte menos abastada do futebol madrilenho. Filipe revela que o clima entre torcedores do clube é de euforia na reta final da temporada, em que o time também está vivo na Liga dos Campeões. Mas nada que faça os jogadores se deslubrarem - até porque o técnico Diego Simeone faz questão de quebrar qualquer salto alto.
- O estádio está sempre cheio, a gente encontra muita gente que nos parabeniza na rua. Antes da boa fase, o clima era até um pouco de hostilidade. Mas a própria dinâmica do grupo mudou. O time se acostumou a ganhar. Não tem mais aquele jogo ruim que a equipe fazia a cada cinco jogos. Agora é estabilidade. Mas não tem problema nenhum, pois nosso técnico é o primeiro que pede para irmos jogo a jogo, sem pensar no futuro. Ele trabalha isso no dia dia, sempre fala do jogo que vem. É ali e pronto.
BARCELONA: RIVAL DUAS VEZES
E a boa fase acabou transformando o time, momentaneamente, no principal adversário do Barcelona na disputa dos títulos. O time da capital é o único à frente no Campeonato Espanhol e ainda enfrentará os catalães na última rodada do torneio. Além disso, brigará contra os blaugrana por uma vaga nas semifinais da Liga dos Campeões, fase que não alcança desde a temporada 1973/74, quando foi vice-campeão. O confronto duplo, porém, não era a preferência de Filipe.
- Preferíamos pegar um time de fora. Já jogamos a Supercopa com eles, jogamos uma vez na Liga, vamos jogar na última rodada. Aí tem a Champions. São muitos jogos contra o Barcelona, e já nos conhecemos. É complicado. Jogar assim não é o que nós queríamos, mas temos que enfrentar - lamenta.
Filipe Luís marca Neymar em jogo
contra o Barcelona: mais três
confrontos na temporada
(Foto: Getty Images)
- Não temos preferências, queremos ir o mais longe dos dois. Na Champions, podemos fazer qualquer coisa. Eles são favoritos, mas pode acontecer qualquer coisa. É complicado. E no Espanhol, nós sabemos que temos um calendário difícil. É tudo complicado. Tem que ir jogo a jogo. Nosso técnico sempre falou para a torcida que a diferença de orçamento é gigantesca. E na Champions nós estamos lutando como Davi e Golias. Nós sabemos disso. Se não acontecer nada, os torcedores sabem que o que fizemos foi muito bom e estarão agradecidos.
O ESTILO SIMEONE
Na Espanha, é consenso de que um dos maiores responsáveis por levar o Atlético a tão bom momento é seu comandante: Diego Simeone. No clube desde o começo de 2012, o argentino realiza no Vicente Calderón seu grande trabalho como técnico, depois de passagens por Estudiantes, River, San Lorenzo, Catiana e Racing. E Filipe concorda sobre a importância do técnico para o time e para o próprio lateral.
- Obviamente, o forte dele é a inteligência para estudar os adversários, saber como jogar no erro dos outros. Mas ele também tem a parte motivacional, e a faz muito bem. Ele está no caminho para ser um dos melhores do mundo. Eu tive vários técnicos, e o que faz de alguém o melhor com quem já trabalhou é o quanto você é importante para ele. E ele faz com que eu me sinta muito importante. São dois anos e meio com ele, e ele é o que faz com que eu me sinta melhor no campo - elogia o brasileiro.
De fato, Filipe tem grande importância para o Atlético junto com todo o setor defensivo. Apesar da parte ofensiva do time ser famosa por contar com Diego Costa e David Villa, é a retaguarda o grande foco do jogo coletivo da equipe.
Formada por Juanfrán, Miranda, Godín e Filipe Luís - além de Courtois no gol -, a defesa colchonera é a melhor do Campeonato Espanhol atualmente, tendo sofrido apenas 21 gols em 30 partidas.
- Nosso time tem uma forma muito simples de jogar. Joga com defesa forte e compacta e saindo no contra-ataque. E nós temos jogadores perfeitos pra isso: Arda, Koke e Gabi têm excelente passe, e os jogadores rápidos, como o Diego (Costa), são bons nesse sistema. Encaixa com perfeição com o que time exige. Mas o primeiro passo é defender, e até os atacantes ajudam nisso.
Filipe Luís com o também brasileiro
Miranda no treino: defesa sólida é
segredo para sucesso do Atlético
(Foto: EFE)
diego costa e seleção brasileira
Filipe Luís é membro de um grupo que conta com quatro brasileiros no elenco colchonero: além do lateral, há Miranda, Diego e Diego Costa. O lateral afirma que há união entre os brasucas, incluindo o atacante naturalizado espanhol, que tem boa relação com o restante do elenco, também.
- Ele anda muito com a gente. Somos um grupo muito unido. E o Simeone trata ele como a estrela que ele é, leva ele na palma da mão. Sabemos que ele é um jogador fundamental, e o time é desenhado para ele. É uma pessoa maravilhosa, que sofreu muito para chegar onde chegou - exalta Filipe.
Filipe Luís comemora gol com Diego
Costa: bom entrosamento entre os
brasileiros (Foto: AFP)
Enquanto Diego Costa optou por defender a seleção espanhola, deixando para trás uma convocação brasileira, Filipe Luis perdeu seu espaço no time de Luiz Felipe Scolari. Convocado desde a chegada do gaúcho ao comando da seleção brasileira, o lateral esteve no grupo campeão da Copa das Confederações e, depois disso, não recebeu mais chances - nada que traga mágoas, porém.
- Eu tive minha chance, como quase todos aqui. Acabei sendo campeão e sou muito agradecido. Não fui mais chamado por algum motivo tático, mas não tenho nenhum problema. Os dois (Marcelo e Maxwell, atuais convocados) são meus amigos. É uma escolha difícil para o Felipão. Ele não vai errar chamando qualquer um - diz.
Apesar da resignação quanto à forte concorrência por um lugar no time nacional, Filipe Luis ainda sonha com um dos 23 lugares na convocação final da Seleção, que será divulgada no dia 7 de maio.
- Quem disser que não sonha está mentindo. Estou lutando todos os dias para estar na convocação. Não depende de mim, pois não há um contrato com a Seleção. Sempre depende do técnico. A única coisa que eu posso fazer é jogar o melhor possível.
Filipe Luís disputa a bola com Hart no
Brasil x Inglaterra de 2013: esperança
de voltar à Seleção (Foto: Reuters)
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